A despedida de uma lenda – Sepultura faz 3 shows icônicos na capital paulista

Sexta-feira (6/9/4)

Texto dia 06/09: Daniel Agapito (@dhpito)

Fotos dia 06/09 Leca Suzuki (@lecasuzikiphoto)

O inesperado fim(?) de um ícone nacional

Convenhamos, poucas bandas nacionais chegarão ao nível de relevância mundial que o Sepultura chegou em seu auge; foram uns dos responsáveis por colocar o Brasil no mapa, aos olhos do metal mundial. Considerados um dos maiores expoentes do thrash – na época – tocando em diversos festivais de nome, vendendo milhões e milhões de discos no mundo inteiro, até chegando a ser um dos pioneiros do nu metal, estilo que tomaria o metal por um tempo. Isso tudo até o fatídico Roots Tour de 1996, que culminou na saída do vocalista Max Cavalera. Aquela velha história. Não vale a pena ficar debatendo quem é o Sepultura real, o “no Cavalera, no Sepultura” e coisas do tipo, ambos estão ativos e indo bem, o futuro é próspero, né?

De dezembro de 2023 até meados de fevereiro do ano seguinte foram meses complicados para fãs da banda, com o grupo anunciando sua “morte planejada”, realizando uma longa turnê de despedida, que passaria por locais pelo Brasil inteiro e diversos locais pelo mundo. A gira deles começou em sua cidade natal, Belo Horizonte, com uma celebração incrível da carreira deles, tocando quase duas horas de clássicos e faixas mais novas, impressionando os fãs. Sua passagem pela capital paulista foi anunciada junto da primeira leva de datas, esgotando em poucas horas, abrindo duas datas extras, que também acabaram esgotando, criando o cenário perfeito para três noites de pura loucura.

Antecipação absurda

Com aquela sexta-feira fazendo um clima bastante ameno, tranquilo, que não passava dos 20°, mas também não ficava mais frio que os 14°, muitos obcecados pelo Sepultura viram como a oportunidade de já fazer fila no Espaço Unimed horas e horas antes das portas abrirem. Vale ressaltar que os 3 shows da banda não eram os únicos grandes eventos acontecendo na capital paulista, com a NFL trazendo um jogo entre os Eagles e os Packers para a Neo Química Arena, a Bienal do Livro acontecendo no Distrito Anhembi e o primeiro (de três) dia do Coala Festival rolando no Memorial da América Latina, do lado do Espaço Unimed, apresentando grandes nomes como O Terno, Tata Ogan e a dupla de Adriana Calcanhoto e Arnaldo Antunes apenas em seu palco principal.

Trabalhadores da região dizem ter visto a formação de filas em frente o Unimed desde antes das 14:00, com as portas previstas para abrir apenas às 19:00. Mais perto da hora do show, quando este mesmo que vos escreve chegou (mais ou menos 15 minutos antes da abertura das portas), a fila já dobrava a Rua Tagipuru.

A força do underground nacional

A noite começou relativamente cedo, às 19:30, com um show de abertura do Torture Squad, veterana banda de death metal paulistana, atualmente integrada por Mayara Puertas (vocal), Rene Simonato (guitarra), Castor (baixo) e Amilcar Christófaro (bateria). Promovendo seu mais recente álbum, o aclamado Devilish (2023), foi ele que tomou grande parte do repertório, com Hell is Coming, sua faixa de abertura iniciando a noite, após um breve anúncio do jogo Diablo IV. A apresentação deles contou também com uma participação de Slovakia, 5x campeã do mundo de cosplay, interpretando Lilith, naquela noite.

O esquadrão seguiu destacando seu disco novo com Flukeman e a estranhamente hard rock Warrior, ambas recebidas calorosamente pelo público, que crescia a cada segundo. Incorporaram também alguns clássicos da banda, notavelmente Horror and Torture e Raise Your Horns, hino do metal extremo nacional. Depois desta dobradinha, estavam com o público na mão, com muitos gritando o nome deles. Abriram o show com as primeiras duas músicas e fecharam de maneira similar, com as duas últimas: A Farewell to Mankind e The Last Journey. Essa última viu apenas May (no teclado) e Lilith no palco, com o resto da banda vindo apenas para se despedir do público e bater fotos.

Começo caótico

Desde o segundo que o Torture Squad desceu do palco, já começavam os murmurinhos dos fãs, secos para ver os meninos de Belo Horizonte (cujos dois são americanos). O relógio chegava às 21:00 e nada. 21:10, nada. 21:20, começava pelo sistema de PA o icônico riff inicial de War Pigs, do Black Sabbath. 21:25, acabou War Pigs, agora vai! Não, ainda tem Polícia, do Titãs. 21:30, acabou Polícia, agora vai? Isso! Com meia hora de atraso (com certeza combinado), apareciam Greyson Nekrutman, Paulo Xisto, Andreas Kisser e Derrick Green. Antes de qualquer pessoa conseguir sequer pensar em reclamar da demora, “tugudugudum”, Refuse/Resist. A casa praticamente explodiu; uma energia indescritível. Logo de cara já começava a voar copo de cerveja, sapato, gente. 

Em relação ao som, tudo perfeito, a banda com uma química ímpar, timbres animais (valendo destacar o timbre do Paulo no break da Refuse, que coisa avassaladora, meu Deus do céu) e o Greyson, baterista já bastante adaptado, não apresentando mais o nervosismo e pequenos erros que mostrou nos primeiros shows da turnê, já conseguindo inserir um pouco da personalidade dele nas linhas de bateria. Mantiveram a energia lá em cima com a Territory, com os fãs novamente cantando em uníssono, pulando, gritando. Mostraram profundidade do repertório com Propaganda, que é menos conhecida do que as duas que vieram antes, mas mesmo assim, a galera adorou. Teve uma hora que o Derrick pediu para levantarem os punhos pro ar e todo mundo levantou; para a surpresa das avós ao redor do mundo, se ele pedisse pra pular da ponte, provavelmente pulariam junto. Parecia que o universo inteiro era o Sepultura, naquele momento. 

“Vamos tocar a história do Sepultura”

Tiraram o foco do Chaos A.D. um pouco e colocaram o público para sambar com Phantom Self, destaque do Machine Messiah da época do Eloy – hora do Greyson sanar as dúvidas restantes. Mesmo com a bateria um pouco sumida na mixagem, mostrou que consegue sim executar perfeitamente as músicas, apesar das diferenças sonoras e estilísticas em relação ao resto da banda. 

O apreço não era só dos fãs à banda, mas também da banda aos fãs, com Derrick cumprimentando os paulistanos: “E aí São Paulo, finalmente tocando aqui pra vocês. Incrível, viu? Obrigado, muito obrigado. Temos bastante músicas para vocês hoje à noite. Vamos tocar a história do Sepultura.” Passaram para uma trinca do divisivo Roots, com Dusted, Attitude e Spit. As 3 foram recebidas novamente de maneira calorosa pelo público incansável. Aqui vale comentar sobre os vídeos gerados por inteligência artificial que passavam nos telões, que eram um tanto esquisitos (especialmente o que passaram em Attitude, que era um índio virando os olhos, bem nada a ver).

Uma das eternas críticas ao Sepultura atual é como “vivem da era Max”, “só tocam as músicas dos Cavalera”, apesar disso se aproximar muito mais à realidade dos próprios irmãos. Depois de Spit (a sétima música), só foram tocar outra música da época dos Cavalera 7 músicas depois, começando com Kairos. Andreas também falou bem do público, dizendo que eram “foda” e que a banda em si estava bem ansiosa para estar tocando em São Paulo, conentando que aquela sexta-feira seria a melhor data, por ter sido a primeira a esgotar. Depois introduziu o Greyson, que foi absolutamente ovacionado pelo público. Dedicou a próxima música, Means to an End, aos seus fãs, que ajudaram a manter a banda viva por 40 anos. Foi recebida de forma relativamente morna, muito provavelmente por conta de sua recência, sendo lançada a menos de 5 anos atrás.

Surpreendentemente, houve um grande alvoroço com a virada icônica de Convicted in Life, do hiper-subestimado Dante XXI, da fase esquisita depois da saída do Max, mas antes da do Iggor, onde ainda estavam procurando sua identidade sonora definitiva, fazendo diversos experimentos. Guardians of the Earth, destaque no mais novo play, Quadra (2020) foi um momento verdadeiramente lindo, com grande parte do bairro da Barra Funda batendo palma, admirando as habilidades técnicas insanas de Andreas Kisser e refletindo sobre o estado precário que nós como sociedade temos deixado nosso meio ambiente. Se dependesse de quem estava no show, a Amazônia ainda estaria inteira, perfeita.

Sempre interagindo com o público, Green se aventurou mais no português: “E aí São Paulo! Nós vamos tocar uma música do disco Roorback.” Surpreso com a falta de reação, pediu de novo, insinuando que queria um alvoroço maior. Em seguida, anunciou Mind War, que é levemente mais direcionada ao nu metal. False foi recebida surpreendentemente calorosamente, considerando que foi a segunda música do Dante. O mesmo vale para Choke, do polêmico Against

Algumas “velharias”

Andreas voltou à frente do palco e anunciou que iam tocar “umas coisas antigas”, umas “velharias” de 1987, do Schizophrenia. Elogiou as “rodinhas” que estavam abrindo (estavam bem grandes já, na real) e pediu para que abrissem mais porque iam tocar um “thrash metal mesmo”. Executaram Escape to the Void, queridinha que voltou ao setlist para essa turnê depois de 5 anos sem ser tocada. Curiosamente, essa mesma também está no setlist atual dos irmãos Cavalera, que estão em turnê promovendo sua regravação (vergonhosa) do Schizophrenia.

Fizeram um pequeno intervalo, passando vídeos da gravação do Roots com a tribo Xavante, com o Andreas falando da Kaiowas, jam que eles faziam muito na tour do Chaos A.D. Explicou que muitas pessoas diferentes participavam, amigos, músicos, fãs. Para este show, vieram ao palco Jean Patton (Korzus, ex-Project46) para assumir a guitarra (com Kisser agora no violão) e o Torture Squad (completo), Yohan Kisser, Antônio Novato (Canal Lado Direito do Palco), fãs, membros da equipe e até o João Barone (Os Paralamas do Sucesso) para ajudar na percussão.

Continuaram as “velharias” com a sempre muito bem-vinda (e bem recebida) Dead Embryonic Cells, que viu também a queda de alguns confetes do teto, sem razão aparente. Não foi uma grande quantidade, mais ou menos um punhado. Biotech is Godzilla, crítica sutil à indústria da biotecnologia (que estava ausente do setlist desde 2018, até ser re-inserida para essa turnê) foi a trilha sonora para muita bateção de cabeça, rodas e caos generalizado, com seu refrão sendo replicado a plenos pulmões. 

Deram um descanso para os clássicos com Agony of Defeat, uma quase-balada do novo disco, que apresenta uma carga emocional ímpar, com sua introdução melancólica, bateria simples, mas eficaz e vocal “falado” do Derrick. Todos deram uma choradinha, não adianta mentir. O show deles no Rio de Janeiro no sábado anterior (31/9) foi o primeiro a contar com a icônica Orgasmatron, originalmente do Motorhead, mas que, convenhamos, já pode ser considerada mais do Sepultura. Sua inclusão foi mantida para a primeira data em “sampa”, levando os fãs à loucura. No finalzinho, tivemos direito a um breve solo de bateria vindo de Greyson.

Se a Orgasmatron é velharia, Troops of Doom é um fóssil. Muitos fósseis, especialmente aqueles bonitos, de qualidade, são expostos em museus, e foi praticamente isso que aconteceu com a Troops, que foi tocada (e teve até seu riff inicial ecoado pelos fãs). Rolou até uma “wall of death”, a pedido do vocalista. “Muito bom, muito bom, sexta-feira em São Paulo, ‘caraio’, bora”, disse Derrick, queridinho dos fãs, que comentou que iria “tocar uma música mais antiga, muito ‘véia’, clássica do Sepultura, espera aí”. Uma das poucas críticas válidas às performances do grupo no início da turnê foi a falta de representantes do Beneath the Remains, crítica que foi rebatida nos shows mais recentes, que contaram com Inner Self. “Listen up São Paulo, escuta aí São Paulo, what I want you to do for me, is to fucking arise”. Podia até parar o texto por aqui. Quem já viu pelo menos um show do Sepultura sabe o que rola logo depois.

O bis que surpreendeu a tudo e todos

Logo depois de Arise, se retiraram, deixando apenas seu logotipo no telão, em vermelho. Surpreendendo tudo e todos, voltaram pro palco pouco tempo depois. Derrick chegou e falou, “mais uma, por favor?” Andreas e Derrick também mencionaram, que estavam gravando aquela noite especial, e que era para “gritar ‘pra’ caralho” para o disco ao vivo. Tocaram Ratamahatta e Roots Bloody Roots (dupla que ninguém esperava). Como também era totalmente esperado, foi – de longe – o momento de maior energia do show, com o chão tremendo de tantos pulos – eram umas 8 mil pessoas pulando junto – e um coro de “rooots, bloody roooots”. Fecharam o show agradecendo muito a presença do público, elogiando a recepção calorosa ao longo da noite e com uma mensagem simples na tela, “Obrigado São Paulo!” Com a famigerada entrega das palhetas, os fãs gritavam o nome da banda (e do Greyson).

Green terminou dizendo, “you guys are the fucking best, vocês são do caralho”. Digo o mesmo, Derrick, digo o mesmo.

Torture Squad – setlist:

Anúncio Diablo*
Hell is Coming
Flukeman
Horror and Torture
Raise Your Horns
Find My Way
A Farewell to Mankind
The Last Journey

Sepultura – setlist:

War Pigs (Black Sabbath)*
Polícia (Titãs)*

Introdução (videos diversos)*
Refuse/Resist
Territory
Propaganda
Phantom Self
Dusted
Attitude
Spit
Kairos
Means to an End
Convicted in Life
Guardians of the Earth
Mind War
False
Choke
Escape to the Void
Kaiowas (com Jean Patton, João Barone, Torture Squad, Yohan Kisser, Novato, fãs e membros da equipe técnica)
Dead Embryonic Cells
Biotech is Godzilla
Agony of Defeat
Orgasmatron (Motorhead)
Troops of Doom
Inner Self

Arise

Bis

Ratamahatta
Roots Bloody Roots
Easy Lover (Phil Collins)*

*pelo sistema de PA

Sábado (7/9/24)

Texto dia 07/09: Guilmer Silva (guilmer_metal)

Fotos dia 07/09 – André Simões (andresantos.mnp)

CULTURA TRES – A força do metal latino

A primeira noite da série de três shows da turnê de despedida foi incrível, e a segunda prometia não ficar para trás. Com a casa cheia novamente, a banda escolhida para abrir a segunda noite foi a Cultura Tres, projeto paralelo do lendário baixista Paulo Xisto.

O Cultura Tres foi formado há mais de uma década na pequena cidade de Maracay, no interior da Venezuela, pelos irmãos guitarristas Alejandro e Juanma Montoya. Eles lançaram o primeiro disco de forma independente em 2017, chamado La Secta, que teve grande destaque na cena latina por sua pegada de Sludge e Doom Metal. O álbum foi elogiado pela renomada revista Metal Hammer e rendeu à banda sua primeira turnê pela Europa e Ásia.

No entanto, os irmãos Montoya não conseguiram manter uma estrutura sólida para seguir em frente, e é aí que entra o baixista brasileiro. Paulo Jr. ficou impressionado com o som do Cultura Tres e, em 2019, se ofereceu para tocar na banda. Recentemente, o grupo divulgou seu segundo álbum completo, Camino de Brujos (2023), com letras em espanhol e inglês e uma sonoridade mais suja. A banda fez sua estreia no Brasil este ano, tocando no primeiro dia do festival Summer Breeze Brasil.

A formação da banda conta com Alejandro Londoño (vocal/guitarra), Juan De Ferrari (guitarra), Paulo Xisto (baixo) e Alejandro Londoño (bateria). No entanto, para o show em São Paulo, o versátil Henrique Pucci (Noturnall e Escombro) foi recrutado para comandar as baquetas. Tenho a impressão de que ele é o baterista mais requisitado atualmente, e sempre entrega performances excelentes, como foi o caso nesta apresentação. A sintonia entre ele e o restante da banda era nítida.

Às 19:30 em ponto, a introdução da faixa “Los muertos de mi color” anunciou o início da apresentação. O setlist foi composto majoritariamente por músicas do último álbum Camino de Brujos (2023). A faixa “The World and Its Lie” trouxe um som calcado no groove metal, remetendo até mesmo ao Sepultura da década de 90, o que imediatamente conquistou o público. Em seguida, as faixas “Time Is Up” e “The Land” não deixaram espaço para descanso, com a terceira música exibindo uma pegada hardcore/punk, com um riff matador e uma energia incrível.

Em um momento de pausa, Alejandro, visivelmente emocionado, mencionou que aquele era um momento de celebração da banda mais importante da América Latina, e que era uma honra fazer parte disso. Com Paulo Xisto trabalhando dobrado naquela noite, a parte final do show começou com as faixas “Proxy War” e “Day One”, música do álbum La Secta (2017), com uma sonoridade que flertava com doom metal disfarçado de thrash.

Com o final do show se aproximando, Alejandro pediu desculpas por não falar tão bem o português e agradeceu a todos por terem chegado cedo para prestigiar o show. Ele declarou que o Sepultura é como uma igreja do metal, unindo todos. Com esse recado, ele anunciou as faixas “Zombies” e “Signs”, com esta última sendo um verdadeiro arregaço ao vivo. Foi um show curto, mas intenso, e espero que voltem para um show solo com mais tempo de palco — com certeza estarei presente.

SEPULTURA – 40 anos de determinação e amor ao metal

Assim como na sexta-feira, o único ponto baixo do show foi o atraso de meia hora, mas às 21:30, soou bem alto o clássico “War Pigs” da lendária banda de heavy metal Black Sabbath. Era impossível não balançar a cabeça ao som do riff do mestre Tony Iommi. Outro clássico, “Polícia” dos Titãs, também ecoou pelos alto-falantes do Espaço Unimed.

Com a segunda noite de ingressos esgotados, o Espaço Unimed estava lotado para receber Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto (baixo) e o recém-chegado Greyson Nekrutman (bateria), que aceitou o desafio de encarar a turnê chamada “Celebrating Life Through Death“. O setlist começou de maneira avassaladora com “Refuse/ Resist”, “Territory” e “Slave New World”. Após muitos gritos dos fãs, Derrick falou pela primeira vez, agradecendo a todos pela segunda noite de casa cheia e prometendo uma noite inesquecível.

O set da segunda noite trouxe algumas mudanças, entre elas a espetacular “Slave New World”, executada no volume máximo. A performance de Greyson foi incrível, demonstrando sua competência, segurando bem o ritmo da banda. Poucos bateristas tocam com tanta garra atualmente, e ele está entre os melhores.

A brutal “Phantom Self” do elogiadíssimo Machine Messiah (2017) e a fase Roots marcaram presença com “Dusted”, “Attitude” e “Cut-Throat”. Ouvindo essas músicas novamente, fica evidente a influência que esse álbum teve no nu metal, servindo de inspiração para bandas como Korn, Slipknot e Deftones.

A segunda parte do show foi dedicada à fase Derrick da banda, com a incrível “Kairos”. Andreas aproveitou o momento para apresentar o jovem Greyson (ex-Suicidal Tendencies), que entrou na banda em março após a saída de Eloy Casagrande. Greyson mostrou-se magnífico, desempenhando sua função com muita competência.

A banda explorou o álbum Quadra com as faixas “Means to an End” e “Guardians of Earth”, com esta última sendo um dos momentos mais incríveis do show, destacando um solo espetacular de Andreas. “Guardians of Earth”, ao vivo, é uma verdadeira obra de arte.

O setlist também trouxe surpresas, como “Sepulnation”, presente no álbum Nation (2001), além de “Mind War”, do álbum Roorback, uma das minhas favoritas. “Choke”, do álbum Against (1998), também não ficou de fora, abrindo rodas imediatamente.

Após uma breve pausa, Andreas anunciou que era hora de tocar algumas “coisas velhas”, e a clássica “Escape to the Void” iniciou um verdadeiro pandemônio. Com vídeos da gravação de Roots no telão, a faixa “Kaiowas” trouxe uma jam completa, com a participação de Supla, membros do Cultura Tres e Yohan Kisser, criando um momento hipnotizante.

Caminhando para o final, “Dead Embryonic Cells”, “Biotech Is Godzilla” (que estava ausente do setlist desde 2018, até pela nossa felicidade foi re-inserida para essa turnê) e a quase post-metal “Agony of Defeat” fecharam a noite com força total. O cover de “Orgasmatron” do Motörhead preparou o terreno para a trinca sagrada do Sepultura: “Troops of Doom”, “Inner Self” e “Arise”, emocionando o público.

Com “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots” encerrando a noite, foi uma performance cheia de determinação, peso e amor ao heavy metal. É difícil acreditar que uma lenda do metal está encerrando suas atividades após 40 anos. A alegria estava estampada no rosto de todos — adultos, idosos, adolescentes e até crianças. Essa noite ficará marcada na memória de cada um presente. Obrigado por tudo, Sepultura.

Cultura Tres setlist:

Los muertos de mi color (introdução)
The World and Its Lies
Time Is Up
The Land
Proxy War
Day One
Zombies
Signs

Sepultura – setlist:

War Pigs (Black Sabbath)*
Polícia (Titãs)*

Refuse/Resist
Territory
Slave New World
Phantom Self
Dusted
Attitude
Cut-Throat
Kairos
Means to an End
Sepulnation
Guardians of Earth
Mind War
False
Choke
Escape to the Void
Intermission
(Videos da gravação do álbum “Roots” com a tribo Xavante )
Kaiowas
(com Supla, Cultura Tres, Yohan Kisser, Marcio Sanches)
Dead Embryonic Cells
Biotech Is Godzilla
Agony of Defeat
Orgasmatron
(Motörhead cover)
Troops of Doom
Inner Self
Arise

Bis

Ratamahatta
Roots Bloody Roots
Easy Lover (Phil Collins)*
*pelo sistema de PA

DOMINGO DIA 08/09/24

Texto dia 08/09 – Peu Bertasso (peubertasso)

Fotos dia 08/09 – Natalia Eidt (natty.eidt)

Sepultura se despede de São Paulo com show impecável na terceira data esgotada

Despedidas nunca são fáceis, mesmo as planejadas ou anunciadas. O último domingo (9) marcou o que pode ser o último show solo do Sepultura na capital paulista. Por mais que já tenham anunciado um show no próximo Lollapalooza, não há ainda nada programado para uma nova data solo do grupo por aqui. Sendo assim, o tom de despedida estava presente no ar durante a terceira data esgotada no Espaço Unimed. Lotado, o grupo entregou aos fãs apaixonados tudo de si, fazendo um show impecável pelo terceiro dia seguido. 

Desta vez, o Black Pantera foi o responsável por iniciar a festa. O trio mineiro formado por Charles Gama (guitarra, vocal), Chaene da Gama (baixo, vocal) e Rodrigo Pancho (bateria), trouxe toda a energia de seu crossover misturado com thrash metal e agitou o público durante todo seu curto show. Suas letras de protesto, levantando a palta antirracista e antifascista, são marcas registradas dentro das apresentações do grupo. O público respondeu a altura, abrindo moshs o tempo todo. A banda manteve a tradição de pedir aos fãs para abrir um mosh apenas para as mulheres, assim como pedir para que todos se abaixem e pulem durante “Fogo nos Racistas”, no maior estilo “Spit it Out” do Slipknot. Das bandas de abertura dos outros dias, o Black Pantera fez o show mais enérgico, conquistando ainda mais o seu espaço na cena atual. 

Black Pantera – 08/09/2024 – Espaço Unimed

Provérbios
Padrão é o Caralho
Mahogara
Sem Anistia
Perpétuo
Fogo nos Racistas
Tradução
Mosha
Revolução é o Caos
Boto pra Fuder

O Sepultura manteve o atraso dos dois primeiros dias, iniciando seu show apenas às 20h30, meia hora depois do anunciado, com a execução de “War Pigs” do Black Sabbath e “Polícia”, do Titãs, no som ambiente da casa. Após a trilha de introdução que mistura várias faixas da banda, “Refuse/Resist”, “Territory” e “Slave New World” levaram o Espaço Unimed a baixo. O trio do disco “Chaos A.D.” teve “Phantom Self” na sequência, faixa que, durante os três dias, não empolgou tanto assim o público. Porém, a animação foi retomada quando o bloco do disco “Roots” foi iniciado. “Dusted”, “Attitude” e “Breed Apart”, essa última estreando na turnê, trouxeram toda a agressividade de um dos maiores discos de sucesso da carreira da banda. 

Após “Kairos”, Andreas Kisser (guitarra) agradeceu a todos os presentes por todo o apoio que a banda sempre teve em seus quarenta anos de carreira, dedicando ao público a técnica “Means to an End”, do disco “Quadra”, um dos discos mais complexos do grupo em termos musicais. “Sepulnation” fez o público sair do chão antes de “Guardians of Earth”. Um dos principais destaques da noite, “Guardians” traz toda uma atmosfera diferente de outras canções, atmosfera essa gerada pelas orquestras e corais durante a música. Um novo bloco se iniciou com o trio “Mind War”, “False” e “Choke”, faixas da época em que Igor Cavalera permaneceu na banda após a saída de seu irmão Max. As faixas precederam a veloz “Escape to the Void”, fazendo a alegria dos fãs mais antigos do Sepultura.

Após um vídeo que mostrava trechos das composições do disco “Roots” em meio a tribo Xavante, a banda anunciou que tocaria “Kaiowas”, faixa instrumental do disco “Chaos A.D.” que convida fãs e amigos para o palco. O convite dos fãs estava sendo feito pela página Lado Direito do Palco, onde os fãs que encontrassem as palhetas escondidas pelo Espaço Unimed ganhavam o direito de subir ao palco com a banda e participar da jam. Além dos fãs, a banda Black Pantera e músicos do Desalmado também participaram desse momento. Na sequência, a agressividade voltou com as poderosas “Dead Embryonic Cells” e “Biotech is Godzilla”, levando o público à loucura. “Agony of Defeat”, uma das músicas mais diferentes da carreira do grupo, foi a última faixa da “fase Derrick” no show. A faixa conta, inclusive, com vocais limpos do vocalista, algo que, infelizmente, não foi tão explorado em seus anos com a banda. 

Quando começaram os riffs de “Orgasmatron”, cover do Motorhead regravado pelo grupo brasileiro, o público animou bastante, o que justificou a escolha. O fim da música se uniu aos riffs iniciais de “Troops of Doom”, fazendo os fãs viajarem no tempo para o início do grupo. “Inner Self” e “Arise” foram as responsáveis por encerrar o setlist principal.. A escolha das faixas para aquele momento foi certeira, trazendo músicas aclamadas por sua pegada old school que levou a banda a um novo patamar. Na volta para o bis, “Ratamahatta” contou com uma bandeira do Brasil nos telões junto com o clássico “S” da banda. Para encerrar, “Roots Blood Roots” incendiou o lugar, sendo difícil ver alguém parado naquele momento de despedida. 

Uma carreira de quarenta anos, com tantas histórias, sucessos e clássicos não poderia encerrar de uma forma mais digna. Terminar a banda em uma fase tão boa, entregando shows tão bem produzidos, é a melhor maneira para “celebrar a vida através da morte”, como o próprio nome da turnê diz. A adição de Greyson Nekrutman substituindo Eloy Casagrande, apesar de ter sido de última hora, trouxe uma nova energia ao grupo, mostrando como o Sepultura atravessa gerações. Era fácil de se encontrar, inclusive, famílias com filhos pequenos vestindo a camiseta da banda, o que apenas corrobora com a importância que o grupo tem na história do metal nacional e mundial. A maior banda de metal do Brasil merecia um final feliz e seu legado, sem a menor dúvida, será eterno. 

Sepultura – 08/09/2024 – Espaço Unimed

Refuse/Resist
Territory
Slave New World
Phantom Self
Dusted
Attitude
Cut-Throat
Kairos
Means to an End
Sepulnation
Guardians of Earth
Mind War
False
Choke
Escape to the Void
Kaiowas
Dead Embryonic Cells
Biotech is Godzilla
Agony of Defeat
Orgasmatron
Troops of Doom
Inner Self
Arise
Ratamahatta
Roots

Agradecimentos especial a Trovoa Comunicação pelo credenciamento

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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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