Em O Enterro das Marés, Throe reforça o poder e a sensibilidade da música instrumental ao refletir sobre os finais que enfrentamos ao longo da vida
Formado em 2020 pelo guitarrista Vina, que também integra a banda paulistana de música instrumental Huey, o Throe é um projeto mais introspectivo e com diversas camadas musicais. Com influências que vão desde o peso do death metal, a experimentação do post rock e a sensibilidade do shoegaze, Vina conduz o ouvinte por uma estrada de sensações e sentimentos imersivos nas canções compostas para a Throe, que lançou seu mais novo trabalho em agosto de 2023, o EP O Enterro das Marés.
Poucas bandas conseguem contar uma narrativa sem a necessidade de vocais em suas músicas. Ao explorar diferentes gêneros musicais em suas composições, buscando transmitir uma mensagem através das sensações despertadas pelas diversas camadas musicais presentes em suas canções, o Throe cria uma conexão imediata com o ouvinte, o colocando em um processo profundo de imersão com sua obra.
Em seu mais novo trabalho, O Enterro das Marés, lançado em agosto de 2023 pelo selo Abraxas, o Throe apresenta mais uma experiência musical fora da curva. A reflexão sobre o encerramento de ciclos na vida é algo recorrente em nossas vidas. A melancolia gerada por finais amargos, agridoces ou até mesmo felizes, é explorada ao longo das três faixas presentes no EP.
“São composições que surgiram da reflexão sobre os diversos finais que precisamos viver, o vazio que isso causa e como esse vazio pode também ser entendido como um novo espaço a ser preenchido” – Vina
A sensação que enfrentamos após um final pode ser uma montanha-russa de emoções. É possível encontrar beleza na dor, assim como é possível encontrar melodia no peso. Esse contraponto é explorado logo na primeira faixa da obra, a épica e bela Hope Shines in the Autumn Light. Ao longo de seus 14 minutos, a música percorre diversas nuances sonoras, com influências sutis de nomes como Slowdive, passando pela ambientação bem trabalhada e com boas doses de peso que remete a nomes como Isis. A beleza melancólica de um final pode conter um peso que, em um primeiro momento, pode parecer algo sombrio, como um fardo ou um olhar perdido na escuridão.
Bleed Alike explora a estranheza do vazio. Os riffs hipnóticos se repetem, trazendo uma sensação perturbadora, aflorando o desespero angustiante de olhar para o vazio deixado pelo final de um ciclo. A faixa caminha para uma sonoridade instrumental, embora continue explorando elementos de sludge e pinceladas de noise em seu momento final. Elementos que você encontraria em uma faixa do Neurosis, uma das grandes influências de Vina. Talvez seja a música que melhor personifica a estranheza e incômodo que o sentimento de vazio nos traz.
Renascente é otimista, delicada e acolhedora, como a visão de um céu limpo após uma tempestade. Com uma ambientação etérea e uma sonoridade limpa, a faixa encerra o EP de maneira reconfortante, como o sentimento de esperança ao encontrar uma luz no fim do túnel. Entender que o vazio do final pode dar espaço para algo novo, é uma bela mensagem para se encontrar no desfecho da obra.
Em O Enterro das Marés, o Throe reforça mais uma vez o poder e a sensibilidade da música instrumental. Com diversas camadas musicais, Vina amarra as três faixas do EP em uma mesma temática e conduz o ouvinte em uma jornada reflexiva e imersiva sobre a possibilidade de um recomeço presente no vazio de um final. Uma obra que entrega sensações, emoções e reflexões ao ser contemplada com a devida atenção.