Em apresentação histórica no City Lights, o Boston Manor encerrou sua turnê latino-americana com intensidade e emoção.
Fotos por Isis Trindade (@isistrindadephotos)
No último domingo (14), o City Lights, em São Paulo, foi palco de um momento único e muito marcante: o primeiro show do Boston Manor no Brasil. A banda britânica, formada por Henry Cox (vocal), Ash Wilson (guitarra), Mike Cunniff (guitarra), Dan Cunniff (baixo) e Jordan Pugh (bateria), encerrou sua passagem pela América Latina em uma noite que reuniu nostalgia, mosh pits, stage dives e muita emoção.
O papel dos fãs e da produção independente
A apresentação foi mais do que um simples show. Foi a consagração de um sonho coletivo, tanto da banda, que há mais de uma década começou em uma cidadezinha do interior da Inglaterra sonhando apenas em tocar em Londres, quanto dos fãs brasileiros, que lutaram incansavelmente para tornar essa estreia possível.
Se o Boston Manor chegou ao Brasil, muito disso se deve à persistência do fã clube oficial (Boston Manor Brasil/@bostonmanorbra), principalmente das fãs Camila e Giovanna. Elas se mobilizaram com questionários, pesquisas de público e conversas por e-mail até provarem que a vinda da banda era viável. Esse esforço coletivo reafirma a força da cena independente e a importância do amor de fã para manter viva a música underground.
A NDP, responsável por trazer o grupo, reforçou esse espírito DIY ao organizar um show pensado para quem realmente vive a cena. As bandas brasileiras Maré Morta e Swave abriram a noite, representando não só o talento local, mas também a importância de abrir espaço para nomes independentes dividirem palco com artistas internacionais. Foi um lembrete poderoso de que a cena é construída em conjunto, em rede, e que cada rolê como esse é uma chance de fortalecer a comunidade.
Uma noite de nostalgia e frescor
O setlist trouxe um equilíbrio entre faixas novas e clássicos que acompanham os fãs há anos. Do mais recente Datura e Sundiver vieram músicas como “Floodlights on the Square”, “Container” e “Why I Sleep”. Já do cultuado Be Nothing. vieram os hinos “Laika” e “Lead Feet”.
Um dos momentos mais aguardados foi a execução de “Cu”, apresentada com ironia por Henry, que explicou ao público: “Essa música se chama Asshole, e só estamos tocando aqui!”. Outro instante marcante aconteceu em “Passenger”, quando Bruno Genaro, produtor da NDP, subiu ao palco para dividir o microfone com Henry em um momento íntimo e simbólico, reforçando o envolvimento pessoal de quem fez o show se tornar realidade.
E se havia dúvidas sobre a força e o poder de persuasão do público brasileiro, elas foram destruídas quando, em coro, fãs exigiram “Liquid”. A música não estava na setlist, mas Henry se rendeu: “The people has spoken”. O City Lights veio abaixo quando os primeiros acordes ecoaram.
A conexão com o público brasileiro
Entre discursos sobre saúde mental, relacionamentos, questões financeiras e o peso da vida adulta, o Boston Manor mostrou sua força como uma das bandas mais relevantes da cena alternativa britânica atual. Ao mesmo tempo, reforçou que há espaço para que fãs, coletivos e produtores independentes moldem o presente e o futuro da música.
E Henry Cox não economizou energia: se jogou em stage dive, pediu rodas de mosh e fez questão de cantar olho no olho com a plateia. Em vários momentos, exaltou a fama da energia brasileira e afirmou que essa havia sido a melhor resposta de público da turnê. Assim, música após música, o City Lights foi se transformando em uma celebração coletiva da música alternativa. Para muitos, foi a realização de um sonho; para a banda, a prova de que sua arte percorreu o mundo para encontrar esse eco na cidade de São Paulo.
Ao final, a sensação era unânime: que seja apenas o primeiro de muitos encontros entre o Boston Manor e o Brasil.
Confira a setlist completa:
Boston Manor – City Lights – São Paulo, 14 set. 2025.
- Floodlights on the square
- Container
- Sliding Doors
- Why I Sleep
- England’s Dreaming
- Lead Feet
- I Don’t Like People (& They Don’t Like Me)
- Algorithm
- Cu
- Laika
- HEAT ME UP
- Halo
- Liquid
- Crocus
- Passenger
- Foxglove