Com impactante e elaborado espetáculo em São Paulo, os alemães do Kanonenfieber mostram o lado não tão sujo do Black Metal, em encenação histórica da Primeira Guerra Mundial.
Fotos por Gustavo Diakov (@xchicanox)
Banda “anônima” alemã, cujas letras são temáticas da primeira grande guerra — que perdurou de 1914 a 1918 — fez seu primeiro show no Brasil no último dia 7 de Dezembro. A estreia, que fez parte da turnê de divulgação do álbum Die Urkatastrophe, de 2024, gerou grande expectativa por parte dos fãs, que esperaram cinco anos para poderem vê-los.
Sim, o Kanonenfieber é uma banda jovem, criada em 2025, mas já desponta como um dos grandes nomes do metal extremo mundial. O motivo? Simplesmente a proposta de fazer um black metal sem ser “cru”, mal gravado, sujo, mas ao mesmo tempo sem partir para o lado melódico ou sinfônico — provando que black metal não precisa ser “podre” para ser pesado, reto e direto. Claro, o marketing do anonimato, as máscaras e visuais militares típicos da época que têm como foco a temática ajudam bastante. No fim, um trabalho excelente em todos os sentidos.
Mas será que corresponderam ao que era esperado em apresentação ao vivo por aqui? Vamos conferir!
FILA MODESTA DAVA IMPRESSÃO DE POUCA GENTE…
Pouco antes da abertura das portas do Carioca Club, o que se via era uma baixa concentração de fãs na fila e no bar ao lado. Era de se esperar, aliás, pois o show do Mayhem acontecia no mesmo dia e horário, em outra casa na cidade. Ambas bandas têm públicos similares. Com tudo pontual, sem percalços ou contratempos, as pessoas começaram a entrar tranquilamente. Como nunca me canso de fazer, elogiar a Overload, produtora responsável, pela organização virou um padrão!

…MAS ESTÁVAMOS ERRADOS!
A impressão de pouca gente não podia ser mais errada! É verdade que, de fato, não estava lotado, mas dadas as circunstâncias (um domingo e com tão forte concorrente), no final das contas tivemos bom público. Aos poucos, conforme ia se aproximando o começo da apresentação, a pista já passava da metade em quantidade de gente. Facilmente passamos das quinhentas pessoas presentes, o que é uma vitória para esse tipo de show.

SIM, O KANONENFIEBER ATENDEU ÀS EXPECTATIVAS, E FEZ UM DOS GRANDES SHOWS DESTE ANO!
Regozijai, fã e leitor! A espera de cinco anos não foi em vão!
Sem banda de abertura, e com alguns poucos minutos de atraso, dentro daquele “limite de tolerância”, o Kanonenfieber subiu ao palco — este, bem elaborado, enfeitado e temático. Logo de começo já sentimos o clima hostil da guerra que querem passar. Com seus uniformes militares, máscaras pretas cobrindo o rosto, suspensórios, o som apresentado era denso! Muito denso. A iluminação ajudava, sem deixar escuro demais ao ponto de não vermos nada, mas ainda dando o clima pesado, e o som, impecável!
Confesso que, antes do show, tinha minhas dúvidas se seria algo realmente condizente com a proposta teatral da banda, ou se teríamos apenas mais um show com palco bonito, mas apresentação burocrática. Por sorte, essa dúvida logo foi embora. O vocalista Noise e seus comandados interpretam, sentem o que tocam — e é incrível isso em pessoas que estão com máscaras! Claro, tudo envolve dar a sensação de uma batalha na primeira guerra mundial: de tempos em tempos, o vocalista trocava de roupas, indo de um uniforme de soldado raso ao de comandante. Além de usarem aparatos que simulam armas, uma delas soltando fumaça de gelo seco no público. Um dos momentos mais interessantes foi a troca da própria máscara de Noise — tirou a totalmente preta, e colocou uma caveira no rosto! Em momento algum há palavras da banda para com o público, e não é antipatia, mas parte da performance.
O ponto negativo, talvez, foi a duração. Apenas uma hora e vinte minutos de palco foi pouco, mas não surpreendente. Uma banda com apenas dois discos gravados não tem como fazer um setlist tão extenso para duas horas, duas horas e meia de show, como bandas com carreiras mais longevas. Tocar ambos álbuns na íntegra também não seria a melhor escolha. Por isso, dá para dar um dsconto! Fizeram certo.

PRECISAMOS DE MAIS SHOWS ASSIM NO GÊNERO!
Com shows um tanto mornos do gênero atualmente, de bandas que só ficam se repetindo década após década, em especial dentro do black metal, o que se viu no Carioca Club naquele domingo foi de lavar a alma! Vejam bem, eu sou uma pessoa muito mais chegada em vertentes mais “leves” do metal, então as chances de acabar não gostando do que poderia ver era grande — mas não foi assim! Show teatral, elaborado, com qualidade de som, luz e performance técnica impecáveis, o Kanonenfieber tem tudo para conquistar todos, dos que gostam do mais pesado ao mais leve, pois mesmo com toda esse esmero, não perdem a essência brutal da mais pesada vertente do metal. Valeu, sim, cada minuto do relativamente curto show, e esperamos que, com mais lançamentos da banda no futuro, possam voltar para apresentações mais longas, ou até mesmo conseguir um lugar no Bangers Open Air, quem sabe!
Facilmente, um dos melhores shows do ano, que foi fechado com chave de ouro!
Setlist:
Menschenmühle
Sturmtrupp
Der Füsilier I
Der Füsilier II
Grabenlieder
Der Maulwurf
Panzerhenker
Kampf und Sturm
Z-Vor!
Die Havarie
Die Feuertaufe
Waffenbrüder
Ausblutungsschlacht







