Rockfun Legends marca décima edição com variedade de gêneros musicais e gerações de fãs presentes

Evento gratuito no Centro Esportivo Tietê, em São Paulo, teve oito horas com bandas renomadas no mainstream e underground, além de grandes filas para alimentação e poucas falhas de som

Texto: Marcos Pereira (After do Caos) / Fotos: André Santos

As múltiplas gerações de fãs de Rock e Metal nacional se reuniram para celebrar a décima edição do Rockfun Fest, realizada no Centro Esportivo Tietê, na região central de São Paulo, no último domingo (15).

O evento, que contou com dois palcos lado a lado, contou com as apresentações de Oitão, Estado Zero, Mattilha, John Wayne, Dead Fish, Crypta, Krisiun, o coletivo Rockfun Legends, Os Mutantes e Paulo Miklos. O evento foi realizado pela RVL Eventos e teve as parcerias e colaborações públicas da prefeitura de São Paulo – Secretarias da Cultura e Esporte e Lazer -, SP Turis e do vereador George Hato (MDB), além dos apoios privados das empresas Jack Daniels e Tagima.

Festival sem chuva

Mesmo com a previsão de chuva – que, para a alegria da organização, atrações, Imprensa e
público, não ocorreu -, aqueles que garantiram o ingresso gratuito compareceram em peso e
agitaram os palcos Rockfun e Legends desde a primeira atração. O calor foi o destaque da
tarde e, ao anoitecer, algumas gotículas de garoa caíram dos céus, mas longe de qualquer
precipitação.

Alimentação e descanso

Ao todo, poucos atrasos e até o adiantamento do início de algumas apresentações compensaram o cronograma “sem parar” do evento. Em termos de descanso, a distribuição dos locais para alimentação e os preços acessíveis – principalmente da água – foram um ponto positivo ofuscado pela confusão nas longas filas de compra e nas duas únicas áreas de distribuição das bebidas: enquanto o posto mais próximo dos palcos enfrentou filas longas e dobráveis, o posto mais próximo da entrada do Centro Esportivo enfrentou uma bagunça pelo amontoado de pessoas que pediam pelas bebidas e a pouca quantidade de pessoas para suprir a demanda. Ao mesmo tempo, a reposição de bebidas deixou a desejar nesse ponto mais
distante.

Som (quase) perfeito

Em termos musicais, a qualidade sonora foi adequada para a maior parte das apresentações. Os maiores problemas vieram nos shows de John Wayne e Crypta, em que o volume do microfone ficou muito baixo nas primeiras músicas cantadas por Guilherme Chaves e Fernanda Lira, respectivamente, no palco Rockfun. Os fãs, como suporte, gritaram pedindo pelo aumento do volume em ambos os casos.

Sorteios e brindes

Muitos dos fãs presentes, além de conseguirem o acesso gratuito a um festival musical,
também tiveram a sorte de ganhar brindes jogados pelos apresentadores do festival, entre
camisas, bonés, mochilas e cordões de pescoço. Além disso, houve um sorteio de uma guitarra
da Tagima na reta final do evento, instrumento dado para um dos quatro mil primeiros a
chegar no festival.

Oitão e uma abertura “insana”

A primeira apresentação do festival foi da banda Oitão, liderada pelo vocalista, apresentador,
chef de cozinha e um dos sócios fundadores do restaurante Cão Véio, Henrique Fogaça, e
composta também pelos guitarristas Ciero e Ricardo Quatrucci, o baixista Tchelo Martins e o
baterista Rodrigo Oliveira. O setlist de dez faixas (contando a introdução) agitou o público
presente que, em sua maioria, compunha o Moto Clube Insanos, coletivo que arrecadou 1kg
de alimento do público presente antes da entrada no festival, em prol de uma ação social.
Fogaça fez questão de agradecer o grupo em momentos pontuais do show, usando o lema
“Prazer, Insanos!” junto ao clube para comprovar a presença em peso. Além disso, as
tentativas de saltos de Fogaça em sincronia com o “breakdown” das músicas não foram bem
sucedidas, algo mínimo perto do clima positivo e da qualidade sonora impecável da
apresentação.


Fogaça chegou por último no palco Legends com uma máscara que animou o público na faixa
“Chacina”. Na sequência, vieram as músicas “Podridão Engravatada”, “Doença” e “Um grito de
paz”, marcada por comentários contra todo o contexto religioso do recente conflito entre
Israel e Hamas, no Oriente Médio.
A sétima música, um cover de “Refuse/Resist”, do Sepultura, contou com a presença de Mauro
Leprisi, vocalista da banda Siegrid Ingrid. “Pobre Povo”, “Trevas” e “Tiro na Rótula” fecharam a
apresentação.

Metal Alternativo presente

A banda Estado Zero abriu o palco Rockfun e deu sequência ao festival. O intervalo de três
minutos entre as apresentações tinha um misto da transição de parte do público para o palco
em questão, quanto a saída de outra parcela – o que incluiu o Moto Clube Insanos – para um
descanso breve nas áreas arborizadas.
Bruno Santos (vocalista), Danilo Bonano (guitarra), Dani San (baixo) e Gui Figueiredo (bateria)
mantiveram o ritmo agitado do público que assistiu à apresentação no alto. Em dois
momentos-chave, a banda contou com participações ilustres: o vocalista Marcelo Carvalho,
famoso por suas participações em concursos do Programa Raul Gil e por seus conteúdos em
redes sociais e cursos, entrou para um medley de músicas famosas de bandas como Linkin
Park, System of a Down e Slipknot. Pouco tempo depois, Chili, vocalista do Laboratori, também
participou de uma das faixas.

Hard Rock da Zona Oeste

A banda de Hard Rock Mattilha, originária do bairro da Pompéia, marcou o retorno ao palco
Legends e representou bem a cena underground do da cidade. Foi a primeira banda que
contou com um palco mais lotado, uma vez que se apresentaram às 13h, horário em que
muitos fãs chegavam em maior quantidade no Centro Esportivo. Gabriel Martins (vocal), Victor
Guilherme (guitarra), Camilla Rodrigues (baixo) e Ian Bueno (bateria) tocaram músicas
firmadas pela banda e faixas do projeto mais recente, o EP “Coração Anárquico”, que contém
três faixas.
O público presente seguiu agitado e cantou muitas das faixas com a banda, com maior
entonação nos refrões.

Metalcore em peso

A banda John Wayne chegou no pico mais quente do festival. Mesmo com as falhas de volume
no microfone de Guilherme Chaves, vocalista da banda, a qualidade sonora dos instrumentos
foi um alicerce junto a um público enérgico e que deu suporte durante a falha, gritando para
que a equipe de som ajustasse o problema. A retribuição veio com faixas de peso e clássicas
tocadas por Rogério Torres (guitarra e backing vocal), Junior Dias (guitarra), Denis Dallago
(baixo e backing vocal) e Edu Garcia (bateria) e o público, em sincronia, demonstrou apoio à
banda, além da formação de mosh pits mais abrangentes, sem timidez – como no caso das
apresentações anteriores.

Energia Hardcore

Das apresentações da tarde de Rockfun Legends, a do Dead Fish foi a mais animada em todos
os quesitos. Rodrigo Lima (vocal) liderou um setlist de 22 faixas que não saíram da boca do
público presente – e que causou um dos maiores picos de lotação do evento em um palco.
Junto a ele, estavam Marcos Meloni (bateria), Ricardo Mastria (guitarra) e Igor Tsurumaki
(baixo). Rodrigo não hesitou em demonstrar seu apoio ao povo palestino e a citar as mazelas do
conflito com Israel, algo que remeteu até mesmo na camiseta que usou, a do clube de futebol
Palestino, do Chile, fundado por imigrantes palestinos em 1920 – o Chile é um dos países com
mais pessoas de origem palestina no mundo.

Ao mesmo tempo, a interação do vocalista com o público foi algo em destaque. Em um dos
momentos do show, ao ouvir o grito “Ei, Dead Fish, vá tomar no **” – vale destacar que é em
tom carinhoso e irônico -, Rodrigo brincou, dizendo que “não tinha se preparado para levar do
público” e que “não tinha se lavado” para este momento. Como de costume, Rodrigo chegou a
subir nas caixas de som e se aproximou de um público enérgico e que realizava mosh pits,
cantava junto com o vocalista e não parava de pular e levantar pessoas em ondas.
Sucessos da banda vieram ao longo da apresentação.

No setlist completo, estavam as faixas “A urgência”, “Tão Iguais”, “Queda Livre”, “Asfalto”, “Sangue Nas Mãos”, “Sombras da Caverna”, “Não Termina Assim”, “Sobre a Violência”, “Selfegofactóide”, “Revólver”, “Zero e Um”, “Oldboy”, “Mulheres Negras”, “Contra Todos”, “Autonomia”, “Senhor, seu troco”, “Você”, “Venceremos” – uma das mais cantadas pela plateia =, “Proprietários do Terceiro Mundo”, “Bem-vindo ao Clube”, “Sonho Médio” e “Afasia”.

A hora e a vez do Death Metal

Às 16h, a banda mais esperada da tarde entrou no palco: a Crypta, formada por Fernanda Lira
(baixo e vocal), Luana Dametto (bateria), Tainá Bergamaschi e Jéssica Di Falchi (guitarra rítmica
e solo) montou um setlist de 11 faixas que agitaram o público presente e com muitos fãs na
parte frontal do palco Rockfun. Parte das músicas tocadas são do álbum Shades of Sorrow,
lançado em agosto de 2023. Lira contava com um pedestal personalizado, contendo uma capa
e diversas adagas que, juntas, formaram um semicírculo abaixo do microfone.
Nas faixas iniciais “The Other Side of Anger”, “Kali”, “Poisonous Apathy” e “Lift the Blindfold”,
o problema de microfone incomodou a plateia que, por diversas vezes, gritava em conjunto
para aumentar o microfone da vocalista. O retorno veio com certa demora e prejudicou os guturais potentes de Fernanda Lira. A partir de “Stronghold”, não somente a percepção sonora
da voz da baixista melhorou, como casou com a já impecável sonoridade das demais
integrantes. Ao mesmo tempo, a interação com o público se tornou melhor e Fernanda ficou
mais solta para demonstrar poses e caretas irreverentes – marcas registradas dela.
“Trial of Traitors”, “Under the Black Wings”, “Lullaby for the Forsaken” e “The Outsider” foram
as músicas que prosseguiram o setlist. Na reta final, a banda fechou com “Lord of Ruins” e
dedicou “From the Ashes” a uma pessoa importante da equipe da banda, que perdeu a filha
recentemente. Fernanda Lira complementou a dedicatória com explicações da faixa, sobre
ressurgir e recomeçar ciclos.

Sucessos nacionais em um coletivo

O fim de tarde, ponto com mínimas ameaças de chuva que se converteram em leves garoas, se
tornou o momento para o coletivo Rockfun Legends, composto por Badauí (CPM 22), Alê Bloco
do Caos, Emmily Barreto, Mi Vieira (Gloria) e Digão (Raimundos). O público presente
acompanhou a sequência de sucessos que envolviam os vocalistas presentes, principalmente
com músicas do CPM 22, como “Tarde de Outubro” – uma coincidência para a data e período
da apresentação -, e do Raimundos, como “Mulher de Fases” e “Eu Quero Ver o Oco”. Apesar
disso, foi outro momento de dispersão evidente do público presente.

O Death Metal do Krisiun está aqui

O Krisiun abriu a noite e deu início à reta final do festival. A banda originária de Ijuí, no Rio
Grande do Sul, composta por Alex Camargo (baixo e vocal), Max Kolesne (bateria) e Moyses
Kolesne (guitarra), foi a responsável pelo que provavelmente foi o maior mosh pit do evento:
um a roda que não parou de girar – a não ser no intervalo entre as faixas. O trio não deixou de
tocar seus maiores sucessos, além de agitar a plateia do palco Rockfun com um bom solo de
“Eruption”, do Van Halen, por Moyses, e um cover de “Ace of Spades”, do Mötörhead.

Reta final com rock pioneiro

O grupo Os Mutantes foi a penúltima atração do Rockfun Fest. O grupo, que conta com Sérgio
Dias (guitarra e vocal), Esmeria Bulgari (vocal), Camilo Macedo (guitarra, violão e vocal),
Henrique Peters (teclado), Vinicius Junqueira (baixo) e Cláudio Tchemev (bateria) animaram o
público presente com 14 faixas de sucessos da banda e um cover da faixa “I Need You”, dos
Beatles. Além disso, Dinho Leme, baterista da formação clássica da banda, esteve presente na
faixa “Desculpe, Babe”.

Finalização com um Titã

Paulo Miklos, integrante do grupo Titãs, fechou o festival com um repertório de 15 faixas da
banda. Em ordem, vieram “Diversão”, “Domingo”, “Flores”, “Lugar Nenhum” (com
participação de Henrique Fogaça), “Comida”, “É Preciso Saber Viver” (cover de Erasmo Carlos),
“Pra Dizer Adeus”, “É Isso”, “Aluga-se” (cover de Raul Seixas), “Estado Violência”, “Polícia” e
“Cabeça Dinossauro”, “Bichos Escrotos”, “Marvin”, “Televisão” e “Sonífera Ilha”.

O domingo de Rockfun Fest ficará marcado como um dos grandes dias em que um festival, de
forma gratuita, conseguiu reunir diversas gerações, grupos e gêneros musicais diferentes num
só local, num clima harmônico e que, apesar de pontuais problemas de organização e som, não
atrapalhou o clima animado do Centro Esportivo Tietê. E um possível sucesso pode ser
essencial para que edições futuras aconteçam num padrão de qualidade sonora e de
organização tão bons quanto – ou melhores.

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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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