Está aberto o novo ciclo de alegrias, e não de dores, do Angra!

Tokio Marine recebe show especial do novo trabalho do Angra

Texto: Vagner Mastropaulo / Fotos: Gabriel Gonçalves em cobertura para Igormiranda.com.br

Quando o Angra lançou ØMNI (18), a estratégia com a imprensa e alguns membros do fã-clube que o adquiriram na pré-venda foi promover uma “listening session” em pleno sábado de Carnaval no Café Piu-Piu, em cobertura feita por um site co-irmão [https://onstage.mus.br/website/angra-listening-session-omni-cafe-piu-piu-100218]. Passados cinco anos e nove meses, duas Copas do Mundo perdidas e uma maldita pandemia, o quinteto ousou ao marcar o primeiro show da nova turnê para o dia em que soltou Cycles Of Pain, décimo trabalho em estúdio, segundo consecutivo com a mesma formação, e o ciclo promete!

A rigor, nem todo o conteúdo era novidade, pois três singles foram disponibilizados com vídeo-clipes de agosto, setembro e outubro, respectivamente: Ride Into The Storm; Tide Of Changes – Part II, com participação de Vanessa Moreno; e Gods Of The World. Mesmo assim, pairava no ar o clima de mistério, afinal de contas, o que eles aprontariam ao vivo? Quantas e quais seriam incluídas no repertório? E em que momento? E teriam os fãs tido tempo de pelo menos ouvir o disco e decorar as letras? Ou chegariam “crus” ao Tokio Marine Hall?

Antes, porém, abrindo a noite, o promissor guitarrista curitibano Luiz Toffoli caiu feito luva para quem aprecia prog metal, especialmente o desenvolvido pelos “criadores” do subgênero, o Dream Theater. Ouvindo o play em divulgação no conforto do lar, este escriba já havia tido a sensação de fortes influências em composições como Frenetic Freak e New Perception. Em set de quarenta minutos, não caberiam os cinqüenta e dois do début e a tática foi pegar o conteúdo do EP Live In Santos (23) na íntegra, inserindo, como quinta escolha, um cover, veja só: do Dream Theater…

Estranhamente, a primeira interação não foi de Luiz e sim do vocalista Leo Leal: “Boa noite, São Paulo! É uma felicidade e uma honra muito grande estar aqui com vocês esta noite abrindo o show do Angra. Galera, esse álbum se chame Enigma Garden, projeto deste cara visionário: Luiz Toffoli. Esta que a gente tocou agora foi a Human. Vamos agora de I’m Alive”, com lindo solo de guitarra, aliás. Mas cá entre nós: não faria sentido que o dono do projeto assumisse as falas? Enfim…

Enquanto observávamos o nome do guitarrista projetado atrás da bateria de Pedro Tinello, fizeram Both Worlds, seguida da balada The Place I Want To Be (Wish You) e As I Am, a releitura citada acima. A saideira? Frenetic Freak e, como um todo, foi um belo cartão de visitas. Registrado o momento em foto, ficamos na expectativa da continuidade de sua carreira, com mais gravações e giros, desenvolvendo seu potencial, pois ele certamente agradou a quem se dispôs e conseguiu chegar cedo.

Previamente Divulgado: 19:50 / Informado Na Porta: 20:00 / Real: 20:04

Luiz Toffoli – Tokio Marine Hall – 03/11/2023

Intro: Grand Opening
01) Human
02) I’m Alive
03) Both Worlds
04) The Place I Want To Be (Wish You)
05) As I Am [Dream Theater Cover]
06) Frenetic Freak

Leo Leal (vocal), Luiz Toffoli (guitarra), Douglas Maximo (baixo), Pedro Tinello (bateria)

Para entrar no clima, ao invés de discotecagem, rolaram os clipes de Ride Into The Storm e Gods Of The World. O de Tide Of Changes – Part II até se iniciou, mas foi cortado para a entrada do Allen Key. Promovendo The Last Rhino (21), o quinteto veio com tudo ao som de Granted e uma boa definição é que eles são como uma máquina bastante azeitada e super funcional, mas Karina é uma força da natureza que se impõe de vários jeitos: seja pela técnica apurada, carisma, personalidade, atitude, o modo como agita e até pela altura. Quer um exemplo? Ela se responsabiliza por um breve interlúdio nos teclados no início de Straw House e ainda assume o violão e assobios no final – ela faz de tudo!

Evidentemente ela faria as honras: “Boa noite, São Paulo! Que prazer estar aqui hoje. É o show que a gente mais esperou para fazer no ano e é muito lindo ver vocês aqui. Rostos conhecidos, rostos novos, muito obrigada por estarem aqui. Nós somos a Allen Key, somos daqui de São Paulo e espero que vocês aproveitem muito hoje” – só faltou anunciar a bela Illusionism, em que ela permaneceu ao violão, agora acompanhada por Pedro Fornari, e de vocal por vezes mais grave enquanto notávamos a decoração consistir do nome da banda no telão de fundo e seu símbolo na pele do bumbo.

Quer uma inédita? Ela oferece: “São Paulo, para um show especial, gostaríamos de fazer uma surpresa especial. Assim como a gente fez nos últimos shows nossos, a gente vai cantar uma música que ainda não foi lançada, mas que vai ser lançada no final do mês. O nome dela é Sleepless e espero que vocês gostem muito”. Após pausa para um reparo nos teclados, Goodbye foi prova de superação de problemas técnicos, pois Karina até começou no instrumento sem ter certeza se havia retorno para a platéia, até continuar a cappella sob palmas ritmadas em apoio coletivo para a reentrada da banda numa linda interpretação. Daqueles momentos para se guardar com bastante carinho!

Single deste ano, a nada apática Apathy foi autêntico rolo-compressor (e que solo de Pedro!) e outro single de 2023 foi assim contextualizado pela frontwoman: “Tokio Marine, quem é metaleiro, levanta a mãozinha! Na hora, teve gente que não levantou… Vocês que não levantaram gostam de pop? Mais ou menos? E de Lady Gaga? Quem gosta de Lady Gaga? Pois a gente trouxe Lady Gaga para vocês numa versão um pouco diferente para os barbados ficarem felizes. Só que preciso da ajuda de vocês para cantar esta música senão ela não funciona direito, ela fica meio estranha… Pode ser? Com vocês, Judas” – houve quem, na pressa ou distraído, lesse “Judas” no setlist de palco e acreditasse se tratar de uma releitura de Rob Halford e companhia… Acontece!

Caminhando para o final, Mr. Whiny trouxe o divertido truque de soltar balões para a galera (nove deles, sendo seis brancos e três vermelhos) e não é que a brincadeira trouxe leveza ao ambiente – e será que o povo reparou no arregaço que ela é? A última foi a faixa-título do début, o peso e o clima lúdico dos bexigões se mantiveram e até chuva de papel picado prateado rolou perto do fim. Tremenda apresentação e abram os olhos, pois o Allen Key veio para ficar!

Previamente Divulgado: 20:45 / Informado Na Porta: 21:00 / Real: 20:58

Allen Key – Tokio Marine Hall – 02/11/2023

01) Granted
02) Straw House
03) Illusionism
04) Sleepless
05) Goodbye
06) Apathy
07) Judas [Lady Gaga Cover]
08) Mr. Whiny
09) The Last Rhino

Karina Menasce (vocal), Pedro Fornari e Victor Anselmo (guitarra), William Moura (baixo) e Felipe Bonomo (bateria)

Às 21:50, a aposta da Top Link passou a ser a divulgação dos próximos eventos da produtora, sempre através de clipes: Carpe Diem (Seize The Day) e Remember The Fallen, ambos do Saxon, com vídeo de Biff Byford – e você acredita que um bexigão de cada cor ainda resistia levando tapas gerais no ar? Pois bem, mais propagandas? Um curto teaser de Andrea Bocelli, Mick Box, guitarrista desde sempre do Uriah Heep, nos telões laterais e clipes de Grazed By Heaven, Hurricane e Save Me Tonight. O plano distraiu bem o público até 22:15, quando as duas do Saxon e a primeira do Uriah Heep se repetiram e aí não tinha mais como “colher o dia”…

“Sextando”, agora em bom número, a galera deixou para prestigiar somente o headliner, às 22:25, vieram os avisos de segurança da casa e, dois minutos depois, a sensacional Changes, do Yes, foi disparada como intro, colada a um vídeo com Crossing, para Nothing To Say, sempre um acerto, inaugurar a festa do Angra a mil por hora e com material conhecido. Final Light e as duas partes de Tide Of Changes se concluíram com um breve “Muito obrigado!” do italiano, até Rafael se dirigir aos fãs de maneira mais elaborada: “Primeiro de tudo, boa noite, pessoal! É o seguinte: hoje é um dia muito especial para a gente e eu não podia deixar de lembrar que, numa sincronicidade muito especial, a gente está lançando nosso álbum hoje, o Cycles Of Pain, exatamente no mesmo dia em que celebramos trinta anos de lançamento do Angels Cry, o primeiro álbum do Angra!”.

Ele aprofundou a coincidência: “Há trinta anos, eu estava com frio na barriga exatamente como o que sinto hoje, com a diferença de todo o legado que foi construído, todas as memórias e o orgulho de ter o pessoal hoje aqui comigo. Temos espírito, amizade, admiração, maturidade, a gente pôde aperfeiçoar os laços, os processos todos e foi com muito, muito orgulho que a gente traz esse show hoje para vocês. Muito obrigado por estarem hoje aqui prestigiando uma noite tão especial para a gente. E a gente vai tocar então uma música do nosso primeiro álbum”, a faixa-título.

Voltando ao disco da tour, a poderosa Vida Seca trouxe a bela voz de Lenine ao fundo (você já ouviu Paciência com ele? Deveria! A letra é de lavar a alma), sobreposta pela do italiano, que revelou: “Obrigado! Então, São Paulo, agora vamos mudar um pouco, pegar esta noite para tocar muitas músicas do novo CD, Cycles Of Pain, acho que vocês o escutaram, né? E pelo menos alguma música de cada CD. Esta, a próxima, é Ego Painted Grey”, representando Aurora Consurgens (06), como a citada Final Light o fizera com Secret Garden (14) – adiantando, não rolou nada de Aqua (10). Na seqüência, Waiting Silence, e lá veio a primeira e única participação especial da noite. Com a palavra, o vocalista: “Obrigado! São Paulo, agora temos o prazer de convidar ao palco essa cantora incrível que também participou do novo CD. Quero chamar aqui a Vanessa Moreno”.

Extremamente simpática, ela retribuiu a gentileza: “Boa noite, São Paulo, que alegria estar aqui neste palco com estas pessoas queridas que admiro tanto. É um prazer cantar com vocês também, que delícia! Bora?”. Juntos fizeram Rebirth e até Rafael se arriscou um bocado em linhas vocais. E quem pensou que ela faria “apenas” esta se enganou. A combinação ficou maravilhosa com seu timbre forte e ainda deu respiro a Fabio, a acompanhá-la enquanto o show chegava a quase uma hora no relógio. Na prática, ela levantou a casa, foi aplaudidíssima, teve o nome gritado pela massa em lindo gesto de reconhecimento e ainda anunciou Here In The Now, em que deu nova mostra de talento! Maravilhosa!

Até certo ponto surpreendente, resgataram Morning Star e Fabio fez aquela “brincadeira” que, na boa, ninguém agüenta mais: soltar uma linha vocal e pedir à platéia para repetir… Durou pouco, mas o pior foi ele ter prometido que depois teria mais… Cyclus Doloris preparou terreno para a ótima Ride Into The Storm e como Fabio é um homem de palavra, sim, ele retomou as imitações vocais… A sorte foi que durou pouco e Rafael regressou para interagir com os fãs em tocante homenagem, abrindo uma rápida sessão acústica, primeiro em voz e violão só com ele no palco:

“E aí, São Paulo? A gente está lançando o Cycles Of Pain, mas também celebrando os trinta anos do lançamento do Angels Cry. É muita emoção e não tenho como não me lembrar desta figura tão importante para a banda que já não está mais entre nós, o André Matos. Então vou tocar uma música, um hino que ficou eternizado na voz dele, uma canção de ninar para nossos medos, uma canção de ninar para acalmar nossa culpa, o medo que a gente tem de todo o mal que nos rodeia. E vocês vão me ajudar com essa canção que é Lullaby For Lucifer. Ainda na sessão desplugada, Fabio o auxiliou em Gentle Change, marcando Fireworks (98) no repertório, e informamos: Millennium Sun constava no setlist de palco nesta parte do espetáculo, e foi trocada pela faixa de Holy Land (96).

Voltando para o momento atual, executaram Cycles Of Pain e ØMNI – Silence Inside, amostra singular de ØMNI (18), com Felipe em seu lindo baixo de dois braços. Silence And Distance obteve significativo apoio popular na cantoria, o vocalista pediu as lanternas ligadas para a linda Bleeding Heart e, forçando a barra, daria para afirmar que ela foi a única do EP Hunters And Prey (02), mas ela também saiu como bônus track da edição japonesa de Rebirth (01). A última da parte regular do set? Dead Man On Display. Já estabelecido como um clássico, todos o sabiam o encore de cor e salteado: Unfinished Allegro como intro para Carry On, não por inteiro, emendada a Nova Era.

De outro, ØMNI – Infinite Nothing cravou duas horas e vinte e três minutos de um ótimo começo de turnê para os caras. Agora é esperar por uma data futura na cidade para continuarem com o ciclo, demorando a encerrá-lo. Desta vez foi só alegria!

*Previamente Divulgado: 22:00 / Informado Na Porta: 22:15 / Real: 22:27

Angra – Tokio Marine Hall – 03/11/2023

Intro: Changes [Yes]
Vídeo: Crossing
01) Nothing To Say
02) Final Light
03) Tide Of Changes – Part I
04) Tide Of Changes – Part II
05) Angels Cry
06) Vida Seca
07) Ego Painted Grey
08) Waiting Silence
09) Rebirth [Com Vanessa Moreno]
10) Here In The Now [Com Vanessa Moreno]
11) Morning Star
Intro: Cyclus Doloris
12) Ride Into The Storm
13) Lullaby For Lucifer [Acústica] [Rafael Em Violão E Voz]
14) Gentle Change [Acústica] [Fabio e Rafael]
15) Cycles Of Pain
16) ØMNI – Silence Inside
17) Silence And Distance
18) Bleeding Heart
19) Dead Man On Display
Encore
Intro: Unfinished Allegro
20) Carry On
21) Nova Era
Outro: ØMNI – Silence Inside

Fabio Lione (vocal), Rafael Bittencourt e Marcelo Barbosa (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria)

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About Gustavo Diakov

Idealizador disso aqui, Fotógrafo, Ex estudante de Economia, fã de música, principalmente Doom/Gothic/Symphonic/Black metal, mas as vezes escuto John Coltrane e Sampa Crew.

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