Foto: Divulgação/Marcio James/Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Montagem realizada no Teatro Amazonas em 2023
Importante obra nacionalista é repatriada em seu idioma e destaca entre seus momentos mais celebrados a Congada, marco para a presença negra no palco do Municipal de São Paulo no século XX.
Com quatro récitas, nos dias 28, 29, 30 de junho e 2 de julho, o espetáculo que foi montado no ano passado no Teatro Amazonas terá direção cênica de William Pereira e direção musical de Alessandro Sangiorgi.
Um século após sua estreia no palco do Theatro Municipal de São Paulo, a ópera brasileira O Contractador de Diamantes retorna à casa. Terceira obra da temporada lírica e primeira de autoria nacional, nos dias 28, 29, 30 de junho e 2 de julho, a criação do paulistano Francisco Mignone será apresentada com direção cênica de William Pereira, direção musical de Alessandro Sangiorgi, que fará a regência da Orquestra Sinfônica Municipal, e participação do Coro Lírico Municipal, sob a regência de Érica Hindrikson. Em uma coprodução do Festival Amazonas de Ópera (FAO), essa montagem de O Contractador de Diamantes será cantada em português pela primeira vez na história.
O elenco de solistas contará com Lício Bruno, Felisberto Caldeira; Lidia Schaffer, Dona Branca Caldeira; Rosana Lamosa, Cotinha Caldeira; Giovanni Tristacci, Camacho; Douglas Hahn, Magistrado; e Mar Oliveira, Maestro Vicente. Os ingressos variam de R$12 a R$165 (inteira), com classificação indicativa não recomendada para menores de 10 anos e duração total de aproximadamente 180 minutos, com intervalo.
A ópera O Contratador de Diamantes, de Francisco Mignone, voltou a ser apresentada no 25º Festival Amazonas de Ópera, realizado no Teatro Amazonas, após anos perdida e fora dos repertórios. A obra, composta por três atos e originalmente com libreto em italiano de Gerolamo Bottoni, se baseia no drama homônimo escrito por Affonso Arinos.
“O resgate de O Contratador de Diamantes foi por iniciativa do maestro Luiz Fernando Malheiro, diretor do Festival Amazonas de Ópera, que coproduziu essa montagem. Sabia-se que o primeiro e segundo atos estavam intactos, mas o terceiro havia se perdido, restando apenas uma redução para piano. A Academia Brasileira de Música incumbiu o maestro Roberto Duarte de resgatar o terceiro ato, dado seu conhecimento em música brasileira”, explica William Pereira, diretor da ópera.
Ambientada no século XVIII, em Minas Gerais, mais especificamente na atual cidade de Diamantina, a história narra a vida de Felisberto Caldeira, o terceiro contratador de diamantes do Brasil. Caldeira é um aristocrata que possuía um contrato para a exploração de ouro e diamantes, vislumbrando a emancipação da colônia. A ópera também trabalha a relação entre sua filha e Camacho. O cenário é inspirado na plateia da Casa da Ópera de Ouro Preto, espaço que também é um marco para a música no Brasil, construído de 1746 a 1770, sendo o mais antigo teatro do continente.
Dessa maneira, O Contractador de Diamantes trata de temas caros aos mitos nacionais e como uma forma de reapresentá-la ao público brasileiro, para a nova montagem foi tomada a decisão de seu texto ser em português, algo que é inédito. “Existem questões históricas, pois Mignone era um jovem estudante na Itália e O Contractador de Diamantes fazia parte de seu processo de aprendizado durante sua temporada de estudos. A ideia é criar a obra e resgatar a peça, acreditando que uma ópera com discurso nacionalista brasileiro não faria sentido em italiano. Por isso, decidiu-se repatriar essa ópera”, pontua o diretor.
A peça original, de Arinos, foi encenada no Theatro Municipal em 1919 e causou grande impacto devido ao seu conteúdo nacionalista e pela inédita presença de artistas negros no palco do teatro. Este evento foi tão significativo que a cena da congada se destacou e se tornou um marco para a música brasileira e, é claro, na nova montagem, ela será reapresentada ao público por artistas de dança negros e negras.
“A congada acabou se tornando o momento mais famoso da ópera, tendo sido tocada até pela Filarmônica de Viena, regida por ninguém menos que Richard Strauss. Acredito que seja o elo mais importante para que, musicalmente falando, o nacionalismo brasileiro se faça presente nesta ópera, que musicalmente é mais ligada ao fim do século XVIII e início do XIX: as assonâncias com Puccini e Mascagni são evidentes. Evidentemente a congada traz um olhar musical para a cultura popular brasileira”, explica o maestro regente do espetáculo, Alessandro Sangiorgi.
Nesse sentido, Mignone é um importante representante do movimento conhecido como nacionalismo musical. Essa será uma oportunidade única para o público brasileiro ser reintroduzido a sua obra, a partir de novos paradigmas. O compositor buscava, por meio da música clássica, revelar a riqueza do folclore brasileiro, ao mesmo tempo em que incorporava influências de outras tradições musicais como a italiana, por exemplo, trazendo um olhar modernista e antropofágico que é tão vocacional do Theatro Municipal de São Paulo.
SERVIÇO
O Contractador de Diamantes
Ópera em três atos de Francisco Mignone com libreto em italiano de Gerolamo Bottoni.
28/06/2024, 20h
29/06/2024, 17h
30/06/2024, 17h
02/07/2024, 20h
Duração aproximada: 180 minutos (com intervalo)
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 10 anos – Pode conter histórias com conteúdo violento e linguagem imprópria de nível leve.
Ingresso de R$12,00 a R$165,00 (inteira)