São Paulo foi palco de diversas comemorações do aniversário de 30 anos de um dos últimos movimentos concretos da cultura brasileira, o manguebit, gerado nos rios, no calor e no caos do Recife, o movimento manguebit colocou a cultura popular pernambucana sob os holofotes babilônicos das grandes capitais do mundo e 30 anos depois ainda se faz presente e pauta discussões sobre quem somos como nação.
As discussões sobre o movimento mangue tiveram início em Junho com o festival de documentários “in-edit”, que exibiu na galeria olido o documentário “manguebit” do diretor Jura Capela, o documentário foi o vencedor da edição quatorze do festival, o registro definitivo sobre o que aconteceu em Pernambuco na segunda metade dos anos 90 estreou em grande estilo, com show da banda “Mundo Livre S-A” apresentando as músicas do seu último disco “Walking Dead Folia”
A Manguefonia
A “Manguefonia” é a junção do Siba da Fuloresta, Canibal do Devotos do ódio e Jorge Du Peixe da Nação Zumbi, tocando os clássicos do movimento mangue, uma atrás da outra, porrada atrás de porrada, eu sentia a percussão socando a minha cara e as cenas e paisagens do Recife entrando na minha cabeça.
Já na recepção do Sesc fomos agraciados por um menu em homenagem aos anfitriões da noite, na comedoria do Sesc o cardápio personalizado servia bolo de rolo, creme de tapioca e sanduíche de charque, uma viagem gastronômica pro Recife pra forrar o bucho com estilo e qualidade.
Siba, o abre alas
Confesso que de todos os artistas que fizeram parte do movimento mangue, o que mais me desperta interesse e curiosidade a cada nova música é o Siba, a maneira que ele desenvolveu a sua guitarra, com acordes pincelados quase como se pincela uma viola me fascina.
Foi ele quem abriu a noite, tocando sua nova música ” A turma tá subindo”, um texto afiado que anuncia uma reação popular contra as excrecências que tomaram conta do nosso cotidiano e da nossa política nos últimos 4 anos, a música é quase uma marcha de carnaval, Siba nos lembra que é possível lutar com um sorriso no rosto
Punk rock e Hard Core sabe onde é que faz? Lá no Alto zé do pinho, é do caralho!
Em seguida quem sobe no palco entoando esse hino clássico do punk nacional foi o Canibal do Devotos do Ódio, é a primeira vez que vejo o Canibal em SP, já havia o visto antes, no Recife e por lá o homem tem ares de preto velho, uma entidade, com os seus dreads que se arrastam quase ao chão, uma atitude que hipnotiza a quase 30 anos
Jorge Du Peixe e os clássicos do “Da lama ao caos”
Pra encerrar a noite, Jorge Du Peixe desfilou entre as músicas do último disco da Nação Zumbi “Foi de amor”, “Um sonho”, “Cicatriz” e o testemunho que faço é que Jorge garantiu um lindo legado pra Nação Zumbi, eu não conheço outro exemplo da música brasileira de uma banda que conseguiu superar um momento tão trágico como foi a morte do Chico Science no final dos anos 90 , a Nação Zumbi se supera a cada novo lançamento e tem uma coleção de sucessos pra tocar e acabar com a noite.
Fechando o show com “Da lama ao caos”, música do disco que deu o start pro movimento mangue nascer e que também completa 30 anos, confesso que senti falta de uma roda de pogo, mas todos estavam surdos e cegos, hipnotizados pelo palco, fica pra próxima.