Vida pessoal, carreira, novo álbum, confira a entrevista com Will Tomao

📸 @reutermp

O colaborador Daniel Agapito bateu um papo com o Will, músico brasileiro que se juntou ao Tyranex. Em breve a entrevista tambem estará no nosso canal no Youtube

Para os que não os conhecem, o Tyranex é uma banda de thrash/speed metal em rápida ascensão dentro da cena europeia. No dia 22 de setembro, lançarão seu quarto álbum de estúdio, “Reasons for the Slaughter”. Tivemos a chance de bater um papo com Will Tomao, guitarrista brasileiro que entrou para a banda em 2022.

Sonoridade Undergorund: Bom, então Will, conta um pouco da sua história com a banda, como é que você se envolveu.

Will Tomao: Então eu tô com o Tyranex agora há dois anos, dois anos e meio mais ou menos. A gente mora em Gotemburgo, e foi logo depois da pandemia né, que eles estavam procurando novo membros, guitarrista e baixista para banda, e aí, o básico, eles colocaram um anúncio no Facebook, tem uns grupos locais né, aqui da Suécia, aqui de Gotemburgo. E quando eu vi assim o link, eu achei bem legal, eu achei até que era demais para mim sabe. Banda boa, bem estabelecida. 

Mas eu vi que o anúncio continuava, imaginei que ninguém tinha respondido, e aí, “ah, vou tentar né”. Aí eu mandei (um vídeo). A Linnea, vocalista e criadora da banda né, me retornou e pediu para eu gravar um vídeo, tocando umas músicas e tal, e eu mandei um vídeo de eu tocando, e depois a gente se encontrou para um ensaio com a banda, eu, ela e o baterista, o Pontus. Ah, e a química deu super certo assim, mas até no começo assim a gente foi “ó vamos ensaiando aí, vamos ver se todo mundo tá alinhado na mesma coisa né”. E deu super certo. E logo depois assim, não demorou muito para a gente entender que ia funcionar né, depois de uns 2, 3 meses assim a gente recebeu um baixista que estava interessado, o Martin e logo ele entrou. E é isso, e a banda seguiu comigo (risos).

Sonoridade Undergorund: Cara você é um músico brasileiro que está numa banda na Suécia. O que que um músico brasileiro tem que fazer para se destacar internacionalmente como você?

Will Tomao: Putz (risos), caramba não sei. Pô, assim, a minha história, eu trabalhava como músico em no Brasil, em São Paulo, sou de São Paulo, trabalhei minha vida toda aí, e em determinado momento eu quis evoluir assim, na minha carreira musical. Aí eu fui para Irlanda, para fazer meu mestrado em música. 

E aí, depois que eu terminei lá, minha esposa é sueca, já estávamos juntos lá na Irlanda, e aí a gente ficou nessa decisão, de ir para o Brasil ou ir para a Suécia, depois de um tempo na Irlanda, ou até ficar lá, mas a gente não queria muito ficar lá, não tinha família, nem nada. E aí resolvemos mudar para a Suécia. 

Quando eu vim aqui eu fui atrás da minha carreira, basicamente dar aula de música e tal. Eu entrei numa banda aqui né primeiro, que se chama Cynical Existence, é uma banda tipo de metal eletrônico. A melhor referência que eu posso dar é tipo Rammstein, mais nessa pegada, que é muito forte aqui na Europa. E isso já meio que me abriu um pouco as portas aqui, eu fui conhecendo gente. Para ser bem sincero, não é muito meu estilo de metal assim, de tocar. Eu gosto até, mas não é meu estilo preferido, eu gosto mesmo é de thrash metal assim, death metal. Só que essa banda meio que foi com o intuito de “eu preciso começar com alguma coisa nessa área de tocar em banda”. Então eu comecei com eles, e como no mundo todo veio a pandemia e a gente até fez uns shows, tinha show marcado em outros países aqui na Europa, e acabou sendo cancelado por causa da pandemia, e a banda praticamente entrou em hiato assim, porque tudo isso, a pandemia, trabalho, pessoal perde trabalho aqui e ali.

E aí eu continuei com a minha, tocando tal, e aí eu senti a necessidade de procurar outra banda né. Mais assim, sei lá, o que eu posso dizer é que nesse tempo eu continuei progredindo, estudando, fazendo minha parte, me mantendo afiado no instrumento e eu já estava trabalhando aqui com música, dando aula. Nunca deixei de seguir o meu objetivo que é continuar sendo músico, e um músico de ponta assim, sabe, sempre me mantendo o melhor no instrumento. 

E aí na hora que apareceu o Tyranex, que é uma banda que tem mais a ver com meu estilo né, foi isso, me senti pronto para mandar o vídeo tocando as músicas. É que as músicas assim são difíceis (rindo) é tudo rápido. A Linnea que é a guitarrista e vocalista né, ela, putz, ela tem uma técnica absurda assim (risos). E as músicas são difíceis, são muito rápidas assim, tanto que depois ela me contou que teve mais gente que chegou a mandar os vídeos, mas que logo ela viu que não iam dar conta, sabe. Ela sentiu confiança, tanto do meu vídeo quanto depois de encontrar né, então é isso, se manter na ponta o tempo todo, sabe?

Sonoridade Undergorund: O que você diria que são as maiores diferenças entre trabalhar com música aqui no Brasil e aí na Europa?

Will Tomao: (rindo) é, isso dá para falar bastante disso. Mas acho que num sentido geral, vai, para não ficar falando de um monte de detalhes, eu acho que é o respeito, o consenso de que ser músico é um trabalho tão válido quanto qualquer outro. Eu como muita gente no Brasil, a gente passa por essa sensação daquela velha coisa, de que músico é vagabundo, músico não faz nada “se dê por contente de tocar de graça em qualquer lugar aí”, coisa assim. Isso não acontece aqui, isso eu não vejo. Tipo aquela pergunta de eu falar “ah eu sou músico” e as pessoas falam “ah, mas você trabalha com o que” (risos). Eu nunca ouvi isso aqui. Sabe, as pessoas já tendem a “ok”, sabe não é uma coisa estranha.

E qualquer área na verdade, eu fico até surpreso de a pessoa falar “ah eu sou um ator de teatro, sou uma artista plástico”, nunca ninguém vai questionar sabe, se você está conseguindo viver disso, se isso é uma profissão de verdade. Já é algo na sociedade, sabe, entendido que é uma profissão válida como qualquer outra.

Consequentemente disso, se paga impostos como qualquer um paga, se vive, enfim, tem os benefícios aqui e ali do governo, como todas as pessoas tem aqui. Acho que essa é a maior diferença, aí tem um monte de detalhes, em relação ao financeiro, e tal, mas acho que o maior, a grande coisa que eu sinto é isso, o respeito, o entendimento de que isso é uma profissão normal, como qualquer outra.

Sonoridade Undergorund: Vamos falar um pouco mais do disco novo de vocês, o “Reasons for the Slaughter”, o que que a gente pode esperar deste disco?

Will Tomao: Olha, esse é um álbum mais maduro, quem tá assistindo aqui e tiver a oportunidade, quem tiver a paciência de ouvir a gente, os álbuns anteriores que eu não fazia parte, e depois ouvir o “Reasons for the Slaughter”, o disco novo, vocês vão ouvir que claramente houve um amadurecimento assim, a produção tá muito melhor, a banda investiu muito mais dinheiro para fazer um produção melhor, sabe, a gente gravou com um estúdio melhor, gravou com um coprodutor, que é o Lawrence (Mackrory), que ele trabalha com bandas muito mais conhecidas. O trabalho mais recente dele foi o Bloodbath e o Katatonia. Aí a gente fez o trabalho com ele, e ele é vocalista também, ele tem uma banda de thrash, F.K.Ü e ele também ajudou a Linnea nos vocais, para extrapolar o que ela já fazia. 

Então acho que no álbum está muito claro que o nível subiu, tanto de produção tanto de engajamento da banda, de fazer o melhor possível e tanto de desafio também, de musicalidade, de técnica de instrumento mesmo sabe, acho que o baixista que tá agora é um cara que toca muito bem também. Acho que todos nós desafiamos uns aos outros assim, de verdade, nas sessões de gravação, tipo “faz de novo, faz de novo, faz de novo, tenta mais” então acho que tá muito claro que esse álbum tecnicamente tá muito melhor, em todos os sentidos, mais maduro, né. Mas assim, é um álbum de thrash metal inspirados nos anos 80. As pessoas vão ouvir que tem aquela sonoridade das bandas dos anos 80 que influenciam a banda, mas uma roupagem mais moderna. É isso. 

Mas assim, essa característica do Tyranex com certeza é tocar rápido (risos). É o que geralmente a gente ouve depois de algum show, a galera chega assim (rindo) “nossa como vocês tocam rápido”, um monte de músicas rápidas assim. Então nesse álbum também tem bastante disso.

Sonoridade Undergorund: Então, continuando praticamente nessa mesma linha, a “Do or Die” foi uma das últimas singles que vocês lançaram, e ela fala sobre o conflito na Ucrânia. O que que a gente pode esperar, liricamente falando, deste novo disco?

Will Tomao: Então, a Linnea escreveu praticamente 100% das letras desse álbum porque esse álbum na verdade tem muitas músicas feitas por ela durante a pandemia, e muitas músicas que são mais antigas, que ficou ali na gaveta, e ela trouxe, e a gente foi juntando, e ali no ensaio a gente foi retrabalhando algumas destas coisas né? Ela pegou tópicos variados assim, a Tyranex nunca foi uma banda assim, pelo menos a Linnea, que escreve a maioria das letras, não é exatamente uma banda satanista, entendeu, mas é uma banda que explora a realidade difícil do mundo, como por exemplo a guerra.

Eu sei, conversando com gente que mora no Brasil, com minha família que ainda mora no Brasil, que já nem se fala, mas tanto (da guerra), aparece nas notícias, mas nem tanto. Aqui já é uma constante, sabe, a gente vê o dia a dia. Eu mesmo, com meu trabalho como professor de música conheci refugiados da Ucrânia, que vieram para cá. Então é uma realidade muito próxima daqui, por exemplo com essa música, “Do or Die”.

Os tópicos das letras neste álbum têm muito a ver com isso cara, a realidade difícil. O próximo single que vai sair, já posso adiantar aqui, bom, na verdade o álbum vai sair dia 22 de setembro né, e vai ser lançado um single que a gente vai promover também, junto com o álbum, esta trata um pouco também desta questão da evangelização de tribos, por exemplo, forçar um cristianismo em pessoas que não precisam necessariamente, e como isso acaba lavando o cérebro das pessoas. Isto acontece tanto no Brasil como acontece aqui também. 

Sonoridade Undergorund: O que você diria que é o diferencial entre o Tyranex e as outras bandas de thrash?

Will Tomao: Olha, primeiro que assim, aqui na Suécia, tem muita, muita banda boa; é um consenso. Mesmo assim, não tem tantas bandas especializadas no thrash metal, para falar a verdade. Se você for procurar assim, tem, mas são poucas, se for comparar com o death metal, e o death metal melódico, que é tipo a marca daqui, já o thrash metal nem tanto, então acho que isso já é um diferencial, uma banda de thrash metal daqui. Talvez seja mais tradicional nos Estados Unidos na Alemanha, até no Brasil. Não tanto na Suécia.

O segundo é o vocal feminino. A Linnea faz um vocal meio mesclado. Ela faz um vocal limpo, com uns agudos ali e em alguns momentos ela faz um gutural. Mas não é aquele gutural Cannibal Corpse, sabe, é um gutural mais, talvez mais como o death metal daqui da Suécia, que não é tão sujão.

E acho que o terceiro diferencial é o fato de que é um thrash muito misturado, com muita influência de speed metal e heavy metal, sabe? O pessoal da banda ama muito assim, Iron Maiden, Judas Priest, metal clássico, e também a primeira fase do Slayer, que é um speed metal meio heavy metal assim, sabe? 

Então acho que estes três fatores fazem o Tyranex ser diferente das outras bandas de thrash metal.

Sonoridade Undergorund: Qual foi o show mais marcante que você fez com o Tyranex?

Will Tomao: Pô, teve alguns bens legais. Mas assim, acho que o primeiro foi marcante por ser o primeiro. Estava todo mundo nervoso assim, foi num bar pequeno aqui de Gotemburgo, mas que é um bar de metal que muitas bandas tradicionais tocam, inclusive bandas brasileiras que fazem turnê aqui tocam lá. E tem um festival aqui, que é meio que um festival underground, que chama Muskelrock, que é tipo, como é que vou traduzir, “músculo do rock”, alguma coisa assim (risos). E é um festival que o povo vai mesmo, é as bandas que estão na onda no momento mesmo, sabe? Rola até uma certa pressão, tem que tocar bem, tem que fazer bem nesse festival.

A gente entregou neste festival, então acho que foi bem legal. Acho que estes dois eu diria que foram os pontos altos. O primeiro porque vai sempre ser marcante e este festival Muskelrock foi bem importante para a gente, assim, para acho que, solidificar esse lineup. Foi uma coisa que a gente ouviu bastante depois do festival, que este lineup realmente funciona.

Sonoridade Undergorund: Você tem alguma história marcante da produção do disco em si?

Will Tomao: Cara, história marcante, não sei (risos). Teve altos e baixos eu posso dizer. Acho que da minha parte foi muita pressão. Por quê? Pelo seguinte, a Linnea já tinha muitos dos riffs prontos há muitos anos. E é como eu falei, a Linnea assim, ela toca muito rápido. Pra explicar pra quem tá assistindo, não é como se ela fosse uma virtuosa assim, tipo John Petrucci, Dream Theater, sabe, solos magníficos. São os riffs mesmo. Ela tem uma pegada muito forte assim, tudo muito rápido e muito claro. Então assim, foi difícil pra mim se adaptar a isso. Mas a coisa é, ao vivo, meio que no caos ali do som, vai, especialmente nos primeiros shows, e eu fui entendendo como ela tocava.

Mas quando grava é muito nítido (risos). A gente fez uma pré-gravação que ficou muito claro que a maneira que eu tocava ainda era muito diferente. Então pra mim o que foi difícil foi que eu tive que realmente reaprender a minha palhetada na guitarra para ser mais próxima da dela, sendo bem técnico de guitarra, pra me adequar ao som dela, a maneira que ela toca.

Mesmo assim ela foi bem assim “ó, quando estiver tocando ao vivo toca como você toca sempre, porque funciona”. Mas pro disco, eu tive que realmente me remodelar, pra encaixar, e deu super certo. Foi até meio estressante pra mim, tive que sentar lá e tocar horas e horas e tocar devagar e sentar e detalhadamente ouvir e gravar, mas depois que o resultado final saiu eu fiquei super feliz, porque deu certo (risos).

Sonoridade Undergorund: Última pergunta aqui, podemos esperar shows do Tyranex aqui no Brasil, na América Latina?

Will Tomao: Pô, é um sonho meu viu? Se tiver algum produtor, alguém aí que está afim de levar a gente aí… a banda tem uma absurda vontade de tocar na América Latina, pelo seguinte, vou até explicar: como todo mundo aqui gosta muito de Iron Maiden, tem muitos fãs hardcore de Iron Maiden aqui, e é meio conhecido aqui que tem dois lugares pelo mundo que são o maior público do Iron Maiden, (rindo) a Escandinávia e o Brasil. 

Então eles têm muita, muita curiosidade de ver esta cena metal. E até porque assim, lógico, Sepultura é absurdamente conhecido aqui, até bandas tipo o próprio Nervosa, Crypta, Krisiun, Nervochaos, toca aqui direto. Então eles sabem que a cena do metal brasileiro é muito rica, e que os fãs são muito malucos aí. 

Inclusive com este álbum deu pra perceber que o público aumentou muito aí na América Latina. Eu como brasileiro também tenho um sonho de pô, ia ser muito legal ir com o Tyranex tocar aí no Brasil, em qualquer lugar do Brasil, em qualquer lugar da América Latina. Mas tudo isso depende de algum produtor daí, entrar em contato com a gente. Nós temos os produtores daqui, mas ninguém ainda na América Latina.

Sonoridade Undergorund: Bom, é isso aí então! Muito obrigado pela entrevista Will! Você que está assistindo/lendo aí, dia 22 de setembro, vai ouvir o disco do Tyranex em todos os streamings, vai comprar o CD, vinil, K7, que vale a pena ouvir.

Will Tomao: Obrigado pela oportunidade! Quem quiser, vai seguir a gente lá no Facebook, Instagram, e dá um toque lá falando que é do Brasil, que a gente vai curtir e responder em português! 

Confira o Tyranex pelo Spotify:

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