Às vésperas do Bangers Open Air, onde será uma das headliners da primeira noite, no dia 02 de Maio, a lendária vocalista Doro Pesch concedeu entrevista exclusiva para o Sonoridade Underground, onde falou sobre o show, as participações especiais por toda sua carreira, contou causos com o também lendário vocalista Lemmy Kilmister, e deixou no ar a possibilidade concreta de shows comemorativos do Warlock com os antigos membros da banda que a revelou, mas que há algumas dificuldades para isso acontecer.
Fernando Queiroz: Olá, Doro! Seja bem vinda, como você está?
Doro Pesch: Olá, Fernando! Estou ótima, é um prazer estar aqui com você. Eu acabei de voltar da Espanha, de um festival, que toquei junto com o Manowar, uns dias antes foi com o Saxon, e agora estou já pronta para tocar no nosso primeiro Open Air esse ano aí no Brasil. Me sinto sempre em casa aí! Adoro o Brasil, amo tocar aí! Tenho um guitarrista brasileiro, inclusive, então mal podemos esperar para estar aí, tocar para os fãs, com muita energia, muita animação.
Fernando: Doro, a primeira vez que a vi ao vivo foi em 2006, no festival live n louder. agora, novamente você vem para um grande festival no Brasil. Como você vê a diferença da Doro que vi naquele momento para a Doro que veremos agora no mês que vem?
Doro: Nossa, se eu me lembro bem, foi um festival incrível aquele! Foi em São Paulo mesmo, não foi?
Fernando: Isso mesmo!
Doro: Eu adorei tocar lá, foi incrível! E eu acho que nada mudou, eu continuo a mesma, com a mesma energia de antes. Vamos tocar músicas ótimas, grandes clássicos. Sem fillers, apenas killers, e acho que realmente nada mudou! Aliás, acho que hoje temos ainda mais energia, mas ainda me sinto a mesma, o mesmo amor pelos fãs, e os fãs brasileiros são incríveis. Sempre me sinto em casa quando estou aí, e aprecio muito a atitude passional que vocês têm, sempre com sangue quente, sempre animados do começo ao fim. E vai ser exatamente daquele jeito, e garanto que até melhor.
Fernando: Hoje, o metal é cheio de mulheres excelentes como vocalistas, nos mais diversos estilos. todas, sem dúvidas, têm você, a metal queen, como inspiração. você sente uma pressão, ou um fardo, com esse título que lhe deram, e em ser essa referência para tantas garotas que querem ser membros de bandas, ou é algo que te faz querer ser ainda melhor e inspirar ainda mais?
Doro: Ah, é sempre muito bom quando alguém fala que eu a inspirei, ou que eu inspirei a começar a cantar ou tocar algum instrumento, ter a primeira banda. Isso sempre me faz tão bem, pois é para isso que eu vivo, eu quero empoderar as pessoas, dar uma boa energia, boa inspiração, e quando alguém fala isso sobre mim, me faz sentir tão, tão bem. Sempre dou o meu melhor, não importa a ocasião, mas claro, vai muito de gosto; algumas pessoas vão gostar disso, outras daquilo, e eu apenas faço o que sinto que posso fazer de melhor, e o que eu amo e os fãs amam. E eu amo fazer isso, não é algo que planejo ou planejei, apenas faço o que amo cento e dez por cento todos os dias, toda turnê, todo festival, e eu sempre trato cada show como se fosse o primeiro ou último. Meu tour manager sempre diz que preciso maneirar um pouco, pois no dia seguinte tem outro show, mas eu não consigo, eu nunca vou maneirar, eu sempre vou com tudo para o palco, mesmo se eu estiver sangrando ou suando, está tudo bem, desde que eu consiga atingir as pessoas com minha música, para que elas se sintam bem, se sintam com energia, que elas possam levar algo para casa de lá. E definitivamente não é um fardo quando alguém diz que eu a inspirei, isso sempre me deixa muito feliz, me faz querer fazer isso por mais vinte, quarenta anos (risos).
Fernando: Podemos então esperar um setlist cheio de clássicos do Warlock e Doro?
Doro: Sim! Com certeza, teremos desde os mais old school do Burning The Witches, I Rule The Ruins, até algo mais recente, do Raise Your Fists, Conqueress. Sem dúvidas vou tocar “Time For Justice”, “Fire In The Sky” do último álbum, músicas que eu adoro e me deixam muito orgulhosa. Não sei exatamente quanto tempo de shows teremos, se serão dez, onze, doze músicas, então eu vou misturar bem. E claro, vou mudando o setlist quando sinto que as pessoas querem ouvir mais “hinos”, ou músicas mais antigas, sempre toco de acordo com a vibe do público.
Fernando: Doro, você gravou com dois dos meus vocalistas preferidos, que são Blaze Bayley e Udo Dirkschneider. Mas você também gravou com muitos outros cantores incríveis! Você tem algum preferido com quem você tenha gravado durante esses anos todos?
Doro: Todas as vezes que gravei com alguém foi super, super incrível e especial! Cada um foi diferente, e quase sempre nos tornamos grandes amigos, o que é a melhor parte disso. A primeira colaboração que fiz foi com o Lemmy (Kilmister) lá em 2000, e tivemos um momento muito legal naquela época. O Lemmy até sugeriu fazermos duas músicas! Então fizemos duas músicas no Call Of The Wild, a primeira foi “Love Me Forever”, e a outra foi “Alone Again”. Foi muito legal, ficamos três semanas dia e noite juntos no estúdio, e o Lemmy nunca queria ir dormir. Era tipo três ou quatro da manhã, e eu queria levar o Lemmy de volta para casa, já que eu estava com meu carro lá, e aí ele falava “não, não quero ir para casa, só dirija”. Eu perguntava para onde eu deveria dirigir, e ele dizia que era só ir indo. Aí ficávamos dirigindo a noite toda, e voltávamos para o estúdio! Ele nunca queria dormir, foi acho que o período mais intenso possível (risos). Mas todos os cantores com quem gravei foram incríveis. Udo, Blaze, Peter Steele, todos especiais! Amo cada um dos duetos que fiz. Inclusive planejo fazer ainda mais duetos. Estamos trabalhando agora no Conqueress Forever ao vivo, que vai sair em CD e DVD, que teve gravação no Wacken Open Air, em 2023, e meu show de aniversário em Dusseldorf, e muitas pessoas incríveis vieram cantar comigo. Estavam a Alissa White Gluz e a Angela Gossow do Arch Enemy, Mikkey Dee e Phil Campbell. Também teve o Mille (Petrozza) do Kreator, Hansi Kürsch do Blind Guardian. Você pode esperar esse álbum ao vivo para Janeiro de 2026. Vai ser um grande documento de um momento incrível! Mas eu não saberia dizer qual meu preferido de todos. Lemmy foi o primeiro, e ele era meu melhor amigo! E é por isso que eu quero fazer algo em homenagem ao Lemmy, já que seria o aniversário de oitenta anos dele esse ano. Vai ser um disco de imagens, e muita música, um tributo ao Lemmy. Vamos colocar todos os duetos que fiz com ele no álbum, e eu tenho algumas versões gravadas de “Ace Of Spades”, e outros covers que fiz de músicas do Motorhead com algumas outras bandas, e também uma música que fiz em homenagem a ele, “Living Life to the Fullest”, que está no álbum Forever Warriors, Forever United, que também tem o cover de “Lost In The Ozone”, que eu adoro. Muitas músicas do Motorhead e que eu fiz com o Lemmy estarão no álbum, que vai sair no fim deste ano. De qualquer forma, todos foram excelentes, adoro todos com quem fiz duetos, todos trazem algo de novo, e a melhor parte é que ficam amizades para sempre! E não posso me esquecer do dueto que fiz no meu último álbum com o Rob Halford, em “Living After Midnight” e “Total Eclipse Of The Heart”, que ficaram incríveis.
Fernando: Espero que não seja problema perguntar sobre isso, mas já que você conseguiu de volta os direitos sobre o nome Warlock, você tem planos de fazer uma turnê celebrativa, ou um show assim com os caras da época, ou algo do tipo?
Doro: Sim, claro! Estamos pensando sobre isso! Mas tem uma pessoa com quem eu simplesmente não consigo contato nenhum, ninguém sabe onde ele está. Ele desistiu da música há muito tempo, acho que há uns trinta anos. Foi nosso primeiro baixista. Ninguém encontra ele! É complicado, pois algumas pessoas vão fazer outras coisas, conseguem outros trabalhos. Eu fiz algumas coisas com o Tommy Bolan, a gente fez o Triumph And Agony Live e estamos sempre em contato. E adoramos fazer coisas juntos, fizemos turnês juntos. Mas não sei exatamente quando. Esse ano já estamos com agenda fechada, com shows e festivais, então provavelmente no próximo ano. Vai ser o aniversário de quarenta anos do Truth Or Steel, então provavelmente vamos fazer um show de comemoração, mas não tem nada realmente confirmado, mas está rolando, é uma ideia excelente. Mas como eu disse, alguns dos caras eu não consegui mais contato. Sabe, começamos crianças ainda, e o mercado musical nem sempre é ótimo, festa o tempo todo, tem coisas pesadas lá, e algumas pessoas ficam fartas daquilo, e eu entendo perfeitamente isso. Para mim nunca houve essa dúvida, pois amo os fãs, amo tudo isso. As dificuldades que passei nunca importaram, pois tudo que fiz foi pelos fãs, e eles sempre me acompanharam nos tempos bons e também nos ruins. Quero fazer isso pelo resto da minha vida, pois eu amo muito meus fãs.
Fernando: Muito obrigado por seu tempo e sua entrevista, Doro! Foi um prazer imenso!
Doro: O prazer foi todo meu, Fernando! Sei que vou ver você logo mais!