Em entrevista, David Vincent discute 30 anos do “Covenant”, turnê sul-americana e mais

O colaborador Daniel Agapito conversou com David Vincent do I Am Morbid sobre os 30 anos do álbum “Covenant”

Sonoridade Underground: Para os que não sabem, o I Am Morbid está fazendo uma turnê aqui pela américa latina para celebrar os 30 anos do icônico “Covenant”, e esta entrevista vai falar deste mesmo disco. Vamos começar, como foi o processo de gravação e composição do “Covenant”?

David Vincent: Bom, foi bem envolvido, levou algum tempo, foi o primeiro disco que fizemos com a Warner Brothers, para a américa do norte. Tivemos um orçamento bom, bem confortável, pudemos fazer uns clipes bem legais. Gravamos o álbum no mesmo estúdio que tínhamos gravado todos os outros, no Morris Sound, em Tampa, na Flórida. O produtor que usamos, o Flemming Rasmussen queria mixar no estúdio dele, em Copenhagen. Então depois de terminar de gravar nos fomos até Copenhagen e mixamos no Sweet Slience, e o resto é história.

Sonoridade Underground: O que que o “Covenant” significa pro Morbid Angel e como que ele ajudou a evolução da banda?

David Vincent: Bom, o título em si é praticamente o novo comprometimento de continuar no caminho que estávamos, de fazer músicas incríveis e orgânicas, e sabe, fazer a banda crescer. Eu acho que tinha um pouco de hesitação das pessoas pensando “ah o Morbid Angel assinou com uma gravadora gigante, agora vão mudar”, na realidade, pode se dizer que pioramos (rindo). Então conseguimos dissipar o medo das pessoas e o nosso pacto (covenant, em inglês) com eles era que não haveriam acordos, e isso permanece verdade até hoje.

Sonoridade Underground: Com certeza, o “Covenant” realmente foi incrível e vocês só pioraram, como você disse. Bom, em uma entrevista realizada pelo Headbanger’s Ball, da MTV em 1993, você disse que o “Covenant” era uma trilha sonora para os tempos agressivos em que o mundo se encontrava. Como você sente que o mundo está hoje, e qual o impacto do metal?

David Vincent: Bom com a música no geral, especificamente o metal, eu consigo “expelir” minha agressão, em vez de levar para a rua. Agora nós olhamos ao nosso redor e vemos o que está acontecendo com o mundo, tem muito conflito. É uma pena, mas por toda a história humana houve conflito, e ao meu ver, tem um pouco mais agora do que geralmente tem. Muito deste conflito é político.

Eu odeio política. Toda a briga interna, toda a falação, todas as promessas que estes políticos fazem, eu não quero ouvir. Só quero fazer música e me aproximar dos fãs, me aproximar da minha família, e o resto do mundo, eles podem se preocupar com o drama que estes políticos causam. Eu tento não focar nisso, e focar no que realmente alimenta minha alma, e isso é a música e a arte no geral, e viver uma vida boa, e não me envolver em coisas que são negativas, e algumas são muito, muito negativas.

Sonoridade Underground: Naquela mesma entrevista você disse que era constantemente castigado pelas coisas que você falava em suas músicas. Isso é algo que ainda acontece? Como que a “cultura do cancelamento” está afetando sua carreira?

David Vincent: Bom, não acontece mais tanto, mas haviam tempos em que íamos tocar em um lugar e haviam grupos fazendo piquete fora da casa de shows. Eles diziam que estávamos “machucando as crianças”, e eu não sei como estava machucando as crianças. Agora tenho fãs que chegam para mim toda hora que são, sabe, eu estou aqui já faz um tempo e alguns de meus fãs também, eles chegam para mim e mie dizem coisas tipo “eu escutava suas músicas, e elas me tiraram de um lugar muito difícil da vida e agora tenho 3 restaurantes e tenho uma família e estou muito bem.” “Você me fez passar pela escola e agora sou médico”.

Sabe, eu ouço essas histórias de sucesso que as pessoas vem me falar – não estou levando o crédito por nenhum destes acontecimentos – mas se de algum jeito minhas músicas tem inspirados as pessoas à chegarem a planos mais altos ao longo dos anos, aí esta é a maior recompensa que podem me dar.

Sonoridade Underground: Com certeza, o Morbid Angel definitivamente é uma banda gigante com um impacto tremendo na vida de diversas pessoas. No geral, qual sua opinião em relação ao “Covenant”, todos estes anos depois?

David Vincent: É um LP fundamental. Eu gosto de todos os discos. Com todos houve um crescimento diferente que aconteceu, sabe? Obviamente quando começamos eramos apenas crianças e você consegue ouvir o crescimento. Você consegue ouvir que à medida que sua carreira vai progredindo você vai virando um músico melhor, e vai aprendendo coisas novas. É como qualquer coisa na vida. Quanto mais você faz algo eu espero que você melhore (sorrindo).

Eu acho que este é o nosso caso. Nós continuamos crescendo, continuamos compondo, continuamos fazendo turnês, visitando o mundo e fazendo músicas ótimas e nos conectando com os fãs deste jeito.

Sonoridade Underground: Qual você diria que é o impacto do “Covenant” na cena do death metal e do metal no geral?

David Vincent: Bom, vendemos um monte de discos! Eu acho que pode ter aberto a porta para mais músicas extremas serem apreciadas pelo que são de verdade. Qualquer música underground dificilmente sai do underground. Pode ser que tenham pessoas mais mainstream que achem algo e gostem daquilo, mas a música extrema realmente é para pessoas extremas. É um gosto adquirido, e eu completamento entendo isso. Nunca venderemos tanto quanto a Britney Spears ou essas outras músicas que são bem fáceis de ouvir.

Essa não é nem nossa intenção. Nossa intenção é de fazer exatamente o que fizemos, e novamente, estou honrado e muito grato que os fãs gostem tanto da banda. Aparentemente eles gostam tanto quanto eu gosto, e se eu não amasse não estaria fazendo. Posso te prometer isso.

Sonoridade Underground: O que você diria que é o diferencial deste disco para o resto de sua discografia?

David Vincent: Bom, não sei se há um diferencial. É parte de algo continuo. É parte de algo que começo lá atrás e continua agora no futuro. É uma captura de uma história. De um tempo e de um espaço onde criamos aquelas músicas, e as gravamos, e está congelado no tempo (sorrindo). Aquilo sempre estará lá e nunca não existirá (sorrindo). Olhamos para tudo que fazemos deste jeito. Tudo que fazemos se torna parte deste portfólio de diferentes trabalhos, dos trabalhos de nossa vida, verdadeiramente.

Isto não é diferente com o “Covenant”. Ele obviamente foi um disco muito importante para nós, foi um disco muito importante para a música extrema no geral, e como já disse, eu sinto como se possivelmente tenha aberto algumas portas para outras bandas para que começassem a ser levadas à sério.

Sonoridade Underground: Qual sua música favorita do “Covenant”?

David Vincent: Isso provavelmente muda de noite para noite. Eu gosto de todas, algumas das que colocamos no set depois de um tempo, que não havíamos tocado recentemente, como “Lion’s Den”, “Vengance is Mine”, essas são legais de tocar porque parecem ser tão novas, tão frescas. Músicas como “Pain Divine”, “Rapture” e algumas outras, elas realmente nunca saíram do set. “Rapture” é como o Lemmy tocando “Ace of Spades”, ele toca, bom, tocava, ou tipo o Ozzy tocando “Paranoid”. Você não vai ver um show do Motörhead ou do Ozzy sem essas músicas. Temos algumas músicas assim, e várias delas estão no “Covenant”. “Rapture”, “God of Emptiness”. Eu gosto de tocar todas, mas as vezes estou no palco e penso “nossa, tinha esquecido que essa era tão legal de tocar, que não tocamos faz tempo”.

Sonoridade Underground: Como é tocar esse álbum especificamente com o I Am Morbid?

David Vincent: É ótimo. A banda é ótima. Estamos em turnê praticamente o verão (inverno no hemisfério sul) inteiro, tocamos em festivais europeus, fomos para a Ásia, Austrália, o suporte dos fãs foi algo exorbitante, audiências realmente incríveis. Como já disse me sinto honrado de pensar que este disco especificamente em que estamos focando, 30 anos depois é tão relevante. Eu não sei se em 93 pensaria que tudo isso seria tão relevante, muito provavelmente não pensava nisso. Mas o fato de que este realmente é o caso é algo que me deixa honrado.

Aprecio isso muito mais agora quando conheço as pessoas e elas tem estas histórias de sucesso que te falei. Saber que você conseguiu conectar com as pessoas e mexer com elas de uma maneira inspiradora é melhor que qualquer droga e qualquer quantia de dinheiro. Para mim, é melhor que qualquer droga e qualquer quantia de dinheiro.

Sonoridade Underground: Vocês tocaram o “Covenant” na Europa, na Ásia, na Austrália e agora vão fazer uma turnê de quase um mês aqui na América Latina. Quais são suas expectativas para essa turnê?

David Vincent: O público latino-americano sempre foi incrível. Eu sempre adoro viajar, consigo reencontrar velhos amigos e espero que consiga fazer amigos novos. Tem algumas paradas nesta turnê que não conheço ainda, que vergonha, como o Uruguai, nunca estive lá antes então estou bastante ansioso para ir lá. Minha expectativa é que faremos ótimos shows e que esta turnê seja uma continuação do que estivemos fazendo o ano inteiro; celebrando a música extrema e nos conectando com os fãs.

Sonoridade Underground: Realmente não tenho dúvida de que será uma baita de uma turnê. Ao seu ver, como você pessoalmente tem evoluído como músico?

David Vincent: Eu realmente levo tudo isso muito a sério; ensaios são obrigatórios. Eu quero ter certeza de que se os fãs tem uma pá de opções de que gastar seu tempo e dinheiro com, incluindo videogames, incluindo ir para um bar, incluindo todas as várias distrações diferentes que existem, então quando alguém escolher comprar um ingresso para os nossos shows, você pode apostar que é a coisa mais importante para mim, que possamos proporcionar à eles o melhor show possível. Queremos garantir que a qualidade esteja lá, que todos estejam firmes, que a música soe bem, que a química da banda, que nós todos estejamos realmente gostando do que estamos fazendo no palco. Eu acho que isso é palpável, que os fãs conseguem ver, sentir esta energia de que musicalmente tudo está bom.

Novamente, agora que estou de volta com o Pete (Sandoval, baterista, ex-Morbid Angel de 1988 a 2013), que as coisas soam realmente como deveriam soar, que soam como as pessoas lembram que soam. Sabe, o Pete está gostando muito, ele está mais forte e está tocando melhor do que tocou por muitos e muitos anos. Sabe, a coisa está boa. Estas coisas me deixam ansioso.

Mesmo tantos anos depois, eu faço tudo isso porque amo. Essa é minha vida.

Sonoridade Underground: Então pode se dizer que o I Am Morbid está carregando o legado do Morbid Angel clássico para esta nova geração de metal, não é?

David Vincent: Bom, você acabou de dizer. Posso concordar com isso. Sabe, existem duas bandas separadas, o I Am Morbid sendo uma delas e o Morbid Angel sendo outra. Temos setlists completamente diferentes. Nós estamos fazendo, eu estou celebrando as músicas que eu mesmo escrevi com esta banda ao longo do meu tempo com o Morbid Angel e felizmente são as músicas que as pessoas querem ouvir.

Sonoridade Underground: Infelizmente chegou a hora da última pergunta. Quais os planos para o futuro do I Am Morbid? Podemos esperar novas inéditas?

David Vincent: Nós da banda já discutimos várias coisas. Pessoalmente, o meu maior problema é o tempo, porque tenho outras coisas que estou fazendo. Acabamos de acabar a gravação de um novo disco do VLTIMAS, por sinal, que está sendo mixado agora e irá lançar no começo de 2024. Então, eu quero sair e trabalhar este disco até cansar também. Provavelmente teremos um descanso do I Am Morbid em 2024; não temos nada marcado ainda, e estou tentando manter assim, para que possa ter tempo de fazer as outras coisas que quero fazer. É uma discussão continua, quando a hora chegar, é quando tudo vai acontecer. Não tenho nenhum anúncio à fazer, mas com certeza é parte de nossas discussões.

Sonoridade Underground: Então é isso! Você tem mais alguma consideração final para fazer?

David Vincent: Primeiramente gostaria de agradecer você pelo seu tempo, e gostaria de dizer que espero ansiosamente para reencontrar meus amigos e fazer alguns novos quando chegarmos aí, e estaremos aí já já. Fique ligados, e nos veremos.

Sonoridade Underground: Agora no meio de outubro vão ser os shows do I Am Morbid. Dia 19 vai ser aqui em São Paulo, no Fabrique e com certeza vale a pena ver o I Am Morbid aqui no Brasil. Banda incrível, som incrível, vale a pena ver enquanto eles estiverem aqui.

Então, foi isso, entrevistamos aqui o David Vincent, do I Am Morbid. Curte, compartilha, comenta, e vai no show do I Am Morbid.

Mais informações sobre os shows disponível pelo site da Venus Concerts:

https://venusconcerts.com.br/tours-shows/

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