Converge lava a alma dos fãs com apresentação catártica e intensa em São Paulo -

Após cancelar e adiar shows no Brasil, um dos maiores nomes do metal torto faz sua tão aguardada estreia no país e emociona os fãs com um show arrebatador

Texto por Luiz Gonçalves (@luizera.goncalves) e Fotos: Leca Suzuki (@lecasuzukiphoto)

Ser fã do Converge no Brasil não tem sido uma tarefa fácil nos últimos anos. Com sua estreia no Brasil marcada para março de 2020, a banda teve que cancelar sua passagem pelo país por conta da pandemia da COVID-19. Uma nova data foi agendada para abril deste ano, que precisou ser remarcada para o dia 10 de novembro, devido a problemas de saúde do guitarrista Kurt Ballou. Mas a espera valeu a pena e o Converge lavou a alma dos fãs com uma apresentação catártica no palco do Cine Joia, em São Paulo, no último domingo (10).

Formada em 1990, em Massachusetts, o Converge se consolidou como um dos principais nomes da música pesada com sua mistura de metal, hardcore e outros gêneros, que dão o tempero especial ao som caótico e intenso da banda. Com suas raízes no metalcore, o Converge lançou álbuns poderosos e aclamados, como o icônico Jane Doe (2001), You Fail Me (2004) e All We Love We Leave Behind (2012).

Com mais de 30 anos de carreira, o Converge finalmente fez sua tão esperada estreia no Brasil, restaurando a esperança dos fãs que já tinham desistido de presenciar uma apresentação ao vivo da banda em solo brasileiro. O palco do Cine Joia recebeu doses cavalares de música torta e visceral, deixando o dia 10 de novembro de 2024 eternizado na mente dos fãs de música extrema.

Mee e Converge: uma combinação perfeita

A banda Mee foi a responsável pela abertura da noite. A escolha não poderia ter sido mais assertiva, já que o grupo também traz um peso absurdo e agressivo em sua sonoridade, se destacando no cenário underground atual como um dos nomes mais interessantes e promissores da cena.

A performance do Mee foi irretocável, mesclando em seu show momentos caóticos e passagens mais lentas. A banda concentrou seu repertório nas músicas do seu excelente álbum de estreia, o autointitulado, lançado em 2023. Faixas como Electric Blanket & Chicken, Dobre, Koro Syndrome e Pidgeon Standard colocaram o público para aquecer o moshpit, além de impressionar quem não conhecia o som do Mee.

Todos os integrantes do Mee são músicos excepcionais. Destaque para o baterista João Pedro Dentello, que mostrou ao longo do show seu vasto repertório musical e sua habilidade de incorporar nas músicas diversas influências musicais. Jê Landini, vocalista e guitarrista, mostrou uma potência vocal fora da curva, além de uma performance de palco segura e cheia de atitude. Infelizmente, na penúltima música, a banda teve problemas técnicos com a guitarra de Arthur Sardinha, tendo que finalizar o show com apenas uma guitarra. O Mee apresentou um show de alto nível e foi um verdadeiro presente para o público que chegou cedo na casa.

O caos musical do Converge

O Converge subiu no palco do Cine Joia pronto para estremecer a estrutura da casa. E foi exatamente o que aconteceu. Jacob Bannon (vocal), Nate Newton (baixo), Ben Koller (bateria) e Kurt Ballou (guitarra) promoveram uma verdadeira catarse dentro do Cine Joia. A performance caótica e intensa da banda fez o público enlouquecer e o espaço central da casa foi tomado pelo moshpit.

A potência sonora e a brutalidade do som do Converge ao vivo é atordoante, mostrando que a experiência de viver um show da banda é algo completamente fora do comum. A presença de palco do grupo é incendiária, com Jacob Bannon indo de um lado para o outro, como se o som de sua própria banda o deixasse atordoado e desesperado ao mesmo tempo.

O som do Converge ganha ainda mais corpo ao vivo, e, em uma casa intimista como o Cine Joia, a performance se torna ainda mais intensa e visceral. O setlist contou com músicas como Dark Horse, Hell To Pay, Axe To Fall e You Fail Me. Em All We Love We Leave Behind, o público cantou com muito sentimento e entrega, marcando um dos momentos mais explosivos do show.

Infelizmente, em alguns momentos, principalmente nas partes limpas das canções, era quase impossível ouvir a voz de Jacob, que se perdia em meio ao caos musical. Talvez o único ponto negativo da performance. O público também merece os créditos pela catarse que aconteceu durante o show. Além do moshpit frenético, vários fãs arriscaram stage dives e, em alguns momentos, subiram na borda do palco para dividir os vocais com Jacob, assim como Hélio Siqueira, um grande fã do grupo e vocalista do Institution, banda que iria abrir o show do Converge na primeira data anunciada, além de Jê Landini, que recebeu o microfone do próprio vocalista.

O baixista Nate Newton agradeceu ao público e disse que amava o Brasil em um dos poucos momentos de interação da banda com os fãs. A energia explosiva do show se manteve do início ao fim, com a clássica Concubine antecedendo o bis. The Saddest Days foi a responsável por encerrar um dos shows mais caóticos de 2024.

O Converge entregou um show pesado, caótico, intenso e explosivo. Mesmo com uma apresentação curta e com pouca interação com o público, a banda conseguiu criar uma conexão forte com os fãs, que lavaram a alma ao vivenciar uma verdadeira catarse musical. Foi um show com uma troca verdadeira, onde banda e público entregaram intensidade do início ao fim, fazendo da primeira passagem do Converge pelo Brasil algo marcante e inesquecível para os amantes da música pesada. A espera realmente valeu a pena.