DESPEDIDA CATÁRTICA DE ROGER WATERS EMOCIONA PÚBLICO PAULISTA

De casa cheia Allianz recebe Roger Waters em apresentação de 2h30, com músicas do Pink Floyd e algumas de sua carreira solo.

Texto: Peu Bertasso / Fotos: Marcos Hermes

Várias gerações se reuniram no último sábado (11) para prestigiar a derradeira vinda de Roger Waters ao Brasil. Em sua sexta passagem pelo país, o eterno baixista do Pink Floyd celebra a sua história com a banda junto com clássicos de sua carreira solo na turnê que vem sendo anunciada como sua última. Aos oitenta anos, o artista trouxe toda a provocação política, produção de alto nível e um setlist recheado de clássicos para uma turnê que passou em seis capitais do país, incluindo dois shows em São Paulo. O Allianz Parque, na primeira noite, estava completamente cheio, repleto de uma multidão de pessoas esperando pelo músico. Em 2018, sua última passagem no país até então, a vinda de Roger Waters trouxe uma grande polêmica envolvendo críticas ao então candidato à presidência Jair Bolsonaro. Dessa vez, as críticas e falas sobre política foram direcionadas a grandes líderes e conflitos atuais, mostrando todo o engajamento político que o músico possui. Sempre trazendo um espetáculo de encher os olhos, Waters mistura suas críticas políticas às músicas (solo e de sua antiga banda) e à uma grande produção.

Pontualmente às 20h, os trovões da “Roger’s Version” de “Comfortably Numb” ecoaram no som ambiente do estádio. Porém, apenas os trovões. Às 20:05, um anuncio surgiu nos telões que fez o Allianz inteiro animar. Porém, era para avisar que o show começaria apenas em 15 minutos, para a decepção de todos. Às 20:20, a famosa mensagem que vem acompanhando a turnê pelo mundo todo apareceu nos telões e foi aplaudida:

“Se você é um daqueles que diz ‘Eu amo o Pink Floyd, mas não suporto a política do Roger’, vaza pro bar!”

E, assim, o show se iniciava com a sua versão de “Comfortably Numb”, lançada no ano passado. Criticada por ser uma versão da música sem apresentar solos de guitarra, a forma intimista como a música foi trabalhada funcionou bem ao vivo, ainda mais com Roger vestido de médico, atuando sobre a história que a letra contava enquanto a música acontecia. Em seguida, a poderosa “ The Happiest Days of Our Lives” serviu de introdução para “Another Brick in the Wall, Part 2”, um dos maiores clássicos da história da música, encerrando a sequência com “Another Brick in the Wall, Part 3”. O público no Allianz era ensurdecedor, cantando em alto e bom tom junto com o músico inglês. Porém, a cantoria do estádio diminuiu consideravelmente quando Roger iniciou “The Powers That Be”, faixa de seu disco solo “Radio K.A.O.S.”. Apesar de não acompanharem como antes durante os versos da música, muitos aplausos ocorreram aos homenageados que passavam no telão, mortos por questões políticas e agressões policiais. Entre os nomes, George Floyd e Marielle Santos estavam presentes, sendo a brasileira extremamente aplaudida ao ter seu nome projetado nos telões. Em “The Bravery of Being Out of Range”, Waters criticava presidentes americanos e seus crimes de guerra (nunca culpabilizados ou punidos), incluindo Bush, Obama e Trump. Quando apareceu o rosto do atual presidente estadunidense Joe Biden, a legenda dizia “Apenas começando…”. 

Continuando, Waters convidou todos ao seu “bar”. A música “The Bar”, canção composta na época da pandemia, reflete sobre a história de uma mulher negra e pobre passando mal e sendo socorrida, em um bar, por uma mulher nativo-americana. Waters disse que o bar começava em seu piano, mas que se estendia para o estádio todo e ali seria um lugar seguro para que todos pudessem debater suas ideias de forma segura. Em “Have a Cigar”, voltando no tempo, cenas da carreira do Pink Floyd foram apresentadas. Na sequência, Roger fez praticamente o estádio todo se emocionar com “Wish You Were Here”. Durante as partes instrumentais dessa música, o telão apresentava um texto contando a história da formação do Pink Floyd entre Waters e Syd Barrett, membro original do grupo. Em um tom extremamente emocionante, sua banda ligou um clássico ao outro, emendando da sexta parte à nona parte do clássico absoluto “Shine on You Crazy Diamond”, trilha feita em homenagem a Syd. Nas duas músicas, cenas da história do Pink Floyd passavam no telão e, em nenhuma delas, apareceu David Gilmour. Recentemente, os dois tiveram alguns problemas, incluindo até suas esposas. “Sheep” foi a responsável por encerrar o primeiro ato do show, contando com uma grande ovelha inflável passeando sobre o público. 

Marcos Hermes/30ebr
Marcos Hermes/30ebr

Depois de mais ou menos 20 minutos de intervalo, o famoso porco inflável sobrevoava a pista do estádio com seus olhos vermelhos enquanto “In the Flesh” era executada pela banda, com o músico britânico preso a uma cadeira de rodas, tendo “Run like Hell” logo na sequência. Diferente das outras de sua carreira solo, a belíssima “Déjavù” e sua parte reprise logo na sequência foram bem aceitas pelo público. Nesta, Roger pediu pelo fim do genôcidio (fazendo referência ao conflito acontecendo na faixa de Gaza), assim como se posicionou sobre os direitos humanos, citando palestinos, trans, direitos de reprodução, entre outros. Em “Is This the Life We Really Want?”, Roger executou um profundo discurso, no meio da música, sobre as pessoas serem como formigas, algo extremamente profundo e reflexivo, onde dizia que formigas não tem inteligência para compreender dor e nem a dor do outro, então dessa forma, seríamos formigas por termos dificuldade de entender a dor do outro. “Money” veio em seguida, com uma excelente performance de Jonathan Wilson, guitarrista que assume as partes vocais que são, originalmente, de Gilmour. Esta iniciou uma epifania musical com uma sequência impressionante de “Us and Them”, “Any Colour You Like”, “Brain Damage” e “Eclipse”, produzindo uma catarse de emoções, principalmente aos mais apaixonados pelo icônico “The Dark Side of The Moon”, álbum que completou cinquenta anos neste 2023. O final épico de “Eclipse” foi ainda mais emocionante com a projeção das cores do arco-íris sobre o público (assim como em 2018), levando o público ao delírio.

Para finalizar o show, Roger Waters executou “Two Suns in the Sunset”, com direito a uma animação nos telões que representava a história da letra da música, contando a trajetória de um pai que volta do trabalho mas é impedido de chegar em casa porque o planeta colapsa dado ao início da terceira guerra mundial. Após isso, Waters apresentou os músicos de sua banda e os convidou a frente do palco para um reprise de “The Bar”, dedicado a sua esposa e seu irmão, assim como “Outside the Wall”. Os músicos deixaram o palco enquanto ainda tocavam (a la Hermeto Paschoal) enquanto os telões os mostravam ainda tocando no backstage, até se encerrar o show. Alguns comentários diziam que o final épico de “Eclipse” roubou a cena, deixando o encerramento do show menos emocionante, e compartilho da mesma opinião. 

Roger Waters sempre mostra em suas apresentações as causas por qual luta e dessa vez não foi diferente. Ao contrário de 2018, não houve vaias (ainda mais com o aviso prévio do músico projetado no começo), apenas apoio por parte do público ao que ele vem defendendo. Seus shows sempre marcam o público de maneiras diferentes, sendo possível ver pessoas caindo em lágrimas em variados momentos do concerto. Famílias reunidas, gerações diferentes, pessoas de todas as idades encheram um estádio inteiro para estar presente, cheios de alegria e emoção, na despedida de um dos músicos mais importantes da história. Só nos resta agradecer a Waters e ao Pink Floyd por tudo o que fizeram. Roger Waters fez um show necessário, com discursos necessários. Por isso, ele é necessário para, além da arte, a história da humanidade. 

Roger Waters – 11/11/2023 – Allianz Parque

Ato 1:
Comfortably Numb (2022 version)
The Happiest Days of Our Lives
Another Brick in the Wall, Part 2
Another Brick in the Wall, Part 3
The Powers that Be
The Bravery of Being out of Range
The Bar
Have a Cigar
Wish You Were Here
Shiny on You Crazy Diamond (Parts VI – IX)
Sheep

Ato 2:
In the Flesh
Run Like Hell
Déjà Vu
Déjà Vu (Reprise)
Is This the Life We Really Want?
Money
Us and Them
Any Color You Like
Brain Damage
Eclipse
Two Suns in the Sunset
The Bar (Reprise)
Outside the Wall

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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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