Foto: Divulgação
Com estreia nos cinemas brasileiros no dia 23 de janeiro, o filme é um dos favoritos do Oscar, marcando seu grandioso roteiro e atuações impecáveis
Texto: Tamira Ferreira
Conclave é um significativo ritual da Igreja Católica que marca a eleição de um novo Papa. Ela acontece após a morte ou renúncia do líder da igreja e fica a cargo dos Cardeais fazer essa escolha.
Inspirada nesse importante evento, chega aos cinemas brasileiros o filme Conclave. Com direção de Edward Berger, roteiro de Peter Straughan e as atuações de Ralph Fiennes, Stanley Tucci e Isabella Rossellini.
Sinopse:
Após a morte do atual Papa, Lawrence ou Cardeal Lomeli (Ralph Fiennes) fica encarregado de reunir os cardeais em isolamento total para a escolha de um substituto para o líder da Igreja. Mas, logo no início do processo, tramas e suspeitas em torno da morte do Papa e da eleição já começam a perturbar o Cardeal. Uma história que reúne suspense, drama e grandes plots twist até o seu fim.
Opinião da Redação:
O filme traz um clima de suspense desde o começo, quando revelam a morte do Papa e alguns boatos que percorrem os corredores da igreja devido à sua morte.
Uma delas é o fato do líder da Igreja, momentos antes de morrer, ter tido uma conversa calorosa com Cardeal Tremblay (John Lithgow), que resultou no pedido do Papa pela sua renúncia e não sendo concretizada devido à sua morte horas depois.
Também teve a chegada de Benitez (Carlos Diehz), que não estava na lista oficial de representantes do Conclave e havia se tornado Cardeal em segredo pelo próprio Papa.
Mas o que mais ronda a história do filme são os tratados e alianças feitos entre os representantes da Igreja Católica a fim de tentar eleger o seu escolhido como Papa. Eles acabam mostrando os diferentes interesses políticos e sociais que ocorrem dentro da religião e o que eles esperam do futuro do catolicismo. Essa parte, de conversas e tramas, são umas das qualidades positivas do filme.
O que também vale ressaltar é seu elenco de peso, que conta com atores renomados do cinema hollywoodiano e alguns internacionais, que dão o clima caloroso e intenso da história.
Dando um foco ainda maior para o protagonista Lawrence ou Cardeal Lomeli (Ralph Fiennes), que precisa resolver os problemas que estão surgindo, a organização da Conclave e seus próprios problemas internos.
É possível ver muito das crenças e interesses pessoais da Igreja, o que fica mais nítido é a sua divisão entre os liberais, que desejam mudanças na Igreja e melhores discussões para temas polêmicos como a homossexualidade e a participação das mulheres no catolicismo, e os conservadores, que pregam as crenças mais antigas e preconceituosas do catolicismo. Até temas como escândalos sexuais dentro da Igreja são tratados no filme.
O roteiro é tomado por plot twits que dificultam saber qual será o caminho da história, já que a cada momento há uma mudança significativa, até mesmo na escolha do Papa, nos levando a acreditar que eles fariam a decisão mais conservadora ou até mesmo escolhendo Lawrence, que não estava interessado na posição. Porém, a escolha oficial acaba sendo uma nova surpresa na história e até mesmo uma polêmica.
Atenção! A partir daqui contém spoilers!
Desde o começo da votação para Papa, surge o nome do Cardeal Benitez, um representando religioso mexicano que estava em missão no Oriente Médio, por isso sua nomeação como Cardeal era um segredo.
Quando Lawrence consegue revelar todas as tramas que envolviam a escolha do Papa e vendo que sua escolha inicial, o Cardeal Bellini (Stanley Tucci), não seria nomeado, os Cardeais começam a ponderar qual seria a melhor opção para assumir o cargo. Estavam na escolha o próprio Lawrence, que não tinha interesse em assumir e já havia solicitado um pedido ao Papa para sair da Igreja, Cardeal Tedesco que era o grande nome entre os conservadores, acreditando que o novo Papa deveria seguir o que a Igreja sempre pregou e pedia pela volta de um líder italiano, e Benitez, que, após um discurso caloroso sobre a situação atual da Igreja Católica, se mostra mais liberal e empático para certas causas como a islamismo.
É após essa conversa e o discurso de Benitez que os Cardeais fazem a última eleição e o escolhem como Papa, o que é totalmente contraditório e até mesmo utópico quando se vê como é a Igreja Católica no mundo real.
Mesmo que muitas pessoas apreciem os discursos mais liberais do Papa Francisco, o fato é que a igreja se mantém conservadora em certos aspectos, principalmente quando se fala de tolerância a outras religiões, homossexualidade, feminismo e transexualidade.
A escolha do Papa foi o mais fictício nessa história, superando até o fato de que, depois de anunciarem Benitez como Papa, Lawrence descobre que o Cardeal mexicano é intersexo masculino. Benitez é um homem, mas com útero e ovários. Caso que fica em segredo entre Lawrence e Benitez.
Essa cena não me chocou tanto, pois é um fato que a Igreja esconde muitos segredos da sociedade, coisas que nem imaginamos e outras que só ficam como especulações. Então, esconder o fato que o novo Papa possui órgãos femininos não foi tanta surpresa. Mas um líder que aceita esse fato tão abertamente, e pelo fato dele ter ganho após mostrar respeito pelos muçulmanos, foi um pouco a mais para mim. Era algo que eu queria muito que se tornasse verdade, mas sabemos que a realidade não é bem assim.
Considerações finais (acabaram os spoilers):
Apesar do filme falar sobre um grande evento da igreja católica, ele não foi feito para esse público, podendo até desagradar fieis que forem ver o filme sem conhecimento prévio da história. Mas ele irá agradar muito fãs de suspense, tramas bem-feitas e muitos plots twists.
Ele também mostra profundamente como a organização da Igreja está diretamente relacionada com política e sociedade. Escolher um Papa reflete diretamente no mundo inteiro, independente da sua crença.
Para quem tem apreço a filmes bem produzidos, roteiros impecáveis e atuações significativas, fica minha recomendação de Conclave. Um filme que ainda irá chegar aos cinemas, mas tem grandes chances de ser um dos melhores do ano de 2025.
