MASTER BOOT RECORD - Hardwarez -

Sintetizadores e metal geralmente não se misturam muito. Quando acabam se encontrando, acabam sendo mais um instrumento num grande emaranhado, geralmente em bandas de prog ou algum ‘core da vida, mas raramente são a grande estrela das músicas. Poucas pessoas se aventuraram a ponto de criar música pesada com instrumentos sintetizados, valendo destacar o brilhante Perturbator, compositor da incrível trilha sonora do Hotline Miami e atração da primeira edição do nosso finado “Summerzinho”. Outro que consegue criar faixas realmente pesadas apenas com elementos eletrônicos é o MASTER BOOT RECORD, projeto do gênio multi-instrumentista italiano Vittorio D’Amore, o Victor Love, atualmente membro do cast da Metal Blade Records. Em Hardwarez, sequência de Personal Computer (2022) e Floppy Disk Overdrive, Love apresenta uma evolução palpável, com uma sonoridade infinitamente mais profunda e absurdamente intensa, como sempre.

Todo disco do MBR traz alguma temática nos nomes, e a desse álbum é justamente o hardware de um computador, misturado com a cena dos “Warez”, da pirataria. O álbum começa logo com “BIOS”, que é exatamente a primeira coisa que roda quando você liga qualquer sistema. Um clima sinistro, pesado e soturno reina desde o começo. Lembra muito aquela cena do Punch Club em que seu pai morre, quem jogou, sabe. Essa “vibe” dura pouco, pois, logo depois, já aparecem aqueles sintetizadores bitcrusheados que fazem você se sentir como se estivesse em um beat-em-up dos anos 80. A inclusão de sons reais de bateria dão um “tchan” especial, adicionam uma profundidade interessante, dão uma quebra na artificialidade do som. O final mistura um pseudo-breakdown e uma melodia linda nos sintetizadores, uma boa receita para um bate-cabeça de qualidade. A real grandiosidade no som de Love pode ser vista em “MOBO”, que tem solos, licks e, no geral, algumas partes que parecem uma parede sonora impenetrável.

“CPU”, por sua vez, é mais sem frescura, sem massagem, muito mais puxada para o metal. A faixa lembra um pouco um metalcore, com muitos chugs graves, mas também com uns solinhos motivadores. A faixa mistura o peso de um deathcore com a nuance e técnica do power metal; é um espetáculo à parte. “GPU” segue numa linha parecida, ficando absurdamente linda com mais ou menos 1 minuto de música. É uma avalanche de ondas sonoras indescritível. Como que zeros e uns podem ser tão bonitos? Mesmo sendo mais devagar que as outras, consegue manter a energia, só que direciona-a mais à emoção do que à intensidade. “RAM” parece ser aquela parte da jornada de um herói em que ele está destruído, passou por provação atrás de provação, mas ainda tem um longo caminho a seguir, então puxa motivação das profundezas de sua mente, e corre para cima dos inimigos.

O álbum fecha com “HDD”, “PSU” – fonte de alimentação – e “CASE”. “HDD” tem aquele quê mecânico da música industrial, aquele sintetizador bravo de um Rammstein. Assim como em outras músicas, Love pega uma lead incrível e coloca por cima, com um tribal devagar rolando na bateria.”PSU” brinca com diversas melodias de trocentas notas por segundo por cima de um instrumental pesado, que faz parecer aquelas trilhas de luta contra o chefão final. Uma atmosfera realmente densa e intensa. A última mergulha de cabeça no metal, é até um pouco parecida com a trilha sonora dos joguinhos do DOOM, se não fossem as leadzinhas. Ao todo, ela pega a energia incrível das primeiras faixas e mantém, fechando o Hardwarez com chave de ouro.

É um som para todo mundo? Não. É algo bem diferente, fora do convencional. Quem gosta, adora, mas também tem quem ache uma bosta na água. Eu, pessoalmente, sou do time que adora; conseguir transmitir o peso do metal e fazer os ouvintes parecerem que estão no King of Fighters ao mesmo tempo não é nada fácil. É inegável que é um som bem-feito, a produção é perfeita, tudo orna perfeitamente, os timbres se completam, as melodias são bem pensadas. A única coisa que pode realmente fazer alguém não gostar desse projeto é o contraste entre ele e o resto da música pesada. Para mim, que não sou muito ligado em chiptune, fica difícil achar algum artista para comparar, mas vai na minha, tá de qualidade o som. Curte os blim blim blim de joguinho e curte metal? Vai ouvir Hardwarez logo.