Banda superou as adversidades e entregou um show de respeito, com casa cheia, se redimindo pela apresentação criticada em 2023
Texto por Fernando Queiroz (@fer_nando_nw) e Fotos por Leca Suzuki (@lecasuzukiphoto)
Com casa cheia e expectativas altas, mas pé atrás, Katatonia se redime de show considerado decepcionante em 2023, entregando uma performance sólida, set-list conciso e qualidade sonora cristalina. A falta de um guitarrista no palco pode ter deixado o som menos cheio, mas a banda soube contornar a situação, mostrando a qualidade de seus músicos.
FILAS ENORMES, MOVIMENTO INTENSO NA REGIÃO, E EXPECTATIVAS POR PARTE DE TODOS:
Uma das coisas legais de chegar um pouco antes das portas abrirem é ver o comportamento do público sobre a ocasião – a conversa das pessoas sempre dá uma ideia do que esperar do clima do show.
Em um feriado nacional, era nítido que muitas pessoas chegaram cedo pelos arredores do Carioca Club. E, claro, o papo era, em geral, sobre o show e também sobre a semana lotada de shows que tivemos. Cerca das 18h, já havia filas. Muita fila! Era um claro sinal que a noite seria cheia, quase lotada. E foi! Mesmo se tratando do mesmo dia do show do Linkin Park, era nítido que o público ali tinha pouco ou nenhum interesse na banda americana.
As conversas iam do show do momento ali, a quais cada um tinha ido durante a semana – a maioria que tinha ido a algum, aparentemente, tinha ido ao show do Hypocrisy na terça-feira. Havia uma clara apreensão no local. Muitas pessoas que foram ao show anterior do Katatonia, em 2023, falavam quase que unanimemente sobre como o show foi ruim, por diversos motivos e razões.
Previstos para abrir às 19h, as portas da casa foram abertas pontualmente. Com duas horas de intervalo entre a abertura das portas e o show, pouco demorou para o lugar encher. Próximo das 20h, ainda havia gente na rua terminando suas bebidas, mas a casa já passava muito da metade da lotação, impossível de chegar na frente. Faltando alguns minutos para começar a apresentação, já era difícil andar dentro da casa, à exceção da parte de trás. Não, o show não deu sold-out, porém ficou muito perto, e o show foi, para todos os efeitos, um grande sucesso de público.
SHOW PONTUAL, COMPETENTE, E BANDA AFIADA, QUERENDO DE FATO ENTREGAR O MELHOR, MESMO DESFALCADA:
Sem atrasos, sem tumultos e com som impecável desde o começo, o Katatonia entrou no palco ao som de “Austerity”, faixa de abertura do último álbum, Sky Void Stars (2023), já emendada em “Colossal Shade”, sequência do mesmo álbum na mesma ordem. Após o típico “boa noite, São Paulo” do vocalista Jonas Renkse, voltamos a 2012, com “Lethean”.
Com seu semblante sombrio e cabelos jogados na cara, em uma iluminação escura, dando o clima soturno, Renkse, diferente de sua aparência, transbordava simpatia. Conversava com o público, agradecia, anunciava as faixas seguintes e muitas vezes jogava para a galera cantar.
O show seguiu sem surpresas, mas sem problemas, com “Deliberation”, “Forsaker”, “Opaline” e “For My Demons”. O vocalista então se desculpou por estarem com um guitarrista a menos no palco, pois o convidado da turnê, Sebastian Svalland, não pôde estar presente, sem especificar o motivo. Isso não afetou a performance da banda, que conseguiu levar muito bem a coisa só com uma guitarra.
Cada vez mais, a melancolia ia tomando conta do ambiente, exatamente o que as pessoas queriam. O público cantava em coro, acompanhando todas as músicas. Seguimos com “Leaders”, “Onward Into Battle”, a aclamada “Soil’s Song”, “Birds” e o clássico “Old Heart Falls”.
Após “Criminals”, porém, tivemos o momento que o público veio abaixo, com “My Twin” e, finalmente, “Atrium”. A banda saiu do palco e, claro, os gritos de “Katatonia” pelo público ressoavam no lugar, trazendo-os de volta para o bis. Finalizaram, para o contentamento de todos, com “July” e “Evidence”. Missão cumprida! Para a banda, e para os fãs.
REDIMIDOS, MESMO SEM SHOW MEMORÁVEL:
Shows memoráveis são exceção, não a regra. Bons shows, sim, têm sido a regra, e é onde este se encontra. Diferente do show de 2023, onde todos, quase unanimemente criticaram, o Katatonia entregou, em 2024, um show de respeito, com ótima performance, conseguindo superar as adversidades da falta de um guitarrista e a desconfiança prévia.
Com ótimo som, uma iluminação que, apesar das críticas, é uma parte deliberada do show e, dentro desta proposta, cumpriu bem seu papel, e performances individuais e coletivas concisas, a banda entregou o que os fãs queriam – e precisavam – para lavar a alma. Um show que possivelmente não iria angariar novos fãs, mas que deu uma experiência ao vivo digna e competente de seu espetáculo soturno e melancólico de uma hora e meia e dezessete músicas.
SET-LIST:
Austerity
Colossal Shade
Lethean
Deliberation
Forsaker
Opaline
For My Demons
Leaders
Onward Into Battle
Soil’s Song
Birds
Old Heart Falls
Criminals
My Twin
Atrium
Bis:
July
Evidence
KATATONIA:
Jonas Renkse – Vocais
Anders Nyström – Guitarra
Niklas Sandin – Baixo
Daniel Moilanen – Bateria
O guitarrista fez falta sim, nao tocaram Teargas e saí de lá sem acreditar no que tinha acontecido, 2023 parte II na minha opinião.