Texto por Fernando Queiroz (@fer_nando_nw) e Foto por Raissa Correa (@showww360)
Para um público modesto, em um local compacto, a banda norueguesa de Gothic Metal Sirenia apresenta clássicos e músicas dos últimos álbuns equilibradamente, em apresentação emocionante para fãs claramente mais velhos, remanescentes dos tempos áureos do gênero. Quem foi esperando uma grande apresentação, recebeu mais que isso. Um show para lavar a alma de fãs do estilo.
CHUVAS E ATRASOS INCOMODARAM ANTES DO SHOW:
São Paulo quando chove, para! Esse ‘ditado’ tem fundamento. A chuva, que durou a tarde quase toda, e boa parte da noite, sem dúvidas afastou uma boa parcela das pessoas que estavam planejando chegar cedo no local; assim como provavelmente prejudicou a logística da equipe de produção. Os fieis fãs que estavam desde cedo na fila tiveram que achar cobertura no barzinho ao lado da Jai Club, enquanto assistiam o entra e sai da equipe entrando com equipamentos na casa. E isso começou antes das quatro horas da tarde, quando um aglomerado de pessoas, a maior parte na casa dos seus trinta anos, já chegavam aos poucos com camisetas da banda, e de bandas de estilo semelhante.
As informações eram conflitantes. Alguns acreditavam que a casa abriria às 17h, outros diziam às 18h. Afinal, nenhum estava certo. Meia hora de atraso para a abertura das portas causou certa indignação em pessoas com quem conversamos na frente do local, mas quando finalmente abriram para a entrada, tudo transcorreu tranquilamente.

ATRASOS PARA O MEET & GREET POR CONTA DE ‘PROBLEMAS TÉCNICOS’ FORAM INCÔMODOS, MAS NÃO PREJUDICARAM A EXPERIÊNCIA:
Já devidamente acomodados na Jai Club, sem problemas de espaço, e fácil circulação, a primeira coisa que os fãs queriam saber era sobre o Meet & Greet. Não apenas os ganhadores, mas quem compraria o “combo merch”. Um pacote de duzentos reais dos vinte primeiros a comprarem daria acesso a uma foto e autógrafos com a banda! O preço foi bem honesto, visto que o “combo” lhe dava uma bonita camiseta, um copo, e um pôster da banda (lembrem que, na maioria dos shows por aí, apenas a camiseta já é quase esse valor, e sem dar direito a nada mais). As informações não foram muito claras no primeiro momento, mas às 19h, os fãs ganhadores e compradores foram levados a outro ponto, onde a banda atendeu todos simpaticamente, atenciosamente, com sorrisos no rosto, caipirinhas na mesa, e sem nenhuma restrição a toques, abraços, nada do tipo. Pessoas que realmente valorizam e gostam de seus fãs.

BRIGHTSTORM FAZ A ABERTURA DA NOITE:
Já veteranos na cena do metal sinfônico, o BrightStorm entrou no palco com atraso de quase meia hora. Competente, e com bom material próprio, a banda driblou um som um tanto estourado em alguns momentos, e uma plateia um tanto desinteressada, infelizmente, para apresentar um show digno. A banda claramente vem se influenciando pelo Evanescence, e algumas músicas, se você prestar atenção, lembram canções da banda americana de nu metal. Fundadora, e única da formação original, a vocalista Naimi Stephanie é carismática no palco, além de ótima cantora, indo de tons altos a médios com facilidade. No fim das contas, fizeram seu trabalho com propriedade, e apresentaram seu som dignamente para uma plateia ainda diminuta.

SIRENIA FAZ SHOW APAIXONADO PARA FÃS APAIXONADOS:
O atraso no caso da banda principal aconteceu, mas menos. Cerca de dez ou quinze minutos apenas depois do previsto, para uma casa mais da metade cheia, as lendas do Gothic Metal entraram no palco!
Intensos, o Sirenia abriu sua apresentação com “Addicted No. 1”, faixa de abertura do álbum Riddles, Ruins and Revelations, de 2021. Após o famoso “thank you São Paulo”, a plateia em coro cantou junto “Dim Days Of Dolor”, single do álbum de mesmo nome de 2016, e uma das músicas que nos apresentou, na época, a vocalista atual Emmanuelle Zoldan. Após o clássico, problemas no microfone e retorno de Emma que duraram alguns minutos impediram o prosseguimento imediato do show. Nesse ínterim, o guitarrista Nils Courbaron improvisou alguns sons na guitarra, incluindo o riff inicial de “Wasted Years” do Iron Maiden para animar a galera, e já com os problemas resolvidos, seguimos com “Into The Night”.

O guitarrista e principal compositor, além de líder da banda, Morten Veland agradece o público em português, então tocaram “Deadlight”, do último álbum, 1977, lançado em 2023. Se vamos de clássicos, vamos de clássicos! “The Last Call”, do álbum Nine Destinies And A Downfall e a fantástica “Lost In Life” foram as primeiras “antigas” da banda, de épocas que Emma não era a vocalista ainda. O show continuou, então, com músicas mais recentes, dos bem aceitos álbuns recentes, sendo elas “In Styx Embrace”, “This Curse Is Mine”, e “A Thousand Scars”. Emma, com um carisma ímpar, até brinca com a plateia, ao perguntar se alguém NÃO havia ouvido o último álbum. Uma única pessoa levantou a mão, então Emma fala diretamente: “Pois trate de ouvir! Assim que sair daqui!”, rindo. Claro, era uma brincadeira descontraída.

Quem merece atenção redobrada é o guitarrista francês Nils Courbaron, que além de fazer algumas partes vocais, também foi ao microfone agradecer e interagir com o público. Disse-nos que era sua primeira vez no país, e que não poderia estar mais feliz. De fato, era nítida sua animação e entusiasmo em tocar ali. Após tocarem “Nomadic”, outra antiga que foi ovacionada por todos. Uma canção do celebrado primeiro álbum da banda, a fantástica “Meridian” começa a ser tocada sem Emma no palco, com Morten nos vocais guturais. Quando finalmente as partes líricas da música começam, e Emma volta ao palco, mais aclamação.
Com dois franceses na banda, nada mais justo que uma música em seu idioma, e o cover da música pop dos anos oitenta, “Voyage Voyage” teve coros no refrão. Essa versão excelente, com os rápidos pedais duplos do baterista inglês Michael Brush não poderia ter entrado em momento melhor. Após o cover, mais uma canção adorada pelos fãs do álbum At Sixes And Sevens, a pesada e sombria “Sister Nightfall”, que remete à fase mais “doom” da banda. A primeira parte do show se encerra com “Wintry Heart”.

O “encore” deixou claro que a banda sabe manter a atenção dos fãs. As três últimas músicas foram, inegavelmente, seus maiores sucessos da carreira! Duas músicas seguidas do álbum Nine Destinies And A Downfall. Canções que possuem clipes, e ajudaram a alavancar a banda: para alegria do público, “My Mind’s Eyes”, e seu maior sucesso, “The Other Side” (confira a gravação aqui https://www.instagram.com/reel/DHj_P2mAZMc/?igsh=ZHhhd3d5b2llYWZj ).
Se não poderia melhorar, melhorou! Fecharam o show, então, com outro grande sucesso, clássico do álbum The 13th Floor, um dos hinos do gothic metal, “The Path To Decay” encerrou o maravilhoso show!
QUEM ESTEVE, PODE CONFIRMAR – A BANDA ESTÁ EM SEU MELHOR MOMENTO AO VIVO:
Mesmo sem baixista e tecladista ao vivo (algo que a banda nunca teve, devemos dizer), usando o VS do instrumento, a banda é impecável em sua proposta em shows. Cada música era tocada com perfeição pelo quarteto, e o público fiel, conhecedor da banda, entendeu isso. Não havia pessoa viva no local que não tenha saído de alma lavada, com um dos melhores shows de gothic metal em muitos anos na cidade de São Paulo. Superando o desafio da chuva intensa na cidade, alguns problemas de som no começo, a banda fez a apresentação que todos esperavam, e esperaram por anos. Uma banda que merece ser atração de grandes festivais no país, e que agregaria muito a qualquer line-up, de qualquer festival de metal.
Esperamos que a próxima vinda de Morten Veland e seus comandados não demore tanto, pois o público brasileiro merece mais apresentações com essa, de um gênero com fãs tão fieis.
SETLIST:
Addiction No. 1
Dim Days of Dolor
Into the Night
Deadlight
The Last Call
Lost in Life
In Styx Embrace
This Curse of Mine
A Thousand Scars
Nomadic
Meridian
Voyage, voyage (Desireless cover)
Sister Nightfall
Wintry Heart
My Mind’s Eye
The Other Side
The Path to Decay