Texto: Guilherme Góes / Fotos: André Santos
O que define exatamente a “música popular brasileira”? Seria um gênero musical específico, com uma sonoridade característica e singular, ou abrangeria qualquer música amplamente divulgada na mídia e popularmente reconhecida pelo grande público, independentemente do estilo? Sem dúvidas, essa é uma questão que levanta debates complexos…
No entanto, se considerarmos a “MPB” como a música que domina as paradas musicais e as playlists do “povão”, então é possível afirmar que o Festival Turá 2023 foi a máxima manifestação desse fenômeno em um evento de música ao vivo.
No último fim de semana de junho (25 e 26), o espetáculo realizado no Parque do Ibirapuera foi um encontro de renomados artistas de diversos estilos musicais. Desde o funk ostentação do MC Hariel até o ritmo calypso nortista da cantora Joelma, passando pelo nu metal presente no álbum “Admirável Chip Novo” da roqueira Pitty, que destacou um set especial em comemoração aos 20 anos de seu magnum opus. Foi uma verdadeira celebração da música, sem preconceitos, que reuniu públicos diversos em uma tarde agradável, em um dos mais belos pontos turísticos da cidade de São Paulo.
- Experiência geral e shows
O Festival Turá 2023 ofereceu não apenas shows incríveis, mas também uma variedade de atividades interativas nos estandes dos patrocinadores. Marcas como Corona e Mike’s realizaram sorteios de acessórios, como bonés e bolsas. O Banco do Brasil surpreendeu ao montar um enorme escorregador no meio do parque, proporcionando diversão para centenas de crianças e adolescentes. Já a Hering, especialista em vestuário e principal apresentadora da festa, criou um espaço “instagravel” com peças de roupa.
Além dos estandes, a área do Ibirapuera destinada ao festival foi decorada com redes de balanço, food trucks e uma área infantil. Uma adição interessante na “dinâmica” do evento foi a presença de DJs entre os sets de música ao vivo, mantendo o público animado a todo momento. No entanto, houve um pequeno contratempo com a sala de imprensa, que foi montada de forma improvisada e só disponibilizou Wi-Fi no segundo dia, dificultando a cobertura ao vivo do evento para alguns profissionais.
O pontapé inicial do festival foi dado pelo talentoso Lucas Mamede, natural de Pernambuco. Com uma fusão interessante de pop e acoustic music, o jovem conquistou uma enorme popularidade na plataforma de mídia social TikTok, acumulando atualmente mais de 1 milhão de seguidores. Em um set curto, ele apresentou alguns de seus singles mais conhecidos, incluindo “Conto de Fadas”, “Faz Tempo” e “Já Ouviu Falar De Amor?”. Antes de deixar o palco, Lucas mencionou que aquele era o seu primeiro festival e que seu aniversário seria no dia seguinte, com a sua participação no Turá sendo o “presente de aniversário perfeito”. Foi um show tranquilo que recebeu calorosamente os primeiros espectadores.
Em seguida, foi a vez de Maria Rita trazer o samba para o palco, apresentando um repertório especial com emocionantes releituras de clássicos de grandes artistas, como “Eu e Você Sempre” (Jorge Aragão) e “O Show Tem que Continuar” (Arlindo Cruz). O set também teve momentos de manifestação política, como quando a cantora interpretou “O Bêbado E A Equilibrista” (Elis Regina), acompanhada por fotos de Marielle Franco, vereadora carioca que foi brutalmente assassinada em 2018. Entre suas faixas autorais, “Cara Valente” foi o destaque absoluto, levando a plateia a dançar animadamente. Aqui, a letra original foi alterada por “Ele Não” – referência ao protesto virtual que dominou as redes sociais durante as eleições de 2018.
A apresentação do funkeiro MC Hariel no palco contou com uma decoração impecável e cheia de detalhes. O funkeiro trouxe totens, máquinas de fumaça e efeitos 3D para o telão de LED principal. Além das canções com letras sobre ostentação, como “X6” e “Vou Buscar”, ele também apresentou músicas com propostas alternativas dentro do próprio estilo do funk. Surpreendeu a plateia com passagens de instrumentos acústicos e letras românticas e de autoestima. Em vários momentos, MC Hariel prestou homenagens ao falecido MC Kevin, artista que faleceu tragicamente após cair de uma sacada, em 2021. Próximo ao encerramento, Hariel criticou a visão estereotipada que a mídia muitas vezes transmite do funk ao grande público, retratando-o como algo marginal. O jovem destacou que o funk funciona como uma verdadeira ONG nas comunidades periféricas, proporcionando oportunidades aos jovens carentes e ajudando a afastá-los da criminalidade. Sem dúvida, foi um dos shows mais interessantes de todo o Turá 2023. Além da excelente produção, MC Hariel demonstrou uma presença de palco impressionante, cativando o público presente.
Após o impactante visual do cenário de MC Hariel, Zeca Pagodinho ofereceu um show mais simples, com apenas montagem 3D representando uma favela no telão como decoração de palco. Acompanhado de sua talentosa banda, sua apresentação foi caracterizada pela predominância de instrumentos variados, como violão, pandeiro, metais e contrabaixo. Em vários momentos, o músico permitiu que os fãs cantassem suas músicas, entregando literalmente a voz para a plateia. Com sua camiseta aberta ao peito e saboreando cervejas, o pagodeiro proporcionou o show mais descontraído de todo o festival.
Encerrando com chave de ouro o primeiro dia do Turá 2023, nada menos que o mestre Jorge Ben Jor, uma das figuras mais emblemáticas da história da música brasileira. Sua apresentação foi grandiosa, com o palco montado de forma interessante, colocando todos os músicos ao centro e dando destaque igualitário à estrela principal da noite. A decoração foi menos focada em efeitos na tela de LED, mas compensou com um jogo preciso de luzes e movimentos dos canhões. No setlist, uma verdadeira avalanche de sucessos atemporais. Vale destacar os momentos em que clássicos como “Salve Simpatia”, “País Tropical” e “Taj Mahal” foram entoados, envolvendo o público em uma atmosfera única.
Quer saber como foi o segundo dia? Em breve, resenha e fotos aqui no site!