Mudança de local do show, cancelamento de Whitechapel e um novo vocalista. Fatores de readequação em nada impactaram a entrega de uma apresentação visceral da banda em São Paulo
Texto por Andrei Ramirez (@andreiramirez13) e Fotos por Gabriel Luiz Ramos (@gabrieluizramos)
Domingo (8) e o destino é o Hangar. A casa localizada na região central de São Paulo, próxima ao metrô Tiradentes, há anos é o berço do punk, hardcore e seus derivados, tendo passado por um hiato recente e retornado às atividades com apresentações nacionais e internacionais.
A casa foi escolhida como a locação do evento que, à princípio, seria no Cine Joia, também no centro de São Paulo (Liberdade), e que contaria também com a apresentação da banda Whitechapel. Um dos precursores do deathcore do início dos anos 2000 retornaria ao Brasil após longos 16 anos de sua passagem por aqui.
Porém, o público foi surpreendido poucas semanas antes do show, com um pronunciamento em suas redes oficiais do vocalista Phill Boozeman .
Com a voz embargada, o vocalista anunciou o cancelamento de toda a turnê da banda pela América do Sul por razões de saúde. Ele mencionou a luta que trava com as patologias psicoemocionais, a suspensão do uso de medicamentos e o trauma que carrega após perder os pais, sendo a mãe, por problemas com abuso de drogas.
Vamos ao Thy Art is Murder, a banda trabalha a divulgação de seu último álbum Godlike, seu 7° lançamento oficial, sendo 6 álbuns de estúdio e 1 ao vivo, Decade of Hate (Live in Melbourne)
Uma curiosidade sobre o último trabalho é que o mesmo já havia sido gravado com o vocalista CJ McMahon, porém, todas as músicas foram regravadas para serem assumidas pelo novo vocalista Tyler Miller
CJ foi desligado das atividades da banda recentemente. Houve um “cancelamento” do mesmo, com duras críticas após comentários transfóbicos veiculados em redes sociais. Após o acontecimento, sua saída do Thy Art foi anunciada pelo mesmo em suas redes sociais, que disse ter sido surpreendido com sua demissão.
Atualmente, o vocalista compartilha sua nova rotina, de cabelos curtos e atuando como corretor de imóveis, e ainda divide opiniões entre a decepção de alguns com suas posturas e outros que sentem falta de sua voz e personalidade como frontman.
Sabe se que o deathcore viveu o seu ápice na primeira década dos anos 2000, passando atualmente por um revival e uma repaginada em sua estética musical, com o boom de bandas como Lorna Shore e Slaughter to Prevail.
Pontualmente, o vocalista Tyler Miller, os guitarristas Sean Delander e Andy Marsh, o baixista Kevin Butler e o baterista Jesse Beahler, sobem ao palco desferindo “Destroyer of Dreams”, faixa que abre o último álbum e literalmente apresenta o novo vocalista ao público.
Porém, os primeiros moshs, stage dives e circle pits se deram com a dobradinha das clássicas “Death Squad Anthem” e “Make American Hate Again” . Inclusive, eu me aventurei e relembrei que meus tempos já se passaram. A banda seguiu executando seu show, com público e músicos já aquecidos e envolvidos na atmosfera brutal e intimista que bandas de peso proporcionam ao se apresentar no Hangar
Uma curiosidade é que se trata de um show extremamente direto e reto, devido ao uso de metrônomo pelo baterista Jesse e samples e intros serem programadas pelo técnico de som em pré-set. Porém, nada que torne o show mecânico demais, ou tire a interação mais orgânica, devido ao feeling de Tyler, sabendo exatamente os momentos certos para agradecimentos e convocações ao público para que agitarem ao máximo.
Ainda sobre a questão de programação X climática do show, a banda já mostra tamanho entrosamento com seu novo vocalista e músicas que puxam uma atmosfera sombria, como “Holy War” e “Pure Strain of Hate”, levaram o público ao transe.
“Reign of Darkness” e “Puppet Master” encerram o pesado e muito bem escolhido setlist, que trouxe músicas de seu último trabalho e os clássicos já esperados por todos.
Setlist:
- Destroyer of Dreams
- Blood Throne
- Death Squad Anthem
- Make America Hate Again
- Slaves Beyond Death
- Join Me in Armageddon
- Holy War
- The Purest Strain of Hate
- Godlike
- Keres
- Everything Unwanted
- Reign of Darkness
- Puppet Master