Testament transforma Carioca Club em templo do thrash metal

Fotos por Fernanda Pistoresi Arantes

Na noite do último domingo, 24 de agosto, o Carioca Club, em São Paulo, se tornou palco de uma verdadeira celebração ao thrash metal.

Com ingressos esgotados e público espremido até os corredores, o evento reuniu duas gerações do metal pesado: a abertura com o clássico Genocídio e a aguardada apresentação do Testament, encerrando sua turnê latino-americana. O resultado foi uma noite longa, intensa e memorável.

Genocídio: peso, crítica e ousadia

Responsável por aquecer a plateia, o Genocídio mostrou porque permanece como uma das bandas mais cultuadas do metal extremo brasileiro. O quarteto abriu com a faixa-título de Fort Conviction (2024), seguida por Aside, ambas reafirmando a atual relevância do grupo com riffs densos e críticas sociais afiadas.

Pilgrim e Synthetic Screams deram sequência, mostrando o equilíbrio entre agressividade e melodia. A soturna The Sole Kingdom of My Own ofereceu o primeiro respiro da noite antes de mergulhar novamente no peso.

O set atingiu seu ponto de maior impacto com Kill Brazil, do disco In Love with Hatred (2013), cuja letra crítica ao contexto sociopolítico brasileiro encontrou eco no público. A sequência com Rebellion manteve a vibração alta até o momento mais inesperado: uma versão sombria de Never Tear Us Apart, do INXS, que dividiu opiniões, mas mostrou ousadia em reinventar um clássico pop.

Para encerrar, Uproar e o hino The Clan, resgatado de Hoctaedrom (1993), confirmaram o poder histórico da banda paulistana. Mesmo sem provocar rodas intensas, o Genocídio entregou uma performance sólida, respeitada e celebrada.

Testament: catarse coletiva em quase duas horas

Pouco antes das 20h, o aquecimento veio com Fight For Your Right (To Party!), do Beastie Boys, ecoando nas caixas de som e incitando a plateia. Cinco minutos depois, os californianos do Testament subiram ao palco e transformaram o Carioca Club em uma máquina do tempo que passeava por quase quatro décadas de thrash metal.

O pontapé inicial veio com o clássico de 1989, recebendo a plateia com um coro ensurdecedor. Na sequência, Sins of Omission e Perilous Nation reforçaram a força do disco Practice What You Preach, que dominou o início da apresentação. The Ballad, com sua introdução melódica, foi cantada a plenos pulmões, mostrando como até os momentos mais suaves da banda conquistam peso ao vivo.

Do mais recente Brotherhood of the Snake (2016), The Pale King trouxe peso moderno e grooves densos, contrastando com The Haunting, resgatada do debut The Legacy (1987). Esta última soou como uma cápsula dos anos 80, arrancando aplausos de veteranos que acompanham o Testament desde a gênese.

Na metade inicial, o show mergulhou na fase mais brutal da banda: Rise Up, do Dark Roots of Earth (2012), incendiou o público, seguida por D.N.R. (Do Not Resuscitate), de The Gathering (1999), com riffs que fizeram o Carioca Club estremecer. A faixa-título Low (1994) manteve a intensidade, com Chuck Billy alternando vocais guturais e limpos.

A cadenciada e minha favorita da banda Native Blood abriu espaço para um dos instantes mais emocionantes da noite: Trail of Tears, dedicada ao falecido Brent Hinds, ex-guitarrista do Mastodon. A interpretação trouxe um tom de homenagem carregado de melancolia. Logo depois, Electric Crown (do subestimado The Ritual, 1992) levantou a plateia, que seguiu cantando em uníssono em Souls of Black (1990).

O ápice melódico chegou com Return to Serenity, marcada por um dos solos mais icônicos de Alex Skolnick. O guitarrista brilhou ao transformar a execução em um momento de catarse coletiva.

Depois de um breve solo de bateria de Chris Dovas, o Testament trouxe a aguardada Dog Faced Gods, faixa inédita de Para Bellum (2025), que soou ainda mais brutal do que os clássicos. Na reta final, o público foi presenteado com First Strike Is Deadly e Over the Wall, ambas do debut The Legacy, comprovando como o thrash oitentista segue atemporal.

More Than Meets the Eye (2008) mostrou a boa recepção da fase mais recente, antes da explosão definitiva com Into the Pit. Foi nesse momento que a plateia, exausta e eufórica, abriu finalmente a maior roda da noite, encerrando a apresentação em êxtase coletivo.

Foram quase duas horas de um show sem pausas, abrangendo toda a discografia do Testament, da crueza dos anos 80 ao peso moderno dos álbuns recentes. Mesmo sem tocar faixas queridas como Disciples of the Watch ou Burnt Offerings, a seleção foi impecável.

O Carioca Club saiu pequeno para tamanha celebração, e já há quem diga que a próxima vinda dos californianos ao Brasil mereça palcos maiores.

Setlists

Genocídio – Carioca Club – 24/08/2025

  1. Fort Conviction
  2. Aside
  3. Synthetic Screams
  4. Pilgrim
  5. The Sole Kingdom Of My Own
  6. Kill Brazil
  7. Rebellion
  8. Never Tear Us Apart (cover de INXS)
  9. Uproar
  10. The Clan

Testament – Carioca Club – 24/08/2025

  1. Practice What You Preach
  2. Sins of Omission
  3. Perilous Nation
  4. The Ballad
  5. The Pale King
  6. The Haunting
  7. Rise Up
  8. D.N.R. (Do Not Resuscitate)
  9. Low
  10. Native Blood
  11. Trail of Tears
  12. Electric Crown
  13. Souls of Black
  14. Return to Serenity
  15. (Solo de bateria – Chris Dovas)
  16. First Strike Is Deadly
  17. Dog Faced Gods
  18. Over the Wall
  19. More Than Meets the Eye
  20. Into the Pit
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