(Foto: Elsie Roymans / Getty Images)
Em sua primeira turnê solo de grande porte, ao lado de Marty Friedman, também ex-Megadeth, o ex guitarrista do Angra e uma das maiores referências da guitarra no brasil, Kiko Loureiro concedeu entrevista exclusiva ao Sonoridade Underground, onde fala sobre seu trabalho atual, turnês, sua visão sobre o Angra hoje, e diz não pensar em voltar à banda. Confira!
Fernando Queiroz: Kiko, primeiramente muito obrigado pela entrevista! Essa turnê, como artista solo, com músicas instrumentais, principalmente, é a primeira do tipo que você faz em grande escala na América do Sul. Como tem sido a sensação de fazer algo grande, em grandes casas e grande público com um tipo de música que é, em tese, mais nichada?
Kiko Loureiro: Então, realmente a sensação de fazer esse tipo de música… Eu já fiz muitos shows Instrumental, com trio Sesc, Casas de Cultura Shows até maiores. Até em festivais também. Mas realmente, ano passado, esse ano, a gente está tentando expandir um pouco mais, fazendo um show que mescla Instrumental com música cantada. Tem o Alírio Netto como convidado. Então a gente pode tocar músicas do Angra, eu estou cantando Músicas do Megadeth e canto com ele também, tem um momento acústico nesse show. Então a gente quebra um pouco o lance só instrumental. E também faz um show mais longo, tenta fazer apresentação do palco com a banda completa, com Backdrop ou algum telão no fundo, mais movimentação de palco, etc, para ficar um show um pouco mais próximo do que seria um show de uma banda com um cantor. Então essa é a ideia, e a gente vai melhorando, aperfeiçoando nesse caminho, e tem rolado muito bem. A gente bota o set list de uma forma que não fique muito instrumental direto, e também não fique uma coisa que parece que é um show cantado. Então vai mesclando, e eu revisito minha carreira não só como as músicas instrumentais mais conhecidas, músicas do álbum novo, e também composições que eu fiz com o Megadeth, composições que eu fiz com o Angra. Então assim, é um repasse na minha carreira por completo. Celebra isso, e também apresento o álbum novo.
Fernando: Agora você e o Marty Friedman, ambos ex-Megadeth, estão em turnê juntos. Com esse tempo juntos, se conhecendo melhor, chegaram a falar sobre fazer algum trabalho em estúdio juntos, como um álbum, ou talvez um EP em parceria?
Kiko: A ideia com o Marty Friedman foi dele ser um convidado na turnê, de ter um segundo guitarrista que fosse conhecido, que eu tenho afinidade. Ano passado eu fiz com o Bumblefoot em dois shows só, e aí esse ano eu estava pensando quem, pô, veio na minha cabeça o Marty Friedman, pela conexão que eu já tive com ele, não só pelo Megadeth, mas a gente se falou várias vezes, trocou ideias de ter uma conexão musical, de forma de pensar bem próxima, e aí calhou dele poder fazer, dele estar já vindo para a América do Sul, a gente teve que reorganizar um pouco as datas, e deu certo, então está sendo super legal, e a gente está viajando bastante junto, está se conhece melhor ainda, e criei essa conexão. Mas fazer um trabalho junto, alguma coisa assim, não vou descartar, seria muito legal, mas a gente não está falando nada disso. O primeiro ponto é meio esse mesmo, se conhecer musicalmente, tocar junto, criar uma afinidade, porque fazer álbum junto tem que ter um motivo além de só juntar, tem que ter uma afinidade musical, uma amizade.
Em algum momento futuro você pretende voltar a tocar em uma banda em modelos mais “tradicionais”, gravando álbuns com vocalistas, aquele som mais “power/prog”, ou outro tipo de metal, com refrãos marcantes, etc., com os quais você ficou primeiramente conhecido?
Kiko: Essa pergunta eu não sei responder direito, para falar a verdade. Porque eu não sinto que seja muito diferente. As minhas composições… um riff do Theory of Mind pra mim não é tão diferente de um riff que tá no Temple of Shadows, que não é muito diferente de um riff que tá lá no Angels Cry, sabe assim… tipo, não muda muito, muda um pouco a estética, talvez. Da cabeça do fã, de quem tá ouvindo, mas musicalmente falando, mais ou menos, entendeu? Então, mas se a pergunta é mais “Ah, você tocaria em uma banda que tem um cantor e uma banda X”, pode ser, né? Eu não fico pensando num futuro daqui a cinco anos, sabe? Tipo, se eu pensasse no futuro, eu seria talvez um profissional de biologia, né? Porque esse era o meu futuro, que eu comecei a pensar, entendeu? Então, assim, eu gravei, conheci os caras, o Angels Cry virou um negócio, que aí fui depois com outros álbuns, e a banda dissolveu, que depois veio outros caras… e a gente volta para gravar outros álbuns, que leva a outros lugares. Depois vem o Megadeth, que é outra coisa. Eu moro na Finlândia, que é outra coisa, entendeu? Tipo Se eu quiser controlar muito o meu futuro, eu não vou pro lugar nenhum, né? Eu vou ficar ali em São Paulo… teria ficado lá tocando com o Supla talvez, entendeu? Então eu não penso no futuro dessa forma. Eu estou muito satisfeito com o presente, estou fazendo o controle total das coisas que eu faço, que eu tenho, da minha agenda, das minhas opções, onde eu quero tocar, com quem eu quero tocar, o que eu quero tocar. Então isso é muito bom de fazer. Agora se eu resolver fazer um álbum tipo Universo Inverso, se eu quiser fazer um álbum de lambada exótica progressive japonês, eu posso. Pode dar louco e querer fazer também. Esse é o bom desse tipo de artista que eu prezo, entendeu? Então assim, esse é o meu espelho, ele tem a liberdade artística Liberdade de opções.
Fernando: Do Kiko Loureiro que gravou o No Gravity e o Universo Inverso para o Kiko de hoje, como artista solo focado na guitarra, quais pontos você acha que mais evoluíram nesse tempo nos seus trabalhos, e o que você acha que ainda precisa, ou que você sente que quer, melhorar?
Kiko: Evolução é constante, a gente sempre está buscando evoluir e a evolução vem em vários aspectos, mas geralmente a experiência é uma facilidade de acesso da parte criativa, de resolver questões musicais, de viajar e fazer as coisas com mais tranquilidade, com mais controle de você estar mais tranquilo, sabendo o que vai acontecer, os problemas que acontecem você sabe contornar melhor, etc. Entendeu? Ter uma visão melhor de tudo como funciona, então eu acho que essa experiência é o principal aprendizado. E musical também, um monte de facilidades que tem, coisas que eu não imaginaria que eu poderia tocar, que hoje em dia eu toco com facilidade.
Fernando: Vendo neste momento, de fora, o Angra e os rumos que eles vêm tomando, qual sua opinião agora sobre a banda? Você hoje tem uma visão muito diferente sobre a banda do que quando estava lá?
Kiko: Eu acho tudo muito legal, eu sou amigo de todo mundo e eu acho que essas mudanças, assim, são parte da longevidade de uma banda, entendeu? A banda que tem uma longevidade, ela vai se transformando ao longo do caminho, entendeu? Você tem uma opção que é parar a banda e congelar no tempo aquilo que foi feito, ou você continua com o estilo, respeitando aquele estilo, mas criando variações, mas assim como foi feito no Fireworks, como foi feito no Holy Land… o Holyland é diferente do Angels Cry, que é diferente do Fireworks, que depois tem o Rebirth, que é diferente, mas tem vários elementos comuns ali, né? O próprio Cycles of Pain, que é um álbum excelente, eu ouço sempre, eu já ouço as demos, o pessoal me mostra e tal, tem muito de Angra do passado lá, mas obviamente tem uma outra sonoridade, porque, sei lá, os recursos de gravação, a forma que se grava, tem outro com vocalista, etc. Então assim, não tem como, eu acho excelente, eu acho que tem um sangue novo, porque tem outras bandas, se você olhar algumas bandas que estão 30 anos da estrada, às vezes também não estão fazendo nada interessante e ficam se repetindo, e o Angra não vejo isso, então acho isso muito bom.
Fernando: Obrigado, Kiko, e só uma última pergunta. Se não quiser responder, sem problemas! Se você fosse hoje convidado para se juntar novamente ao Angra, aceitaria? Se sim, quais seriam algumas condições que você teria para isso, tanto da parte deles, quanto da sua?
Kiko: Olha, não tenho nenhum plano de voltar pro Angra, não tenho nada em mente, eu tô fazendo minhas coisas, eles fazem as deles, a gente é amigo, eu moro num lugar, eles moram no outro, seria até confuso fazer isso, eu tô, como eu falei, eu tô curtindo esse momento que eu tenho uma escolha de quando que eu faço o turnê, quando eu não faço, quando eu me dedico pra outros projetos, etc., entendeu? Então eu vou fazer alguns eventos da Europa, outras coisas também, de alguns outros projetos vindo, então assim, essa liberdade pra mim, nesse momento, não vale voltar pro Angra pra tocar “Carry On”, entendeu? Eu toco aqui no meu show, eu revivo, curtindo e tal. Amizade com todos. Fui lá no podcast do Rafael. Fico lá horas com eles, conversando depois, se encontra. Então, assim, o melhor, né? Que é essa amizade e estar junto. Eu tô com eles quando venho ao Brasil. Assim como eu tenho os amigos, a família e tal, né? E com o Felipe e o Bruno, eles estão comigo aqui. O que eu não tenho menos contato é o Fabio, né? Mas é isso. Então, tipo, não tenho porquê. Neste momento, não tenho a mínima, nenhum plano de retornar ao Angra.