Um dos maiores nomes do heavy metal da Dinamarca de todos os tempos, o Pretty Maids é uma das atrações da sexta-feira no Bangers Open Air. O vocalista Ronnie Atkins, que também toca com o Avantasia no domingo, nos concedeu entrevista onde discutiu sobre a diferença do como é tocar em ambas as bandas, a cena heavy metal na Dinamarca, o que esperar do show, e falou sobre sua luta contra o câncer, que já dura seis anos. Confira:
Fernando Queiroz: Olá, Ronnie! Obrigado por seu tempo, sua entrevista, é um prazer imenso ter você aqui!
Ronnie Atkins: O prazer é todo meu, Fernando!
Fernando: Bem, o Pretty Maids vai vir agora em Maio para o Bangers Open Air. Qual suas expectativas para o show e para o festival?
Ronnie: Eu baseio minha expectativa pela experiência que tive quando toquei lá com o Avantasia, que foi minha primeira vez no Brasil. Eu fiquei impressionado pela reação do público, dos fãs, do quão barulhentos vocês são no show, e eu até falei isso para os caras do Pretty Maids, que já é bom se preparar, pois vai ser uma experiência incrível para eles. Eu realmente não sei o quanto o Pretty Maids é grande por aí, o quanto o show vai fazer sucesso com o público, mas sei que pelo menos algumas pessoas vão conhecer nossa música, então estou bem animado!
Fernando: O Pretty Maids tem uma carreira de já mais de quarenta anos na estrada. Ao longo desses anos, como você acha que a mentalidade de vocês mudou, junto com o jeito que vocês trabalham e tocam?
Ronnie: A cena musical inteira mudou bastante nesses anos. Antes a gente tinha que vender discos para viver, agora tem toda essa coisa de Streaming, tudo digital. Foi um retrocesso em termos financeiros para nós (músicos). Eu costumo dizer que tivemos dois grandes períodos, que foi de 1984 até 1992, e depois com o álbum Pandemonium (2010) para frente, mas o que nos manteve sempre indo em frente foi basicamente que decidimos fazer música, e tocar nossa música em frente ao público. E esse desejo, esse fogo, ainda está lá! E também o fato de já termos mais de quarenta anos de estrada e ainda estamos aí! Nos sentimos honrados de fazer isso, e abençoados de podermos fazer isso. Acho que ainda vivemos esse nosso sonho de infância. É isso que nós sempre sonhamos, desde que vimos nossos primeiros shows, lá nos anos setenta. Então, sim, a cena mudou, mas nós ainda adoramos tocar. Acho que, na verdade, a maioria dos cantores, guitarristas, músicos no geral lhe diriam isso, que ainda amam tocar. E, claro, isso requer que você convença as pessoas que esses caras aí em cima do palco são ainda dignos do que fazem, e que nós ainda podemos fazer boas músicas.
Fernando: Lá atrás, no começo dos anos oitenta, quando vocês começaram, os países nórdicos ainda não eram uma referência na cena metal, então como foi sua experiência como um jovem músico, com uma banda nova, na Dinamarca, um país que ainda não tinha uma ‘cena heavy metal’ naquela época?
Ronnie: Sim, foi, na verdade, bem difícil de conseguir shows e coisas assim, porque realmente não tinha uma cena. Quando começamos lá em 1981, nos baseamos na New Wave Of British Heavy Metal, e alí tínhamos acho que só umas duas ou três bandas no país. Tinha o Mercyful Fate, que conhecíamos lá de Copenhague, e tínhamos nós ali começando. Então era difícil conseguir um acordo com uma gravadora. Não tínhamos possibilidade com gravadora local, então tivemos que assinar com uma gravadora inglesa independente – algo que foi muito ruim, mas essa é uma outra história – para conseguir lançar nossa música. Naquela época você fazia pequenas gravações em fita cassete, onde tocava algumas demos, e mandava para as pessoas, dava nos shows, para tentar fazer uma rede de contatos do pessoal que gostava de rock em outros países, como a Alemanha. Depois, essa coisa toda se tornou mainstream na Escandinávia, mas isso é outra história.
Fernando: Nos últimos anos, você esteve fazendo turnês com o Avantasia. Como você acha que tocar com eles mudou o jeito que você trabalha com o Pretty Maids? Se é que mudou algo, claro.
Ronnie: Na verdade, eu só fiz o Avantasia porquê eu queria tentar algo diferente, sabe? Na verdade, o Tobi (Tobias Sammet) me convidou pela primeira vez para o primeiro álbum, o The Metal Opera, lá em 1999. E para ser honesto, eu não sabia quem ele era, o que era o Edguy, nem nada do tipo. Mas ele era um cara muito legal, e por acaso acabei encontrando ele lá em 2012, acho, num daqueles cruzeiros no Caribe, e foi assim que a gente acabou se conhecendo melhor. Primeiro, ele me chamou para gravar uma música, a “Invoke The Machine” (nota: do álbum The Mystery Of Time). E foi assim que rolou a coisa. Eu falei “ah, tudo bem, me manda aí a música”, e achei que era uma música boa, e eu acabei fazendo. Aí depois ele me convidou para fazer turnês com eles, e achei que seria divertido cantar com todos aqueles cantores. E, bom, até esse momento, nunca me arrependi de ter feito isso. É muito legal, é uma ótima comunidade de pessoas ali, uma grande família, onde todo mundo se dá bem, sem aquela coisa de egos, nem nada do tipo. São ótimos amigos, e é incrível como os shows são sempre muito bem produzidos, tudo muito profissional, algo com a qual o Pretty Maids infelizmente não poderia arcar.
Fernando: E você acha que o Ronnie que vamos ver com o Pretty Maids agora é muito diferente do Ronnie que vimos em 2023 com o Avantasia, como cantor e frontman?
Ronnie: Não, eu espero que não! (risos) Ainda estou bem, me sentindo bem. Só ganhei alguns quilos, mas é a vida, estou ficando velho! (risos) Mas não, eu estou muito bem! Eu e os caras estamos trabalhando muito bem esse ano, e claro, serão músicas diferentes agora com o Pretty Maids, mas no geral acho que eu ainda sou o mesmo. Nem lembro bem como eu era em 2023, acho que igual agora. Eu espero. (risos)
Fernando: Bem, eu sei que você tem lutado contra o câncer já há seis anos. Eu tenho alguém muito especial para mim agora que está lutando contra câncer, sei como é complicado! Como tem sido para você fazer shows, turnês neste momento?
Ronnie: Sabe, é um pouco estranho. Para ser honesto, eu não esperava estar aqui agora, mas é assim que são as coisas. E devo dizer que a música foi o meu jeito de escapar disso, sabe? Fazer músicas, letras bem pessoais, acabou sendo uma forma de terapia para mim. Era muito melhor que sentar em casa e ficar lamentando. Então o fato de eu estar em turnês, fazendo coisas me ajuda a não pensar nisso o tempo todo. Claro, está sempre lá no subconsciente, mas eu tenho lidado bem, estou me sentindo bem. Se eu não estivesse me sentindo bem, eu não faria isso tudo. Acho que também tem um pouco da idade, e toda essa coisa de viajar fica mais difícil, de aeroporto em aeroporto, hotel em hotel, tudo isso fica mais difícil, mas isso foi o que eu fiz minha vida toda, e é um bom jeito para mim de manter minha vida. No geral, apenas vou vivendo. Considero uma benção de ainda conseguir fazer isso. Estou bem agora. O diagnóstico ainda é o mesmo, nada mudou, ainda tenho que fazer tratamento, mas me sinto bem!
Fernando: Eu lhe desejo uma recuperação completa, e muita saúde!
Ronnie: Muito obrigado, cara! Isso vale muito para mim.
Fernando: Só uma última pergunta. Podemos esperar no show material de toda a trajetória do Pretty Maids ou vocês focarão mais nos últimos álbuns?
Ronnie: É bem difícil fazer um setlist com uma carreira de quatro décadas e colocar em um show de uma hora. Temos dezesseis álbuns, e sei que as pessoas têm expectativas diferentes. Mas provavelmente tocaremos as músicas mais comun, como coisas do Red Hot and Heavy e Future World e algumas músicas do Pandemonium para frente. Talvez algumas coisas desse meio tempo, mas não sei. Até quando fazemos nossos shows sozinhos, e temos mais de duas horas de palco, é um desafio fazer setlists. Quanto mais álbuns você tem, mais difícil fica. (risos) Então vai ser um belo desafio fazer esse setlist.
Fernando: Muito obrigado novamente, Ronnie! Foi um prazer.
Ronnie: Eu quem agradeço!