BANGERS OPEN AIR 2025: Dinossauros do rock mostrando que ainda são gigantes no warm-up

Primeiro dia do maior festival de heavy metal e hard rock da América do Sul, em tamanho reduzido em relação aos outros dias, e apenas dois palcos, entregou uma experiência maior que a esperada, e de qualidade indubitável. Nomes lendários da música pesada – os famosos “dinossauros do rock” – mostraram o porquê serem, de fato, “LENDÁRIOS”! Não apenas isso, bandas recentes, que iniciaram o festival, entregaram apresentações dignas, e no fim, transformaram esse “esquenta” para os dias principais em algo gigante, que valeu cada minuto em pé. O primeiro de uma maratona de três dias. 

Três históricos dias, que guardaremos em nossas memórias. Um festival pra você, eu, nós, e todos presentes se deleitarem com o que o rock traz de melhor em sua forma mais pesada.

PÚBLICO NÃO DEMOROU A CHEGAR, E PRESTIGIOU NOMES RECENTES:

Uma sexta-feira, pós feriado, muita gente ainda trabalhando, poderíamos esperar o público só chegando mais tarde, certo? Bom, mais ou menos. Parece que muita gente “deu um jeito”. É verdade que, sim, foi o dia menos cheio entre os três do festival, e seu pico foi, claro, à noite. Mas era impressionante a quantidade de gente que chegou para prestigiar as primeiras bandas.

Era muito legal, inclusive, ver as pessoas chegando: sorrisos no rosto, camisetas de diversas bandas, e das edições passadas do festival (quando ainda se chamava Summer Breeze Brasil), crianças com protetores auriculares de formato concha – ideal para os ouvidos infantis -, casais, pessoas de todas as idades. Em especial, era legal ver o público mais velho ali, que estava prestigiando um grande ídolo do passado, que continua relevante até hoje, o grande ex-baixista e vocalista do Deep Purple, Glenn Hughes, além da “rainha do metal”, Doro Pesch. Outros, especialmente mais jovens, usavam camisetas da banda Dogma, as “freiras sensuais” misteriosas, que ninguém sabe exatamente quem são, além de uma presença muito legal do fã clube brasileiro do Kissin’ Dynamite, em grupo, para prestigiar, da grade, o show dos alemães. Não podemos nos esquecer da galera do som mais pesado, que teve seu gosto musical representado pelo Armored Saint, capitaneados pelo ex-vocalista do Anthrax, John Bush! Claro, a festa não estaria completa sem uma banda de heavy metal tradicional, e para isso, quem representou dignamente foi a banda Pretty Maids, uma das precursoras do heavy metal na Escandinávia, diretamente da gelada Copenhague, na Dinamarca.

KISSIN’ DYNAMITE ABRE O FESTIVAL COM SEU HARD ROCK DE ARENA:

Embora ainda não sejam um nome gigante no estilo, os alemães conquistaram já uma base de fãs no Brasil e no mundo, e isso podia ser visto logo na entrada, quando diversas pessoas, usando camisetas personalizadas do fã clube eram vistas entrando e correndo para a grade, pois eles que abririam o dia, em sua primeira passagem pelo nosso país.

Com seu visual diretamente fazendo referência aos grandes dias do hard rock oitentista, as cabeleiras desgrenhadas, óculos escuros e roupas de couro, os alemães do Kissin’ Dynamite subiram ao palco com sorte, pois o sol, naquele dia, não era tão arrasador quanto seria nos dias subsequentes, e muito menos quanto foi nos anos anteriores. Isso deu energia tanto ao público quanto à banda, e a interação com os fãs, assim como com aqueles que estavam para ver outras atrações, foi bem saudável, e conseguiram até tirar coros de “Kissin’ Dynamite” da plateia. Um belo primeiro show, que era um anúncio que o festival seria ótimo! E foi, assim como o show deles!

SETLIST:

Back With a Bang

DNA

No One Dies a Virgin

I’ve Got the Fire

My Monster

The Devil Is a Woman

Not the End of the Road

You’re Not Alone

Raise Your Glass

DOGMA, UMA DAS NOVAS SENSAÇÕES DO METAL, TROUXE EM PESO SEUS PRÓPRIOS FÃS, COM BANDEIRAS, CAMISETAS E ‘COSPLAYS’ DE FREIRA ENTRE A GALERA:

Guardadas as devidas proporções, o Dogma seria algo semelhante ao Ghost, com integrantes misteriosos, símbolos religiosos profanados, e todo aquele teatro “satânico”, por assim dizer. Em alguns pontos, vão até além dos suecos liderados por Tobias Forge, já que sabemos quem ele é, e no caso das freiras, não fazemos ideia, e nem sequer sabemos “de onde” são. Toda essa aura de mistério, a produção de palco, o visual e, especialmente, a sensualidade envolvida conquistaram rapidamente um público cativo – com o perdão do comentário, é simplesmente impossível não ficar “impactado” com moças com belos corpos, performances quase eróticas no palco, e vestidas de freira tocando heavy metal.

Com pontualidade, dez minutos após o show dos alemães do Kissin’ Dynamite, as freiras subiram ao palco. No começo, o som desapontou – muito alto em alguns momentos, alguns instrumentos inaudíveis, e outros estourados, incluindo o vocal. Logo os problemas de som diminuíram, e pudemos curtir melhor o show. É nítido que cada musicista ali foi escolhida a dedo, e todas tocam muito bem, além de saberem exatamente o que fazer: são sensuais e, além disso, sabem medir o quanto podem fazer a depender do ambiente onde estejam tocando. Em shows fechados, para quem já viu, sabe que são até mais eróticas, e até obscenas, mas no festival, souberam fazer a coisa mais “leve”, e apenas com algumas insinuações aqui e acolá, em especial durante seu cover de “Like a Prayer”, da cantora Madonna – suficiente para provocar o público, que boa parte já conhecia suas músicas, e sabia o que esperar.

SETLIST:

Forbidden Zone

My First Peak

Made Her Mine

Banned

Like a Prayer

Bare to the Bones

Make Us Proud

Pleasure From Pain

Father I Have Sinned

The Dark Messiah

JOHN BUSH MOSTRA QUE ESTÁ FIRME E FORTE, EM PLENA FORMA, E O ARMORED SAINT ENTREGA UM DOS SHOWS MAIS ENÉRGICOS POSSÍVEIS:

Bem antes de entrar para o Anthrax, em 1992, o vocalista John Bush já era um nome proeminente no heavy metal americano com o Armored Saint. Ao deixar a banda de thrash, em 2005, John voltou a sua banda original, e agora, em 2025, vinte anos depois, participaram como uma das principais atrações do primeiro dia de festival. Provavelmente a primeira grande banda do evento, os americanos de Los Angeles não desapontaram, e mostraram que a música pesada oitentista é colossalmente forte no Brasil.

Com pontualidade, a banda entrou com energia no palco. Bush, com suas roupas brancas típicas, desfilava vigor e presença, batendo cabeça, pulando, e se comunicando com o público. Mesmo com setlist enxuto, conseguiram apresentar seus maiores clássicos.

Em determinado momento, provavelmente tivemos uma das partes mais legais do dia, quando John desceu do palco e foi para o meio da galera cantar. Se deslocou por todo o “front row”, e foi até a grade da pista abraçando os fãs sem perder a voz ou o fôlego!

SETLIST:

March of the Saint

End of the Attention Span

Raising Fear

Long Before I Die

The Pillar

Last Train Home

Left Hook From Right Field

Standing on the Shoulders of Giants

Win Hands Down

Can U Deliver

Reign of Fire

PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL, O PRETTY MAIDS, PIONEIROS DO HEAVY METAL NÓRDICO, APRESENTOU MÚSICAS RECENTES E DOS ANOS OITENTA, EM UM SHOW PARA METALEIRO NENHUM BOTAR DEFEITO:

Lembrem-se sempre disso: antes do Pretty Maids, não existia cena de heavy metal nos países nórdicos. Como diriam os mais velhos “no meu tempo era tudo mato” – com exceção, claro, do Mercyful Fate, contemporâneos do Pretty Maids. Em mais de quarenta anos de banda, essa foi a primeira passagem dos dinamarqueses no Brasil, e acreditem, isso significa muito! É uma banda que todos deveriam ter a chance de ver alguma vez na vida.

A banda comandada pelo vocalista Ronnie Atkins, velho conhecido dos brasileiros por sua participação no Avantasia, tanto em estúdio quanto ao vivo, foi a primeira a entrar no período noturno do festival, o que ajudou com a questão da iluminação do palco e dar a cara de grande produção ao show. A banda, apesar de relativamente pouco conhecida do público brasileiro, foi recebida com fervor, e retribuiu isso à plateia com grande performance, e músicas de seus períodos mais iniciais, e também da fase moderna, ignorando os anos noventa, que segundo Ronnie, não foram dos melhores para eles. Boa notícia, aliás, pois são esses dois períodos que trouxeram os melhores álbuns da banda, como o excelente Pandemonium, cuja faixa título foi aclamada em coro quando anunciada. Outro ponto alto foi o cover de John Sykes, “Please Don’t Leave Me”, que acabou ficando conhecido na versão feita pela banda.

Um adendo que é sempre importante dizer: a performance vocal de Ronnie impressiona não “apenas” pela qualidade, que é impecável, mas também pelo fato de ele cantar com essa qualidade toda enquanto, atualmente, luta contra um câncer há mais de seis anos! Aplausos ao cantor, e nossos desejos por uma recuperação total! Você é gigante, Ronnie!

SETLIST:

Mother of All Lies

Kingmaker

Rodeo

Back to Back

Red, Hot and Heavy

Pandemonium

I.N.V.U.

Little Drops of Heaven

Please Don’t Leave Me

Future World

Love Games

SÚDITOS, CURVEM-SE À RAINHA DO HEAVY METAL, A BRILHANTÍSSIMA DORO PESCH:

O metal hoje é cheio de divas. Você vê nomes proeminentes na cena em diversos subgêneros, como Simone Simons e Floor Jansen no metal sinfônico, ou Angela Gossow e Mayara Puertas no metal extremo. Nos anos oitenta, eu garanto, não era assim. A mulher que desbravou esse território masculino foi Dorothee Pesch, ou apenas Doro Pesch, que hoje trabalha sob a alcunha de Doro, como ficou conhecida sua banda solo, após sair do Warlock. Como é de conhecimento público e notório, a vocalista e sua banda, que conta com o guitarrista brasileiro Bill Hudson (nome artístico de Niuton Rodrigues Filho) e com seu parceiro de longa data, o baixista Nick Douglas, que não faz mais parte da banda, mas está cobrindo shows para o oficial do posto Tilen Hudrap, seu outro membro clássico, Johnny Dee, e o guitarrista do After Forever, Bas Maas, sempre fazem shows fantásticos, e jamais decepcionam. Isso qualquer um que leia uma cobertura de shows dela, ou que assista um, melhor ainda, sabe. Mais uma vez, a Rainha prova porque de ser tão adorada, e faz o melhor e mais empolgante show da noite – com todo respeito e admiração às outras bandas, especialmente ao lendário headliner da noite, claro.

Para uma multidão alucinada que gritava seu nome, a cantora subiu ao palco às 19h25, e logo de cara mostrou a que veio, com o clássico “I Rule The Ruins”, de seu último álbum com o Warlock, em 1987, o aclamado Triumph and Agony. A cantora, que sempre declarou seu amor aos fãs em todas as ocasiões, exaltou o público brasileiro, e disse que estar ali era como estar em casa. Focando seu setlist em clássicos, continuou com os anos oitenta em peso, com “Earthshaker Rock”, seguido de um de seus mais famosos hinos, “Burning The Witches”, e “Hellbound”, todas músicas do Warlock, assim como a seguinte, “Fight For Rock”. Era noite de “classiqueira”! Suas primeiras músicas solo foram “Time for Justice”, que a cantora havia prometido tocar em entrevista a nós alguns meses atrás, e “Raise Your Fist in the Air”, quando ela pediu para que todos realmente levantassem as mãos. Pedido atendido com sucesso! O amor de Doro para com seu público é recíproco.

Na exata uma hora que teve de show, a vocalista e sua banda apresentaram ainda mais clássicos, e tocou outro sucesso que a elevou de status, “Metal Racer”, e a balada em alemão “Für Immer”, ambas do Warlock.

No final de sua magnífica apresentação, exaltou o ex-vocalista do Accept, seu parceiro de longa data, Udo Dirkschneider, que também teve Bill Hudson como guitarrista por algum tempo, e tocaram a primeira parceria da de Doro com ele, o cover do Judas Priest, que começa em versão acústica, para então ficar pesada. Que música era? Aquela que todo mundo que gosta um pouco de rock conhece, simplesmente “Breaking The Law”. E, para acabar com chave de ouro, seu maior hino, “All We Are”. A cantora agradece o público e sai, como sempre, ovacionada, com coros intermináveis de “ole ole ole ole Doro! Doro!”

SETLIST:

I Rule The Ruins

Earthshaker Rock

Burning The Witches

Hellbound

Fight for Rock

Time for Justice

Raise Your Fist in the Air

Metal Racer

Für Immer

Fire In The Sky

Breaking The Law

All We Are

O HOMEM, O MITO, A LENDA. A “VOZ DO ROCK”! AQUELES PARA QUEM TODOS OLHAM QUANDO SE PENSA EM QUALIDADE VOCAL. COM VOCÊS, GLENN HUGHES:

Existe um seletíssimo grupo de cantores de rock que jamais, apesar da idade, perderam sua performance impecável cantando ao vivo, e até hoje são referência. Ao lado de outras lendas como Sammy Hagar, Steven Tyler, Bruce Dickinson, a atração principal daquela noite foi outro nome inserido nesse grupo: ninguém menos que Glenn Hughes! Conhecido por sua carreira como baixista e vocalista de uma das maiores bandas de todos os tempos, o Deep Purple, o vocalista apresentou-se tocando apenas músicas de sua fase na banda, numa turnê conhecida como Classic Deep Purple Tour.

Quando o cara sabe começar um show, ele sabe! Pontualmente, acompanhado de sua excelente banda com Søren Andersen na guitarra, Ash Sheehan na bateria e Bob Fridzema nos teclados, às 20h30, a lenda subiu ao palco já com um soco na cara do clássico “Stormbringer”, do álbum homônimo de 1974, e provou porque é tido como referência! Diferente de seu parceiro de Deep Purple à época, David Coverdale, que hoje é uma sombra do que já foi, e está aposentado, Glenn toca as músicas em tom original, e acerta nota por nota, até os agudos mais insanos, que sempre foram sua marca. Seguiu com mais clássicos um atrás do outro: “Might Just Take Your Life” e “Sail Away”, ambas do álbum Burn, também de 1974, executadas com perfeição. O momento, não diria ruim, mas desnecessário, talvez, foi o medley com extensos solos de guitarra e bateria, juntando “You Fool no One” com “The Mule”, “High Ball Shooter”, e voltando para a primeira. Ótimas músicas, muito bem executadas, mas que poderiam ter sido tocadas inteiras, e esse medley consumiu tempo precioso do show. É legal fazer algo assim em um show solo, onde se tem menos restrição de horários, mas em um festival, seria preferível focar nas músicas. De qualquer forma, é a escolha do artista, e de forma alguma foi algo ruim.

Seguiu o show com mais clássicos, sem tempo de respirar, em “Mistreated”, “Gettin’ Tighter” e a icônica “You Keep On Moving”, todas de seus dias de Purple. Mas está faltando algo, não? É claro que não poderia ser diferente! Seu show acabou com um dos maiores clássicos do rock, uma das músicas mais importantes dos anos setenta, e que dá a cara do “MK III” do Deep Purple – como é conhecida a fase de Hughes e Coverdale na banda. The Sky is Red, I don’t Understand/Past Midnight I Still See the Land! Ouvir “Burn” ao vivo, executada com tamanha perfeição, é algo que todos deveriam ter a oportunidade. Sério, confiem em mim, isso revigora a alma!

Acabava assim o primeiro dia, o “esquenta”, do maior festival de metal deste continente, com um dos maiores artistas do rock cantando uma das maiores músicas do rock, em uma performance impecável, mas que, de certa forma, pode se dizer curto demais, e que poderia ter sido melhor aproveitado se tocassem as músicas inteiras sem os solos de instrumentos. De toda forma, vale cada segundo de sua vida!

SETLIST:

Stormbringer

Might Just Take Your Life

Sail Away

Medley: You Fool no One/Blues/The Mule/High Ball Shooter/solo de guitarra e bateria

Mistreated

Gettin’ Tighter

You Keep On Moving

Burn

Mas o festival não acaba aqui! Mais dois dias, ainda maiores, de shows. Fiquem ligados, pois logo vai ao ar a cobertura dos dois próximos dias!

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