Em duas noites de casa cheia Iron Maiden faz shows históricos com direito a despedida emocionante.
Texto: Vagner Mastropaulo
Fotos: Gustavo Diakov
Na adrenalina pós-show durante o regresso para casa na última sexta-feira, este escriba, com
ingresso pago do bolso, esboçava idéias tendo conferido a performance do Iron Maiden nas cadeiras
inferiores junto a familiares e amigos. Sem tirar nem pôr, o objetivo era, em algum momento desta
resenha, utilizar a redação a seguir, finalmente elaborada já no sábado, por volta de 02:30 da manhã,
vislumbrando antecipar trabalho para a segunda noite da banda em São Paulo devidamente
credenciado:
“Nicko tocou em ‘modo econômico’, protegido em seu quadrado cênico, remetendo a
Somewhere In Time na atual The Future Past World Tour, sem preterir Senjutsu, e encoberto pelos
pratos. O zelo foi tamanho ao vivo após o leve derrame sofrido em março a ponto de ele pouco
aparecer nos telões, claramente poupado em bela atitude de seus parceiros, evitando expô-lo
desnecessariamente. O ato em si foi elaborado de modo tão respeitoso quanto o objetivo deste
redator nestas linhas e até o som de suas batidas pareciam soar um pouco mais baixo do que o
restante do instrumental. Fato é que ele não toca como outrora, mas, cá entre nós, será que precisa?”.
Horas depois, quando todos por aqui acordavam, vinha a público sua postagem, por que não, uma bomba a chocar o mundo inteiro, e a questão passava a ser: como encarar uma cobertura tão importante como “apenas mais uma”? Tentando não deixar a emoção tomar conta e paralisar as ações, a saída foi interpretar o lado positivo das palavras do baterista em sua nota e tentar “sempre olhar para o lado bom da vida”, parafraseando o refrão da outro utilizada às 22:50, quando ele deixava o palco sozinho ao som do single de 1979 do brilhante Monty Python.
Enfim, tudo em seu devido momento, até porque um dos motes da turnê era resgatar um play de 1986 centrado em tempo e espaço e, se o músico, seus companheiros e este escriba tinham uma missão a cumprir, o Volbeat também tinha de encarar a árdua missão de abrir para o maior expoente do heavy metal tradicional – e aqui não vamos cair na armadilha sem fim sobre e o Metallica ser um nome maior ou menor, pois vamos deixá-los reinando soberanamente no thrash.
Na sexta, a tarefa foi extremamente dificultada com os telões desligados, sem qualquer tipo de esclarecimento ao público a respeito do motivo… Graças a Dio, no sábado não se repetiu o problema que afetara os dinamarqueses e poderia ter seriamente comprometido a percepção de quem desconhecia o real potencial dos caras. Afinal de contas, a longa distância a separar o líder, vocalista e guitarrista Michael Poulsen e seus colegas de quem estava nas cadeiras e pista comum do estádio, sem chance alguma de efetivamente vê-lo esbanjar carisma, tornara-se mais uma barreira a ser vencida.
Ao longo de sessenta e um minutos e com o repertório iniciado três minutos antes do
prometido para 19:10, um trecho de Born To Raise Hell, do Motörhead (com Ice-T & Whitfield Crane,
respectivamente vocalistas de Body Count e Ugly Kid Joe fazendo pontas brilhantes), preparou terreno
para The Devil’s Bleeding Crown, permeada pela primeira interação do frontman: “São Paulo, Brasil,
façam barulho! Vocês são lindos!”, ganhando a galera de imediato! Aqui já cabe uma constatação:
como Michael canta fácil! A contagiante Lola Montez, do seminal Outlaw Gentlemen & Shady Ladies
(13), manteve o pique, concluída por uma fala um tanto mais extensa:
“Como estão esta noite? Estão felizes? Somos o Volbeat, vindos de longe, da pequena
Dinamarca, para vermos esta sensacional grande multidão em São Paulo, Brasil. Muito obrigado pelo apoio de vocês até agora! É uma honra dividirmos o palco com o lendário Iron Maiden! É uma noite histórica! Então… Cresci ouvindo muitas coisas dos anos cinqüenta, muito Johnny Cash e Elvis Presley.
Quando era adolescente, descobri o poderoso Iron Maiden. Adoraria tocar algumas músicas nas quais me inspirei e esta é muito inspirada no Sr. Johnny Cash. Estão prontos? Por favor, digam ‘Sim!’. Vocês são pessoas boas! Lá vamos nós!”.
Na prática, fizeram Sad Man’s Tongue, autêntica paulada rock ‘n’ roll com as primeiras gotas de
uma leve garoa surgindo e parecendo dar uma apertada na próxima pancada, A Warrior’s Call. Na
boa? Em virtude do calor experimentado na sexta, quem voltava no sábado sequer se importava. A
próxima? Black Rose, que conta com o músico Danko Jones em estúdio como convidado, e que virá a
São Paulo com sua banda homônima em março dando suporte ao Graveyard na Vip Station.
Wait A Minute My Girl provou ser um rock ‘n’ roll dos bons e então brotou a única troca em
relação ao setlist da véspera: Dead But Rising na vaga de Shotgun Blues, marcando a volta do peso e
aqui uma observação in loco na sexta por Thiago Rahal Mauro, amigo deste repórter e jornalista da
Roadie Crew, fazia completo sentido: “Eles teriam mais a ver e se encaixariam melhor abrindo para o
Metallica”, talvez pelos riffs em profusão. Não por acaso, há respeito demonstrado por James Hetfield
ao apelidar o frontman de “Little E”, comparando-o a Elvis Presley em matéria assinada por Dave Everley para o site da Metal Hammer.
Confira o relato aqui:
Falante, o jeito era continuar dando voz ao Pequeno Elvis: “Gostaria de dedicar esta a meu querido pai, Jørn Poulsen. Também gostaria de dedicá-la a todos vocês que perderam alguém que realmente amavam. Esta música se chama Fallen”, pérola escondida com quê de balada e de letra comovente. Com o perdão do trocadilho, Seal The Deal foi apenas mais uma a selar o que havia sido veladamente acordado entre banda e quem curtia o caldeirão multi-estilos do conjunto, passando por punk, rockabilly, rock ‘n’ roll, metal e até ska na saideira um pouco adiante…
Antes, porém, The Devil Rages On trouxe tempo e espaço para uma “quase jam”, um tanto
presa à estrutura final da canção. Conforme esperado, a maravilhosa For Evigt foi o ponto alto do
show, sobretudo devido ao belíssimo espetáculo oferecido pela platéia, a contribuir com as lanternas
dos celulares acesas, iniciativa somente superada um tanto depois por quem tem medo do escuro,
soltando um leve spoiler… Ainda sobre ela, uma dica: em estúdio, a segunda voz fica a cargo de Johan
Olsen e não deixe de conferir a versão ao vivo registrada em “Let’s Boogie! (Live From Telia Parken)” (18), também com o vocalista do grupo dinamarquês Magtens Korridorer. Simplesmente sensacional!
A última? Melhor deixar o comunicativo Poulsen anunciar: “São Paulo, Brasil, vocês foram ótimos com o Volbeat! Muito obrigado pelo apoio de vocês, façam barulho para vocês mesmos. Muito obrigado ao Iron Maiden por trazer o Volbeat ao Brasil. Muito obrigado pelo apoio de vocês! Esta é Still Counting”, fechamento do tipo voadora no lustre bem quando a garoa finalmente cedia ao som da outro “Trust Me”, assinada por Brad Fiedel e tema de Terminator 2: Judgment Day (91).
Distribuídas na discografia, no frigir dos ovos, foram selecionadas: quatro de Seal The Deal &
Let’s Boogie (16); duas de Outlaw Gentlemen & Shady Ladies (13), Beyond Hell/Above Heaven (10) e
Servant Of The Mind (21); e uma de Rock The Rebel/Metal The Devil (07) e Guitar Gangsters & Cadillac
Blood (08) – assim deixando de lado o début The Strength/The Sound/The Songs (05) e Rewind, Replay,
Rebound (19).
Sabe o que mais assusta? Tudo que temos do Volbeat em solo nacional foi o pouco além de uma
horinha por noite desta vez, somadas a uma apresentação meio perdida e com a mesma duração
aproximada no numa tarde de sexta-feira do Lollapalooza de 2018. Sim, passou da hora de podermos testemunhar um show exclusivamente deles em São Paulo, gerando a cilada de qual casa os comportaria ao parecerem grandes demais para um Carioca Club ou Audio e provavelmente pequenos para esgotarem ou lotarem um Tokio Marine Hall ou Espaço Unimed.
Deste modo, insuficientes para encorajar alguma produtora a neles arriscar, o círculo vicioso se fecha por não conseguirem formar público cativo e, na prática, o status permanece inalterado com o que se viu no estádio do Palmeiras: platéia respeitosamente contemplativa sem conhecê-los a fundo, com gatos pingados cantando uma ou outra e chegando ao ponto de um desavisado, perto deste repórter, sentir a falta de Rob Caggiano, desabafando entre seus pares: “Cadê o cara que também tocou no Anthrax?”, alheio a sua saída em julho/23, após dez anos de serviços prestados…
Alheio a tais ponderações, a título de curiosidade, o esperto e malandro Poulsen usara uma camiseta de Beneath The Remains (89), do Sepultura, na sexta, e outra dos irmãos Cavalera no sábado, com as capas remodeladas de Bestial Devastation (85) e Morbid Visions (86), na verdade, o modelo do giro Morbid Devastation, para que ninguém pudesse chiar, caso ainda exista quem tome partido neste racha. No mais, sem comprometer e apenas pelo registro, observamos total falta de decoração na missão super bem sucedida em ser opening act. Que voltem, em breve, de preferência!
Volbeat – Allianz Parque – 07/12/2024
Intro: Born To Raise Hell [Motörhead Feat. Ice-T & Whitfield Crane]
01) The Devil’s Bleeding Crown
02) Lola Montez
03) Sad Man’s Tongue
04) A Warrior’s Call
05) Black Rose
06) Wait A Minute My Girl
07) Dead But Rising
08) Fallen
09) Seal The Deal
10) The Devil Rages On
11) For Evigt
12) Still Counting
Outro: “Trust Me” [Brad Fiedel]
Volbeat:
Michael Poulsen (vocal e guitarra), Flemming Lund (guitarra), Kaspar Boye Larsen (baixo) e Jon Larsen (bateria)
“Scream for me, Brazil!”
Às 20:52, oito minutos antes do programado, um exemplo concreto do chavão não
necessariamente correto vindo do futebol: “Por que mexer em time que está ganhando?”. Afinal de
contas, tão vibrante e eterna quanto a satisfação causada por The Ecstasy Of Gold, do saudoso Ennio
Morricone e também trilha sonora de The Good, The Bad And The Ugly (66), a inaugurar as
apresentações do Metallica, a escolha por Doctor Doctor fez pessoas cantarem-na a plenos pulmões,
como se ela fosse material do próprio Iron Maiden!
Para se ter uma idéia da devoção de qualquer coisa associada à Donzela De Ferro, há pelo
menos dois vídeos com filmagens feitas nas cadeiras e com visão parcial disponibilizados no YouTube
com o clássico do UFO por inteiro e sem nada se desenrolando no palco, sendo um da sexta:
e outro do sábado:
Ainda que somados a um pedaço da magistral e marcante composição do Vangelis intitulada Blade Runner (End Titles) como segunda intro, para somente então mandar tudo pelos ares com Caught Somewhere In Time, praticamente emendada a Stranger In A Strange Land. Sobre elas, um detalhe para cada: na primeira, rolou o “Scream for me, Brazil!” inaugural de Bruce; e, na segunda, aconteceu a entrada número um de Eddie – detalhes aparentemente bobos e até infantis, de tão corriqueiros após tantas vindas do conjunto ao país, mas capazes de sensibilizar a criança que você um dia foi e ainda habita aí dentro.
Nelas, aliás, a ficha finalmente começava a cair: em menos de duas horinhas que voariam, Nicko
estaria fora… Sim, a noite era dele e passava a ser inevitável não refletir a respeito. Viajando no tema,
este redator pescou um trecho de conversa entre fãs ao seu lado: “Fico imaginando como é para a
banda, assim que entrou, saber que este é o último show com o cara”…. É ou não é de dar um nó na garganta?
Inacreditáveis três segundos após encerrarem a citada Stranger In A Strange Land, a galera não decepcionou ao encontrar brecha para vociferar um “Ni-cko! Ni-cko! Ni-cko! Ni-cko” que não tão cedo, ou talvez jamais, deixará de ecoar na mente de quem esteve pelo estádio do Palmeiras. Tudo “piorou” quando Bruce pediu a palavra notadamente com a voz embargada para um silêncio quase sepulcral para ouvi-lo:
“Então, São Paulo… Esta é uma noite muito especial, pois alguns de vocês… acho que
provavelmente todos vocês sabem… Porque, nesta manhã, anunciamos… Nicko anunciou que estaria
deixando de tocar bateria ao vivo com o Iron Maiden. Ao longo de quarenta e dois anos, Nicko está
nesta banda… Ela era um baterista antes de eu me tornar um cantor. Ele era um ‘piloto’ antes de eu virar um piloto. E agora ele está não deixando a banda, mas simplesmente não tocará mais ao vivo
conosco”.
Bruce prosseguiu, mas não havia como escutá-lo com clareza até o povo se acalmar um pouco
novamente. Logo, sobreposta por mais gritos com o nome do baterista, só foi possível interpretar a
frase seguinte, como um convite para que todos se juntassem a ele, até a retomada: “Para que ele
saiba o quanto é amado por todos. Então temos muito mais músicas para tocarmos esta noite e quero
que o resto da noite seja uma celebração a Nick, uma celebração à alegria que ele trouxe a todos ao
redor do mundo, não apenas aqui ao Brasil, certo? Isto posto, prosseguimos: vocês conseguem ver a
escritura na parede?”, indicando The Writing On The Wall, gradativamente mostrando mais e mais que
veio para ficar.
Tentando despejar um pouco de racionalidade no coração, notamos a primeira mudança de
backdrop e, a princípio, planejávamos marcar com um asterisco no setlist abaixo cada vez que um
deles fosse alterado. Entretanto, as trocas foram tantas, com praticamente um novo a cada música,
que passou a fazer mais sentido informar a única situação em que o mesmo bandeirão foi mantido,
logo na abertura, entre as duas primeiras músicas, e posteriormente resgatado em Heaven Can Wait.
No mais, com os recursos visuais aos quais podemos recorrer hoje em dia, apenas citaremos uma ou
outra arte quando mais relevante.
As duas próximas também seriam de Senjutsu (21), sendo Days Of Future Past a primeira e é
melhor deixar o frontman se encarregar de contextualizar a outra: “Gostamos de voltar no tempo.
Escolham um ano. 1986? Talvez 1981? Vamos chegar bastante a eles mais tarde porque, vejam, vocês
conhecem esta do álbum Senjutsu. Inventamos nossa própria… E vocês precisam pular pra caramba
durante a próxima. Vocês precisam pular para fazer a máquina do tempo”, referindo-se a The Time
Machine, obviamente com temática totalmente relacionada ao resgate de Somewhere In Time.
Finalmente selecionando conteúdo de The Number Of The Beast (82), se saíram com The
Prisoner, única do disco e, portanto, sim, eles tiveram a manha de abrir mão da faixa-título e de
Hallowed Be Thy Name. Nos dois telões verticais no palco, imagens da série de TV britânica homônima
a inspirar a música e o bandeirão trazia um tabuleiro de xadrez focava nos peões. Regressando a
Senjutsu, Bruce revelou: “Esta é uma música sobre irlandeses e Nicko não é irlandês. Janick, por outro
lado, é o responsável por beber a maioria do produto nacional deles, a Guiness. Esta é uma estória
sobre os celtas, uma tentativa de matar uma raça inteira de pessoas muitos anos atrás e que não
funcionou. Esta é a estória exata do porquê não ter funcionado. Esta é Death Of The Celts”, concluída
com Steve Harris dedilhando um belo baixo acústico.
Cravando uma hora no relógio, incluindo as intros e a outro, chegava-se ao que depois se descobriria ser a metade do espetáculo ao som de Can I Play With Madness, representante singular de Seventh Son Of A Seventh Son (88), com talvez um dos mais bem encaixados e discretos usos ao vivo, e não em estúdio, de cowbell – famoso pelos começos de We’re An American Band, do Grand Funk Railroad, e de Hair Of The Dog, do Nazareth.
Mantendo o clima positivo, há como não sair pulando de “Take my hand, I’ll lead you to the
promised land” ao término do coro em Heaven Can Wait? Completando o mais puro suco de
entretenimento, Bruce travou “confronto armado” com o Eddie customizado da capa do play de 1986
em que todos venceram, especialmente a platéia! Ele ainda a encerrou acima de Nick apontando para
o baterista antes de cantar o derradeiro verso: “Heaven can wait ‘till another day”. Alexander The
Great foi certamente uma das mais esperadas pelos fãs, seguros de que dificilmente tornarão a ouvi-la
outra vez e causou impacto visual e sonoro as quatro gongadas dadas por Bruce em seu decorrer.
Agora, o que dizer a respeito de Fear Of The Dark? Papo sério, se você ainda não a apreciou ao
vivo, saiba que, no metal, nada é mais belo do que ela num estádio com o título vociferado ecoando
até o último assento, o mais distante possível. Mera opinião, evidentemente cabe o debate e,
ampliando para o rock, talvez apenas Everlong, do Foo Fighters, se aproxime em impacto… Fato
mesmo foi Bruce interpretando seu início fitando a lua cheia da capa do álbum feito um Professor
Astromar Junqueira da vida no enésimo reprise de Roque Santeiro (85-86) no Canal Viva.
Encerrando o set regular, Iron Maiden trouxe o terceiro e último Eddie, agora nos moldes do
samurai do mais recente trabalho do grupo, e ela foi a única dos tempos de Paul DiAnno executada,
com um total de zero menções ao saudoso frontman. Não que fosse de caráter obrigatório, mas não
ficou um pouco estranho ignorá-lo? O tímido uso de labaredas em seu meio e final era um simbólico
indício de que viria mais pela frente. Fingindo ir embora, Bruce soltou um spoiler: “Obrigado e boa
noite da parte do Iron Maiden, da minha e dos caras. São Paulo, esta realmente é uma noite muito
especial e, como James Bond, nós voltaremos. Talvez em dois anos, talvez antes, nunca se sabe da
vida”. Sendo o último a temporariamente deixar o palco, Nicko jogou uma pele e três baquetas mais
do que especiais a verdadeiros sortudos!
No encore, Hell On Earth exibiu uma Estátua da Liberdade com o rosto do mascote e as citadas
labaredas voltaram com tudo! Ainda nela, Janick saiu pulando num pé só e ela também teve o baixo
acústico de Steve. Enquanto esperávamos por The Trooper, um fã devidamente paramentado como o
querido “monstro” na capa do single a passos largos decidiu se direcionar rumo à frente do palco
soltando um “Vambora!” ao lado deste que vos escreve! Na boa, não é todo dia que um “Eddie” te
atropela e fala contigo…
Chegando ao momento da despedida, Bruce cravou: “Ei, toda noite em que tocamos esta música é a melhor noite de nossas vidas. E se vocês tivessem apenas uma noite para viver, não a passem se preocupando com os anos desperdiçados”, sintetizando a letra da maravilhosa saideira em forma de Wasted Years, sem dar chance para a emoção tomar conta do que eternamente se transformava na última música do sexteto sob condução de Nicko McBrain e com refrão mais do que perfeito para concluir sua trajetória. Houve novos souvenirs? Sim, duas peles lançadas feito freesbies e quatro baquetas arremessadas.
O vocalista encerraria a festa agridoce: “Como disse, como James Bond, nós voltaremos com a turnê de cinqüenta anos de aniversário, mas esta noite pertence a um homem e todos sabem de quem estou falando. Vamos trazer Nick para cá e tirar uma foto daqui nesta noite com quarenta e cinco mil de nossos amigos, que são vocês. Ele é o cara, certo? Quero três saudações ao Sr. “Nicholas” McBrain. Nick, o palco é seu, este é seu estádio, esta é sua noite. Sem pressa”. Só não caia na pegadinha, uma vez que seu nome real nada tem a ver com “Nicholas”, sendo, de fato, Michael Henry McBrain.
Faltou alguma coisa? Sim, palavras suas. Preferindo curtir a ovação em silêncio víamos não um, não dois e não três fãs chorarem copiosamente, mas bem mais gente do que cabe nos dedos das duas mãos, isto apenas no trajeto do centro da pista premium até a saída lateral à direita com a citada Always Look On The Bright Side Of Life disparada no sistema de som. Fica o nosso carinho e respeito a quem começava a assimilar a “perda”, vivenciando uma espécie de luto. Com coisa séria não se brinca!
Atônito, este que vos escreve refletia sobre tudo que acabava de se acontecer e, se você pirou em Senjutsu e adora ou cresceu escutando Somewhere In Time, partiu para casa de alma lavada, pois deles foram extraídas dez das quinze totais. Aí você pode questionar: “Só quinze?”. Distribuídas em exatas duas horas, três faixas passaram de seis minutos, duas foram além de sete, uma bateu oito e duas superam dez minutos de duração – daí a quantidade aparentemente pequena de pedradas.
No mais, em um mundo de atualizações instantâneas de informação, é praticamente impossível você não ter ficado sabendo que o repertório seria pautado num par de álbuns, pois, quer queira, quer não, informações chegam a qualquer um envolvido na cena metal sem precisar de esforço, tendo ido ou não ao estádio do Palmeiras. Porém, consideremos um cenário hipotético: se você foi ao show sem conferir setlists prévios, passou a noite toda esperando pelos hinos de sempre e pode ter ido embora um tanto decepcionado, mesmo sendo bastante improvável alguém ter caído por lá de pára-quedas e, portanto, ciente de onde se enfiara sem poder reclamar.
Enquanto finalizávamos esta matéria, a revelação foi rápida e, a esta altura, até Rubens Barrichello já sabe quem substituirá Nicko a partir de 2025: Simon Dawson, companheiro de Steve Harris em seu projeto paralelo, o British Lion, que se apresentou na Fabrique em São Paulo, na quinta-feira, 05/10, e que, por vinte anos, foi membro do extinto The Outfield – sim, eles mesmos, da maravilhosa Your Love, maior sucesso do conjunto dos já falecidos Tony Lewis (vocal/baixo) e John Spinks (guitarra). Será que ele manterá os brinquedos de pelúcias deixados entre os bumbos, um diferente em cada noite, como fez Nicko? Só o tempo dirá! Por ora, muito obrigado, Nicko!
Iron Maiden – Future Past Tour – Allian Parque – 07/12/2023
Intro 1: Doctor Doctor [UFO]
Intro 2: Blade Runner (End Titles) [Vangelis]
01) Caught Somewhere In Time
02) Stranger In A Strange Land
03) The Writing On The Wall
04) Days Of Future Past
05) The Time Machine
06) The Prisoner
07) Death Of The Celts
08) Can I Play With Madness
09) Heaven Can Wait
10) Alexander The Great
11) Fear Of The Dark
12) Iron Maiden
Encore
13) Hell On Earth
14) The Trooper
15) Wasted Years
Outro: Always Look On The Bright Side Of Life [Monty Python]
Iron Maiden:
Bruce Dickinson (vocal), Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers (guitarras), Steve Harris (baixo) e Nicko McBrain (bateria)