Fotos por Fernanda Pistoresi Arantes
Na noite de 23 de agosto, o Carioca Club, em São Paulo, foi palco de um encontro inesquecível para fãs do metal extremo. A ocasião marcou o retorno do Cradle of Filth ao Brasil, desta vez promovendo seu novo álbum The Screaming of the Valkyries. A noite, porém, foi muito mais do que um show de uma única banda: contou ainda com a energia brutal dos brasileiros do Tellus Terror e a atmosfera hipnótica dos norte-americanos do Uada, resultando em uma celebração obscura que ficará na memória de quem esteve presente. A produtora NDP Live – New Direction Productions foi a responsável pelo evento.
Tellus Terror – técnica e peso na abertura
Responsáveis por aquecer o público, os cariocas do Tellus Terror mostraram porque vêm sendo apontados como um dos nomes mais promissores do metal extremo nacional. Abrindo com “Amborella’s Child”, o vocalista Felipe Borges já deixou claro que a noite começaria em intensidade máxima: seus vocais guturais e rasgados soaram viscerais e potentes, arrancando aplausos mesmo de quem ainda chegava à casa.
Na sequência, “Absolute Zero” e “Darkest Rubicon” mantiveram a atmosfera densa, explorando a mistura de death e black sinfônico com arranjos complexos. A técnica da banda se destacou em “Psyclone Darxide”, marcada por riffs intrincados e variações rítmicas precisas.
Momentos mais climáticos surgiram em “Empty Nails” e “Lone Sky Universum”, faixas que exploram bem a dualidade entre brutalidade e elementos sinfônicos etéreos. O ápice da apresentação, no entanto, veio com “Shattered Murano Heart”, em que a interação entre vocais e guitarras trouxe um peso devastador, arrancando reações mais calorosas da plateia.
O encerramento com “Sickroom Bed” e “Brain Technology Pt. II” confirmou a maturidade da banda no palco: um show de abertura sólido, técnico e intenso, que provou que o underground brasileiro continua a revelar nomes de respeito.
Uada – um transe sombrio em forma de música
Seguindo a noite, o Uada mergulhou o Carioca Club em sombras com sua estética característica: capuzes, palco pouco iluminado e uma aura quase ritualística. O início com “Natus Eclipsim” foi arrebatador, criando de imediato uma atmosfera hipnótica, com riffs dissonantes que ecoaram como um chamado para o transe coletivo.
“Djinn”, uma das músicas mais conhecidas do grupo, incendiou o público, que respondeu com entusiasmo às passagens rápidas e envolventes. “Blood Sand Ash”, do álbum Crepuscule Natura (2023), trouxe densidade extra, com camadas melódicas que contrastaram com a agressividade dos vocais de Jake Superchi.
Um dos pontos altos foi “Cult of a Dying Sun”, faixa longa e atmosférica que manteve a plateia em êxtase, alternando entre momentos meditativos e explosões de fúria. O encerramento com “Black Autumn, White Spring” coroou a performance: intensa, ritualística e carregada de uma aura quase mística, deixando claro por que o Uada é hoje um dos nomes mais respeitados do black metal contemporâneo.
Cradle of Filth – o espetáculo principal
Com mais de 20 minutos de atraso, o público explodiu quando as cortinas se abriram e o Cradle of Filth subiu ao palco com “To Live Deliciously”. A música, faixa de abertura do novo álbum, ganhou vida com canhões de fumaça e uma execução teatral, cumprindo perfeitamente seu papel de cartão de visitas.
Sem tempo para respirar, a clássica “The Forest Whispers My Name” arrancou gritos de reconhecimento desde os primeiros teclados. Dani Filth, em seu estado mais performático, chegou a usar o pedestal do microfone como se fosse uma montaria, encarnando a persona sombria que o tornou um ícone.
“She Is a Fire” manteve o equilíbrio entre o material novo e o legado da banda, enquanto “Malignant Perfection” trouxe peso adicional e serviu como aquecimento para a viagem ao passado com “The Principle of Evil Made Flesh”, faixa seminal de 1994 que causou delírio nostálgico entre os fãs mais antigos.
O meio da apresentação reservou momentos de impacto: “Heartbreak and Seance” foi acompanhada de forma inusitada por crowdsurf na plateia — algo raro em shows de black metal, enquanto “Nymphetamine (Fix)” foi, sem dúvidas, um dos pontos altos da noite. A participação vocal de Zoë Marie Federoff-Šmerda adicionou um brilho etéreo à canção, que foi cantada em uníssono pelo público, transformando o Carioca Club em um coro sombrio.
“Born in a Burial Gown” trouxe a crueza característica do início dos anos 2000, antes do fechamento da parte principal do show com “White Hellebore”, representando bem a força criativa da fase atual da banda.
No bis, o Cradle decolou rumo ao épico: “Cruelty Brought Thee Orchids” soou grandiosa e intensa, seguida de “Death Magick for Adepts”, que contou com uma participação especial inusitada de um membro mascarado da equipe técnica na narração. O encerramento com “Her Ghost in the Fog” foi catártico, com os fãs cantando cada palavra, transformando a música em um hino compartilhado entre banda e plateia.
Mais do que uma simples apresentação, a noite de 23 de agosto foi uma verdadeira celebração do metal extremo em suas diferentes vertentes. O Tellus Terror mostrou que o Brasil continua a revelar talentos de peso; o Uada reforçou seu posto de banda essencial na cena atual; e o Cradle of Filth, com toda sua pompa teatral, provou novamente porque é uma das maiores instituições do black metal sinfônico no mundo.
Setlists
Tellus Terror – Carioca Club – 23/08/2025
- Amborella’s Child
- Absolute Zero
- Darkest Rubicon
- Psyclone Darxide
- Empty Nails
- Lone Sky Universum
- Shattered Murano Heart
- Sickroom Bed
- Brain Technology Pt. II
Uada – Carioca Club – 23/08/2025
- Natus Eclipsim
- Djinn
- Blood Sand Ash
- Cult of a Dying Sun
- Black Autumn, White Spring
Cradle of Filth – Carioca Club – 23/08/2025
- To Live Deliciously
- The Forest Whispers My Name
- She Is a Fire
- Malignant Perfection
- The Principle of Evil Made Flesh
- Heartbreak and Seance
- Nymphetamine (Fix)
- Born in a Burial Gown
- White Hellebore
Encore
- Cruelty Brought Thee Orchids
- Death Magick for Adepts
- Her Ghost in the Fog