Popload Festival 2025: entre erros e acertos, o festival segue com o charme inegociável de ser o queridinho dos alternativos.

Depois de três anos de um silêncio que parecia interminável, o Popload Festival ressurgiu como uma fênix, com nova casa, nova cara e, como sempre, aquele compromisso inabalável com a música boa – spoiler do que virá na cobertura a seguir.

Fotos por André Santos

O retorno do Popload Festival aconteceu neste último sábado (31), com céu azul-cinza e aquele friozinho outonal leve, característico da grande São Paulo. A mudança do C.E. Tietê para o Parque Ibirapuera foi, talvez, o maior dos acertos: não apenas pela logística mais simples e pelo charme natural do lugar, mas porque deu uma outra “textura” para a experiência de renovação que pedia o festival.

Se por um lado o ambiente estava ideal, por outro, o line-up causou algumas divisões. O Popload, sempre lembrado por ser um dos festivais mais “cool” do circuito indie-alternativo brasileiro, apostou majoritariamente em artistas mulheres, espalhadas tanto no palco principal quanto no Poploading by Heineken. A iniciativa é louvável e muito necessária; cada uma das artistas trouxe sua luz, seu estilo, sua identidade. Mas fica a pergunta: será que o brilho delas não teria reluzido ainda mais em outros palcos ou contextos?

Mulheres em peso 

Comecemos com Norah Jones, escolha ilustríssima para encerrar a noite. Classe, elegância e técnica impecável. Mas o show, mesmo bonito e delicado, ficou destoante como ato de encerramento. Norah tem aquele tipo de som que pede o pôr do sol como cenário, e não a função de segurar uma galera que, nas últimas edições, viu o encerramento com Jack White e Pixies. Ela é maravilhosa, mas talvez tivesse feito mais sentido uma semana antes, no C6 Fest, ali mesmo no Ibirapuera, que tem curadoria muito mais alinhada com o seu jazz-pop sofisticado.

O mesmo dilema surge ao parar para pensar no show da islandesa Laufey. Uma princesa impecável, encantadora, afinada — e com uma legião de fãs, vários adolescentes com seus onipresentes lacinhos na cabeça, muitos acompanhados pelos pais. Mas, de novo, aquela sensação e a pulga atrás da orelha: talvez fosse melhor apreciada numa gig solo, ou até num Lollapalooza, com estrutura maior e mais dispersão de públicos. 

Agora, partimos para o extremo oposto: Kim Gordon. A ex-Sonic Youth, musa suprema do noise rock (que agora se arrisca no trap), subiu ao palco ainda à tarde, debaixo de um solzão inclemente, mesmo que sua estética parecesse pedir sombras, luzes frias, ambientes fechados. O resultado? Um choque, principalmente para os fãs de Laufey, que esperavam a islandesa subir ao palco com toda sua delicadeza e, no meio tempo, deram de cara com a visceralidade barulhenta e dissonante de Kim. Um ruído não foi só musical, mas também geracional e estético. Não por acaso, no dia seguinte, Kim fez outro show, no Cine Joia, e ali sim: público certo, lugar certo.

A estrela da noite

St. Vincent não tem medo de ser esquisita, nem de ser incompreendida. E todo mundo entendeu ou, pelo menos, se deixou hipnotizar.

Annie Clark e banda simplesmente incendiaram o palco. Visceral, vulgar e absolutamente deslumbrante. Talvez tenha sido o show do festival que mais entregou tudo aquilo que a gente esperava: presença de palco, performance irretocável, visual impactante e aquele som deliciosamente estranho que só ela sabe fazer. 

Outros destaques

Nem só de dúvidas viveu o Popload 2025. Alguns acertos merecem todos os aplausos e o principal deles foi a escolha das bandas nacionais. Além do show de Terno Rei com Samuel Rosa, que prometia emocionar, tivemos Exclusive os Cabides, Supervão e os niteroienses Vera Fischer era Clubber, que vêm ganhando cada vez mais visibilidade na cena independente e garantiram momento de fritação no final da tarde. 

Em conversa com o Sonoridade Underground, Mário Arruda (Supervão) e Antônio dos Anjos (Exclusive os Cabides), falaram sobre a importância de festivais como o Popload para a cena independente. Confira: 

Retrô, mas sem ser datado

Por último, mas nunca menos importante, temos The Lemon Twigs, banda norte-americana de rock alternativo que fica entre a psicodelia dos anos 60 e a teatralidade do glam dos 70. Eles se apresentaram logo no comecinho da tarde, entregando um dos shows mais aguardados e que teve tudo a ver com o espírito do Popload. Um estilo meio “Beatles modernos”, com baladas dançantes, arranjos sofisticados e um visual marcante e autêntico. 

Agora, as escolhas não-tão-assertivas

Apesar da música boa, ainda tivemos alguns tropeços. A praça de alimentação, apesar de reunir ótimas escolhas gastronômicas, simplesmente não deu conta da demanda. A comida acabou rápido demais, gerando filas intermináveis e certa frustração.

Outro ponto sensível foi o tamanho da área VIP, chamada de “pit”. Sim, é necessária para viabilizar o festival, mas a forma como foi organizada acabou criando uma barreira que desagradou parte do público e até os próprios artistas. Talvez, para a próxima edição, valha pensar em uma opção mais equilibrada.

Apesar dos pequenos obstáculos, o saldo do Popload Festival 2025 terminou no azul 

No saldo geral, o Popload Festival 2025 mostrou que ainda é o queridinho dos alternativos, mesmo com algumas escolhas inusitadas de line-up e uma estrutura que, em alguns pontos, deixou a desejar. Foi um festival que cumpriu seu propósito: apresentou boa música, criou encontros memoráveis, celebrou a diversidade e manteve a chama acesa para quem é movido pela felicidade de descobrir e redescobrir artistas ao vivo.

E já se pede uma edição de 2026 com expectativas altíssimas. Depois de três anos de espera, agora a esperança é que o Popload retome sua frequência anual e que, quem sabe, venha com uma line ainda mais coesa, mais longa e mais audaciosa.


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