Fotos por @diegovieiraphotography
Pela primeira e única vez em solo brasileiro, o Beherit saiu das terras gélidas da Finlândia para uma breve visita à América Latina. Visita esta que é tão rara quanto a probabilidade de você faturar na loteria, pois, desde o início, a banda fez poucos shows fora da sua terra natal, tornando-se uma lenda dentro da obscura cena do Black Metal internacional. O álbum Drawing Down The Moon (1993) é tido como um clássico, servindo de referência para inúmeras bandas que também optaram em seguir uma sonoridade mais crua e densa, na contramão da sonoridade mais melódica que o metal extremo buscava nos anos 90.
Em entrevistas recentes, o líder Marko Laiho revelou que o único show no Brasil seria repleto de clássicos antigos — “coisa de uma vez na vida”, segundo ele —, segundo o mesmo, já que os membros da banda possuem trabalhos formais que os impedem de fazer mais shows.
A apresentação aconteceu no Carioca Club, em uma noite de quinta-feira (22/05), na capital paulista. Parte do público chegou cedo, mas o fato do show ser em um dia útil, aliado ao preço elevado dos ingressos, pode ter espantado parte dos fãs de metal. Ainda assim, foi possível notar que alguns vieram de outros estados e, até mesmo, países vizinhos, apenas para desfrutar a oportunidade de ver a banda ao vivo.
As portas da casa abriram às 19h30, mas o público só começou a ocupar o espaço próximo ao horário do show, marcado para às 20h30. Havia somente uma banca de merchandise e muita, mas muita fumaça no interior — algo digno de um show do Sisters Of Mercy. Outro detalhe: não foi permitida a entrada com câmeras profissionais para cobertura fotográfica, a pedido da própria banda, com a justificativa de manter a “aura underground”, que de fato foi mantida.
UMA VIAGEM AO LADO OBSCURO DA LUA PAGÃ
Ás 20h28, Marko Laiho (Nuclear Holocausto Vengeance pros mais intímos), tocou no seu pad de notas e se esgueirou atrás do teclado, que estava coberto com uma espécie de camuflagem militar. Uma trilha misteriosa e mística começou a entoar e arrancar os primeiros berros de entusiasmo do público. Aos poucos, os demais membros da banda entraram em cena. A trilha sonora, que remete a um filme de sci-fi, foi longa, e as máquinas de fumaça da casa não param, criando um clima de apreensão, como a atmosfera do filme “Alien”.
Uma contagem lenta do baterista Sodomatic Slaughter inicia a soturna “Lord of Shadows and Goldenwood”, dando início ao rito de caos sonoro, seguido pelo clássico “Salomon’s Gate”, que fez os fãs cantarolarem as melodias trítonas — uma viagem para dentro dos corredores do templo do rei de Israel. O show foi quase totalmente dedicado ao álbum Drawing Down The Moon, sendo “Nocturnal Evil” e “Sadomatic Rites” tocadas de maneira fidedigna ao álbum na primeira parte do show, com ambientação e efeitos sonoros que deram uma repaginada no arranjo das músicas.

SOM PERFEITAMENTE ALINHADO, MAS COM POUCO ESPETÁCULO
A mixagem do show estava fiel às gravações originais: a bateria soava como se estivesse sendo tocada numa caverna — guitarra e baixo com distorções sujas e altas; teclados e os samples criavam as ambiências cósmicas características do Beherit, e os vocais distorcidos cheios de eco — tanto de Marko quanto do guitarrista e vocalista Juha Laine — completavam o clima sombrio. Contudo, a iluminação azul e verde permaneceu a mesma sem variações do começo ao final do show, o que de certa forma deixou a performance um pouco maçante de se assistir, tendo em vista que a dinâmica das músicas são bem parecidas e com poucas variações.
UM REPERTÓRIO CHEIO DE CLÁSSICOS
Músicas de outros discos, como “Grave Desecration” e “Witchcraft”, também foram revisitadas no setlist, para o agrado dos fãs. Não havia espaço para pausas longas ou sequer alguma fala — somente blasfêmias. “Black Arts” e “Unholy Pagan Fire” completaram o ciclo útil do álbum de estreia, deixando os fãs ansiosos e berrando pela clássica “Gate of Nanna”, tocada logo em seguida, com os fãs cantando “Ave Satan, Ave Lúcifer”.
Por mais vasta que seja a discografia do Beherit, a banda escolheu minuciosamente o setlist para o show. É claro que o álbum Engram (2009) não ficaria de fora. “All In Satan” é a música perfeita para bate cabeça, com uma pegada mais acelerada e tradicional do Black Metal, que aqueceu o público para o ato final. Juha Laine começa tocar acordes dissonantes, aos poucos reconhecida pelo público, engatando o riff crescente de “Pagan Moon”, que arranca os gritos da plateia. O baixista Pasi Kolehmainen faz backing vocals mais abertos nessa música, enquanto Marko e Juha mantém os vocais cavernosos e cheios de rancor, sendo o ápice da performance em termos de energia. Marko solta uma explosão do seu pad, encerrando assim a apresentação da banda.

APRESENTAÇÃO HONESTA, MAS POUCO SURPREENDENTE
Foram onze músicas em pouco mais de uma hora de apresentação, em um set que foi suficiente, mas que poderia ter sido mais amplo, já que corriam boatos de que o show teria no mínimo duas horas de duração. Apesar disso, o Beherit entregou uma apresentação fiel a proposta de uma banda de Black Metal Finlandesa, com a vibe — ou melhor, “aura underground”. Para quem conhece a banda a fundo, certamente foi uma experiência única. Aos curiosos, que conheciam somente por nome e por algumas músicas, certamente esperavam um show um pouco mais elaborado do que o esperado, já que era uma apresentação aguardada com entusiasmo.

BEHERIT – CARIOCA CLUB / SÃO PAULO – 22/05/2025
SETLIST
- Lord of Shadows and Goldenwood
- Intro (Tireheb) / Salomon’s Gate
- Nocturnal Evil
- Sadomatic Rites
- Intro: Temple / Grave Desecration
- Witchcraft
- Black Arts
- Unholy Pagan Fire
- The Gate of Nanna
(Encore)
- All in Satan
- Pagan Moon
LINEUP
Marko Laiho – Vocal, Teclado e samples
Juha Laine – Vocal e guitarra
Pasi Kolehmainen – Baixo e backing vocal
Jari Pirinen – Bateria