ANGRA – UMA ‘DESPEDIDA’ COMPETENTE, MAS BUROCRÁTICA EM SÃO PAULO

Em noite com bom público em um sábado chuvoso no Tokio Marine Hall, banda faz show competente, mas perde a chance de fazer apresentação histórica para um último show em sua cidade natal antes do hiato anunciado.

Texto: Fernando Queiroz / fotos: André Simões

ABERTURA DOS PORTÕES TEM GRANDE ATRASO:

Um dia chuvoso, inclusive com notícias de atenção pela Defesa Civil, com certeza deixou algumas pessoas assustadas para ir antecipadamente à fila do show. Às 18h30, uma hora antes do horário previsto da abertura dos portões, havia pouca gente ainda esperando na porta do Tokio Marine – nessa uma hora de intervalo, inclusive, choveu e parou algumas vezes (bem-vindo a São Paulo!!). Bem, chegamos ao horário da entrada do público, às 19h30, e nada, nem sinal das portas abrirem. Podia-se, inclusive, ouvir pessoas reclamando após alguns minutos. Mais de meia hora depois do previsto, após as 20h, finalmente, as portas abriram, e tranquilamente todos foram entrando. Apesar disso, nem perto do total de pessoas que logo chegariam, possivelmente por não quererem ver a banda de abertura.

AZEROTH – BANDA DE ABERTURA FEZ BONITO, MESMO PARA POUCA GENTE:

A demora na entrada, porém, pouco fez efeito no cronograma do evento, e apenas cinco minutos, mais ou menos, após o horário marcado para a banda de abertura, o Azeroth, banda argentina de power metal, entrou no palco – sim, o nome foi baseado no mundo do jogo clássico de computador Warcraft

Com uma breve introdução instrumental, os hermanos começam sua apresentação com “Left Behind”, uma música clássica de introdução de shows do gênero Power Metal mais típico da escola finlandesa, rápida e com muitos pedais duplos. Ótima canção! Apesar disso, era nítido que o retorno do vocalista Ignacio Rodríguez tinha algum problema, pois estava um pouco atrasado na entrada das músicas em diversas partes, possivelmente um erro no in-ear com o click

Falando um relativamente bom português, apesar de em alguns momentos usar um “portunhol”, o simpático vocalista se apresentou e à banda, e seguiram o show com músicas que seguiam o mesmo padrão – “Falling Mask”, “Urd”, e “The Promise”. Os problemas com o click pareciam persistir, mas pouco prejudicava a apresentação, que seguia muito competente. Naquele momento, Ignacio agradece a todos, e diz que tocariam uma música em espanhol. Veio então “La Salida”. Ponto positivo para eles, pois a música soa muito bem no idioma castelhano. 

“Beyond Chaos” veio a seguir e, após ela, o vocalista homenageia dois grandes nomes já falecidos do metal brasileiro: Pit Passarell e Andre Matos! Claro, tocaram um cover de uma das melhores músicas do Viper“Prelude To Oblivion”, onde Ignacio mostra sua extensão vocal, já que é uma música bem alta. A muito boa apresentação dos argentinos terminou com “Trails Of Destiny”, abrindo caminho em grande estilo para a atração principal da noite.

ANGRA – TEMPLE OF SHADOWS NA ÍNTEGRA COM PERFORMANCE COMPETENTE, MAS LONGE DO BRILHANTE:

Previamente anunciado como um show – e uma turnê – de comemoração de um dos mais icônicos discos da banda, o Temple Of Shadows (2004), a expectativa não tinha como ser maior. Apesar disso, e do fato de um hiato ter sido anunciado há pouco tempo, sem previsão de retorno da banda, foi estranho não terem anunciado nenhuma grande participação especial, como é comum, e foi comum em muitos casos. Por todas as participações de peso neste álbum, como Kai Hansen, Hansi Kürsch, Sabine Edelsbacher e Milton Nascimento, teria sido interessante, e até esperado, que houvesse convidados especiais que gravaram o álbum, ou alguém de tamanho peso. Não foi o caso, tivemos apenas uma participação nacional, e de fora do metal.

Apesar do show ser uma comemoração aos vinte anos do Temple Of Shadows, não podiam faltar outros clássicos. Com cerca de dez minutos de atraso, e com bom público, mas não lotado, o que abriu o show foi uma música do último álbum, Cycles Of Pain (2023), e nem sequer a música de abertura, mas “Faithless Sanctuary”, após uma rápida introdução. Já emendado veio a clássica “Acid Rain”, do álbum Rebirth (2001). Aqui, porém, apesar de bem tocada, o vocalista italiano Fabio Lione errou boa parte da letra – algo comum em suas apresentações – e seu microfone extremamente baixo, problema que persistiu o show quase todo. Encerrando a “primeira parte” do show, tivemos outra música do último álbum, “Tides Of Change”, uma boa canção, mas não animou muitos dos presentes, que estavam ansiosamente esperando a atração principal da noite, que viria a seguir.

Finalmente, Lione pergunta se queremos ouvir o Temple Of Shadows (2004), e, rapidamente, as luzes se apagam para a introdução “Deus Le Volt” ser tocada, o que só podia significar uma coisa: começa, então, um dos hinos do álbum, “Spread Your Fire”. Um grande clássico como esse, claro, teve o público cantando em coro por toda a música, em especial no icônico refrão. Curiosamente, no entanto, era nítido que os backing vocals estavam com microfones mais altos que o vocal principal em alguns momentos, especialmente os mais agudos, que pareciam bem mais apagados. 

Seguiu-se, então, o álbum em sua ordem, com “Angels And Demons”, e depois “Waiting Silence”. Uma das mais aclamadas da noite foi a balada seguinte, “Wishing Well”, com o guitarrista Rafael Bittencourt tocando violão, onde novamente ficou nítida a diferença de volume entre os vocais principais e backings. Independentemente disso, foi uma música que levou o público à loucura, como o faz em todo show que é tocada.

Outra música icônica é “The Temple Of Hate”, gravada originalmente em dueto com Kai Hansen (Helloween, Gamma Ray), então se esperava, talvez, uma participação especial de algum grande artista do metal para fazer o dueto, dada a ocasião comemorativa e de “despedida”. Nada. Fabio Lione fez ambas as partes dos vocais. Em seguida, os sons flamencos começaram. Era “Shadow Hunter”, outra música preferida dos fãs, e uma das canções mais progressivas dos tempos áureos da banda. Muito bem recebida pelo público, sempre é um momento de alta em shows.

Outra canção com participação especial, “No Pain For The Dead”, gravada por Sabine Edelsbacher (Edenbridge), foi tocada e houve participação dessa vez. A cantora brasileira Vanessa Moreno, que já participa há tempos de shows da banda, cantou as partes femininas magistralmente!

Mais uma vez, teríamos uma música originalmente com participação: “Winds Of Destination”, que foi gravada em dueto com Hansi Kürsch (Blind Guardian). Porém, novamente, apenas Lione cantou ambas as partes. Seguindo o roteiro, “Sprouts Of Time”, “Morning Star” e, finalmente, a saideira do álbum, “Late Redemption”, que originalmente tem Milton Nascimento, famoso cantor de MPB, fazendo as partes em português. Neste caso, quem fez as partes em nosso idioma foi o próprio guitarrista Rafael Bittencourt. Terminava ali o álbum celebrado no dia, tocado competentemente, mas longe do brilhantismo que se esperava pela magnitude da ocasião. 

Vinte anos do álbum, último show em São Paulo antes de hiato, esperava-se um evento mais robusto, até mesmo em termos de produção. Como apresentação da banda, porém, não fizeram feio.

HORA DOS CLÁSSICOS VARIADOS:

Se tratando de um show do Angra, algumas músicas não podem faltar, não? Bem, após o fim do Temple Of Shadows, tocaram a primeira música da época de Andre Matos na banda, a bela balada “Make Believe”. Em seguida, outra música do último álbum, “Vida Seca”, foi tocada e, embora com algum ânimo por parte do público, era nítido que esperavam outra coisa, mais antiga. Foi o que veio depois! Novamente com Vanessa Moreno no palco, é apresentado outro clássico, “Rebirth”, faixa-título do álbum de mesmo nome, e uma das mais queridas dos fãs. Foi o momento que o público mais se animou até então. A canção foi cantada metade apenas por Vanessa, e a outra metade em dueto com Fabio Lione.

Claro, em um fim de show do Angra, duas músicas específicas não podem faltar! Logo após o fim de “Rebirth”, as luzes se apagam, a banda sai do palco, e a introdução instrumental “Unfinished Allegro” começa a tocar em playback. Logo, o icônico riff de “Carry on”, maior clássico da banda, começa, e a música é tocada até o fim de seu solo, quando emenda em “Nova Era”, uma prática constante (de cortar a música emendando com outra) nos shows recentes da banda, mas que nunca é bem aceita pelos fãs, que consideram decepcionante. Acabava ali, realmente, o último show do Angra em São Paulo antes do anunciado hiato por tempo indefinido.

APRESENTAÇÃO VALEU COMO SHOW, MAS FICA O GOSTO DE ‘QUERO MAIS’:

No fim das contas, é um fato que a banda está afiada e muito bem entrosada no palco – o que, aliás, nos faz ainda mais questionar o porquê do hiato. Velhos de guerra da banda, Felipe Andreoli e Rafael sempre entregam o que se espera, que é uma ótima performance. O guitarrista Marcelo Barbosa, que sempre sofreu pelas comparações com Kiko Loureiro, não é menos capaz, e faz seu papel direito, embora haja críticas entre fãs quanto a seu timbre, mas no fim, isso é uma questão de gosto pessoal. O atual baterista Bruno Valverde, como sempre, provando por A+B que é um dos melhores do Brasil, e cada vez mais com a “pegada metal”. Quanto ao vocalista Fabio Lione, é complicado. Aparentemente ele tem problemas em decorar letras, e muitas vezes tenta chegar a tons acima do que realmente consegue, e isso vem desagradando muitos – quando está cantando em sua zona de conforto, porém, é onde mostra porque é um dos mais reconhecidos vocalistas no mundo do power metal, e é onde realmente brilha. 

Sim, a apresentação valeu a pena. Foi um show legal, que com certeza não desagradou os fãs novos e antigos, mas a falta de participações, convidados, e uma produção visual mais incrementada deixam o gosto de “quero mais”, em especial pelo fato de não sabermos quando poderemos ver novamente a banda nos palcos.

SETLIST:

FAITHLESS SANCTUARY

ACID RAIN

TIDES OF CHANGE

DEUS LE VOLT/SPREAD YOUR FIRE

ANGELS AND DEMONS

WAITING SILENCE

WISHING WELL

THE TEMPLE OF HATE

THE SHADOW HUNTER

NO PAIN FOR THE DEAD

WINDS OF DESTINATION

SPROUTS OF TIME

MORNING STAR

LATE REDEMPTION

MAKE BELIEVE

VIDAS SECAS

REBIRTH

UNFINISHED ALLEGRO/CARRY ON

NOVA ERA

ANGRA:

Fabio Lione – vocal

Rafael Bittencourt – guitarra

Marcelo Barbosa – guitarra

Bruno Valverde – bateria

Felipe Andreoli – baixo

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About Guilmer da Costa Silva

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One Comment on “ANGRA – UMA ‘DESPEDIDA’ COMPETENTE, MAS BUROCRÁTICA EM SÃO PAULO”

  1. Fabio Lione é um bom vocalista, nada a mais. Por isso, nunca entendi ele estar na banda. No YouTube vemos vários caras que cantam bem melhor que ele as músicas do Angra.

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