The Wailers em São Paulo: banda celebra legado de Bob Marley no festival Reggae Live Station

Texto por Guilherme Goes e Fotos por Natalia Eidt/Headbangers News

Considerada um dos pilares da música reggae, a banda The Wailers foi formada na Jamaica nos anos 1960 por Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer. O grupo foi diretamente responsável por levar o reggae ao mundo, com canções que difundiam mensagens de paz, justiça social e espiritualidade. Mesmo após a morte de Marley, a banda manteve vivo o seu legado, e até hoje continua espalhando essa mensagem por meio de turnês globais e novos lançamentos, consolidando o reggae como um gênero relevante na música contemporânea.

Depois de passar por várias cidades brasileiras entre setembro e outubro, o público paulistano teve a oportunidade de assistir, no último domingo (20), ao show especial da “40th Anniversary Legend Tour” no festival Reggae Live Station, que aconteceu no Espaço Unimed. A turnê celebra o aniversário do lendário álbum “Legend”, e também marca a divulgação do filme biográfico “Bob Marley: One Love”. A festa contou ainda com a participação de Pato Banton, músico britânico que ganhou grande popularidade no Brasil nos anos 2000 com os hits “Baby Come Back” e “Go Pato”, além da banda Mato Seco, um dos maiores representantes do reggae nacional.

Apesar do frio e da garoa que marcavam a tarde paulistana, os fãs não hesitaram em chegar cedo. O clube, com capacidade para mais de 7.000 pessoas, logo começou a se encher tanto nas pistas quanto nos camarotes. Um aspecto curioso do evento foi a diversidade do público: embora fosse um festival de reggae, era possível ver muitas pessoas vestindo camisetas de bandas de rock, rap, hardcore e até mesmo heavy metal, refletindo a ampla conexão que o reggae tem com outros estilos musicais e culturas.

A banda Mato Seco, formada em São Caetano do Sul em 2002, foi responsável por abrir a festa. O grupo deu início ao set com a música “Resistência”, uma faixa de forte impacto, abordando temas como violência, desemprego e desigualdade social. Enquanto a banda tocava, imagens de figuras como Malcolm X e Nelson Mandela eram projetadas no telão, reforçando a mensagem de luta por justiça. O vocalista Rodrigo Piccolo também aproveitou o momento para se manifestar brevemente a favor da libertação do território palestino.

Após o início impactante, o show seguiu com canções mais leves, marcadas por teclados, backing vocals, passagens de trompetes, percussão vibrante e mensagens de positividade. Entre os destaques do setlist, vale destacar “Caminho da Luz”, com uma base de bateria impecável e complexa, e “Vou Pedir a Jah”, que trouxe uma introdução prolongada com solos de guitarra e riffs pesados, mostrando certas influências de rock nas composições do grupo. Além disso, Rodrigo Piccolo se destacou como um frontman carismático, sempre interagindo com a plateia e incentivando o público a participar em coros. Um show enérgico e interessante, capaz de conquistar até mesmo aqueles que não são aficionados por reggae.

Após um breve intervalo, o britânico Pato Banton surgiu no palco com sua banda, todos vestidos de branco. O cenário foi decorado com uma grande fotografia do músico e iluminado com as cores clássicas do reggae – vermelho, verde e amarelo. Ele abriu o show com o single “Stay Positive” e, desde o início, mostrou uma postura animada e brincalhona, interagindo com o público. Durante “Brothers & Sisters”, chamou um tradutor ao palco para expressar seu amor pelo Brasil e sua alegria em se apresentar para uma multidão em São Paulo.

Pato Banton mostrou que sua música vai além do reggae, incorporando influências de hip hop, dance, jazz e até soul. Isso ficou evidente na faixa “Groovin’”, que revelou sua versatilidade musical. Quanto à banda, o baixo se destacou, muitas vezes tocando tão alto que chegava a encobrir os outros instrumentos, criando uma presença marcante no som.

Na reta final do show, ao executar seu maior hit, “Go Pato”, o cantor desceu para a pista e dividiu o microfone com os fãs. Nesse momento, uma garotinha de 9 anos chamada Victória surpreendeu a todos ao cantar tão bem que foi convidada a subir ao palco. Ao se juntar a Pato, ela roubou a cena, interpretando a música de forma impecável. Sua performance foi tão impressionante que Pato deixou o cenário e a deixou cantar sozinha, arrancando aplausos entusiasmados da plateia. No final do show, Pato anunciou que estava captando cenas para o videoclipe de sua nova música, “The Spirit of Ubuntu”, e pediu que os fãs mostrassem a maior energia possível para o registro.

Com uma abertura simples, sem explosões, efeitos de luz chamativos ou quedas de cortinas (algo que, curiosamente, também marcou os demais shows do festival), os integrantes do The Wailers subiram ao palco e, já na primeira música, fizeram o público cantar em uníssono e dançar ao som de “Lively Up Yourself”. O início foi empolgante, apenas passando uma amostra do que o grupo tinha planejado para a ocasião especial. Logo em seguida, tocaram o clássico “Is This Love?”, surpreendendo com os arranjos potentes das backing vocals. Já em “No Woman, No Cry”, o destaque ficou por conta dos teclados e um solo de guitarra perfeitamente executado.

Após uma breve pausa para cumprimentar o público, o guitarrista Wendel “Junior Jazz” Ferraro assumiu os vocais no lugar do cantor Mitchell Brunings e apresentou o hino romântico “Stir It Up”. Apesar do ritmo mais lento, a energia do público permaneceu alta. De volta ao centro das atenções, Mitchell comandou “I Shot the Sheriff”, um megahit que transcendeu o reggae e ganhou respeito no mundo do rock após o cover de Eric Clapton.

No segundo bloco do show, a sequência de sucessos continuou com “Three Little Birds”,Every Little Thing – One Love”, “Get Up, Stand Up”, “Redemption Song” e “Could You Be Loved”. Ao longo dessas faixas, Mitchell incentivou a participação ativa do público, “jogando” o microfone em momentos estratégicos. Os músicos de apoio se mostraram impecáveis, tocando com uma precisão fiel às gravações originais. No entanto, o grande destaque do set foi a performance das backing vocals, que preencheram cada música com agudos belíssimos, enriquecendo ainda mais as canções.

Fui ao show do The Wailers mais pela experiência de conferir um evento de reggae em primeira mão, mas saí surpreendido pela qualidade técnica da banda. Além disso, percebi que, mesmo sem ser um ouvinte assíduo de seus discos, conhecia praticamente todas as músicas do repertório. Assim, testemunhei com força total o quanto o legado de Bob Marley está profundamente enraizado na cultura popular, garantindo que sua obra continue viva para sempre.

Setlist

Lively Up Yourself
Is This Love
No Woman, No Cry
Stir It Up
Waiting in Vain
I Shot the Sheriff
Three Little Birds
Every Little Thing – One Love
Jamming
Get Up, Stand Up
No More Trouble
Exodus
Redemption Song
Kinky Reggae
Love Should Be Free
Buffalo Soldier
Could You Be Loved

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About Guilmer da Costa Silva

Movido pela raiva ao capital. Todo o poder ao proletariado!

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