Poucas palavras, muito metal e casa cheia: o Black Metal mostra a sua força na capital paulista.

Nem a chuva, futebol ou dia util da semana impediu o público de comparecer a Jai

Texto: Italo Silva

A noite chuvosa de quinta-feira e o segundo jogo da semifinal da Libertadores da América entre Palmeiras e Boca Jrs. não impediram com que os fãs de black metal enchessem a Jai Club, localizada na Vila Mariana, zona centro-sul da capital paulista, para acompanharem uma noite de poucas palavras e muito metal com as bandas Uada, Vazio, Evilcult e Funeral Putrid.

A casa abriu às 18h00 e, pontualmente, às 18h30, e a Funeral Putrid, banda de Osasco,  já estava  no palco para mostrar o seu death/black metal com algumas passagens de doom metal. A banda, que surgiu em 1994, é formada atualmente por Eduardo Gerunda (vocal), Cláudio Funerador (guitarra), Edvaldo Rodrigues (bateria) e Victor Magalhães (baixo). Mesmo com o público ainda em menor número, chegando aos poucos por conta do mau tempo e trânsito na hora do rush, a banda mostrou a que veio.

A banda começou com a música “The Shadow”, que tem uma pegada de black metal tradicional com passagens cadenciadas. Trabalho que ainda não consta nos registros da banda, que conta com duas demos: “Temple of Immortals” (1997) e “Sanctuary of Destruction” (2000), ambas lançadas em formato cassete – vale lembrar que a banda teve um hiato de 2008 até 2021, quando retomou as suas atividades.

O show continuou com as marcantes “Enigma of Beast” e “Near of Darkness”, que agradaram os fãs de longa data que estavam presentes e cantaram junto com o vocalista Eduardo Gerunda, que usava uma camiseta manga longa da banda de goiânia Luxúria de Lilith e coturnos com spikes até os joelhos, que remetem ao visual mais tradicional de bandas de black metal.

Para finalizar o show que teve duração de trinta minutos, a banda encerrou com a música “Lost in Darkness” que tem linhas de baixo e guitarra muito marcantes, com palhetadas mais cadenciadas e screams bem executados. Som que, embora não consta em gravações, agradou bastante o público, que já estava ansioso para o próximo show, que seria dos gaúchos do Evilcult.

Setlist – Funeral Putrid

  1. The Shadow
  2. Enigma of Beast
  3. Near of Darkness
  4. The Wind
  5. Eternal Battle
  6. Lost in Darkness

A produção da Xaninho e da Caveira Produções se mostrava impecável e pontual. Às 19h15 a Evilcult já estava no palco, preparando-se para iniciar o seu show. Esse power trio gaúcho formado por Lucas “From Hell” (vocal e guitarra), Renato Speedwölf (baixo) e Mateus “Blasphemer” Scussel (bateria) vem fazendo um black/speed metal de altíssima qualidade. Em seus trinta minutos de show, a banda mostrou o quão entrosada está para encarar uma turnê de 18 shows na Europa, em novembro, ao lado da banda paulista Gravedäncer (black/thrash metal), agenciados pela Speed Freak Agency. 

Em um show cheio de riffs rápidos, solos marcantes, escalas pentatônicas no baixo, bateria cravada e vocais que misturam agudos e guturais que nos levam de volta aos anos 80, a banda fez o público, que já tomava metade da casa, bater cabeça do início ao fim e berrar no final de cada música. Como é bom ver um power trio extremamente afiado e com uma proposta consistente como a Evilcult. Lembrando que a banda não tem uma rotina fácil, pois cada integrante mora em uma região diferente do país: Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Maranhão. 

O setlist contou com cinco músicas, sendo duas do debut “At the Darkest Night” (2020) e três do segundo álbum “The Devil is Always Looking For Souls” (2023).  Os destaques do show ficam para a música de abertura “Ancient Power”, que deixaria ícones do black/thrash como Jairo Guedz bastante orgulhoso, mostrando toda a energia da banda, “The Devil is Always Looking For Souls” e “The Witch”, que tem uma quebra de tempo e solo sensacionais. 

Setlist – Evilcult

  1. Ancient Power
  2. Sons of Hellfire 
  3. The Devil is Always Looking For Souls
  4. The Witch
  5. Nocturnal Attack

Às 20h00, com a Jai Club cheia, o público está a postos para contemplar o Vazio, banda paulistana formada em 2016, sobe no palco. Liderada por Renato Gimenez (vocal/guitarra), Eric Nefus (guitarra), Nilson Slaughter (baixo) e Daniel Vecchi (bateria), a banda veio mostrar o porquê da ascensão como um grande nome do black metal nacional. 

Com poucas palavras, riffs agressivos e tremolo picking a banda começa o show com a explosiva “Escuridão Seja Minha Guia”, que parece ter um poder hipnotizante junto ao público, que acompanha todos as nuances da música atentamente do início ao fim. Além das característica citadas anteriormente, o refrão conta com uma espécie de canto gregoriano, com Renato e Nilson nos backing vocals. A música ainda não se encontra disponível nas plataformas de streaming. 

Os destaques do show ficam com as músicas “Nascido do Fogo” e “Chamado dos Mortos”, do ótimo álbum “Eterno Aeon Obscuro” (2020), que são capazes de mostrar todas as texturas que a banda consegue oferecer, desde blast beats em uma amostra de black metal visceral até um som mais alternado com direito a throat singing e elementos xamânicos, respectivamente. Além disso, a banda foi a primeira da noite a usar backing tracks, o que ajuda a criar toda a atmosfera obscura que está presente nos álbuns. 

Em pouco mais de quarenta e cinco minutos de show, o Vazio mostra que a sua escolha para a abertura do show do Uada foi correta, já que ambas as bandas apresentam ótimas variações de black metal e criam uma atmosfera similar em seus sons. 

Setlist – Vazio

  1. Escuridão seja minha guia
  2. Cerimônia dos espíritos primordiais
  3. Nascido do Fogo
  4. Chamado dos mortos
  5. Eterno Aeon Obscuro
  6. Besta Interior
  7. Necrocosmos
  8. Eterno Vazio

Todas as luzes superiores se apagam e, quase em completa escuridão, às 21h00 a atração mais aguardada da noite, Uada, sobe no palco. A banda estadunidense originária de Portland, no Oregon, e formada em 2014 tem quatro álbuns e conta com Jake Superchi (vocal/guitarra), James Sloan (guitarra solo), Nate Verschoor (baixo) e Josh Lovejoy (bateria). Todos integrantes encapuzados, sem mostrar absolutamente nada do rosto a não ser um pouco dos cabelos nem falar com o público. 

O show começa com “The Purging Fire” do disco “Cult of a Dying Sun” (2018), que seria o mais contemplado da noite no setlist, apesar de ser a turnê do “Crepuscule Natura” (2023). A música conta com uma melodia muito marcante nas guitarras de James, prato cheio para os fãs de Emperor e Dissection, enquanto Superchi faz um trabalho consistente na guitarra base, alternando entre guturais típicos do estilo e gritos melancólicos. Todo o estilo black metal melódico segue na segunda música da noite e segunda faixa do mesmo álbum: “Snakes and Vultures”. 

No segundo bloco do show, a banda foca na mescla de black metal e hardcore presente no álbum “Djinn” (2020) e os sons mais experimentais do álbum mais recente, “Crepuscule Natura” (2023). Essa mescla, diga-se de passagem, traz uma variação sonora bastante interessante para o show, deixando o público bastante atento e empolgado com a apresentação. Destaque para as músicas “In The Absence of Matter” e “The Dark (Winter)”, que arrancou gritos do público com o seu riff inicial mais voltado para o folk e suas passagens intermediárias épicas .

Para a última parte do show, a banda guarda a excelente “Cult of a Dying Sun”, do álbum homônimo e a “Black Autumn, White Spring”, do debut da banda, “Devoid of Light” (2016), música de quase dez minutos que conta com lindas linhas de guitarra. Músicas essas que mesclam perfeitamente peso e a melodia, não deixando nada a desejar para as consagradas bandas de black metal melódico. Um adendo importante que deve ser feito é que um dos traços mais marcantes do Uada é a sua temática que gira em torno do misticismo, o cosmos, o paganismo e a escuridão, fugindo do estereótipo de bandas mais tradicionais do black metal. 

No fim, após as duas músicas, os integrantes se retiraram do palco, sem dizer nada, ainda nos personagens e o público ficou aguardando mais. Até que as luzes se acenderam e o som mecânico começou a tocar. Apesar de ter sido um show relativamente curto, cerca de 1h13, o público pareceu satisfeito e muitos se dirigiram à banca de merch da banda, na tentativa de levarem alguma camiseta de lembrança dessa passagem bem-sucedida do Uada pelo Brasil. Certamente, pelo que apresentaram nessa quinta-feira chuvosa, a banda tem uma gama de recursos a explorar e nós estaremos atentos.  

Setlist – Uada

  1. The Purging Fire 
  2. Snakes and Vultures 
  3. Djinn
  4. In the Absence of Matter 
  5. The Dark (Winter)
  6. Retraversing the Void 
  7. Cult of a Dying Sun 
  8. Black Autumn, White Spring
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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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