Sob o calor de São Paulo, Atheist e Cryptopsy celebram o death metal com técnica e fúria

A Fabrique Club foi tomada pela devoção ao som pesado em uma noite que combinou perfeitamente com o calor infernal de São Paulo. Fãs do metal extremo lotaram o local para prestigiar duas lendas do death metal técnico: Atheist e Cryptopsy.

Texto por Guilmer Silva (@guilmermetal) e fotos gentilmente cedidas pela revista Roadie Crew (@roadiecrewmag) e André Santos (@andresantos_mnp)

O resultado foi uma noite memorável, repleta de virtuosismo, brutalidade e energia contagiante. A aliança entre as produtoras Xaninho Discos, Chamuco e Caveira Velha Produção fizeram a produção do evento.

Atheist: Death Metal com LSD

A noite começou com os americanos do Atheist, que subiram ao palco ao som de “In the Flesh”, clássico do Pink Floyd, embalando a expectativa do público. A formação atual da banda — Kelly Shaefer (vocais), Jerry Witunsky e Alex Haddad (guitarras), Steve Flynn (bateria) e Yoav Ruiz-Feingold (baixo) — mostrou por que são considerados pioneiros do death metal técnico.

O setlist foi uma viagem no tempo, focando nos três primeiros álbuns da banda: Piece of Time (1990) Unquestionable Presence (1991) e Elements (1993). A abertura com “No Truth” foi um choque de nostalgia para os fãs mais antigos, seguida por “On They Slay” e “Unholy War”, que destacaram a técnica impecável e a complexidade progressiva da banda. O Atheist é conhecido por sua mistura única de death metal, thrash, jazz e progressivo — uma combinação que, nos anos 90, os colocou à frente de seu tempo.

Destaques como “Water” e “Mineral” (do álbum Elements) levaram o público ao delírio, enquanto “Air” e “Fire” consolidaram o clima de celebração. Apesar dos pedidos insistentes por “Samba Briza”, a banda optou por não incluí-la no setlist, deixando uma ponta de saudade no ar.

O baixista Yoav Ruiz-Feingold roubou a cena com sua energia contagiante, girando e saltando com seu baixo como se fosse uma extensão do seu corpo. Steve Flynn, na bateria, foi um espetáculo à parte, com uma técnica precisa que hipnotizou a todos. Já Alex Haddad, com seus solos cheios de nuances, transportou o público para um clima quase jazzístico em certos momentos.

O encerramento do set com “Brains”, “Mother Man” e “Enthralled in Essence” foi pura eletricidade, com rodas de mosh se formando e a energia da Fabrique atingindo o ápice. A emocionante dedicatória de “I Deny” ao falecido baixista original Roger Patterson foi um momento tocante, lembrando a todos da rica história da banda.

Cryptopsy: Brutalidade Canadense em Dose Concentrada

Às 21h10, foi a vez do Cryptopsy, direto do Canadá, levar o público a um mergulho no brutal death metal. A banda, atualmente formada por Matt McGachy (vocais), Olivier Pinard (baixo e backing vocals), Christian Donaldson (guitarra) e Flo Mounier (bateria) — único membro da formação original —, trouxe um setlist que agradou tanto os fãs antigos quanto os novos.

A abertura com “Slit Your Guts”, do clássico None So Vile (1996), foi um golpe certeiro. O álbum, considerado um marco do gênero, ganhou os corações dos metaleiros na década de 90, e sua capa — uma pintura de Elisabetta Sirani intitulada “Herodias, com a cabeça de João Batista” — carrega uma história fascinante e sombria, ligada a eventos bíblicos.

O Cryptopsy manteve o público em frenesi com faixas como “Lascivious Undivine” (do mais recente As Gomorrah Burns, de 2023), que provou que a banda ainda mantém a essência brutal dos anos 90. “Graves of the Fathers” e “Sire of Sin” (do EP The Book of Suffering: Tome II) foram responsáveis por iniciar as rodas de mosh, enquanto o vocalista Matt McGachy impressionou com sua performance poderosa, lembrando ninguém menos que George “Corpsegrinder” Fisher, do Cannibal Corpse.

Para os fãs mais antigos, a banda trouxe clássicos como “Open Face Surgery” e “Serial Messiah” (do álbum de estreia Blasphemy Made Flesh, de 1994), garantindo headbangs coletivos. Um momento marcante foi a dedicatória de “Godless Deceiver” ao triste caso de Fabiane Maria, vítima de violência em 2014 após acusações falsas nas redes sociais — um lembrete sombrio do poder destrutivo da desinformação.

O encerramento com “Benedictine Convulsions”, “Flayed the Swine”, “Phobophile” e “Orgiastic Disembowelment” foi puro caos controlado, deixando a Fabrique em chamas — no melhor sentido possível.

O evento foi uma celebração do metal extremo em sua forma mais pura e técnica. O Atheist, com sua mistura única de death metal, jazz e progressivo, e o Cryptopsy, com sua brutalidade implacável, provaram por que são referências no gênero. Para os fãs presentes, foi mais do que um show: foi uma experiência inesquecível, que reforçou a vitalidade e a paixão da cena underground do metal. Uma noite que uniu técnica, história e energia bruta, deixando todos com a certeza de que o death metal está mais vivo do que nunca.

Burnt Into Pieces Latin America Tour – Fabrique Club – 21/02/2025

Atheist

  1. No Truth
  2. On They Slay
  3. Unholy War
  4. Water
  5. Mineral
  6. Enthralled in Essence
  7. Your Life’s Retribution
  8. Air
  9. Fire
  10. Brains
  11. Room With a View
  12. I Deny
  13. Unquestionable Presence
  14. Mother Man
  15. Piece of Time

Cryptopsy

  1. Slit Your Guts
  2. Lascivious Undivine
  3. Graves of the Fathers
  4. Sire of Sin
  5. Open Face Surgery
  6. Serial Messiah
  7. Godless Deceiver
  8. Benedictine Convulsions
  9. Flayed the Swine
  10. Phobophile
  11. Orgiastic Disembowelment
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About Guilmer da Costa Silva

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