Texto por Guilmer e Fotos por Bajul MArotta
A lenda viva do punk mundial, Discharge, retornou à América Latina após adiamentos em 2023. No Instagram, a banda alegou problemas de logística. A banda veio acompanhada de mais três bandas convidadas, duas delas internacionais: Havok (thrash metal, EUA), Midnight (black/speed metal, EUA) e a paulistana Manger Cadavre?A tour, com o nome bem propício de “Hell On Earth Tour”, transformou o Carioca Club em um verdadeiro inferno na terra.
A responsável pela tour é a produtora Gig Music, o Carioca Club em parceria com a Dreamers Entertainment e Route One Booking.
MANGER CADAVRE? – O CHAMADO DA RESISTÊNCIA
A primeira banda da noite foi a já conhecida Manger Cadavre?. Manger Cadavre? é uma banda de death crust de São José dos Campos, interior de São Paulo. Tendo se apresentado em grandes festivais nacionais como Setembro Negro, Oxigênio Festival, Abril Pro Rock, Virada Cultural Paulista, entre outros, a banda está atualmente em turnê de lançamento do disco “Imperialismo”.
Manger Cadavre? também conquistou destaque como uma das vozes femininas no metal extremo, comandada por sua co-fundadora, vocalista e compositora Nata Nachthexen. A banda é formada também pelo fundador Marcelo Kruszynski (bateria), Paulinho (guitarra) e Bruno Henrique (baixo).
O repertório focou nos dois últimos lançamentos da banda. O som caótico e denso do grupo leva a níveis preocupantes de insanidade, ao menos para aqueles não acostumados com a parede sonora criada por eles.
O repertório do Manger Cadavre? passou por faixas como “Em Memória”, “Imperialismo”, “Miseráveis” e uma das minhas favoritas da banda, “A Raiva Muda o Mundo”, que deixaram sua marca. Nata agradeceu a todos pela presença e comentou sobre a primeira turnê da banda pela Europa, que começará em julho, iniciando dia 28 de junho. Inclusive, uma das datas inclui a icônica participação no festival Obscene Extreme, na República Checa, o sonho de todo fã de música extrema, e anunciou o novo som “Retórica do Silêncio”, que será gravado em setembro. Para finalizar, Nata pediu o fim da Polícia Militar e anunciou o encerramento com a pesada “Encarceramento e Morte”. Apresentação curta, mas intensa como uma explosão nuclear.
HAVOK – THRASH METAL MAIS VIVO DO QUE NUNCA!
Em um Carioca Club já lotado, a bola da vez eram os thrashers do Havok, que particularmente eu estava ansioso para conferir, pois curto a banda desde seu segundo álbum. A banda, originária de Denver (Colorado, EUA), surgiu em 2004 com um estilo agressivo que evocou lendas do thrash metal da Bay Area como Exodus, Metallica e Testament. O álbum mais recente é o V, de 2020.
O show começou com “Point of No Return”, que faz parte do auto-intitulado EP lançado em 2012. Ao vivo, a execução dela é ainda mais pesada e técnica; aqui, a banda já mostrou a que veio.
Falando em execução, o baixista Nick Schendzielos (Job for a Cowboy) foi um dos destaques da apresentação. O cara foi um show à parte, indo de um lado para o outro, interagindo com o público sem parar nem um minuto. Até sua camiseta chamava atenção, com estampa da cantora Whitney Houston. Isso é de se destacar, porque a banda fez diversos shows na América Latina e o normal é estar um pouco mais cansado, mas ele estava ligado no 220v, um verdadeiro terremoto a cada nota tocada.
O exímio guitarrista Brett Vaughn está comandando as guitarras da banda na tour pela América Latina e Europa, substituindo temporariamente Reece Scruggs, que atualmente toca com o Machine Head. Brett cumpriu muito bem sua função, tocando com maestria e não errando uma nota sequer. Um detalhe bem legal é que ele usava uma camisa vintage do Sepultura, mostrando sua clara influência no modo de tocar.
O repertório passou por várias pedradas como “Hang ‘Em High”, “Prepare for Attack”, “Intention to Deceive” e “Covering Fire”. A banda como um todo é muito técnica; posso dizer que eles soam mais pesados e caóticos ao vivo do que em estúdio. Devo mencionar um grande destaque ao baterista Michael Ohlson, que toca muito bem e cumpriu muito bem a função de substituir Pete Webber, atualmente em turnê com o Fear Factory.
A rifferama ainda rolou solta com clássicos e minhas favoritas da banda como “Give Me Liberty…or Give Me Death” e a arrasa-quarteirão “Time Is Up”. Em um momento de descontração, na última música, o vocalista David Sanchez pediu para todos gritarem ao estilo Arnold Schwarzenegger; todos riram e atenderam ao pedido, um belo jeito de finalizar um show. Não via um show de thrash metal tão divertido quanto o que o Havok proporcionou nessa noite de sexta-feira há anos. Espero que voltem para um show com mais tempo de duração. Foi uma hora de avalanche sonora, na minha opinião o melhor show da noite.
MIDNIGHT – OS SUGADORES DE ALMAS
Cerca de 10 minutos antes do horário agendado, o trio maldito do Midnight voltou ao Brasil após 5 anos, em sua 3ª passagem. Formado em Cleveland, Ohio (EUA), em 2003, o Midnight é a banda do incansável guerreiro do underground americano, Jamie Walters, que já integrou diversas bandas e aqui assume como Athenar, responsável pelo vocal, guitarra e baixo do Midnight, junto de Ryan Steigerwald (bateria). Ao vivo, a banda se apresenta como um trio, com Matt Sorg (guitarra).
Com uma presença de palco ímpar, o trio liderado por Athenar fez um show empolgante, unindo o melhor do black/speed metal, que eles costumam chamar de ‘Black Rock ‘n’ Roll’, com o thrash metal. Independente da vertente, agradaram em cheio os presentes. ‘Endless Slut’, ‘Expect Total Hell’ e ‘Fucking Speed and Darkness’ foram cantadas a plenos pulmões pelo público.
Com um estilo bem anos 80, com capuz, cinto de bala, roupa de couro, algemas, em uma época onde o heavy metal metia medo nos corações dos pais conservadores, a banda trouxe o lado mal do metal que tanto sinto falta. Os encapuzados diabólicos são bem cultuados pelos headbangers. O trabalho mais recente é “Hellish Expectations”, lançado em março deste ano. O primeiro full length, “Satanic Royalty” (2011), é bastante cultuado no universo underground. O som do Midnight é um excelente mix de Motörhead, Venom e outros clássicos dos anos 80, com temas satânicos, criando uma atmosfera genuinamente old school.
Em uma breve pausa, o líder Athenar disse que o show em São Paulo foi o melhor da tour até o momento. No encerramento do show, a corda do baixo dele quebrou e ele simulou um enforcamento, soltando vários ‘obrigados’ em português. A essência do bom rock ‘n’ roll está no Midnight, uma performance única, em um show onde mais pareciam entidades servindo ao deus metal. Showzaço!
DISCHARGE – 45 ANOS DE HARDCORE/PUNK
Às 23:30 em ponto, as lendas do hardcore punk inglês iniciaram o show com “The Blood Runs Red”, fazendo o Carioca Club ficar ainda mais cheio e quente.
“Fight Back” veio logo em seguida, sem pausa para respirar. Caprichando no setlist, a banda apresentou, na sequência, “Hear Nothing See Nothing Say Nothing” e “The Nightmare Continues”, faixas dos álbuns mais emblemáticos dos ingleses.
Quatro décadas de banda não são para qualquer um. Tocar com a energia do Discharge, menos ainda. Era uma festa de clássicos, com “A Look At Tomorrow” sendo executada logo depois, para delírio da multidão, que já não se importava com o calor que fazia dentro da casa. O som no Carioca Club era ensurdecedor, e o moshpit se estendia até o fundo da pista. Sem muitas pausas, o Discharge emendava uma música na outra, incluindo “Hell on Earth”, “Ain’t No Feeble Bastard” e “Hype Overload”.
Um dos momentos mais marcantes do show foi, sem dúvida, quando a banda tocou o clássico “Protest and Survive”, nesta, como em outras, Jeff chamou o público para cantar em coro, amado por várias gerações de fãs e reforçando o tom político das letras.
O repertório foi bem dividido, incluindo músicas de todos os trabalhos da banda, na ativa desde 77, mas sem dúvida incluiu também músicas como “Corpse of Decadence”, “State Violence/State Control” e “War Is Hell”. Para o encerramento, tivemos as pedradas “You Deserve Me”, “The Possibility of Life’s Destruction” e “Decontrol”.
Discharge moldou a música pesada há 45 anos e isso não é para qualquer um. Sua influência é inegável. Com 45 anos de história, a banda britânica moldou o futuro da música pesada desde o início dos anos 80, inspirando nomes como Death Angel, Anthrax, Sepultura e Ratos de Porão. A banda mostrou que está mais viva do que nunca.
Chegamos ao fim de mais um capítulo de uma história que ficará marcada na memória tanto dos jovens quanto dos mais experientes. Independentemente da idade ou da geração, todos voltaram para casa mais leves, com a certeza de que são esses eventos que nos trazem a felicidade verdadeira!
Setlist Manger Cadrave?
- Em memória
- Imperialismo
- Iconoclastas
- Miseráveis
- Enfermos
- Tragédias previstas
- Peregrinos
- Retórica do Silêncio
- A raiva muda o mundo
- Epílogo
- Caminhos de Ferro
- Homem de bem
- Encarceramento e Morte
Setli Havok:
1. Point of No Return
2. Fear Campaign
3. Hang ‘Em High
4. Prepare for Attack
5. D.I.A.I.
6. D.O.A.
7. Intention to Deceive
8. Phantom Force
9. From the Cradle to the Grave
10. Covering Fire
11. Give Me Liberty…or Give Me Death
12. Time Is Up
Setlist Midnight:
1. Black Rock’n’Roll
2. Lust Filth and Sleaze
3. Endless Slut
4. Expect Total Hell
5. Mercyless Slaughtor
6. Fucking Speed and Darkness
7. Szex Witchery
8. Evil Like a Knife
9. Satanic Royalty
10. Violence on Violence
11. All Hail Hell
12. You Can’t Stop Steel
13. Who Gives a Fuck?
14. Unholy and Rotten
Setlist Discharge:
1. The Blood Runs Red
2. Fight Back
3. Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing
4. The Nightmare Continues
5. A Look at Tomorrow
6. Drunk With Power
7. A Hell on Earth
8. Cries of Pain
9. Ain’t No Feeble Bastard
10. Protest and Survive
11. Hype Overload
12. New World Order
13. Corpse of Decadence
14. Hatebomb
15. Never Again
16. State Violence/State Control
17. Realities of War
18. Accessories by Molotov
19. War Is Hell
20. You Deserve Me
21. The Possibility of Life’s Destruction
22. Decontrol
Agradecimento especial a GIG Music e Tedesco Mídia pela atenção e credenciamento.