reprodução / Facebook / Hate
O Hate, um dos nomes mais importantes do death metal polonês, acaba de lançar seu novo álbum Bellum Regis, e está com show marcado no Brasil, em uma turnê conjunta com o Vltimas. Para a ocasião, e para o lançamento do novo disco, o vocalista e guitarrista Adam “The First Sinner” Buszko concedeu entrevista exclusiva ao Sonoridade Underground, onde fala sobre o novo disco, a vindoura passagem pelo Brasil, suas expectativas para os shows, a história do metal polonês no pós-regime comunista, e sobre sua formação em psicologia e como isso moldou os temas da banda! Confira!
Fernando Queiroz: Olá Adam, é um prazer ter você aqui. Muito obrigado por seu tempo e sua entrevista!
Adam Buszko: Eu que agradeço, o prazer é todo meu. Mal posso esperar para estar aí no Brasil com vocês.
Fernando: O Hate vai vir para o Brasil agora no fim deste ano. Quais as expectativas que vocês têm para o show, e o que nós podemos esperar ver?
Adam: Sim, estamos com shows marcados aí com o pessoal do Vltimas. Vamos a seis países da América Latina. Claro, as expectativas são sempre altas quando tocamos aí! Quer dizer, não tivemos tantas oportunidades assim de tocar na América do Latina. Fomos ao Brasil duas vezes, algumas vezes ao México, tocamos na Colômbia uma vez há alguns meses atrás, mas não temos tanta experiência assim tocando aí. Mas, claro, é sempre um prazer tocar aí, o público de vocês é sempre muito receptivo!
Fernando: Bem, vocês lançaram um ótimo álbum, Bellum Regis. A capa do álbum parece mostrar um rei que perdeu tudo, menos a coroa. Como essa capa representaria o conceito do álbum, e qual a mensagem que ela quer passar?
Adam: De fato, ele não mostra um rei triunfante, mas sim um cara que passou por muitas coisas ruins, muitas dificuldades. E acho que o conceito que tenho para esse simbolismo é sobre a busca por glória e poder, e especialmente o preço que você paga por isso. No geral, o álbum todo é por essa busca desesperada por poder, e todos os problemas que vêm junto com isso. E isso vale para todos, pois acho que todos quando entramos nessa competição, rivalidade no poder, significa sofrimento para as pessoas. E a capa mostra isso, um rei que está cansado de tudo isso, e se apega à única coisa que ainda representa esse poder, que é a coroa. É um ótimo simbolismo dessa questão. Mas não é tão direto assim, as pessoas sempre me perguntam o que significa, e eu sempre tento ao máximo explicar de uma forma a entender facilmente. (risos) Mas o álbum fala bem disso, essa busca por poder, riquezas, e tudo mais. É um pouco sobre a essência de quem somos! E especialmente esses dias, podemos ver como a ordem do mundo está mudando — para mim é até mais fácil dizer, pois estou no leste europeu, observo essa guerra na Ucrânia praticamente todos os dias, e vejo como o mundo está ficando muito multipolar, com múltiplos países e nações começando a competir agressivamente um contra o outro por recursos, territórios e tudo mais. E é daí que vem a inspiração para o álbum.
Fernando: Bem, já que você mencionou o leste europeu agora… A Polônia, alguns anos após a queda do comunismo, se tornou uma powerhouse de metal extremo a nível mundial, com bandas como o Hate, Vader, Batushka e Behemoth. Isso é algo que não ocorreu em outros países antes comunistas, como a Lituânia, a Bulgária, Eslováquia, etc. O que você acha que houve de diferente na Polônia que permitiu que isso ocorresse, e não houve em outros países do antigo bloco comunista?
Adam: É difícil dizer. Seria um ótimo estudo para um sociólogo, aliás, essa cena que se formou aqui na Polônia, que está sempre crescendo, com ótimas bandas. O que posso dizer é que sou muito orgulhoso de fazer parte disso, desse fenômeno de death metal polonês. Especialmente porque contribuímos bastante para isso no começo dessa cena, lá no começo dos anos noventa, quando começamos. Claro, o Vader, eles foram os primeiros, foram um ótimo exemplo a ser seguido por todas as outras bandas, pois foi logo depois do regime comunista colapsar. Eles foram os primeiros, e o maior exemplo a seguir daqui. Mas fora eles, houveram muitas ótimas bandas aqui, e tem sempre novas ondas de bandas aparecendo. É realmente um fenômenos isso. Não tenho realmente uma boa explicação para isso, mas sou muito grato de ser parte disso.
Fernando: A formação agora da banda está estável, fazendo já dois álbuns, desde 2020. Com tantas bandas mudando a formação constantemente, como vocês chegaram nesse equilíbrio entre os membros, para se ter tal estabilidade?
Adam: Nunca é fácil. Acho que para nenhuma banda é fácil. Você sempre vai ter que ter que chegar a alguns acordos internos, ou formar um certo ‘sistema’ que vale para todos na banda para estarem bem encaixados. E acho que o mais importante é terem um propósito em comum, um objetivo em comum entre todos. Essa é a chave. E é o que eu sempre tento colocar para todos na banda, mostrar a eles o objetivo e o papel deles nisso que fazemos. E todos estão envolvidos. Por exemplo, quando fazemos um álbum novo, todos estão envolvidos em algum estágio desse processo de produção. Começa comigo trazendo as ideias, e com alguns arranjos básicos junto com o baterista, e daí vem o baixista, depois o guitarrista, e bem no final eu trabalho na orquestração e os samples com um amigo meu, o Michal Staczkun, que também é nosso co-produtor. E nesse novo álbum, o Bellum Regis, também temos uma vocalista feminina. Ela é uma cantora polonesa, mas morou muitos anos na Grécia, e fala grego perfeitamente, então aproveitei essa oportunidade e a pedi para cantar em grego, especialmente algumas passagens específicas de tragédias clássicas gregas. Selecionei alguns fragmentos dessas passagens e ela cantou em grego, o que é simplesmente fantástico. Eu amo essa vibe de tradições bem antigas, e combinou muito bem com nossa música.
Fernando: Quanto à produção do Bellum Regis, ela foi muito diferente do que vocês costumavam fazer antes, ou foi um processo similar?
Adam: Eu diria que foi uma nova vida para nós essa produção, porque foi a primeira vez que gravamos um álbum fora da Polônia. Gravamos na Suécia, em Estocolmo. Trabalhos com um grande produtor musical, o nome dele é David Castillo, um cara bem conhecido por trabalhar com nomes como o Katatonia, Carcass, Opeth, Amorphis, e muitos outros. Então ele tem bastante experiência! É um grande engenheiro de som, e um ótimo produtor também. Então há alguns anos eu abordei ele quando estávamos fazendo uma tour na Escandinávia, peguei o número dele, e um dia liguei para ele, o convidei para o nosso show, e ele foi. Tivemos a oportunidade de falar cara a cara, discutir algumas coisas, se poderíamos trabalhar juntos em um álbum, e um ano depois fomos ao estúdio com ele, e foi assim que tudo começou. Então o álbum foi uma parte gravada na Suécia, e outra parte na Polônia, mas foi mixado e masterizado na Suécia pelo Daniel Castillo. Foi algo muito eficaz, e eu estou bem feliz com o resultado!
Fernando: Só uma última pergunta, Adam. Você é, além de músico, um psicólogo formado. Sua formação em psicologia teve influência no como você faz música, no como o Hate soa? Se sim, poderia explicar um pouco sobre?
Adam: Eu acho que não tanto, pelo menos não quanto às músicas e arranjos instrumentais, ou o tipo de música que faço. Acredito que, claro, afeta minha percepção e o jeito que vejo o mundo, como analiso as pessoas e suas motivações. Sou muito interessado na motivação das pessoas, e o que as leva a fazer as coisas que fazem. Isso é algo que sempre me interessou, e isso me dá muita inspiração. Por exemplo, quando viajamos pelo mundo, tenho a oportunidade de conversar com pessoas de diferentes culturas, países, histórias tão distintas. E é essa mentalidade diferente que me interessa bastante. E em se tratando de letras, com certeza isso influencia bastante! Para ser honesto, eu sempre fui muito interessado na essência da humanidade, mas a parte mais interessante é essa parte mais obscura, aquela que você não vê tão claramente, simplesmente explora de alguma forma para tentar entender o que acontece. Algumas pessoas chamam isso de “Satã”, outras simplesmente de “maldade”, mas eu prefiro dizer que é simplesmente a parte obscura da alma humana.
Fernando: E todos temos um lado sombrio, eu creio.
Adam: Com certeza! Todos nós temos isso dentro de nós. É mais uma questão do quanto esse lado obscuro é explorado por você, e o quanto ele influencia suas ações, suas crenças, e tudo que você faz na vida.
Fernando: Muito obrigado, Adam! Mal podemos esperar para ver o Hate aqui no Brasil, espero que tenham um ótimo show por aqui!
Adam: Obrigado vocês! Eu sempre recebo ótimas mensagens do público brasileiro, é um pessoal muito entusiasmado, e isso sempre me deixa feliz! Espero ansioso para tocar novamente para vocês!