Texto por Peu Bertasso (@peuertasso) e Fotos por Gabriel Gonçalves (@dgfotografia.show)
Grandes ou pequenas, é difícil encontrar uma banda internacional que nunca tenha recebido uma mensagem escrita “Come to Brazil” ou até “Come to South/Latin America”. Os australianos do Ne Obliviscaris, desde o lançamento do seu incrível disco de estreia, “Portrait of I”, têm recebido constantes mensagens como estas, despertando o interesse dos brasileiros por seu metal progressivo misturado com death metal extremo. No entanto, a estreia no continente, ansiada pela banda e pelos fãs, girou em torno de complicações e dificuldades.
Os shows da América Latina teriam início no CL.Rock Festival, no Chile. Porém, o cancelamento do festival colocou em xeque as outras datas agendadas. Com a criação do Fatal Prediction Fest (que salvou os cacos deixados pelo CL.Rock Festival) e a confirmação do resto da turnê, foi a vez dos fãs se assustarem com o anúncio da ausência do guitarrista Benjamin Baret da turnê, substituído por Asim Searah (ex-Wintersun). Junto disso, desde 2023, o vocalista Xenoyr, responsável pelos vocais guturais do grupo, está afastado da banda, sendo substituído por James Dorton.
Porém, tudo funcionou perfeitamente para que o Brasil recebesse a banda australiana na terça-feira (12) para um show histórico no Carioca Club. Com produção da Estética Torta, o grupo encontrou uma casa longe de sua lotação, mas com um bom número de fãs e, principalmente, muito fieis. Talvez a quantidade de shows que acontecem nesta semana – com apresentações na capital paulista do dia sete ao dia dezessete, sem um dia livre se quer – tenha atrapalhado. No dia do show, inclusive, Jerry Cantrell (Alice in Chains) e Hypocrisy também se apresentaram em São Paulo, o que provavelmente colaborou para o baixo público no Carioca Club.
No entanto, nada diminuiu a empolgação dos australianos. Nessa turnê, eles presentearam os fãs latino-americanos com um setlist de clássicos, fugindo do que estavam fazendo nos últimos shows da Europa, onde tocavam na íntegra os discos “Exul”, álbum mais recente do grupo, e “Citadel”, álbum do grupo que comemora dez anos em 2024. Marcado para às 20h30, o show foi se iniciar apenas às 21h. Daniel Presland, baterista da banda, ficou sentado por um tempo na bateria enquanto o show não começava. Ladrones, Killswitch Engage, Sleep Token, Deftones eram bandas que tocavam no som ambiente da casa durante o atraso.
“Intra Venus” foi a escolhida para iniciar a estreia do grupo no Brasil, já emendada com a poderosa “Equus”. Tim Charles (vocal, violino), cantava e encantava os fãs com sua simpatia e técnica, além da beleza que arrancava elogios até de funcionários do Carioca Club em momento engraçado que aconteceu ao meu lado. Um frontman nato que comandou o show do início ao fim.
Os vocais rasgados de James Dorton eram precisos, agressivos e articulados, feitos com muita competência e precisão. Em partes onde James e Tim “duelavam” seus vocais tão diferentes, a música se engrandecia, criando camadas diferentes para as mesmas passagens. Algumas bases de violinos são tocadas por trilhas pré gravadas, com Tim fazendo todos os solos de violino ao vivo.
“Misericordie” foi executada com suas duas partes na íntegra, totalizando quase dezoito minutos de música. Tim, depois de executar seu solo de violino sentado na beira do palco, ficou curtindo o show como um fã, sibilando o solo de guitarra que Asim executava. O italiano Martino Garattoni comandava seu baixo com maestria, sendo reconhecido por sua técnica. Daniel Presland (bateria) e Matt Klavins (guitarra), apesar de serem mais reservados no palco, também entregavam um show exemplar.
Antes de “Forget Not”, Tim disse que eles estavam muito felizes por virem para o Brasil. Disse que, quando começaram a banda há vinte e um anos atrás, eles nem pensavam que um dia viriam para o Brasil. Também se desculpou pela demora e prometeu que a banda não demoraria para retornar. A faixa levou os fãs em uma viagem no tempo para o primeiro disco da banda, “Portrait of I”. Ainda por cima, “Forgont Not” contou com um circle pit aberto a pedido de Dorton.
Entre “Devour Me, Colossus (Part I): Blackholes” e “Graal”, Tim expressou novamente sua gratidão a todos que compareceram na apresentação, dizendo que “talvez tocariam a última música”, dependendo do quanto o público chamasse por eles no fim do show para tocar mais uma canção. Ao fim de “Graal”, os gritos de “Olê Olê NeO NeO”, trouxeram a banda de volta ao palco.
Com Tim tocando seu violino em cima dos fãs, quase subindo na grade que separa o público do palco, “And Plague Flowers the Kaleidoscope”, maior sucesso do grupo, emocionou os fãs que, por anos, esperavam uma apresentação da banda no país. O peso e a precisão dos músicos tocando algo tão complexo de forma tão certeira era impressionante. Tudo virou uma grande festa em uma passagem pesada no meio da música onde todo o público pulava freneticamente, comandados pelo violonista.
Com músicas longas e complexas, apenas oito couberam em uma hora e meia de apresentação. Porém, oito músicas foram suficientes para que os fãs saíssem do Carioca Club embasbacados com o que tinham acabado de assistir. O contraste do peso do death metal com as passagens melódicas do violino trouxeram uma linda complexidade para o concerto. Somado a isso, a banda esbanjou simpatia atendendo o público após o concerto na saída do show. Conversando com os fãs, a banda garantiu que voltaria logo ao Brasil. Fica, então, o aguardo para mais um espetáculo.
Ne Obliviscaris – 12/11/2024 – Carioca Club
Intra Venus
Equus
Misericorde I – As The Flesh Falls
Misericorde II – Anatomy of Quiescence
Forgot Not
Devour Me, Colossus (Parte I): Blackholes
Graal
Bis:
And Plague Flowers the Kaleidoscope
O melhor show da minha vida!