Texto por Fernando Queiroz (@fer_nando_nw) e Fotos por Amanda Sampaio (@amandasampaio.ph)
Em primeira passagem pelo Brasil sob a alcunha Dirkschneider, a banda formada por músicos do U.D.O. presenteia os paulistanos com um catado dos grandes clássicos do Accept nos anos oitenta, e o icônico Balls To The Wall na íntegra – o que inclui músicas jamais tocadas ao vivo antes.
Pré-show morno em uma segunda-feira:
Está ficando cada vez mais recorrente os shows durante a semana – algo bem comum na Europa, aliás, e toda vez temos a impressão que não irá encher. Compreensível, porém, não haver filas para entrar, dado que muitos ainda estão no trabalho ou estudando. Não é um dia de folga, afinal. Mesmo assim, o ambiente era bom.
As poucas pessoas na porta do Carioca Clube estavam animadas, bebendo suas cervejas e conversando pacificamente. A maioria, inclusive, pessoas mais velhas, apreciadores do bom e velho Heavy Metal tradicional. Já dentro da casa, portas abertas às 19h30, alguns poucos se aglomeravam na grade, mas o geral da casa ainda estava vazio. Mesmo a área de fumantes, totalmente vazia, à exceção de um solitário repórter e um segurança da casa. Aos poucos, a casa foi enchendo. De grão em grão, a galinha enche o papo; de pessoa em pessoa a plateia ia se adensando. Quando menos reparamos, o público estava realmente muito bom! Não lotado, mas, pelas circunstâncias, muito bom.
Show reto, direto, sem rodeios, pouca falação e muitos clássicos:
A produtora Overload não decepciona, e pontualmente às 20h30, horário marcado para o show, nas caixas de som começa a tocar a música “Living After Midnight” do Judas Priest, que vem sendo tocada na introdução dos shows do Dirkschneider. Estava começando o show! Udo Dirkschneider e sua trupe entraram no palco, e logo começou a pedrada “Fast As a Shark”, clássico do disco Restless And Wild, do longínquo ano de 1982. Diga-se de passagem, um álbum atemporal, pois até hoje, de idosos a tiozões e a jovens, todos conheciam e cantavam junto na plateia.
O mesmo pode ser dito de “Up To The Limit”, com seu refrão muito pegajoso e marcante, que fazia as pessoas gritarem em coro. Refrões, aliás, é o que não falta nas músicas do Accept, e ali nós tínhamos o mais próximo da banda clássica que podemos ver: Udo Dirkschneider e Peter Baltes, vocalista e baixista originais, respectivamente, que gravaram todas essas músicas.
Essa primeira parte do show, com o catado de clássicos, seguiu-se sem erros, impecavelmente executados os clássicos “Midnight Mover”, “Breaker”, “Living For Tonite”, “Princess Of The Dawn”, “Flash Rockin’ Man”, e, finalmente, a icônica e arrebatadora “Metal Heart”, clássica faixa homônima do álbum de 1985 – no meio desta última, um solo estendido de guitarra Andrey Smirnov, que acompanha Udo desde 2013, sendo o integrante mais antigo da formação do U.D.O./Dirkschneider, onde emendou várias frases da música clássica “Für Elise”, de Ludwig Van Beethoven, ou, como conhecemos em muitos lugares do Brasil, a “Música do Caminhão de Gás”.
Finalmente, o momento que todos esperavam, o álbum Balls To The Wall na íntegra:
O fim de “Metal Heart” até nos dava uma sensação de fim de show, mas estava apenas começando. Logo, nos alto-falantes, o anúncio do que realmente era a grande atração: o álbum Balls To The Wall na íntegra pela primeiríssima vez! E sim, tocado na mesma sequência da gravação. Isso quer dizer que logo de cara já tivemos um dos maiores clássicos da história do metal alemão, a homônima “Balls To The Wall”, emendada em “London Leatherboys” – esta música, vale lembrar, causou polêmica na época que foi lançada, sendo taxada como uma música gay, algo comum hoje, mas que causava alvoroço nos anos oitenta.
Após uma breve apresentação e saudação de Udo para com os fãs, tivemos “Fight It Back”, “Head Over Heel”, e então o vocalista anunciou que eles tocariam o Lado B “Losing More Than You Ever Had”, e disse, para explosão do público, que seria a segunda vez na história que aquela música seria tocada ao vivo – a primeira havia sido dois dias antes apenas.
Outra música que causou polêmica pelo mesmo motivo foi “London Leatherboys”, a ótima “Love Child” seguiu, e um grande clássico, “Turn Me On” veio depois. Após “Losers And Winners”, outra música tocada pela segunda vez na história ao vivo foi “Guardians Of The Night”. Parecia que o show acabaria com a balada “Winterdreams”, mas para nossa surpresa, “Burning”, do álbum Breakers veio de bis! Ótima surpresa, com uma ótima música! Terminava ali uma volta de mais ou menos noventa minutos aos anos 80! E que volta!!
Performances individuais, coletivas e produção de palco incríveis:
Foi uma noite que tudo deu certo! Bom público, pontualidade, e para coroar, uma apresentação impecável de todos os músicos, dos mais velhos aos mais jovens. Sven Dirkschneider, filho de Udo, não se intimida com a responsabilidade de tocar músicas tão marcantes. Dee Dammers e Andrey Smirnov tocam tudo que precisam e têm presença marcante no palco. Claro, Udo Dirkschneider, o homem do momento, no auge de seus 72 anos, é um baixinho de altura, mas no palco vira um gigante. Canta com a mesma disposição e energia de seus anos áureos!
O destaque, porém, fica com o baixista Peter Baltes, membro da formação clássica do Accept, que há alguns anos voltou a tocar com seu ex-colega. O homem tem um sorriso no rosto o show todo; se move de um lado para o outro, e ajuda a agitar o público! Não à toa, teve seu nome gritado em coro pela plateia.
Memorável. Essa é a palavra que descreve melhor essa segunda-feira da semana mais agitada de shows de rock e metal do ano.
SET-LIST PT.1:
Fast as a Shark
Up To The Limit
Midnight Mover
Breaker
Living For Tonite
Princess Of The Dawn
Flash Rockin’ Man
Metal Heart
SET-LIST PT.2 (Balls To The Wall na íntegra):
Balls To The Wall
London Leatherboys
Fight It Back
Head Over Heel
Losing More Than You Ever Had
Love Child
Turn Me On
Losers And Winners
Guardian Of The Night
Winterdreams
ENCORE:
Burning
Dirkschneider:
Udo Dirkschneider – Vocais
Sven Dirkschneider – Bateria
Peter Baltes – Baixo
Andrey Smirnov – Guitarra
Dee Dammers – Guitarra