A máquina está mais viva do que nunca!

Fotos: Gustavo Palma

Após 7 anos, a banda retorna ao Brasil com nova formação e faz apresentação única e memorável

Dando continuidade a série de shows da turnê “The Machine Will Rise Tour 2023”, o Fear Factory desembarcou no país na última terça-feira (6), ao lado do Korzus e Skin Culture. Escolhida para sediar a noite, a Fabrique Club está localizada na Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Apesar de ser início de semana, em horário de pico e clima frio, os gigantes do metal industrial atraíram um grande público, que aos poucos encheram a casa para prestigiar a noite.

Promovendo sua nova formação, que conta com os novatos Milo Silvestro nos vocais e Pete Webber na bateria, além dos veteranos Dino Cazares e Tony Campos, nas sete e cinco cordas, respectivamente, o grupo promete uma experiência inovadora, onde a execução dos vocais é refinada e a energia do conjunto é renovada.

Skin Culture encara público tímido, mas aquece com peso e técnica

Pontualmente às 19:30, trinta minutos após a abertura das portas, os paulistas sobem ao palco para dar início às atividades da noite. A formação atual conta com Shucky Miranda (vocal), Fred Barros (guitarra/backing vocals), Diego Santiago (baixo) e Rafael Ferreira (bateria). Chris Oliveira (Sinaro) foi o responsável pelas baquetas nesse show, substituindo Rafael, que está fora do país.

“Fall on Knees” e “Supernatural Catastrophic” abrem o show mostrando a versatilidade do grupo, com variações vocais, palhetadas rápidas e precisas e linhas de bateria matadoras, com uso de contratempos e blast beats. “Breathing Sulfur” traz influências de Djent em suas bases de guitarra e une guturais graves e rasgados a vocais melódicos em seu refrão. Os dedilhados do baixo se destacam em junção aos breakdows densos da bateria, que antecedem o encerramento da música. Chris Oliveira é tão talentoso quanto seu pai, Rodrigo, que subiria ao palco mais tarde, com sua banda.

A banda trouxe Sérgio Ogres (Punição) como convidado especial para a execução da matadora “Set Me Free” , se unindo a Shucky nos guturais. A dupla divide os vocais nos momentos finais da música, com a plateia que, nessa altura, está mais animada e agitando junto com os músicos.

Bring Me Back to Life é dedicada em homenagem ao ex-baixista Gabriel Morata e ao ex-empresário Silvio Palmeira, ambos vítimas de Covid-19. Em discurso, o frontman discorre sobre a relação de amizade e companheirismo que eles tiveram durante a trajetória da banda. O single “Devil 19” (2019) é apresentado, aguçando a curiosidade em relação aos futuros trabalhos que poderão ser lançados.

Comemorando 19 anos de carreira, com uma trajetória de muitas lutas e conquistas, o Skin Culture encerra sua apresentação com “Suicide Love”, mais uma faixa destruidora, que crava ótimas impressões sobre sua identidade de peso. Mesmo com um setlist curto, a banda surpreendeu com muita técnica e versatilidade.

Skin Culture – 06/06/2023 – Fabrique Club

Fall on Knees
Supernatural Catastrophic
Breathing Sulfur
Set Me Free
Bring Me Back to Life
An Ocean of Lamentations
Devil 19
Suicide Love

Korzus dá aula de Thrash Metal e levanta os ânimos da casa

Dando continuidade às atividades, os guerreiros do metal sobem ao palco às 20:30, tendo uma ótima recepção da plateia. A formação atual do Korzus conta com Marcello Pompeu (vocal), Antônio Araújo (guitarra/backing vocals), Heros Trench (guitarra/backing vocals), Dick Siebert (baixo) e Rodrigo Oliveira (bateria).

Assim como no álbum “Ties of Blood”, de 2011, a destruidora “Guilty Silence ” inicia a performance dos veteranos, com sua logo flamejante no telão e uma roda se abrindo na pista. O clima é caloroso, muitos pulam e cantam em sincronia com a música. “Raise Your Soul” segue eletrizando o público, que canta seu refrão em alto e bom som. “You Can’t stop Me”, single lançado em 2021 é executada, soando com ares modernos, mas não deixando a agressividade do grupo de lado.

“Never Die” é executada após um breve e inspirador discurso de Pompeu, onde diz que o metal nunca morrerá enquanto ao menos um headbanger estiver de pé em seus shows, com felicidade em seu olhar. “Beware”traz densidade, com os vocais sobressaindo com sua imponência, acompanhando as bases de guitarra com notas graves e abafadas, seguidas de pedais duplos com variações. A participação do público é solicitada nos refrões de “What Are You Looking For” e é atendida, aos gritos de “I see your death”, em perfeita harmonia com a banda. Pompeu faz outro pedido, dessa vez com certa crítica, dizendo que gritar apenas o nome da banda é manjado demais e, ao invés disso, pede para que todos cantem o tradicional coro de “olê, olê, olê, olê seguido por Korzus! Korzus! Pedido atendido, sem mais, “Discipline of Hate”, faixa título do álbum lançado em 2010 agita mais uma roda. Seguida de “Truth” e do hino de “Correria”, a banda se despede dos motherfuckers de São Paulo, mostrando que mesmo após 40 anos de carreira, ainda tem muito gás e lenha para queimar nos palcos.

Korzus – 06/06/2023 – Fabrique Club

Guilty Silence
Raise Your Soul
You Can’t Stop Me
Never Die
Beware
NameSake
What Are You Looking For
Discipline of Hate
Truth
Correria

Fear Factory presenteia fãs com setlist impecável e momentos emocionantes

Com um atraso de vinte e cinco minutos, as luzes se apagam às 21:55, anunciando o início da tão aguardada apresentação. Com a soundtrack do filme O Exterminador do Futuro 2 ecoando nos falantes da Fabrique e com ar de muito suspense, os músicos sobem ao palco, sendo ovacionados. Milo Silvestro agrada com um boa noite, São Paulo! e anuncia “Shock”, faixa do clássico Obsolete, álbum de 98. A música é enérgica e contagia todos, que pulam e cantam tão alto, que mal se pode ouvir a voz do vocalista, mostrando como os fãs da América do Sul são calorosos. “Edgecrusher” vem na sequência e assim como a antecessora, mantém o clima elevado de energia. Dino está muito animado com a recepção e canta junto com os mais próximos do palco, nas pausas que faz durante a música, enquanto o baixo de Tony Campos está no comando.

“The Machine is fucking back!”, frase proferida por Milo, dá início a sequência de músicas de eras mais modernas da máquina. “Recharger”, faixa presente em “The Industrialist” de 2012, mostra como o vocalista é talentoso e domina muito bem os cleans presentes no refrão. Cazares executa harmônicos agudos que sobressaem dos demais instrumentos, marca registrada em muitos de seus trabalhos dentro e fora do Fear Factory. “Dielectric” e “Soul Hacker”, ambas lançadas em “Genexus”, de 2015 dão continuidade ao show. Dino surpreende com sua guitarra de oito cordas, com que executa bases e riffs densos mas que ao mesmo tempo, se unem ao instrumental contagiante de ambas as músicas.

“Powershifter”, do grandioso “Mechanize” (2010) muda os ares festivos, com o frontman ordenando que abram uma roda na pista. Os fãs atendem e a destruição é iniciada, com muitos dentro do mosh. Em alguns trechos, Milo se aproxima dos fãs, para que cantem juntos, apontando o microfone para os mais próximos do palco. Seguindo com o peso, “Disruptor”, do aclamado “Aggression Continuum” (2021) mostra um lado brutal do italiano, com guturais graves e densos. Fechando essa sequência de sons mais modernos, aqui pudemos ver como a sonoridade da banda se mantém em evolução.

Retomando os clássicos, banda acerta em cheio no fator nostalgia e proporciona momentos inesquecíveis

Caindo como uma luva, “Linchpin”, do underrated “Digimortal” (2001), coloca muitos para pular e cantar, com Milo interagindo, deixando-os cantar no microfone e tocando em suas mãos. O vocalista se mostrou muito animado com a recepção e carinho dos que estavam próximos do palco. A balada “Descent” vem para baixar a euforia e preparar o público para o que está por vir. Apesar de não ser uma música agitada, tem seus momentos de destaque onde muitos cantaram em alto e bom som.

Recuperando o fôlego (ou não), “What Will Become?”, retoma o clima de festa com seu ritmo que tem fortes elementos do New Metal, com uma pegada animal quando pedais duplos complexos se unem a bases de guitarra que seguem seu ritmo com precisão. Dino anuncia que a próxima se trata de uma música que o mesmo pensou que nunca fosse tocar ao vivo, se referindo às composições de sua época fora da banda. “Archetype”, do homônimo álbum lançado em 2004 emociona os fãs, que a pedido do guitarrista, cantam seu refrão em perfeita sincronia com o grupo. Esse foi um dos pontos altos e mais aguardados por muitos, visto que a música vem sendo requisitada nos últimos anos.

Após uma pergunta retórica, Cazares anuncia a faixa título do famigerado “Demanufacture”, lançado em 95 e considerado por muitos, o melhor álbum de estúdio da banda. Pete Webber mostra como está afiado, executando a clássica introdução de pedais duplos. Uma grande roda se abre no meio da pista e após Milo fazer a contagem regressiva, se fecha dando início a destruição. Em breve discurso, Dino apresenta a banda, demonstrando companheirismo ao se referir a Tony Campos como seu “irmão mexicano” e carinho pelos novos integrantes, se referindo a Milo como o “the new kid” do grupo. Bastou citar a trilha sonora de “Mortal Kombat”(1995) para que todos captassem a referência. “Zero Signal” é executada com maestria, mostrando toda a técnica que os músicos possuem, nessa música que exige controle e resistência em maioria de suas passagens. “Replica”, um dos maiores sucessos da banda, precede uma brincadeira que o riffbeast faz, quando pede que todos repitam a frase do refrão: Eu estou vendo um cara com uma grande barba, ali no fundo, que está calado. Só tocaremos após ele cantar também!”

Dando início ao encore, de volta ao ano de 1992, duas músicas do primeiro álbum de estúdio, intitulado “Soul of a New Machine” trouxeram de volta a brutalidade e influências do Death Metal para o palco. Nos surpreendendo mais uma vez, Milo mostra como tem domínio em alternar entre as técnicas de guturais graves e vocais limpos que atingem notas altas. “Martyr”, dedicada aos irmãos Cavalera e “Scapegoat”” presenteiam os fãs de longa data, com muito peso, grooves e melodia. Para fechar a noite, “Resurrection” vem para emocionar a todos. Muitos cantam cada frase com o que ainda resta de energia e fôlego em seus pulmões, enquanto outros apreciam a execução como se estivessem diante de uma obra de arte.

O Fear Factory proporcionou uma noite memorável para os fãs, trazendo um setlist impecável, com músicas dos principais álbuns de sua carreira. Milo Silvestro é um frontman ímpar, muito carismático e simpático, tem uma energia matadora e contagiante, além do mais importante, que é seu talento vocal, suprindo e superando o que a banda vinha apresentando em seus shows com seu antigo vocalista. Apesar de Burton C. Bell ter sido um membro fundamental durante mais de duas décadas, devemos admitir que Milo entrega a experiência mais próxima (e adequada) do que foi gravado em estúdio, além de renovar a energia da banda. Depois de um show como este, fica o anseio por novos lançamentos e um futuro retorno ao nosso país.

Fear Factory – 06/06/2023 – Fabrique Club

Shock
Edgecrusher
Recharger
Dielectric
Soul Hacker
Powershifter
Disruptor
Linchpin
Descent
What Will Become?
Archetype
Demanufacture
Zero Signal
Replica
Martyr
Scapegoat
Resurrection

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About Bruno Santos

O amor pela música nasceu na minha infância e ir em shows é uma de minhas maiores paixões. Também sou um grande fã de games e da cultura geek.

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