Old School Night IV: quando a Teodoro Sampaio virou a Sunset Strip

Fotos: Lara Zugaib (@larazugaib)

Festival reuniu a Creatures (CWB) e o Night Prowler (SP) no Red Star Studio para mostrar que o hard ainda vive

Alguns podem tentar argumentar que o bom e velho rock and roll, cheio de guitarras distorcidas, calças de couro, e, às vezes sexo e drogas morreu, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Tá, não estamos mais nos anos 80, em que qualquer esquina que você virasse encontraria uma loja de discos fedendo a cigarro e cheio de cabeludos que você nem sabe com certeza se são homens ou mulheres, mas nas profundidades do chamado “underground”, anda acontecendo uma renascença do hard (e de música oitentista no geral) ultimamente, com várias bandas de qualidade. 

Promovida pela Spot Gig, a Old School Night tem trazido um pouco do bom e do melhor da música oitentista autoral para os palcos de São Paulo desde o ano passado. Álcool, Gravedäncer, Selvageria, Armadilha, Antroforce e até uma reunião da Terminator já passaram pelos palcos da noite que louva o bom e velho. Desta vez, a festa contaria com apresentações de duas bandas de nome na cena, a Creatures, diretamente de Curitiba, fazendo sua única apresentação do ano na capital paulista, e a Night Prowler, banda de heavy metal osasquense que recentemente foi uma das bandas de abertura dos suecos do Lucifer.

Liberando o animal – Night Prowler

Os “gatunos da noite” estavam previstos para assumir o palco por volta das 20:00, mas por conta de alguns problemas, foram subir quarenta minutos depois; faz parte do rock, não tem jeito. O quinteto, composto por Lucas Chuluc no baixo, Marck Oliver na bateria, Igor Senna e Luke Couto nas 6 cordas e Fernando Donasi na voz, começou não só com os dois pés, mas também os braços, mãos, costas, cabeça, o corpo inteiro na porta, começando logo com seu último lançamento, o elétrico single “Free the Animal”, que fará parte de seu novo álbum. O Red Star estava até vazio, o que era uma pena, mas quem estava lá certamente curtiu, a galera batia cabeça como se não houvesse amanhã.

A noite seguiu com “Devil in Disguise”, outra faixa que integrará o próximo lançamento. Depois, veio a antêmica “Never Surrender”, onde conseguimos realmente apreciar as habilidades de Marck Oliver na bateria, que realmente sentou a mão na caixa. No solo, ambos os guitarristas se juntaram com Donasi, fazendo aquela pose incrivelmente clichê, mas sempre bem vinda. Um clima sinistro reinou com a bastante heavy metal “Darksider”, completamente diferente da que veio depois, “Love Hard Girls”, completamente hard rock, como o próprio vocalista disse. Havia chegado a vez de Donasi descansar e o resto da banda mostrar a que veio, “The Witches Curse”, música instrumental, um pouco mais curta, com solos de guitarra animais e uma linha de baixo que realmente comprovou as habilidades do novo baixista, Lucas Chuluc, que fez sua estreia com a banda em setembro deste ano.

Foi só o vocalista voltar, que começou o caos. “Tightrope”, recheada de solos, viu Senna, o guitarrista, passar boa parte da música fora do palco, solando entre os fãs, que, maravilhados, tentavam acompanhar o solo com as mãos e filmavam o momento. Em “No Escape”, faixa-título do primeiro álbum, algo parecido aconteceu, mas não foi só o Igor que desceu, pois desta vez, estava acompanhado de Luke Couto enquanto o público gritava na hora do refrão: “No! Escape!”. No final, Senna conseguiu uma proeza que muitos guitarristas veteranos não acreditam nem ser possível, quebrar a “mizona”, corda mais grossa da guitarra. Detalhe: ele toca tão fraco que no ensaio que aconteceu um dia antes, já tinha estourado a “mizinha”. Sem uma corda, fecharam com “Make it Real”. 

Fizeram um show curto, de mais ou menos 40 minutos, mas foi certamente marcante, esbanjando uma presença de palco incrível. Agora, ficamos na espera do novo álbum, que vem aí com umas faixas de qualidade.

Cuidado com as criaturas da noite – Creatures

Os “headliners” da noite foram subir no palco quase às 22:00, uma hora depois do horário original marcado. Liderado pelo carismático Marc Brito, personificação do hard rock, que assumiu os vocais (antes de Bob Scienza, atualmente na Rope Bunny), eles realmente trazem de volta toda a essência do hard oitentista, com músicas rápidas e enérgicas (que se tivessem clipe, seria um homem correndo de carro na praia ao lado de uma loira) e também algumas baladinhas, para acender o isqueiro e “limpar a janela”. O show começou com Mateus Cantaleano (guitarrista, mente por trás da banda e portador de um cabela que realmente dá inveja), CJ Dubiella (baterista, outro que tem um cabelo incrível, parece o John Lennon glam) e Ricke Nunes (baixista, não preciso nem comentar do cabelo, acho que já deu para perceber um padrão) todos no palco solando, com o Marc, o Rob Halford de Leopoldina, MG, entrando logo depois, com cara de “jogador caro” e ficando de costas para o público, animando-os enquanto rolava a introdução de “Satan’s Finest”.

Children of the Moon”, seu maior hit de acordo com o Spotify, não pode faltar. Seguiram uma pedrada com outra, “Heart Attack”, mais um destaque do excelente álbum autointitulado de 2021 (e olha que não gosto de hard). Depois, veio a “Danger”, primeiro registro gravado de Marc e a típica faixa de hard para cantar junto e sofrer de amor; “when I look in your eyes, I see the eyes of a stranger”. Ao som do riff de “18 and Life”, o vocalista introduziu o resto da banda, soltando um “Ricky was a young boy” quando foi falar do baixista. Queria eu ter a presença de palco do Marc, que gentilmente pediu para a galera se animar antes do refrão da “Dressed to Die”: “é o que porra?! Não, tá baixo, caralho!” Não critique seus métodos, critique seus resultados, logo depois, os fãs foram à loucura. Presenteando os “tiozões” da plateia, tocaram também parte da icônica “Burn”, do Deep Purple, no meio da música.

Para chorarmos um pouquinho, seguiram com a balada “Nothing Lasts Forever”, recentemente relançada com a voz do vocalista novo. Foi nessa hora que deu para realmente apreciar a técnica da banda no geral. Nunes começou fazendo um tapping incrível no baixo, limpíssimo, galopando forte no resto da música. Dubiella mesclava toques suaves no ride com viradas estonteantes e era cada mãozada na caixa que não estava escrito. Marc deu um show à parte, ele não só tem uma voz incrível e naturalmente envolve muito o público, mas também claramente estava dando a vida pela música, até colapsando ao chão em certas horas. 

Levantaram o clima com uma música que, de acordo com ele mesmo, quem conhece o vocalista “só 1%” não iria achar estranho, uma música que nem ele sabia que iriam tocar, sendo avisado pelo WhatsApp na semana, “um clássico desse caralho”, cujo o público foi convocado para chegar mais à frente, porque “não é igreja não”: “Round and Round” do RATT, banda que se tiver 5 fãs aqui no Brasil, já é muito. Piadas à parte, a música é incrível e, pelas “lentes” deles, ficou melhor ainda, confira:

Após um solo impressionante de mais de 5 minutos do Mateus – quase um “Free Bird” – a saideira ficou por conta da “Lightning in My Eyes”, que fechou a festa, mas sem deixar aquele clima de fim de festa. Em menos de uma hora, passaram por todas as suas maiores músicas e fizeram jus ao fato de que são uma das melhores bandas dessa nova onda de hard brasileiro.

Conclusão – o hard não morreu

Vou deixar algo bem claro, não sou nem um pouco fã de hard, quem me conhece sabe que detesto qualquer música que tenha cheiro de couro e laquê. Mesmo assim, estes dois shows foram alguns dos melhores (e mais divertidos) que eu vi esse ano inteiro. Por natureza, o hard rock é um gênero bastante envolvente, divertido, mas tem que ser executado bem, tem que ser algo dinâmico, e tanto o Night Prowler quanto a Creatures fizeram isso perfeitamente.

Night Prowler – setlist

Free the Animal

Devil in Disguise

Never Surrender

The Darksider

Love Hard Girls

The Witches Curse

Tightrope

No Escape

Make it Real

Creatures – setlist:

Satan’s Finest

Heart Attack

Children of the Moon

Danger

Dressed to Die / Burn (Deep Purple)

Nothing Lasts Forever

Round and Round (RATT)

Solo de guitarra

Lightning in My Eyes

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