Em entrevista, Roger Miret fala sobre hardcore, pandemia e aposentadoria

O colaborador André Fagundes bateu um papo com o Roger Miret, do Agnostic Front. Em breve a entrevista também estará no nosso canal no Youtube

Sonoridade Underground: O hardcore passa por uma evolução constante desde os anos 80, como você enxerga isso? De forma positiva ou negativa?

Roger Miret: Certo, vamos lá. O hardcore está bem diferente dos anos ‘80, está evoluindo desde dos anos ’80. Sempre esteve evoluindo para algo diferente ou algo similar, sempre nos moldes do original, das raízes punk rock. Isto é ótimo! Eu acho legal que as pessoas peguem o que elas precisam disso e criem a sua própria versão, o seu próprio estilo. E usem isso como uma plataforma para mostrar sua música, o que elas sentem e façam o que quiserem. Eu acho isso ótimo, eu penso que, assim como tudo evolui, contanto que seja real e genuíno, terá o seu valor.

Sonoridade Underground: Legal, você vê essa evolução de forma positiva ou negativa?

Roger Miret: Não, eu vejo isso de forma positiva, nunca vi isso como algo negativo. Quer dizer, há muitas bandas que ficaram presas nos anos 80, mas você ficou preso nos anos 80 sabe? Você vai na onda do que tá rolando. A gente é da bagunça, porque nós sempre estamos em tour com um monte de bandas diferentes e, você sabe, nem toda banda soa ou toca perfeitamente hardcore. Eu acho que estas bandas devem ter seu próprio estilo, sua própria mistura. Mas se isto for genuinamente verdadeiro, como eu te disse, isso é ótimo! E temos visto isso, nós vemos um monte de bandas diferentes, nós vemos bandas voltando, nós vemos bandas novas e alguém precisa manter a chama acesa, sabe? Nós não podemos estar aqui fazendo isso para sempre.

Sonoridade Underground: O Agnostic Front é conhecido por ser o padrinho do hardcore, como um dos pioneiros, como você se sente com isso?

Roger Miret: Eu me sinto honrado por ter tal título, com certeza. Mas nós não fizemos isso nós mesmos. Nós fizemos isto coletivamente como um movimento, como uma cena. Eu acho que a diferença é o quanto a nossa longevidade manteve isto acontecendo, é o porquê deste título pegar pesado, sabe o que quero dizer? Pra mim nós estivemos carregando o Hardcore Nova Iorquino por muito tempo. Fazendo o nosso, assim como as outras bandas, elas também fazem isso. Nós temos bandas como Murphy ‘s Law, Madball, Sick of It All, Sheer Terror. Elas ainda são bandas ativas. Mas eu acho que nós éramos os que saíram um pouco mais para fora do que muitas das outras bandas, desde o nosso começo. Estas outras bandas que mencionei vieram um pouco depois da gente, é claro. Então nós não sabíamos o que estávamos subconscientemente criando, fazendo uma cena, não sabíamos disso. Nós éramos apenas um grupo de vinte, trinta desajustados, sabe? Aprendendo como tocar e fazer o que amamos fazer. Nós estávamos gritando por mudanças!

Sonoridade Underground: Legal. Foi algo que vocês de Nova Iorque fizeram como um coletivo, como uma cena né.

Roger Miret: Sim, isto é um coletivo. Eu não posso sentar aqui e te dizer: “Eu fiz isso, eu fiz aquilo, eu fiz tudo, eu comecei, eu inventei isto” – isso é ignorância, arrogância. Nós precisamos um do outro. Nós tocamos, precisávamos dos fanzines que escrevessem sobre a gente, nós precisamos do rádio. Eles tocavam nossas músicas curtas do underground, sabe? Então nós criamos isso coletivamente juntos.

Sonoridade Underground: Você faz isso a muitos anos, muita coisa aconteceu nesse período, como você tem cuidado da sua saúde? Já cogitou se aposentar?

Roger Miret: Meus problemas recentes de saúde, vieram nos tempos da pandemia. Então todo mundo estava “aposentado” sabe? Então eu tive algo extra para lidar. Se você assistiu ao documentário The Godfather’s of Hardcore, eu disse lá que eu estou vivendo minha aposentadoria. Eu estou aproveitando a vida, quando for a hora de acabar, então eu irei trabalhar, fazer algo diferente. Mas há muitas pessoas que trabalham a vida inteira e quando chegam aos seus 67 anos, é aí que eles vão sair de férias e aposentar-se. Mas você não pode fazer as coisas que você podia quando você tinha 20 anos, com 67 anos você está limitado sabe? Quero dizer, você sabe que não vai pular de nenhum avião ou fazer alguma loucura. Então eu tenho sido abençoado e sortudo por estar vivendo minha aposentadoria, ainda estou, sabe? Então contanto que as coisas continuem e haja demanda para o Agnostic Front, nós estaremos aqui! Quando não houver mais demanda, nós vamos para o próximo passo mas, eu sempre tive minha família e pessoas que eu amo ao meu redor sempre. Eu estou bem.

Sonoridade Underground: Quase 10 anos desde a última passagem pelo Brasil, pq q demora em retornar e o que podemos esperar dos shows?

Roger Miret: Honestamente eu não sei porque demoramos tanto, você pode culpar a pandemia, com certeza, porquê nós íamos lançar uma gravação e normalmente toda vez quando lançamos uma gravação, nós fazemos o ciclo e isto nos leva a fazer uma gravação a cada quatro ou cinco anos e nós fazemos coisas assim mas, a pandemia matou aí uns bons dois, três anos disso. Porque nós lançamos o disco no fim de 2019, a pandemia pegou o comecinho de 2020 e isso matou três anos ou dois, com certeza dois anos de qualquer circuito de turnê. Então seja qual for a extensão do que poderia ter sido aquilo, foi rápido. Mas sabe, eu não quero ter que esperar nove anos de novo! Eu estou bem em vir a cada três, quatro anos ou algo assim, porque a América do Sul é demais, o Brasil é fantástico e nos relacionamos muito bem com nosso público. Porque se parece muito com a velha Nova Iorque que crescemos, pessoas lidando com opressão e nós lidamos com opressão superando opressão, é disso que estamos falando. Então realmente temos uma boa conexão. 

Sonoridade Underground: Fale um pouco pra gente do último lançamento de vocês, percebemos uma clara referência da capa do Get Loud! ao Cause for Alarm de ’86. Qual a relação?

Roger Miret: Bem, é isso, nós sempre nos reciclamos e o Agnostic Front sempre foi líder, não seguidor. Então nós nos reciclamos de alguma forma e nós estávamos escrevendo um monte de sons que eram bem trash e eu dizia: “Sabe, estes sons pra mim, parece algo que poderia ter estado no Cause For Alarm a tempos”. Naquela época eu tinha me reconectado com Sean Taggart, cheguei nele e disse: “Sean você gostaria de fazer a capa para o disco Get Loud?”. Ele ficou animado! Ele falou “com certeza”, então o que disse para ele foi que eu queria que a ressurreição do Demônio Skin estivesse no Get Loud. Quer dizer, estava no Cause For Alarm e ele fez aquilo, foi ótimo! Funcionou perfeitamente, então havia muita coisa lá, muito feedback positivo, sabe? Todo mundo estava tão animado e então, de novo, a pandemia acabava de destruir tudo.

Sonoridade Underground: Muitas pessoas aqui do Brasil foram surpreendidas negativamente com o posicionamento antivacina de algumas bandas e pessoas da cena de Nova Iorque. Você fica à vontade para nos falar a respeito?

Roger Miret: Eu estive de olho. Pra mim, eu falo por mim e qualquer coisa que eu precise fazer é isso, você sabe muito bem, meu corpo, minhas escolhas. Algumas pessoas em ambos os lados estão meio que numa parada selvagem, sabe? Eu não olho menos pra alguém se eles foram vacinados ou não. Essa foi sua escolha, uma escolha muito pessoal, você faz o que quer. Então eu não caio nesse jogo. Se eu acredito no governo? Não, eu não acredito no governo, nunca acreditei, é disso que se trata a minha banda, questionar as autoridades, questionar o governo. Mas sabe, esta é uma escolha que você fez individualmente, então isso foi com você. Então eu não escolho um lado em nada disso. Eu faço por mim, eu não pergunto por aí se você foi vacinado ou será vacinado e não pode ir para o meu show. Isto é meio ridículo mas a escolha é sua.

Sonoridade Underground: Gostaríamos de agradecer a Nuclear Blast e a você Roger pela entrevista. Se quiser deixar alguma mensagem final ou recomendação, fique à vontade.

Roger Miret: É claro. Eu quero agradecer a todo mundo por nos apoiar esse tempo todo, através dos anos e nós somos muito gratos a isso, sabe? Se não fosse por vocês, quero dizer, pelas pessoas apoiando a gente, nós não teríamos ido a lugar nenhum, não somos nada. Não significaríamos nada. Então muito obrigado por se conectar conosco sendo parte da nossa família e torcemos para vermos vocês no pit! 

Não deixe de conferir o último lançamento da banda, o cd Get Loud!

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About André Fagundes

Designer de formação e músico por paixão e teimosia, cresci indo na Galeria do Rock atrás de zines para ler, além de flyers de shows e namorar as guitarras das lojas da Santa Ifigênia no Centro de São Paulo.

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