Estreia nos cinemas de todo o Brasil, no dia 1 de maio, a biografia do cantor e performance Ney Matogrosso
Texto por Tamira Ferreira -Foto: Divulgação/Paris Filmes
Produção da Paris Filmes e apoio do Riofilme, estreia em todos os cinemas brasileiros Homem Com H, a história que conta a vida de Ney de Souza Pereira, que viveu durante a infância em um bairro militar em Mato Grosso do Sul, até que, após uma briga com seu pai, sai de casa e começa suas aventuras para se encontrar no mundo como pessoa e artista.
Com a ideia de desafiar o pai (Rômulo Braga), que sempre reclamava por Ney (Jesuíta Barbosa) ser desobediente e por atitudes que para ele, “não eram coisa de homem”, o personagem principal decide se mudar para o Rio de Janeiro, se alistar na aeronáutica, profissão do pai, e passa um tempo de sua vida estudando para ser piloto.
Ney passa por diferentes fases, começando com a vontade de ser ator, depois trabalhando com artesanato, produzindo acessórios para vender e para ser usado em peças de teatro.
Jesuíta Barbosa, ator que interpreta Ney no cinema, conta que uma das cenas cortadas do filme era sua favorita. Nela, Ney está tentando vender seus acessórios em uma loja e é ridicularizado pelo dono por causa do preconceito. Jesuíta também conta que ele foi tomado tão fortemente pela cena, que ele mesmo sentiu raiva daquele personagem que fazia o dono da loja. E foi difícil para ele se separar desse sentimento.
Mas os desafios e preconceitos da sociedade nunca intimidaram o artista ou o convenceram de desistir.
Após se mudar para Brasília, Ney se une a um coral e mostra para todos a sua voz marcante e única. Porém, é quando o artista volta para o Rio De Janeiro que ele começa a cogitar a ideia de usar a sua potência vocal como profissão.
Nesse tempo, ele conhece João Ricardo (Mauro Soares) e Gerson Conrad (Jeff Lyrio), dois músicos que decidem transformar poesias famosas em canções com o intuito de driblar a ditadura militar e precisavam de um vocalista.
Dessa união surge o Secos e Molhados, o primeiro trabalho de sucesso de Ney e mais um desafio ao autoritarismo, já que, desde o começo de banda seus músicos questionam as atitudes de Ney em cima do palco, suas roupas e o fato das pessoas acharem que era uma “banda de viado”. É após uma briga contratual que o cantor decide sair do grupo e iniciar sua carreira solo.
Quando sua vida artística decola, o nome Ney de Souza Pereira não é tão plausível para um performance como ele e ideias de outros nomes começam a surgir. Ney Matogrosso vem do sobrenome do pai, o que é irônico devido à relação conturbada dos dois.
Em carreira solo, Ney Matogrosso se sente livre para cantar e fazer o que quiser em cima do palco, mas é logo notado pela censura da ditadura militar que cria regras absurdas para censurar a forma como o artista dançava em seus shows. Uma das cenas mais engraçadas do filme.
Também vemos uma das cenas mais legais do filme que é a interação de Ney com Gonzaguinha, onde ele tenta convencer Ney a cantar uma de suas músicas. Mas o artista se opõe já, que ele não canta forró e acha que não combina com seu estilo.
É quando vemos que por alguns minutos quase perdemos a chance de ter um dos clássicos, Homem com H, na voz de Ney Matogrosso.
Além de vermos a vida artística do personagem, também somos tomados por momentos de sua vida pessoal, como os amores de Ney. Vemos sua relação com Cazuza, seus relacionamentos transitórios e seu grande amor, Marco de Maria (Bruno Montaleone), com quem viveu junto por 13 anos.
O que é interessante ressaltar nisso é como o filme mostra de forma íntima a vida de Ney e como é aberto a sua bissexualidade, algo que, às vezes, é escondido ou ignorado em filmes de outros artistas que também são bissexuais, como Cazuza e Freddie Mercury.
Vale também ressaltar a forma como Cazuza foi retratado nesse filme, que é muito mais profundo e real do que o filme do próprio artista. Cazuza é mostrado como um espírito livre, até um pouco chato, mas muito doce e charmoso perto de Ney.
Muito se fala sobre a relação entre Ney e Cazuza, porém, nada tinha sido mostrado de forma tão intrínseca como nesta obra.
Outro tema relevante que é tratado no filme e reforça essa ideia de como o autoritarismo e o preconceito rodeavam a vida de Ney, foi a epidemia da Aids.
Esse filme mostra como foi difícil para Ney lidar com as pessoas a sua volta morrendo por causa da doença, todo o processo que ele teve ao cuidar de seu companheiro Marco e a culpa que ele sentia por ter vivido e se relacionado com todas essas pessoas, mas não ter contraído o vírus.
Também somos presenteados com uma das cenas mais bonitas do filme, que mostra Ney e Cazuza criando o último show feito por Cazuza, que teve Ney como produtor.
A ideia inicial dos produtores era terminar o filme com Ney em seu sítio, que é uma grande conquista do cantor e algo de muito orgulho para ele. Porém, Ney conta na coletiva de imprensa que aquele fim parecia que ele tinha se aposentado e não estava mais na ativa, o que não é verdade. Então, eles decidiram terminar com Ney em cima do palco, no show filmado em 2024, no Allianz Parque. Uma cena muito cativante em que Ney vira de costas para o público e começa a dançar para a câmera de Azul Serra.
Esmir Filho conta que Azul não tinha permissão de entrar no palco do show, mas que o cinegrafista foi tomado pelo momento e, quando eles perceberam, Azul já estava de frente para Ney, que dançava olhando direto para a câmera.
Verônica Stumpf conta que foi uma transição linda, porque Ney para de olhar para a plateia para olhar diretamente para as pessoas que estão no cinema.
Essa cena não é feita com Jesuíta Barbosa, e sim com o próprio Ney Matogrosso, dando um fim grandioso e digno do artista e performance que eles estão retratando nas telas.
Confira também a coletiva de imprensa com Ney Matogrosso, Jesuíta Barbosa, Esmir Filho e Verônica Stumpf aqui.