A casa La Iglesias Borratxeria foi palco para as bandas Bastardz, Corja! e Maddiba, convidadas desta edição
Fotos: Thais Araujo / Colaboração: Allan Fernandes
Nunca é tarde para falar do que é bom!
Aconteceu, no último dia 10, a terceira edição do Scena Fest na casa La Iglesias Borratxeria, localizada na região de Pinheiros, um dos bairros mais nobres de São Paulo.
As bandas convidadas para esta edição representaram a cena metaleira do nordeste brasileiro. A banda de metal Corja! veio para trazer a essência do estado do Ceará e dividiram palco com os maranhenses do Basttardz. Participaram, também, o grupo de hardcore/rap Maddiba, originária do ABC Paulista.
O evento ficou marcado pela invalidação de qualquer concepção (generalista) sobre a cena estar em declínio. E festivais assim, são o caminho para promover cada vez mais bandas do underground de todo o Brasil.
Maddiba
O grupo Maddiba abriu o show com músicas do seu primeiro e único álbum, intitulado Santo André, lançado em 2020. A banda conseguiu atrair vários de seus fãs, com o resultado de uma casa cheia logo no início do evento. Felizmente, esse acontecimento se estendeu até o final dos shows.
Com um mosh formado no meio da pista e que não tinha hora para acabar, os fãs agitaram com a banda e cantaram todas as letras juntos, representando a cidade de São Paulo e mostrando que, por aqui, também estamos seguindo firmes e fortes.
O vocalista e guitarrista Tchel Caron, entre as pausas das músicas, parou para conversar com o pessoal diversas vezes e explicar suas influências sonoras para que o público conseguisse compreender de onde surgiu o resultado da mistura inusitada entre hardcore e rap/hip-hop. Caron aproveitou, também, a oportunidade para prestigiar as demais bandas que iriam se apresentar, além de ressaltar a força da cena nordestina que seguiria no evento.
As bandas que tocaram no evento se distanciaram musicalmente por características específicas; A mistura do rap com o hardcore do Maddiba, instrumentalizado pelo baixista e DJ, Lucas Viana e Renan Pigmew, na bateria, construiu uma performance interessante.
Save Yourself e City of S.A, são exemplos de músicas que começam rimadas e terminam rápidas e avassaladoras. Com tempo sobrando, alguns fãs subiram aos palcos para cantar junto e integrantes do Basttardz aproveitarem para embarcar no mosh também.
Setlist:
Save Yourself
Trash
Let Me Thinking About it
City of S.A
Were Goin Down
Power
Visual Violence
Keep it
Against You All
Corja!
Diretamente do Ceará, a banda foi formada em 2017 e é considerada umas das grandes em ascensão do meio underground no estado. Transitando do Metal ao Hardcore, a marca registrada do grupo é caracterizada pelo gutural da vocalista Haru Cage, a qual recebeu bastantes elogios ao longo da apresentação devido a sua grande presença no palco. O instrumental ficou encarregado pelo David (guitarra), Silvio Romero (bateria), e Pedro Felipe (baixo).
As músicas da banda possuem proximidade com o metal extremo, com riffs bem afiados e a pegada hardcore fazendo presença pela rapidez dos vocais. O ponto alto da banda é fazer a mesclagem desses dois gêneros darem certo — o que é conseguido com maestria.
Tocando músicas de seu último álbum, intitulado Insulto e lançado em 2021, o grupo trouxe uma empolgação extra na galera. Fez parte do setlist, também, a faixa ‘Coquetel molotov’, sendo possível defini-lo como: “Quando rolou o quebra pau”. Literalmente, a banda quebrou tudo nessa hora.
O show finalizou com muitos aplausos e, certamente, o prestígio do público garantiu à banda muitos novos fãs.
Setlist:
Alter Ego
O Jogo
Muitos altos
Egoísmo
Insulto
Segunda Pele
Algozes
Coquetel Molotov
Donos das Nações
Do Lar ao Caos
Bastardz
Vindos de uma turnê estadual, o Bastardz passou por mais de 9 cidades de São Paulo a fim de promover a banda que tomou forma durante a pandemia. Como se isso não bastasse, os maranhenses carregaram a responsa de fechar o festival e ter o plus de ser o grupo mais aguardado da noite.
E com seu álbum Brazil com Z, lançado em 2020, a banda de Hardcore/Crossover originária do Maranhão trouxe consigo muito do que é presente na sua região, tanto em suas letras quanto em seu carisma no palco. Embora a banda seja um projeto recente, um dos integrantes já é bastante conhecido: André Nadler, ex-Jackdevil, agora assume os vocais do grupo e se torna o frontman da Basttardz.
O Basttardz nasceu da vontade de trazer uma nova pegada, mais energética, e com uma linguagem que representasse o que acreditam e pelo que gostariam de lutar. Através do Hardcore, encontraram o ritmo certo para expressar toda sua indignação.
Músicas como “Fogo na zona Sul” e a inédita “Cotidiano da Tirania” expressam um pouco sobre o que é a desigualdade social, além de trazer um ponto bastante difundido pela banda que é a questão da xenofobia e como isso impacta diretamente no preconceito e na sua desvalorização enquanto músicos nordestinos.
A banda carrega consigo letras politizadas que abordam anti-fascismo, sendo um discurso que também é falado nos palcos em resposta ao governo atual e à burguesia brasileira. Destaque para o baixista Adriano Ayan, que não poupou esforços em falar sobre a representatividade do Movimento Sem Terra (MST) e levantar a bandeira do “Fora Bolsonaro”, E a base da banda que é feita pelos excelentes músicos Francivaldo Virginio na guitarra/backing vocal e o
“Topeira” na bateria.
Ayan defende que fazer música sem consciência não faz diferença na sociedade; por isso, é importante estar presente e atuante no cenário político e usar o som como ferramenta capaz de produzir senso crítico nos ouvintes. Encerraram calorosamente com um clássico do Ratos de Porão e uma expectativa gigantesca para o novo álbum.
Setlist:
Intro (Traficando Informações)
Brasil com Z
Malditos Bastardos
Agrotrash
Auschwitz Tropical
Chupacabra
Corra Que a Polícia Vem Aí
Mantenha o Respeito (Planet Hemp)
O Despertar da Besta
Alfabetização
Cotidiano dos Tiranos
Fogo na Zona Sul
Aids, Pop, Repressão (Ratos de Porão)