METAL MUSIC FEST: CELEBRAÇÃO DO METAL AGITA O ABC PAULISTA

Texto por Mateus Marcatto (@marcatto_7)

Fotos: Lucas Paulo (@lucas.paulo.foto)

A Loja Metal Music comemorou seus 40 anos de história promovendo um festival que contou com lendárias bandas do metal brasileiro, como: Korzus, Torture Squad, Anthares, Necromancia e Montanha

Fundada em setembro de 1984 por Jean Gantinis e Carlos Szabo em Santo André, a Loja Metal Music ganhou notoriedade por ser um dos estabelecimentos mais antigos do Brasil, totalmente voltado para a cultura rock, e com uma extensa variedade de produtos que vão de discos e roupas a até mesmo instrumentos musicais. Além de ser uma realizadora de muitos shows e eventos da cidade, como o Dia Municipal do Rock de Santo André, organizado em parceria com o Coletivo Rock ABC.

O festival aconteceu no Santo Rock Bar, na região central de Santo André, e além dos shows das bandas, o evento contou com a presença da Sweet Amora Café e Confeitaria e do Ganesha Tattoo Studio, garantindo que o público presente pudesse desfrutar de deliciosos doces, cafés, e de quebra, sair com um piercing ou uma tattoo nova! Às 17h, a casa já estava aberta e recebendo o público que aos poucos chegava para prestigiar a banda que abriu o evento.

A MONTANHA MAIS ALTA DO ABC PAULISTA

Na ativa desde 1987, o Montanha é mais uma criação de Jean Gantinis (guitarra), que conta com seu filho Jimi Gantinis (vocal e baixo), Vini Castelli (guitarra) e Bruno Turbilhão (bateria). Na bagagem a banda tem o EP“Underground” (1992), e os álbuns “Montanha” (2004), “Luz Solar Decifra” (2010)e“Além Do Tempo” (2023).

Às 17:24 a banda já estava ao palco, Jimi deu as boas-vindas, agradecendo todos que ali estavam, ansiosos, num clima de festa. Um riff de guitarra começou o show, com a faixa-título de“Além Do Tempo”, uma viagem nostálgica aos sons da década de 70. Seguindo a ordem do álbum, as músicas “Observadores” e“Ecos Da Desolação” que são pesadas e não deixaram o ritmo cair. “Novo Voo” destaca toda a influência de Black Sabbath sem soar clichê, dando destaque as melodias de voz de Jimi que são reforçadas pelos backings vocals de Vini e Bruno, e todo o groove da música que depois vai sutilmente à uma bossa nova, e retorna a batida firme de heavy metal. Antes de anunciar a próxima música, Jimi agradeceu mais uma vez ao público presente e à sua irmã, Lian Gantinis, gerente da Metal Music e uma das organizadoras do evento. Em seguida tivemos as músicas “Macondo” e “Peregrino” que são odes ao stoner rock, sempre presentes nos shows da banda, seguindo enfim com a última música, “Underground”, a primeira música do Montanha, que faz com que um pequeno grupo de jovens comecem a fazer um mosh na frente do palco, aos sons dos solos cheios de emoção de Vini e Jean, e as viradas de Bruno Turbilhão – fazendo jus ao nome – terminando num final explosivo, de uma abertura bem acalourada e recendo todos ali com grande ânimo.

SETLIST:

Além Do Tempo

Ecos Da Desolação

Observadores

Novo Voo

Macondo

Peregrino

Underground

NECROMANCIA E TODA SUA FÚRIA THRASH METAL

Desde 1984, o Necromancia é reconhecido como uma das primeiras bandas de thrash metal do Brasil, formada pelos irmãos Marcelo “Índio” d’Castro (guitarra e voz) e Kiko d’Castro (bateria), juntamente com Roberto Fornero (baixo), o trio de São Bernardo do Campo é respeitado por quatro décadas ininterruptas de agressividade sonora, que são demonstradas nos álbuns “Necromancia” (1996), “Check Mate” (2001) e “Back From The Dead” (2012).

Ás 18:20, o local já estava bem movimentado à medida que chegava mais gente, quando o trio faz a clássica batida de acordes de introdução e Marcelo “Índio” chama o pessoal – “ae Santo André, é uma grande satisfação participar desse lindo evento, 40 anos da Metal!” Numa rápida palhetada eles começam o show com a agressiva “Deathlust”, a primeira música da demo tape “Suicidal Madness” (1988). Logo em seguida, “Catastrophe” incitou uma energia soturna e dissonante fazendo o público bater cabeça. O mesmo aconteceu com o groove cativante de “Cold Wish”. A performance do frontman, tocando riffs quebrados enquanto canta é de impressionar, e mesmo nos solos de guitarra, o peso é garantido pelas palhetadas graves de Fornero, e as batidas firmes de Kiko. Após uma troca rápida de guitarra, seguido de um – “agora vai!” de Marcelo Índio, a pesadíssima “The Blooding” começa numa rajada insana com vocais rasgados e bumbos duplos como uma locomotiva, cortesia do Kiko d’Castro que também realiza backing vocals de extrema qualidade. Em uma transição perfeita de luzes e fumaça, “Playing God” iniciou com acordes potentes, instigando a garotada a moshar, uma das melhores músicas da banda sem dúvidas. “Necrosphere” e “Check Mate” mantiveram os fãs batendo a cabeça agitados – e isso desde a primeira música, já que é impossível assistir a banda sem sequer balançar a cabeça. Com um agradecimento final da banda ao público e ao evento, “Greed Up And Kill” encerrou o set do show, brutal, um patrimônio musical do ABC Paulista que foi ovacionado pelos headbangers.

SETLIST:

Deathlust

Catastrophe

Cold wish

The blooding

Playing God

Necrosphere

Check Mate

Greed up to kill

UMA PERFORMANCE ATEMPORAL DO ANTHARES

Outra banda exemplo de resistência ao tempo, com certeza é o Anthares, que desde 1984, é referência a inúmeras outras bandas de Speed/Thrash Metal no Brasil. A banda possui dois álbuns de estúdio: “No Limite Da Força” (1987) e “O Caos Da Razão” (2015), além do single mais recente “Ataque Legítimo” de 2020.

Já eram 19h30 e a casa estava bem cheia, quando a banda começou com “Caos Da Razão” que rapidamente agitou o público, e “Ócio” em seguida, mostrou o verdadeiro estilo de vocal thrash metal oitentista de Diego Nogueira, que canta as frases tão rápido quantos os riffs e solos da dupla de guitarristas Mauricio Amaral e Eduardo Toperman. Eis um ínicio de show rápido e violento, como de praxe é o som do Anthares. Diego então cumprimenta o público e agradece – “Ficamos muito felizes de sermos escolhidos para estar nessa festa! E especialmente à vocês, tocaremos músicas do nosso novo disco que será lançado!”

As músicas“Cicatrizes”, “Extremismo Sagrado” do novo álbum, deixaram os fãs alucinados bangueando e moshando na pista do Santo Rock. “Pesadelo Sul-Americano”, do álbum de 2015, faz o exímio baterista Edu Nicollini suar, mas sem deixar o ritmo e a pressão sonora cair, além dos backing vocals que executa – o terceiro baterista no evento que se mostra talentoso nesse aspecto! “Retratos da Miséria” é outra novidade do novo álbum por vir, e carimbou o selo de qualidade prévia. Diego celebrou – “Nosso disco “No Limite Da Força” também está fazendo aniversário esse mês, e peço que vocês façam barulho ao Aranha e Evandro Júnior, que são da formação original do Anthares e gravaram esse álbum!”. Os dois estavam no público assistindo e foram aplaudidos por todos. “Fúria” e “No Limite Da Força” foram tocadas uma em seguida da outra, sem margem para descanso. Diego Nogueira agradeceu novamente o público e a Metal Music, e dedicou o show a Pit Passarell, o icônico baixista do Viper que faleceu no mês passado. Ele pediu que todos gastassem suas energias na frente do palco com a saidera clássica da banda, “Chacina”, que se inicia com uma bateria crescente enquanto o frontman apresenta a banda, e depois explode nos riffs,que chama a galera pra perto do palco para gritar “Chacina” juntos de Diego.

Um show digno, de um dos medalhões do metal nacional.

SETLIST:

Caos Da Razão

Ócio

Cicatrizes

Extremismo Sagrado

Pesadelo Su -Americano

Retratos Da Miséria

Fúria

No Limite Da Força

Chacina

O ESQUADRÃO DA TORTURA EM AÇÃO

O Torture Squad se tornou uma das bandas mais proeminentes do Brasil, graças à sua vasta trajetória desde 1990, com nove álbuns de estúdio, cinco EPs e cinco álbuns ao vivo. A banda estava divulgando o álbum Devilish (2023), tendo tocado em várias cidades do país, no último Summer Breeze Brasil e em um dos shows de despedida do Sepultura em São Paulo. Coincidentemente, o primeiro show da turnê foi no próprio Santo Rock em janeiro deste ano.

Por volta das 20:30, a casa já estava cheia, e o cenário montado no palco, com um teclado e violão, todos iluminados por luzes escarlates, exibiu todo o diferencial que o Torture Squad trouxe em sua produção. Depois da trilha de introdução, “Hell Is Coming”, a primeira música do Devilish, foi talvez a abertura de set mais perfeita da banda, cheia da energia thrash death metal, cativante do começo ao fim, com passagens de violão e voz limpa que não deixaram de pesar e somar ao arranjo.

“Flukeman” contou a história do monstro da série de TV Arquivo-X, já que temas de filmes e obras de terror são recorrentes em outras músicas. Desta vez, houve uma novidade: a performance de teclado por May Puertas (vocal), que casou perfeitamente com a proposta sonora, junto aos riffs de Rene Simionato (guitarra). O público aplaudiu e May tomou a frente: “Santo André, que bom estar aqui hoje celebrando os 40 anos da Metal, que fez parte da história de cada um de vocês aqui, e da minha também!”. “Buried Alive” foi anunciada, e o público seguiu a sequência dos “Hei, Hei” bem alto, partindo para o mosh quando o riff explodiu. A clássica “Hellbound” fez a galera bater cabeça sincronizadamente, assim como “Pull the Trigger” do álbum Esquadrão da Tortura (2013), e até músicas mais antigas como “Murder of a God” do Asylum of Shadows (1999), deixaram os fãs bem engajados cantando.

Antes da próxima música, May declarou: “Hoje nós viemos com uma missão, que era não deixar vocês respirarem” — e conseguiram! Ela também agradeceu à família Metal Music e à sua própria família, que marcou presença em peso no show. E assim anunciou “Mabus”, que começou em um ritmo alucinante de blast beats, precisamente tocados pelo excelente baterista Amílcar Cristófaro, e reforçados pelas notas graves bem marcadas do baixista Castor.

A clássica “Chaos Corporation” entrou com tudo em seguida, e May invocou outro mosh pit caótico dos fãs. Os que estavam na beira do palco cantaram com energia, enquanto a vocalista aproximava o microfone. De repente, uma virada de bateria familiar, seguida de uma súbita e breve pausa, antecedeu um berro abissal: tratava-se de “The Unholy Spell”, um dos primeiros hits da banda, que deixou o público eufórico e provocou um dos moshs mais intensos do evento todo. Assim, May finalizou: “Valeu Satandré!”. E um caos sonoro encerrou a apresentação de uma das bandas da noite.

SETLIST:

  1. Hell Is Coming
  2. Flukeman
  3. Buried Alive
  4. Hellbound
  5. Pull the Trigger
  6. Murder of God
  7. Mabus
  8. Chaos Corporation
  9. The Unholy Spell

A VEZ DOS GUERREIROS DO METAL

Numa noite de bandas tão icônicas da cena paulista, era óbvio que os veteranos não poderiam ficar de fora. Tido como um dos pioneiros do metal no Brasil, o Korzus é um patrimônio imaterial do thrash metal, que segue firme na estrada desde 1983, com importantes álbuns como Mass Illusion (1991), Ties of Blood (2004) e Discipline of Hate (2010).

Já eram 22h, e o público ansiava pela última banda da noite. A clássica trilha de introdução soturna começou a tocar, enquanto os membros subiam ao palco em meio à fumaça e feixes de luz vermelhos, que davam toda a vibe de um ataque iminente. “Guilty Silence” começou e já arrancou os gritos da plateia, que cantou o refrão em uníssono. O mesmo se repetiu em “Raise Your Soul”, que levantou todos do chão e iniciou os primeiros moshs da noite. O single de 2021, “You Can’t Stop Me”, exibiu toda a maturidade musical que o Korzus desenvolveu ao longo dos anos, sem deixar as boas referências de lado.

Marcello Pompeu saudou os fãs que ficaram até mais tarde para ver a banda e agradeceu: “Estamos muito felizes de estar aqui, e gostaríamos de parabenizar o Jean pela marca de 40 anos de uma loja de heavy metal. Palmas para o Jean, ele merece!” Então, ele anunciou a poderosa “Never Die”, enquanto pedia para que todos batessem cabeça em sintonia e gritassem “Die!” em socos no ar, uma música feita para ser tocada ao vivo. “Discipline of Hate” mostrou todo o ódio sonoro das guitarras, e principalmente dos bumbos duplos da bateria de Rodrigo Oliveira.

Pompeu novamente pediu a ajuda da galera para cantar o refrão da próxima música, “What Are You Looking For”, que, apesar de mais cadenciada, emanava um groove pesado que fez os fãs mais cheios de energia pularem. “Vampiro”, única música do álbum Legion (2014) no set, foi suficiente para iniciar os moshs na pista, com destaque para o peso do baixo de Dick Siebert, que exibia toda sua energia aos sessenta anos de idade.

A banda fez uma troca rápida de instrumentos enquanto uma trilha sinistra era iniciada. De repente, a clássica “Agony” começou, despejando uma chuva de riffs rápidos sobre o palco. Em seguida, um medley tocando “The World Is a Stage”, “P.F.Y.L.” e “Lost Man” agradou aos fãs mais antigos. “Internally” teve que ser cortada do set devido ao pouco tempo restante, mas Pompeu reconfortou os fãs anunciando o hino dos headbangers, “Guerreiros do Metal”, que, além de nostálgica, foi executada com uma roupagem aprimorada, guitarras mais dinâmicas e bateria mais bem arranjada.

Outra clássica que não poderia faltar foi “Truth”, que sempre instiga os últimos moshs do dia — um verdadeiro “quebra-pescoço” —, destacando a habilidade dos guitarristas Heros Trench e Jean Patton, que tem apoiado o Korzus ao vivo desde 2022, sendo praticamente um membro fixo. Pompeu agradeceu novamente à casa, à produção, à equipe da banda e reiterou seu respeito pela marca de 40 anos da Metal Music. Por fim, ele anunciou a saideira, “Correria”, que encerrou o evento com energia máxima entre músicos e plateia, marcando mais uma vez o ABC com um show memorável.

SETLIST:

  1. Guilty Silence
  2. Raise Your Soul
  3. You Can’t Stop Me
  4. Never Die
  5. Discipline of Hate
  6. What Are You Looking For
  7. Vampiro
  8. Agony
  9. The World Is a Stage / P.F.Y.L. / Lost Man
  10. Guerreiros do Metal
  11. Truth
  12. Correria

UMA EVENTO DIGNO, DE UMA CENA QUE NÃO DEVE NADA PRA GRINGO

A produção do evento foi impecável, e todas as bandas foram extremamente profissionais, além é claro de toda produção do palco, som e iluminação que foram muito bem operados para todas as bandas, sem injustiças.

Uma festa de aniversário com todos esses convidados, foi o evento perfeito pra quem gosta do metal nacional em verdadeira essência, e mostra que existe uma cena pujante e forte no ABC,construída pelo trabalho de muitas pessoas que a fizeram por pura e simples paixão. O do contrário do desejo de muitos, o metal nunca morrerá enquanto houver gente como você, que leu resenha até o final.

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