Um show impecável para agradar atenienses e espartanos –intelectualidade e agressividade em plena harmonia.

Gregos expoentes do Death Metal Sinfônico fazem apresentação avassaladora para público modesto, porém engajado em São Paulo após 6 anos.

Texto: Fernando Queiroz / Fotos: Gustavo Diakov

Se na antiguidade a Grécia era dividida entre a intelectualidade de Atenas e a agressividade de Esparta, o Septicflesh apareceu para provar que ambas as particularidades podem ser executadas em plena harmonia
musical. Com uma carreira que data do começo dos anos 90 até hoje, e com a discografia regular, sempre lançando álbuns no mínimo bons, ao vivo o quarteto mostra que são tão grandiosos quanto, agora em turnê divulgando o excelente Modern Primitive.

Público modesto em uma quinta-feira, e bandas de abertura irregulares Shows às quintas-feiras sempre causam certa frustração no público-alvo. Trabalhadores e estudantes acabam sendo prejudicados, pois precisam trabalhar, em geral, no dia seguinte, o que impossibilitaria pessoas que viriam de outras cidades para assistir, também muita gente de São Paulo mesmo – eu mesmo conheço algumas pessoas que não puderam ir por isso. Por conta disso, o local em frente à casa de shows estava esvaziado mesmo faltando alguns poucos minutos para abrirem as portas. Do lado de dentro, já quase batendo 20h, horário marcado para o início da primeira banda de abertura, a casa ainda estava bem vazia, afinal muita
gente saíra do trabalho e chegaria somente próximo das 22h, horário marcado da apresentação principal.

Banda iniciante começa a noite com apresentação competente, porém cheia de problemas

Próximo das 20h, senão em ponto, a primeira banda entrou no palco. Com espaço limitado de palco, os brasileiros do Adverse abriram seu show com duas músicas próprias, que mostravam um death metal pesado e bem trabalhado em seu primeiro show da carreira – um desafio e tanto, abrir para um grande nome assim de cara –, com a excelente baterista Juliana Novo brincando com o tempo quebrado em certas partes, e a vocalista Jaqueline Albino mostrando potência e agressividade na voz. Apesar de claramente competentes, a apresentação teve sérios problemas, não só de espaço, impedindo a banda de se movimentar no palco, mas também de som. A voz de Jaqueline ora estava muito baixa, ora estourando, baixo quase inaudível e guitarra embolada, com os bumbos da bateria extremamente altos. Durante a curta apresentação ainda tocaram uma música da antiga banda de Juliana, o Crucifixion BR, e um cover de Arise do Sepultura. A banda terminou sua apresentação mostrando que podem se tornar um nome forte no cenário nacional, e que são todos músicos muito competentes, porém difícil ter ideia do como se sairão daqui para frente apenas por essa apresentação, que enfrentou problemas típicos de bandas de abertura, com público ainda muito abaixo do total que o evento teria.

Banda argentina é o ponto baixo da noite, com apresentação no mínimo constrangedora


Se apesar dos problemas o Adverse mostrou-se uma banda com proposta musical sólida, o mesmo não pode ser dito dos argentinos do In Element. Divulgados como uma banda de Melodic Death Metal, o que se ouviu do som não passou nem perto disso. Com um som próximo do Industrial, elementos de Nu Metal e partes pop eletrônico, e um vocal pseudo- gutural, o que se ouviu foi algo desconexo, sem propósito claro, que destoava completamente de um show de death metal, e isso nem foi o pior da apresentação – os integrantes usavam máscaras e roupas estranhas que tentavam ser algo na linha Slipknot, mas com baixo
orçamento. O vocalista usando uma máscara de ski, daquelas que vemos terroristas usando em filmes, e o baixista – esse o mais absurdo – com uma máscara de gás e um acessório corporal que o deixava parecendo um submisso de BDSM. Os discursos entre músicas do vocalista, em um inglês quase ininteligível deixavam todos presentes sem saber do que se tratava aquilo.

A apresentação durou cerca de uma hora, para desespero do público, que chegou a dar risada em determinados momentos. Além disso, os problemas de som continuavam, além da clara pasteurização da bateria que chegava a parecer eletrônica. Para “coroar”, ainda houve um cover quase irreconhecível de In The Air Tonight de Phil Collins, que em nada lembrava a magia desse grande hino do pop-rock mundial.

A atração principal entrega tudo e mais um pouco, com direito a surpresa no setlist

Ao final da apresentação dos argentinos, a casa já estava com o público total que teria na apresentação da atração principal, que chegava à metade, mais ou menos, da capacidade da pista do Fabrique Club. Via-se já no palco a grande movimentação dos roadies ligando os equipamentos, e o cenário do palco já era colocado, com duas placas em cada lado do palco com a temática do álbum mais recente, Modern Primitive. Quase que pontualmente, às 22h, horário marcado para a apresentação, as luzes se apagam, o som de fundo termina, e a introdução do show começa.

Não demora para o público ir à loucura, quando o baterista Krimh Lechner subiu à bateria. Embora modesto em quantidade, a vibração do público pulsava energia. Seth, Christos e Psychon enfim subiram ao palco, e já nos primeiros acordes da pesadíssima Portrait Of A Headless man percebia-se a magnitude do som de uma banda que há mais de trinta anos faz álbuns consistentemente bons, senão excelentes. A banda, conhecida por sua temática histórica e mitológica egípcia em primeiro plano, toca em seguida Pyramid God, e já na segunda música podia perceber-se uma maestria na condução do público, e exalava presença de palco mesmo também tocando contrabaixo, demonstrando afeto para com os fãs que se podemos apontar algum mínimo ‘defeito’, é o fato de com alguma frequência esquecer partes das letras.

As atenções também se voltavam ao guitarrista Christos e seus longos dreads – que em certo momento do show até chegaram a enroscar em um fio fora de lugar no palco –, maestro e idealizador de toda a parte orquestral da banda, que é o grande diferencial em relação a quase qualquer banda no mundo. O público que já pulsava de energia não demorou a abrir mosh pits música após música no meio da casa, mostrando que a quantidade de pessoas não se traduz em qualidade, já que aquilo valia por mais que o dobro de energia de um estádio inteiro em shows mais “leves”. Isso também se mostrou verdade nos momentos de vocal limpo em algumas músicas, com o público cantando as partes, já que o integrante que grava estas, Sotiris Vayenas, não está excursionando com a banda. Sons históricos da banda um atrás do outro mostraram que a escolha do set list não podia ter sido melhor: The Vampire From Nazareth, Martyr, Prometheus e Communion não deixavam o público nem respirar em meio a músicas do último álbum, que também caíram imediatamente na graça dos fãs. Realmente, a banda Cumprius tudo que Prometheus, com o perdão do trocadilho. Antes do bis, a surpresa da noite, o hit Persepolis, que não vinha sendo tocado em nenhum show recente da banda.

Ótimo para nós brasileiros, que pudemos ver isso! No bis, não podia faltar o grande clássico da banda, Anubis, música mais conhecida deles, e por fim, Dark Art. Terminava ali um dos shows mais impressionantes do ano, de uma banda que merece muito mais público que teve, e um show em um dia melhor, para que todos pudessem ver esse espetáculo único. Mas quem ficou mais tempo na casa após o show também teve o que comemorar. A banda atendeu, em alguns minutos após o fim todos, fã por fã, tirando fotos e dando autógrafos, e com muita simpatia, sorrisos e educação exemplar. A bandeira do Brasil com o símbolo da banda no palco, dada por fãs aos músicos, e possivelmente o momento mais fotografado do evento, mostra que a banda deve voltar, o quanto antes, para nos agraciar com mais
espetáculos do mesmo naipe.

SepticFlesh – Fabrique Club – 26/10/2023

  1. Portrait of a Headless Man
  2. Pyramid God
  3. Neuromancer
  4. The Vampire from Nazareth
  5. Hierophant
  6. Martyr
  7. Prometheus
  8. A Desert Throne
  9. Communion
  10. The Collector
  11. Persepolis
  12. Anubis
  13. Dark Art
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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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