Mega-Monstros do Metal: Mastodon e Gojira fazem show destruidor em São Paulo

Em turnê conjunta, o duo traz muito peso e técnica em suas apresentações, além de estrutura audiovisual impecável

Fotos: Leca Suzuki (@lecasuzukiphoto)

O pré-feriado da última terça-feira (14) caiu como uma luva e uniu fãs de metal na capital paulista, para prestigiar o retorno de dois grandes nomes da música pesada. O clima dominado por um calor excessivo e sem previsões de queda de temperatura não intimidou o público, que como de costume, trajava suas vestes pretas e gradativamente tomava conta dos arredores do Espaço Unimed, casa localizada na zona oeste de São Paulo e que conta com uma ótima infraestrutura para shows e eventos.

A “The Mega-Monsters Tour 2023” traz em seu cartaz de divulgação, dois monstros gigantes e anômalos, frente a frente, destruindo edifícios, o que indica uma grande batalha em clima de caos. Obviamente, a turnê é pacífica, mas, ao mesmo tempo, destruidora, em termos de música, unindo dois grandes nomes: os georgianos do Mastodon e os franceses do Gojira. Passaram-se oito anos desde a última passagem de ambas por São Paulo, o que desencadeou um grande anseio em seus fãs, elevando as expectativas para o tão aguardado retorno.

Mastodon faz show psicodélico e caloroso, com setlist que transita por toda sua trajetória

Pontualmente às 20:20, com a casa praticamente cheia, o quinteto sobe ao palco, aos gritos de “Mastodon! Mastodon!”, ovacionados por boa parte do público presente. A formação atual conta com Troy Sanders (baixo/vocal), Brent Hinds (guitarra/vocal), Bill Kelliher (guitarra/backing vocal), Brann Dailor (bateria/vocal) e o brasileiro João Nogueira (teclado) que acompanha a banda desde 2021.

Assim como em “Hushed and Grim”, último álbum de estúdio lançado há dois anos, a apresentação se inicia com “Pain With an Anchor”, trazendo um clima melancólico e sombrio. Brann e Troy lideram os vocais, fragmentando os ares, cada um a sua maneira, de forma engenhosa. “Crystal Skull” faz o clima mudar radicalmente, com instrumental mais harmônico, transitando por trechos de peso, puxando o gancho para “Megalodon”, que apesar ter uma introdução umbrosa, se modifica quando os músicos executam passagens com riffs progressivos e pedais duplos contínuos. Inclusive, a altura em que a música se intensifica, pudemos ver uma baleia inflável “nadando” na plateia, servindo de referência a capa do álbum “Leviathan”, de 2004.

A estrutura audiovisual foi um ponto de destaque, com grandes telões projetando animações psicodélicas no decorrer das músicas. Em “Divinations”, faixa liderada por Brent Hinds nos vocais e solos, foram apresentadas imagens de uma viagem astral, onde um ser humano transcende em sua existência e tenta escapar das garras de uma criatura que a todo momento tenta capturá-lo. Na sequência, “Sultan’s Curse” traz do sultão que estampa a capa do álbum “Emperor of Sand”, de 2017, envolto de chamas, nos imergindo de forma sensorial, devido ao calor intenso que estava dentro da casa.

A instrumental “Bladecatcher” teve seu devido espaço no setlist, agradando os ouvidos mais criteriosos. Destaque em “Blood Mountain”, de 2006, a faixa traz uma grande variação de ritmos e técnicas, conquistando o público que se manteve concentrado em sua execução. A densa “Black Tongue” se iniciou sem firulas, em forma de emenda, sendo a única do icônico “The Hunter”, de 2011 e permite um momento raro, onde apenas o frontman Troy Sanders assume os vocais, mostrando como domina os graves e os cleans com destreza.

Surpreendendo os fãs, de forma totalmente inesperada, “The Czar: Usurper/ Escape/ Martyr/ Spiral” promove um dos momentos mais grandiosos da apresentação. Agradando os fãs mais assíduos, a faixa que dura mais de dez minutos é progressiva e versátil, com momentos de variação rítmica e técnicas diversas. A engenhosidade do álbum “Crack the Skye”, de 2009, é mostrada aqui, onde Troy, Hinds e Brann tem destaque em seus vocais, assim como, em suas passagens instrumentais.

“Halloween” e “High Road” formam a dobradinha perfeita para apresentar as composições do conceitual “Once More ‘Round the Sun”, de 2014. A primeira, fervorosa, psicodélica e com solos frenéticos, dando destaque a Brent, que também lidera boa parte dos vocais. A segunda, um dos maiores hits da banda, tem grande influência de Stoner Rock, estilo que está presente desde os primeiros trabalhos da banda, dando espaço para Bill Kelliher executar backing vocals graves e poderosos. Para encerrar a primeira parte do show, Brann lidera os vocais em “More Than I Could Chew”, faixa que segue a densidade da anterior e de certa forma, prepara o terreno para o encore que está por vir, com seus momentos de calmaria. Aqui, o tecladista pernambucano João Nogueira teve destaque e mais tarde, discursaria agradecendo de forma humorada: “sempre tem um brasileiro no rolê aleatório!”.

De volta ao palco, o Mastodon relembra seus “early days” com “Mother Puncher”, filha única do sólido “Remission”, primeiro trabalho de estúdio lançado em 2002. Distorção suja nas seis e quatro cordas, vocais guturais e instrumental cerrado promovem um dos momentos de maior peso da noite, marcado pela presença de elementos de Sludge Metal. “Steambreather” baixa a poeira, com seu ritmo plácido, dando alguns minutos para respirar. A clássica “Blood and Thunder” encerra a apresentação, de forma frenética e impiedosa, abrindo rodas nas pistas da casa.

Os músicos se despedem empunhando a bandeira do Brasil e agradecendo o público. Em breve discurso, o baterista Brann Dailor promete um retorno não muito distante, justificando que não foi justo demorar oito anos para retornar ao nosso país. A essa altura, o Espaço Unimed estava cheio e, apesar de não ser a maioria, os fãs do Mastodon foram contemplados com um show conceitual e memorável.

Mastodon – 14/11/2023 – Espaço Unimed

Pain With an Ancor
Crystal Skull
Megalodon
Divinations
Sultan’s Curse
Bladecatcher
Black Tongue
The Czar: Usurper/ Escape/ Martyr/ Spiral
Halloween
High Road
More Than I Could Chew
Encore:
Mother Puncher
Steambeather
Blood and Thunder

Gojira promove apresentação com peso, obscuridade e comoção

Após o primeiro ato, as energias se estabilizaram, porém, o calor, não. De tal forma, o anseio se intensificou nos momentos de espera e preparação do palco que receberia os franceses do Gojira. A formação atual conta com Joe Duplantier (guitarra/vocal), Christian Andreu (guitarra), Jean-Michel Labadie (baixo) e Mario Duplantier (bateria).

As luzes se apagam às 22:10 e após alguns minutos, uma contagem regressiva de 180 segundos é iniciada. Aos 30, o baterista Mario sobe ao palco e nos últimos 10, a plateia começa a contar junto ao timer e logo em seguida, recebe o quarteto com gritos ensurdecedores. Assim como em “Fortitude”, de 2021, o show se inicia com “Born For One Thing”, faixa que traz diversos contratempos, peso e refrões marcantes. 

O início da apresentação foi marcado por um ar obscuro, com luz baixa, tons de azul e vermelho, até mesmo dificultando a visão do público em relação aos músicos. “Backbone” vem na sequência mantendo o peso, com distorções e notas sujas, guturais matadores e blast beats frenéticos. Apesar de tamanha intensidade sonora, a plateia consegue encaixar coros ao meio da balbúrdia. “Stranded”, presente em “Magma”, de 2016, rompe o clima sombrio com seu ritmo fruitivo. Os slides executados na guitarra de Joe Duplantier são atrelados ao telão repleto de pixels e nos remete a um visual futurista. Logo nos minutos iniciais, a banda surpreende com um dos momentos mais aguardados da noite. “Flying Whales”, um dos maiores hits presentes no icônico “From Mars to Sirius”, de 2005, faz com que os fãs entrem em euforia, se emocionando e cantando sua letra em alto e bom som. Em homenagem a arte que ilustra a capa do álbum, novamente a baleia inflável rouba a cena e passeia pelos fãs, em junção as suas semelhantes que são projetadas no telão.

Com uma intro frenética, “The Cell” retoma a densidade aos ares e prende a atenção aos telões, que projetam raios que vão se intensificando ao decorrer da música. Assim como no show anterior, o audiovisual do Gojira também não deixa a desejar, com uma construção ímpar. A intro “The Art of Dying” também é destaque, com elementos tribais que repentinamente são substituídos por um instrumental repleto de variações e contratempos executados pelos irmãos Duplantier e companhia. Falando em variações, o baterista Mario é deixado no palco para apresentar um solo que, talvez não tenha surpreendido aos que aguardavam um momento repleto de firulas em alta velocidade, mas que ganhou o público com placas interativas pedindo para fazer mais barulho: “Mais alto, porr@!” e após ser atendido, responde com: “Ai sim, caralh0!”. 

A segunda dobradinha da noite é composta por “Grind” e “Another World”, a primeira dando continuidade ao peso e a segunda, baixando a poeira, proporcionando momentos de calmaria e encantando com as imagens do telão, que mostram uma animação dos músicos viajando em um cenário pós-apocalíptico, com destino à sua terra natal, onde a famosa Torre Eiffel aparece caída no final. O setlist foi elaborado de forma conceitual, “Oroborus”, “Silvera” e “The Chant” compõem uma sequência de intensidades diferentes, transitando por passagens destruidoras, melancólicas e relaxantes, mostrando como a banda esbanja criatividade em suas composições. “L’enfant sauvage”, do homônimo de 2012 encerra a primeira parte do show, com papéis picotados caindo por toda a pista, encantando muitos dos presentes.

Iniciando o encore, “The Heaviest Matter of the Universe” vem como um soco no estômago, intensa e sem pausas para respirar, mostrando que o quarteto ainda tem energia para queimar. A aclamada “Amazonia” é anunciada como uma música “especial” e é acompanhada de muitas chamas projetadas nos telões, fazendo clara alusão às queimadas causadas nas florestas amazônicas. “The Gift of Guilt” encerra as atividades com todas as características que consolidaram a trajetória da banda, que se despede de São Paulo agradecendo os fãs e de forma acolhedora, com Mario descendo até a plateia em um bote inflável, sendo levado pelas “ondas” concebidas pelas mãos dos fãs.

Gojira – 14/11/2023 – Espaço Unimed

Born for One Thing
Backbone
Stranded
Flying Whales
The Cell
The Art of Dying
Drum Solo
Grind
Another Wolrd
Oroborus
Silvera
The Chant
L’enfant sauvage
Encore:
The Heaviest Matter of the Universe
Amazonia
The Gift of Guilt

Após oito anos de espera, ambas as bandas retornaram a capital paulista para presentear seus fãs com uma noite memorável. O Mastodon, que teve uma passagem problemática em 2015, finalmente cicatrizou a “ferida” de seus fãs paulistanos com uma apresentação memorável e imersiva. O Gojira, por sua vez, compensou a ausência deixada no ano de 2022, com um show conceitual, pesado e técnico. 

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About Bruno Santos

O amor pela música nasceu na minha infância e ir em shows é uma de minhas maiores paixões. Também sou um grande fã de games e da cultura geek.

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