Purpurina, Glamour, Humor… e (muitos) exageros desnecessários

Em noite fria e casa esvaziada, os americanos do Steel Panther fizeram seu primeiro show solo em São Paulo, com muito humor, todos os estereótipos do hard rock oitentista ironizados, e piadas sexistas em
excesso, que apesar de engraçadas e criativas a princípio, tornam-se cansativos e tornam o setlist reduzido por demais.

Texto: Fernando Queiroz / Fotos: Gabriel Gonçalves

Por volta das 18h30, uma hora antes de abrirem as portas da Audio Club, se via uma certa aglomeração de mulheres em roupas inspiradas nos anos oitenta, e homens que roubaram as calças de oncinha e zebrinha de suas irmãs na frente da casa. Apesar disso, conforme foi se aproximando o horário de abertura do local, a fila não aumentou de forma relevante, e às 19h em ponto, quando abriram as portas, a fila da pista premium ainda demorou alguns minutos para acabar, mas a pista comum estava praticamente às moscas. Compreensível, porém, por ser uma quinta-feira, e com o show do I Am Morbid como concorrente.

Dentro do local, a demora de cerca de duas horas entre a abertura da casa e o início do show, sem a presença de uma banda de abertura, causou estranheza com os presentes com quem conversei.
Bem, baixo público e horários à parte, exatamente às 21h a banda subiu ao palco, e nitidamente o público estava extremamente animado, e era claro que a banda tinha os fãs na mão, e sabia lidar com eles.

Músicos, qualidade sonora e interação com o público excelentes

Musicalmente, a banda é afiada! Dá para ver que, apesar de um membro novo – o baixista Spyder –, estão já muito bem entrosados, e todos lá dominam seus instrumentos. Não para menos, pois o histórico de grandes álbuns do guitarrista Satchel – como o lendário War Of Words da banda Fight, que contava com Rob Halford nos vocais –, e do vocalista Michael Starr – como o álbum Wasted, da banda L.A. Guns – só poderia significar que são músicos de alto nível. Vários Hits já clássicos da banda, como Gloryhole, Asian Hooker, 1987 levaram o público ao delírio.


É preciso também elogiar os técnicos de som e roadies da banda, que entregaram um palco perfeito, e som impecável onde quer do show que você estivesse. Dava para ouvir com perfeição qualquer instrumento,
embora, talvez, possa-se dizer que o baixo estava com volume muito baixo (sim, a piada já vem pronta) em relação aos outros instrumentos, mas estava bem audível. Os VS de teclados durante as músicas também
soavam bem naturais e não exageradamente pasteurizados, apenas o suficiente para a própria proposta de som da banda. O ponto principal que a banda domina, porém, é em interação com seu público. Eles realmente sabem o que as pessoas que estão lá para vê-los querem, e entregam.

Humor, piadas sexistas e sobre drogas, sempre explorando os estereótipos.

O humor negro e deveras sexista é explícito na banda, seja em suas letras, quanto em sua interação com o público. Piadas uns com os outros, sobre sexo com as mães, origem dos integrantes, tamanho do pênis, que Satchel ainda usou de uma tentativa de português falando “pinto pequeno” para se referir ao vocalista Starr, ou sobre garotas que transavam em turnês eram frequentes, assim como o infindável uso da palavra “cocaína”, em inglês e português a cada dez segundos e piadas sobre usar a substância.
Até trocadilhos e piadas com a condição física do baterista do Def Leppard, Rick Allen – que não possui um braço devido a um acidente – faziam a plateia dar leves risadas, embora uma boa parte ali sequer
entendia o que era falado pois não compreende inglês. De qualquer forma, o público parecia gostar desse humor.

Ao longo do show, Satchel e Starr algumas vezes chamavam uma fã para subir ao palco, a primeira durante a música Asian Hooker, quando chamaram uma garota de origem asiática para subir ao palco. A garota
claramente estava tímida e sem reação muitas vezes. Tentava dançar mexer o cabelo, e dava leves sorrisos, mas nitidamente envergonhada. Isso após uma exaustiva sessão de piadas que, de início eram engraçadas,
mas que demoravam tanto, que até esquecíamos que era um show, em tese, de música. Mas o pior ainda estava por vir, quando chamaram uma outra garota ao palco e ficaram longos quase quinze minutos fazendo zoeiras com ela de teor sexista que não vale a pena ser falado aqui.

Embora, claro, ela estivesse ali porque queria, havia uma certa insistência por parte dos integrantes e do público para a garota mostrar os seios, algo corriqueiro nos shows da banda, que a estavam deixando constrangida claramente, e no máximo a garota mostrou seu sutiã. Enquanto isso, “improvisavam” músicas com o nome da garota com letras depreciativas sobre as famosas “groupies”, algo constante no repertório do quarteto. Nisso, depois de muito humor de qualidade duvidosa e muita enrolação, que tirou tempo que poderia ter sido usado para tocar mais músicas, finalmente resolveram tocar, e o show continuou por mais algumas músicas – com ainda um solo de guitarra apelativo e desnecessário que o guitarrista Satchel usou claramente só para aparecer, já que é o verdadeiro líder da banda, ficando a cargo, inclusive, da maior parte das falas durante os intervalos –, com mais piadas cansativas e repetitivas durante os longos intervalos. Em determinados momentos, não sabíamos se estávamos em um show de música ou de Stand-Up Comedy de segunda categoria digno de nomes como Leo Lins e Rafinha Bastos.

Mais humor e pouca música

Seguindo o que parecia ser o padrão do show, mais longos minutos de falação e humor repetitivo que já não tinha graça alguma naquele momento, e então várias garotas subiram ao palco em vestimentas curtas
e provocantes, simulando sexo oral em integrantes, e dançando algo que parecia tentar ser sensual – falhando miseravelmente na tentativa.

Finalmente, a banda tocou, saiu do palco e voltou para o encore, para a surpresa de um total de zero pessoa. Tocaram, e ao ir para a última música, mais e mais e mais humor caricato entre os integrantes e com o público. Um show com setlist que, se tirassem metade das piadas, iria correr por pouco mais de uma hora, com sorte, já durava duas horas, acabava, e o público parecia satisfeito, pois afinal, muitos ali já esperavam isso.

Impossível não traçar um paralelo com os brasileiros do Massacration. Estes, que fazem humor satirizando bandas de heavy metal como o Manowar, enquanto o Steel Panther faz satirizando o hard rock glam dos
anos 80. Musicalmente, em termos de show, os brasileiros sem dúvidas são superiores, há de se dizer.

A casa, já esvaziada durante o show, começou a se esvaziar totalmente conforme as pessoas iam saindo após o fim do show. Não era incomum, no caminho da saída, ouvir comentários de pessoas falando que não
gostaram da duração do show, do setlist curtíssimo para uma apresentação de mais de duas horas – algo que se esperaria do Dream Theater, pelo tamanho de suas músicas, não do Steel Panther com músicas de três ou quatro minutos.

Podemos dizer, por fim, que, realmente, quem gosta desse tipo de humor e das músicas da banda se divertiu, se não tiver se importado com a repetição à exaustão deste humor que, como dito anteriormente, já se tornara enfadonho desde antes da metade do show. Quem queria ouvir música, ver uma apresentação musical e artística com uma pitada de humor, saiu decepcionado, pois não houve pitada alguma de humor, e sim um derramamento de piadas repetidas e claramente ensaiadas a ponto de se tornar mecânico. Difícil, porém, para mim, recomendar para qualquer um pagar para ir a um show, a não ser que seja realmente muito fã da banda e esteja ciente que o que menos verá, é música – embora, quando
há música, é realmente muito bem executada. Para os fãs, uma experiência incrível, para quem foi ouvir música simplesmente, uma presepada.

Steel Panther:
Michael Starr – Vocais
Satchel – Guitarra
Spyder – Baixo
Stix Zadinia – Bateria

Steel Panther – Audio – 19/10/2023

1 – Eyes of a Panther
2 – Let Me Cum In
3 – Asian Hooker
4 – The Burden of Being Wonderful
5 – Friends with Benefits
6 – Solo de guitarra de Satchel
7 – Death to All But Metal
8 – 1987
9 – Ain’t Dead Yet
10 – Girl from Oklahoma
11 – Community Property
12 – Party All Day (F#ck All Night)

Bis:

13 – Gloryhole
14 – Party Like Tomorrow is the End of the World

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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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