Behemoth vem com seu décimo segundo álbum full lenght em 2022, quatro anos após o lançamento de Love at Your Darkest.
Texto: Andrei Ramirez
Uma carreira que veio se solidificando ao longo de 3 décadas de banda. A
proposta inicial era do puro black metal, clássico, com as gravações de baixa
qualidade proposital, típicas do gênero como no álbum And The Forest Dream
Eternally (1994), até a transição a sonoridade voltada para o death metal em
Satanica (1999). Até a junção das vertentes extremas, chegando ao blackned
death metal de Evangelion (2009), álbum este que vejo como o primeiro onde
se mostra o que o Behemoth iria se propor de vez, de ali em diante.
The Satanist (2014) ainda se mantém como o ápice da carreira, levando o
Behemoth aos patamares alcançados no mainstream, e que vem se mantendo,
tanto pela sua música, quanto pela personalidade contraditória de seu frontman
Adam Nergal Darski.
Àpice este que gerou apreensão sobre o que seria lançado á diante, o que
acredito ser normal sentirmos quando nos deparamos com um material tão
relevante.
Vejo tanto no Love At your Darkest quanto em Opvs Contra Natvram que a
‘’fórmula’’ em si vem se mantendo, no quesito musical, e também no apelo
áudio visual, (mesmo quem não gosta da banda, há de convir que os clips são
quase que curta metragens de ótima qualidade). A questão é: em time que está
ganhando não se mexe? Ou esta repetição pode gerar frustração as
expectativas de quem não terá realmente um The Satanist II.
“Ó LIBERTINO! TUA VONTADE SEJA FEITA / DERRAMAR A
ESCRAVIDÃO DA ESCRAVIDÃO VULVICA / MOER AS PAREDES /
QUE VELAM O SOL / CONQUISTEM HOJE, MEUS IRMÃOS, SEM
MEDO / HOC SIGNO FERTOTE LVX / E ASSIM O SOL NASCEU NO
OESTE / APENAS PARA A LUZ OFUSCANTE SE CANSAR NO
LESTE / COM PAIXÕES SUBJUGANDO TODO DISCURSO EM
ADMIRAÇÃO / ADORAMOS O DIABO, SAUDAMOS A BESTA!”
Este é o mantra de ‘’Post-God Nirvana’’, intro que mostra a proposta do álbum,
algo não surpreendente: satanismo e blasfêmia. E extende o tapete para
Malaria Vulgata, que nos brinda com blastbeats soco na cara desde o seu
princípio, Inferno (drums) ainda é exímio na arte em conciliar técnica e rapidez,
e as escalas e arpejos gélidos, típicos do gênero.
The Deathless sun, lançada anteriormente como single, trás a cadência, uma
intro com backing vocals a lá coral, e teclados soturnos trazem o ar majestoso,
característico em diversas composições do Behemoth, para o clima
apocalíptico que liricamente e musicalmente são a sua proposta. As
vocalizações limpas do Nergal em conjunto aos backing vocals de Orion,
ornam de maneira harmoniosa. Ov My Herculean Exile mantem o ar macabro e
majestoso, em uma levada arrastada que vai evoluindo em seu decorrer, criando o clima
para seu ápice.
Neon Spartacus, mantém o som cadenciado, com ótimos solos, porém abre espaço para a
metralhadora de Inferno mais uma vez, metranca essa que volta atacar em Disinheritance,
a maneira como foram posicionadas as músicas dentro do álbum, conseguem agradar
desde o apreciador de algo mais arrastado, quanto a galera do blastbeats everytime, o que
não torna a audição maçante a quem aprecia todas as mudanças e evoluções no decorrer
do álbum.
Off to War, mais um dos singles lançados, pode ser conferida em uma apresentação da
banda de promoção do álbum, que ocorreu no topo do Palácio da Cultura, na Polônia
Apresentação essa que achei a mixagem um tanto polida, o que da um ar de que estariam
fazendo playback, mas, enfim, rs.
Once Upon a Pale Horse , Thy Becoming Eternal, Versus Christus são a tríade de
encerramento, Once Upon possui um leve ar comercial, pois o timbre do riff me relembrou
o que o Satyricon faz em ‘’K.I.N.G’’, salvo pelo seu encerramento repleto de blasts e solos,
que se tocada ao vivo, fará o público erguer os braços e gritar ‘’hey, hey’’como em Conquer
All.
Thy Becoming é a que mais gostei até o momento, pois ela possui uma quebra em sua
levada de bateria, que foge do que podemos dizer ser ‘’tradicional’’, acompanhando de
dedilhados harmoniosos seguidos de palhetadas rápidas, e entusiasmantes. E com o
desfecho de um belo efeito de vocalizações, que mais parecem um coral que vemos em
bandas que lançam álbuns junto á orquestras.
Versvs Christus se inicia com piano e vocal sussurrado, dando o ar de encerramento ao
álbum, e um clima pós apocalíptico. Ao cantar, Nergal parece andar pelo Umbral, como
uma simbologia a total perdição da humanidade. Esta possui um refrão marcante, que sem
duvida, caso seja usada como encerramento de show, ficará na mente de quem
presenciar. Talvez não com o mesmo impacto de O Father O Satan O sun e Lúcifer, mas
pode pegar um terceiro lugar desse pódio.
O álbum trás uma visão sobre a decadência da ética e moral sociais, uma crítica ao ser
humano que permanece em regressão, perante a hipocrisia que abraça, para poder ser
mais um dos juízes desse mundo, onde o satanismo antagoniza e prega a liberdade do ser
individual. Behemoth segue seu legado, e ao que se propõe, talvez trazendo um torcer de
nariz aos ainda fãs, porém xiitas, ou como uma possível porta de entrada a quem não
adentrou as cavernas da música extrema.