Coletiva Homem Com H: “As pessoas falam muitas loucuras a meu respeito que são mentiras. Nesse filme, não pode ter mentiras. Tudo que a gente colocar nele tem que ser verdade”, conta Ney Matogrosso

Filme que narra a vida de Ney Matogrosso estreia em todos os cinemas do Brasil no dia 1 de maio

Texto por Tamira Ferreira – Foto: Divulgação

O próximo lançamento da Paris Filmes, Homem com H, conta a história da vida do cantor Ney Matogrosso, começando pela infância até o momento que Ney se torna o grande artista brasileiro que é até hoje. 

Com roteiro e direção de Esmir Filho, o filme passa por diferentes momentos da vida de Ney, como quando ele se alistou na aeronáutica, sua difícil relação com o pai, a entrada e saída do Secos e Molhados, o dia em que ele conheceu Cazuza, seus relacionamentos e tudo que moveu a vida do cantor. 

Quem dá vida ao personagem principal é Jesuíta Barbosa, que consegue incorporar perfeitamente o Ney que todos conhecem, mas também traz um lado novo e desconhecido. 

Também estão no elenco: Jullio Reis, Bruno Montaleone, Rômulo Braga, Mauro Soares, Jeff Lyrio, Lara Tremouroux, Carol Abras e Hermila Guedes.

Nossa redação participou da coletiva de imprensa com Ney Matogrosso, Jesuíta Barbosa, Esmir Filho (maestro e roteirista), Verônica Stumpf (produtora) e você confere tudo que aconteceu abaixo:

Verônica: Eu quero começar essa fala agradecendo ao Ney, que nos permitiu contar essa história. Muito obrigada! Foi incrível essa jornada.

Queria agradecer ao Esmir e ao Jesuíta pela entrega, pelo carinho e dedicação. Foi maravilhoso esse processo. 

Eu preciso dizer que fazer cinema é um esporte coletivo. A gente junta uma galera muito grande, então muita gente nos ajudou, muita gente passou por essa jornada. 

Agradecer a Cris Rio Branco que, em um almoço, nos proporcionou esse encontro e todo mundo que passou por nós. 

O filme é muito especial, um trabalho desde 2017, um esforço enorme. A gente começou sem muita grana, fomos construindo esse orçamento e esse desafio, até chegarmos nesse filme maravilhoso. 

Nosso filme estreia no dia 1 de maio, mas já teremos sessões no dia 30 de abril. 

Ney: Eu só queria perguntar uma coisa. Eu vi que agora já está sendo anunciado o dia 30, mas isso é para qualquer pessoa chegar e comprar um ingresso? 

Verônica: Isso! A cine semana começa na quinta, que é dia 1, no feriado. Porém, como 30 é véspera, a gente já conseguiu abrir muitas salas em todo o Brasil, nas principais capitais. 

Sonoridade Underground: Queria começar com o maestro, roteirista e diretor do filme. Esmir, você tem uma trajetória no cinema, principalmente no cinema independente. Você traz temas sempre relacionados a desejos, expressões artísticas, respeito à diversidade e sempre com filmes muito calcados na música. 

Como foi para você começar esse projeto, com essa dimensão que tem esse arco temporal abrangente, que vai desde o Ney criança, adolescente, até ele se tornar um grande artista brasileiro, terminando com o show Bloco Na Rua? E como foi também entrar nesse cinema mais comercial?

Esmir: Muito obrigado a todos pela presença! Eu acho que tudo partiu do convite da Paris Filmes. Agradeço a confiança. 

Isso foi um presente, não apenas um convite. Porque, quando me ligaram com a possibilidade de escrever e dirigir a cinebiografia de Ney Matogrosso, esse artista que sempre admirei desde pequeno, ele me assombrou para um lugar de conversa íntima. Eu olhava, quando pequeno, para ele e tinha coisas que ele me dizia. E, por eu saber que em algum lugar da vida dele, conversava com coisas que eu gostava de conversar no cinema. 

Eu tinha a sua (Ney) vida à minha frente, tendo que fazer um recorte, porque não existe uma vida inteira que possa caber dentro de um filme. Eu lembro que foi em 2021. Ainda estávamos na pandemia. Eu estava isolado na minha casa. Antes de falar com o Ney, eu ouvi toda a discografia dele, em ordem cronológica, porque, para mim, interessava muito o que ele estava cantando, na época que ele estava vivendo, porque eu também aprendi com o Ney que ele é um artista de palco, de performance, de expressão. Então, isso era muito importante para pensar. 

Porém, teve um livro que me chamou muita atenção, que foi o Vira-Lata de Raça. E ele começa com uma frase bem impactante: “Eu sempre reagi ao autoritarismo”. Aquilo me tragou para a história do Ney.  Nesse capítulo, ele disserta muito sobre a relação complexa que ele teve com o pai, onde ele dizia que foi a maior autoridade que já enfrentou na vida. E que muitas escolhas foram calcadas em confrontá-lo, em tentar desafiá-lo e, para mim, isso era uma força motriz para o personagem, para um artista que estava ali querendo brotar. 

A partir dali, eu acho que consegui pensar no recorte que começa com o pai. Mas ele vai atravessar por todas essas figuras de autoridade, imagens de controle, que tentaram, de alguma forma, reprimi-lo ou encaixá-lo em alguma caixinha. Ele foi lá e enfrentou, disse: “Não, eu sou assim, eu amo assim, eu desejo assim”. Por isso, ele emanou tanta liberdade para todo mundo. Então, foi daí que eu escolhi esse recorte e eu esperei um pouco para falar com o Ney, porque eu queria estar mais à vontade com a própria história dele, ouvindo música, vendo as entrevistas e tal, para depois mandar uma mensagem falando sobre o filme. E daí, a gente se encontrou para conversar. Foi assim que começou tudo. 

Sonoridade Underground: Ney, como você recebeu essa proposta? Você já se viu muito em diferentes biografias, você já interpretou vários personagens. Agora, ter você ali na tela, biografado, em um filme de ficção, como foi sua primeira reação a essa proposta e a esse convite?

Ney: A primeira conversa que tive com Esmir foi: “As pessoas falam muitas loucuras a meu respeito que são mentiras. Nesse filme não pode ter mentiras. Tudo que a gente colocar nele tem que ser verdade”. Eu fiquei satisfeito quando vi o filme, porque tudo que está nele é verdade. Sem nenhum pudor de contar a minha vida, com a minha família, com meus amores. Eu acho que esse tipo de pudor não cabe dentro de uma coisa dessa. 

Então, o Esmir combinou comigo que ele iria escrevendo os roteiros e mandava para mim. Não para eu proibir ou vetar, mas para eu conferir. Eu li 12. Você fez outros?

Esmir: Foram 17.

Teve uma ligação. Eu não sei se você lembra, você disse: “Esmir, eu li em uma sentada só. Eu amei”.

Ney: Foi estimulante ler aquilo. 

O coleguinha aqui (Jesuíta Barbosa), eu já conhecia (risos). A gente ficou mais próximo por causa do filme. Estivemos juntos algumas vezes na minha casa. Eu olhava e via que ele estava me observando. Ele já estava trabalhando. 

Verônica: Lembra do Show da Virada, de 2023 para 2024, ele escondido no camarim?

Ney: É, só prestando atenção (risos). Mas é isso mesmo. Ele tinha que saber onde estava mexendo, onde que ele tinha que chegar. 

Jesuíta: Até hoje estou tentando. 

Sonoridade Underground: Eu gostaria de saber sobre o Jesuíta. Dessa troca com o Ney, mas um pouco mais, porque a minha impressão na sua performance é que a gente olha e vê o seu gestual, o corpo, seu olhar, a forma como você fala com firmeza. Ao mesmo tempo, eu conseguia identificar o artista Jesuíta ali. Você já me disse que, na verdade, o Ney sempre foi uma referência de liberdade para você. Eu queria que você me falasse um pouco dessa composição e da troca que você teve com o Ney. 

Jesuíta: Eu acho que a gente tentou trabalhar Ney Matogrosso a partir de um lugar muito cheio de integridade, que eu acho que é o que representa o Ney da melhor forma. A nossa vontade era de reproduzir uma força, uma energia que partisse de algo próprio também, que fosse meu. Então, existia todo o desenho, a figura, o enigma, o mistério do Ney, que precisava ser reproduzido, mas a gente não ia conseguir fazer isso se não tivesse algo que eu pudesse colocar ali. É a representação de uma forma que existe, mas está em uma ficção. A gente está fazendo cinema. Ali, temos uma figura, um bicho, um animal, mas com a razão da história que o Esmir escreveu. 

Sonoridade Underground: Mas tinha um lugar pessoal que você colocou ali além da dramaturgia? Dessa referência que o Ney é para você, pessoalmente, como artista?

Jesuíta: Tinham todas as histórias que o Ney contou. A gente se encontrou e ele contou histórias que eram boas de ouvir. Também era bom ouvir o silêncio do Ney. Eu acho que toda a movimentação dele, o gestual, ter entrado na casa dele, encontrado material, objetos. Mas ali estão todas as minhas dores também, minhas emoções, o que eu estava passando no momento, o filme está todo ali. Essa mistura, essa simbiose. 

Ney: E você ralou, né? (risos)

Sonoridade Underground: Como foi essa ralação?

Jesuíta: Foi ótima! Foi muito gostoso de fazer.

Ney: Mas foi muito puxado. Eu perdi três dias acompanhando as filmagens. Eles trabalham, trabalham e trabalham o dia inteiro. É impressionante.

Esmir: O Ney tem uma memória precisa. Ele lembra de tudo, de detalhes. Ele colaborou com a textura, com o tempo do filme, com o sentimento de cada cena. Mas é claro que não eram todas as palavras que ele lembrava para fazer o diálogo, e eu lembro que eu perguntei se você me concedia essa permissão para preencher algumas lacunas. Eu também parti do meu para preencher algumas lacunas de experiências que eu vivi, que eu poderia estar ali, mas também estando muito no universo do Ney. 

Sonoridade Underground: Gostaria de perguntar para Verônica como foi recriar várias apresentações do Ney. Desde o primeiro show solo, primeiro show dos Secos e Molhados. Como foi produzir nesse sentido musical?

Verônica: Foi um desafio enorme! Nós começamos esse desafio, eu e o Esmir, tentando licenciar todas as músicas, que é um desafio muito grande, porque não é fácil convencer os autores. Mas a gente foi muito feliz. Fomos convencendo aos poucos e fomos licenciando. Tudo isso foi o primeiro desafio.

Desafio de tempo, energia, dedicação e dinheiro. Nosso filme tem 17 músicas licenciadas. É uma das biografias que tem mais músicas. 

É uma experiência cinematográfica. É um filme para ser visto em tela grande. Que vale você sair de casa e se sentar em uma sala de cinema experimentar esse universo. 

Esse filme teve um orçamento muito grande para uma produção independente. O cinema hoje no Brasil está dividido entre cinema independente e os streamings, que têm muito dinheiro. A gente que faz cinema independente tem menos recursos. Mas a gente conseguiu levantar um orçamento maravilhoso e está na tela. 

Sonoridade Underground: A gente vê que o filme tem cores muito saturadas e é muito colorido. Apesar de começar a contar uma história antiga, queria que você me falasse um pouco dessa opção estética da fotografia do filme.

Esmir: Tanto a fotografia quanto a direção de arte, com Azul Serra e o Thales Junqueira, a gente conversou muito sobre o Ney. Eu sempre acho importante falar sobre o personagem, que foi um desafio ver o Ney como um personagem. 

A gente conversou sobre o personagem, os desejos, para entender como não era meramente reproduzir aquela época, mas o sentimento daquela época. 

A direção de arte entrou muito como uma narrativa. Tem algumas coisas interessantes, por exemplo, as primeiras cenas na praia quando ele encontra o Cazuza. Tem uns quadros estáticos na praia que são referências ao fotógrafo Alair Gomes, que na época fotografava os meninos, os corpos em Ipanema. A gente tinha uma relação com as coisas da época. 

O Tales mesmo falou: “Eu não gosto de filmes chromofóbicos”. Eu adorei isso! Ele falava que eram filmes do passado que ficam com medo de cor, porque acham que o passado é esmaecido, é sépia, e não é. Aí, a gente via a referência de filmes dos anos 60 e 70, super coloridos, com as pessoas usando roupas muito mais coloridas que hoje. 

Sinopse

Com sua atitude desafiadora e comportamento que chocava os conservadores, Ney Matogrosso firmou-se não só como um intérprete memorável, mas como uma personalidade que inspira independência e afeto. A produção teve o apoio da RioFilme, órgão que integra a Secretaria de Cultura da Prefeitura do Rio, por meio do edital de Cash Rebate de 2023.

Elenco:

Jesuíta Barbosa, Jullio Reis, Bruno Montaleone, Rômulo Braga, Mauro Soares, Jeff Lyrio

Participação especial:

Lara Tremouroux, Carol Abras, Hermila Guedes

Ficha Técnica:

Direção: Esmir Filho

Roteiro: Esmir Filho

Produzido por: Márcio Fraccaroli, André Fraccaroli, Veronica Stumpf

Produtor Associado: Rodrigo Castellar

Produção Executiva: Rodrigo Castellar, Mariana Marcondes

Direção de Fotografia: Azul Serra

Direção de Arte: Thales Junqueira

1º Assistente de Direção: Kity Féo

Figurino: Gabriella Marra

Caracterização: Martin Trujillo

Montagem: Germano de Oliveira

Som Direto: Ana Penna

Edição de Som: Martin Griganaschi

Mixagem: Armando Torres Jr, ABC

Supervisão Musical e Música original: Amabis

Produção de Elenco: Anna Luiza Paes de Almeida

Direção de Produção: Karla Amaral

Produção: Paris Entretenimento

Distribuição: Paris Filmes

Coprodução: Claro

Apoio: Riofilme

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