Em sua primeira passagem pelo Brasil, Joyce Manor realiza show energético em São Paulo, marcado pela conexão incrível com o público.
Texto por Mel (@kindafeelike) e Fotos por Pedro Henrique (@ph.fotos)
Engana-se quem pensa que não choveu em São Paulo no último domingo (17/11). Lá no Fabrique Club, na Barra Funda, tivemos uma verdadeira tempestade de energia com o terceiro e último show da primeira passagem dos americanos Joyce Manor pelo Brasil.
O show de Joyce Manor, com a participação de Gouge Away e a abertura das bandas nacionais Gagged e EATNMPTD, trouxe uma noite de músicas frenéticas, guitarras saturadas e uma interação com o público que transformou o evento em um caos delicioso.
O que poderia ser apenas mais uma passagem de turnê de uma banda internacional nessa maré de shows no mês de novembro, se tornou um acontecimento único, repleto de momentos espontâneos, gargalhadas e uma vibração inusitada que parecia ter saído de um karaokê – só que com muitos stage dives e até algumas tentativas de mosh.
Energia pra começar a noite com Gagged e EATNMPTD
Preguicinha de domingo? No Fabrique, não! A noite começou com o pé direito com Gagged, quarteto local de som pesado que conseguiu engajar a galera, apesar do público ainda ser escasso. Não foi um show de grandes destaques, mas a agressividade do som e a energia no palco já mostraram a que vieram.

Logo depois, EATNMPTD, trazendo um instrumental com proposta shoegaze e ao mesmo tempo brutal, assumiu o palco. A sonoridade etérea e caótica deles foi como uma onda sonora que se fundia com a atmosfera do lugar (quem conhece o Fabrique sabe do que estou falando), demonstrando dedicação palpável e a entrega no palco, imersiva.

Gouge Away e os vocais dilacerantes de Christina Michelle
Quando a banda Gouge Away subiu ao palco, a energia já estava à flor da pele. Com uma sonoridade que transita por vários espectros do hardcore e punk, a banda da Flórida trouxe um som visceral, com a vocalista Christina Michelle entregando gritos brutais e um carisma que contagiou o público de imediato.

[O som pesado da banda e o seu carisma natural fizeram com que o Fabrique Club já começasse a ferver. Ao longo da apresentação, a vocalista não apenas interagiu com os fãs, mas também os colocou para cantar junto, criando uma sinergia que só um bom show de hardcore conseguem alcançar.
Um fator que merece destaque é a playlist escolhida para o aquecimento antes de cada show, levando o pessoal – inclusive a banda, que se ocupava de preparar os instrumentos para a apresentação – a entoar cada palavra dessas canções. A energia de “festa entre amigos” não parou e o show foi puro combustível para o que viria a seguir.
Joyce Manor e a festa que não queríamos que acabasse
Quando Joyce Manor subiu ao palco, não houve espaço para cerimônias. Com Heart Tattoo e os dois pés no peito, os caras estavam visivelmente se divertindo, rindo das reações do público e interagindo com uma galera já completamente entregue ao momento.
A relação entre a banda e os fãs parecia quase familiar, fazendo com que, logo de cara, na primeira música, algumas pessoas subissem no palco para cantar junto, pular e dar risada. E isso não parou. O que se seguiu foi um um ciclo interminável de gente invadindo o palco, com a banda adorando a bagunça.

Na primeira metade do show, o que se viu foi um retrato da história de Joyce Manor, com canções de álbuns como Never Hungover Again (que comemora seus 10 anos nesta turnê) e 40 oz. To Fresno. A banda estava afinada, mas o verdadeiro charme de sua performance estava na leveza com que lidavam com o caos.
O público estava tão integrado ao show que parecia mais uma grande festa do que um evento formal de uma turnê internacional. Não demorou muito para o palco ser invadido novamente, com a galera cantando I Saw Water, que teve a curiosidade de ser acompanhada apenas pelas guitarras, enquanto os fãs no palco “assumiam” os vocais. A emoção era tanta que a galera nem conseguia cantar e, mais uma vez, Joyce Manor se divertia com a situação, reforçando a ideia de que a apresentação era uma celebração compartilhada.

A bagunça que dividiu opiniões
É claro que nem todo mundo estava confortável com o nível de bagunça que tomou conta do show. Para quem esperava uma performance mais contida, ver a galera subindo no palco e se jogando na pista de dança podia parecer um pouco desorganizado, especialmente para quem não estava na vibe de se misturar tanto com os outros ou não está familiarizado com o rolê do hardcore.

Mas, no fim, foi impossível não se deixar levar pela energia que pairava no ar. Afinal, é assim que Joyce Manor sempre foi: uma banda que tende ao pop punk e que flertou com o indie e o emo, mas nunca perdeu a alma do caos juvenil.
A escolha da setlist
A setlist foi um desfile de hits que percorreu toda a carreira da banda. Desde as faixas mais emblemáticas como Constant Headache e Catalina Fight Song até covers que mostraram o bom humor da banda para com a situação caótica, como o de I Saw Water do Tigers Jaw, que teve a galera cantando e se divertindo no palco. O pedido especial de um fã para Stairs foi atendido, e o público não perdeu tempo para cantar junto.
A sequência final, com Last You Heard of Me, Christmas Card e Leather Jacket, foi o grande fechamento, com todos completamente entregues à diversão e à energia do momento. A reação ao último bis com Five Beer Plan foi uma explosão, comprovando que Joyce Manor sabe como conectar seu público de uma maneira única e imprevisível, se despedindo em grande estilo.

Balanço final da noite
Pode até parecer clichê, mas é impossível de evitar dizer que o show de Joyce Manor em São Paulo não foi apenas uma apresentação, mas sim uma experiência. Para quem estava ali, era impossível não sentir que fazia parte de algo maior. Talvez, no final das contas, esse seja o maior mérito de Joyce Manor: transformar cada show em uma celebração única de amizade, caos e música.
Confira a setlist completa:
- Heart Tattoo
- Derailed
- Beach Community
- Gotta Let It Go
- Falling in Love Again
- Victoria
- End of the Summer
- Don’t Try
- 21st Dead Rats
- House Warning Party
- Ashtray Petting Zoo
- I Saw Water – cover de Tigers Jaw
- Stairs
- Fake I.D.
- The Jerk
- Violent Inside
- Midnight Service at the Mutter Museum
- (The Murder City Devils cover)
- In The Army Now
- Schley
- NBTSA
- Constant Headache
- Catalina Fight Song
- Encore:
- Last You Heard of Me
- Christmas Card
- Leather Jacket
- Five Beer Plan