Em noite de Sold-out, Espaço Unimed recebe pelo segundo ano consecutivo os Italianos do Maneskin
Texto: Fernando Quiroz
Há alguns anos ouvimos que o Rock morreu, ou que está morrendo. Na verdade, ouvimos isso desde que o rock existe. Chega a ser tão clichê falar isso, dificilmente impressiona quando uma banda nova aparece mostrando que isso não existe, e é lançado no mercado bandas apelativas ao “público jovem”. Exatamente o caso do Maneskin, como se pôde ver claramente no show no começo de novembro em São Paulo. Sons palatáveis, músicas que se tornaram populares em redes sociais, roupas coloridas e discursos de paz e de amor aos “fãs brasileiros” do vocalista Damiano David e o carisma sensual da baixista Victoria De Angelis – já um ícone do Instagram – rechearam um show voltado para adolescentes e jovens adultos.
Dia caótico em São Paulo não reduziu o público composto por jovens, adolescentes e até crianças
Ingressos esgotados meses antes garantiriam, em ocasiões normais, casa lotada, mas não era o caso naquela sexta feira. Com a passagem de um ciclone pela cidade de São Paulo, muitos pontos da cidade ficaram às escuras pela falta de energia, e com vias bloqueadas pelos danos causados por árvores e muros caídos. Aparentemente, isso não passou nem perto de intimidar os fãs da banda, que próximo das 18h30 já se encontravam no Espaço Unimed na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo – boa parte do público adulto, vale dizer, era de pais e mães de fãs menores de idade que não permitem, provavelmente, os filhos de frequentar shows sozinhos. De qualquer forma, já próximo do horário marcado para o show, a casa estava completamente abarrotada de pessoas, incluindo celebridades em espaços reservados para esses “ilustres”, com confortáveis cadeiras em visões privilegiadas do palco. Vale a menção que uma das pessoas famosas na plateia era ninguém menos que a atriz Megan Fox e seu marido, o ex-Rapper que se tornou Rockeiro Machine Gun Kelly, que faria um show no dia seguinte em São Paulo também.
Alguns nostálgicos marcavam presença
Em meio à maioria de adolescentes, algumas pessoas na casa dos quarenta anos de idade, ou mais, estavam presentes. Minutos antes de entrar, me deparei, enquanto tomava um refrigerante na rua, com um casal mais velho que conversava com o vendedor. O trabalhador os perguntou se o show era de “rock n roll”, e o jovem senhor o respondeu que era um “rock novo, que representava as antigas, só com baixo, bateria, guitarra e voz”. Uma afirmação meio certa, já que de fato a banda consiste nisso mesmo.
Um público próprio e diferenciado do estereótipo do gênero
Não importava para onde você olhasse, o padrão de fãs era peculiar. Pouco se via, entre a maioria mais jovem do público, o que se entende por ‘rockeiro’. Garotas em visual fashion, rapazes em roupas casuais de dia a dia, poucos com os cabelos longos que um dia marcaram o estereótipo do fã de rock. Esse padrão de fãs parece ser a identidade mesmo do público do Maneskin. É realmente impressionante ver como Rock ainda pode acabar atingindo um público moderno desse tipo.
Show (quase) no horário, e apresentação com produção de ponta cheia de elementos para agradar jovens em seu primeiro ou um dos primeiros shows da vida
Se nos shows de bandas alemãs temos quase sempre uma pontualidade impecável, no caso da banda italiana tivemos cerca de cinco a dez minutos de atraso para começar a apresentação que estava marcada para as 22h. Minutos que, de fato, não comprometem em nada, perfeitamente aceitáveis! O que impressionava, logo ao começo da apresentação, eram os telões. Tons monocromáticos misturados com a iluminação – talvez até um pouco exageradamente – piscante dava uma sensação de ‘câmera lenta’. Uma proposta muito interessante, mas que possivelmente incomodou quem estava mais ao fundo e precisava do uso desses para ver melhor a imagem dos integrantes no palco, já que a pista reta da casa pode prejudicar a vista de quem fica mais atrás e não é privilegiado de altura. A edição de imagem, impecável! Visualmente, a banda se apresentava com roupas mais largas, mais coloridas, com um toque de delicadeza. O ponto a ser destacado é a escolha de músicas já marcadas no set list, focado em sucessos e hits. Se a banda já abre o show com uma música cantada em coro pelo público, mostra que não havia lugar para ‘arriscar’. O menor uso de músicas em italiano, como do disco Ill bello de la vitta mostra claramente a abordagem segura que a banda tem em relação ao que apresenta aos fãs internacionais – o uso seguro de músicas em inglês na maioria é de fato mais acessível a todas as nacionalidades, para o bem ou para o mal, vai de cada um decidir. Honey (are you comming?), Coraline, Gossip (uma música de grande destaque por ter a presença, em estúdio, do reconhecido guitarrista Tom Morello) e Beggin foram destaques de interação com o público – mesmo que de forma um pouco previsível.
Repetições de eventos de outros shows: interessante, emocionante, mas para curto prazo
A estrutura já pronta para eventos mais próximos ao público mostrava que era algo visto em outros shows prévios da banda. Após a primeira metade do show, um pequeno set list acústico de duas músicas, notório na carreira da banda, levou o vocalista Damiano e o guitarrista Thomas Raggi ao meio do público para tocar baladas, com o público levantando as lanternas dos telefones e balançando os braços. Nesse momento foram tocadas Vent’anni, canção própria para o momento de calmaria de casais. Em seguida, seria uma surpresa a execução da música Exagerado, do brasileiro Cazuza, também executada no Rio de Janeiro. A intenção foi realmente ótima, e a execução idem, embora desse a aparência que não era uma parcela tão grande do público que realmente conhecia o trabalho de Cazuza. Esse formato, aliás, está sempre presente nos shows da turnê atual. Em cada país, há alguma música, às vezes duas, de algum artista querido local.
Valeu pelo carinho ao público de todos os possíveis locais que passam, e pela escolha de um artista tão querido pelos brasileiros, neste caso em específico.
Volta ao palco principal e mais músicas elétricas
Um solo de bateria e baixo da dupla Victoria De Angelis e Ethan Torchio seguiu o set acústico para dar tempo de Damiano e Thomas voltarem ao palco principal. Quando finalizado, a alegria do público foi clara, com berros histéricos ao som de I Wanna Be Your Slave, um dos grandes sucessos da banda – se não o maior sucesso. Finalmente, uma boa parcela de músicas em italiano, idioma que nem sempre casa bem com o Rock, mas que têm seu mérito para uma banda de sucesso internacional. Mammamia, Lividi Sui Gomiti, In Nome Del Padre deram o toque nacional dos italianos em São Paulo. Kool Kids levou crianças e pré-adolescentes ao palco com a banda, no que parecia ser a última música. Embora, claro, sabemos que shows sem encore não são shows.
Um pequeno solo de guitarra de Thomas se seguiu após a saída do palco. Não um solo virtuoso, e talvez ali só para não ficar sem seu momento, como já teve de baixo e bateria. The Loneliest aparentemente ia fechar o show, já que todos os hits haviam sido tocados, mas a banda repetiu I Wanna Be Your Slave, em uma versão maior, com interação com público no meio. Naquele momento, sim, o show terminou, embora o coro dos fãs em uníssono – em sua maioria feminino – gritasse o nome da banda.
Maneskin – Espaço Unimed – 03/11/2023
Don’t Wanna Sleep
Gossip
Zitti e Buoni
Honey! (Are You Coming?)
Supermodel
Coraline
Beggin’ (cover do Four Seasons)
The Driver
Baby Said (trecho)
For Your Love
Gasoline
Vent’anni (acústico, Damiano e Thomas)
Exagerado (cover de Cazuza, Damiano e Thomas)
Solo de baixo e bateria + I Wanna Be You Slave
Mammamia
Lividi Sui Gomiti
In Nome Del Padre
Bla Bla Bla
Kool Kids
Bis:
Solo de guitarra + The Loneliest
I Wanna Be You Slave