Texto por Guilmer Silva (@guilmer_metal) e Fotos por Daiana Oliveira (@_ameninadasfotos)
A noite de São Paulo estava fria, combinando perfeitamente com o clima do show que aconteceria naquele dia. Os deuses do metal prepararam o ambiente ideal para o aguardado espetáculo do Enslaved na Fabrique Club, localizada na Barra Funda. O evento foi promovido pelas renomadas produtoras Powerline Music & Books e Áldeia Produções Artísticas, em parceria com a House Of Gods, Talentnation e MMC Live.
Após cinco anos, os noruegueses retornaram a São Paulo para um show exclusivo. Atualmente, a banda é composta por Grutle Kjellson (vocal/baixo), Ivar Bjørnson (guitarra), Arve “Ice Dale” Isdal (guitarra), Håkon Vinje (teclado) e Iver Sandøy (bateria).
Formado em 1991, na pacata cidade de Sveio, o Enslaved é um dos maiores representantes da música extrema norueguesa, ao lado de bandas icônicas como Emperor, Mayhem, Immortal, Darkthrone, Borknagar, Gorgoroth, Satyricon, Dimmu Borgir, entre outras.
Em uma noite carregada de energia, o palco tremeu ao som épico do Enslaved, que trouxe sua inconfundível mistura de black metal e elementos progressivos, para o delírio dos fãs brasileiros. Com uma carreira de mais de três décadas, a banda reafirmou por que é considerada um dos pilares do metal extremo. Entre riffs agressivos, atmosferas introspectivas e uma presença de palco avassaladora, o público foi transportado por uma jornada musical que mesclou as raízes nórdicas com arranjos modernos e sofisticados.
Sob luzes dramáticas e uma produção impecável, o Enslaved apresentou um setlist que percorreu clássicos de sua vasta discografia, ao mesmo tempo em que incluiu faixas de seu mais recente álbum. A conexão entre banda e plateia foi visceral, com cada nota ressoando como um tributo à paixão pela música pesada.
O show começou com a faixa moderna e psicodélica “Kingdom”, do álbum Heimdal (2023), uma das minhas favoritas. A escolha foi acertada para abrir a noite. A música traz ótimos riffs que sustentam um andamento acelerado, com momentos marcantes no teclado e nos vocais limpos.
Sem perder tempo, a banda emendou com “Homebound”, um petardo experimental que levou o público à loucura.
Ainda promovendo o novo álbum, tocaram “Forest Dweller”, uma faixa que poderia ser descrita como a versão de Emerson, Lake & Palmer tocando black metal. Aqui, o tecladista Håkon Vinje brilhou. Os elementos progressivos dos anos 70 foram incrivelmente evidentes, mesmo quando a música ganhava em intensidade, tornando-se uma das composições mais cativantes da banda. Em certos momentos, parecia que estávamos em um show da década de 70 — espetacular!
A química entre os integrantes no palco é notável, com todos interagindo e pedindo aplausos, o público respondia na mesma intensidade.
Na sequência, apresentaram “Congelia”, uma faixa até então inédita na turnê latina, executada pela primeira vez desde agosto deste ano. Após um estrondo sonoro, Grutle apresentou os membros da banda de forma carismática, elogiando cada um com muito bom humor, arrancando risos do público. Quem disse que o black metal precisa ser ríspido e mal-humorado está completamente enganado.
O show continuou com as incríveis “The Dead Stare” e “Havenless”, do álbum Below the Lights (2003). “Havenless” permanece como uma das músicas mais populares do Enslaved, e é fácil entender o porquê. Com cantos noruegueses hipnotizantes, um riff cativante e um exercício rítmico fascinante, a música é um espetáculo. Aqui, Grutle trocou o baixo por um sintetizador analógico, que produziu sons peculiares, mas que se encaixaram perfeitamente. Foi impressionante perceber que não havia sons pré-gravados ou samples — tudo foi executado ao vivo, com emoção e técnica.
Em seguida, Grutle agradeceu aos presentes e anunciou uma faixa antiga do álbum Frost (1994). Os fãs mais fervorosos vibraram com a música, que estreava na turnê latina. A faixa começou com uma sequência majestosa de palavras faladas e evoluiu para uma explosão de intensidade. Momentos rápidos deram lugar a trechos surpreendentemente cativantes, quase dançantes — uma experiência poderosa ao vivo.
Rumo ao final, a banda deixou o palco, permanecendo apenas o carismático baterista/vocalista Iver Sandøy, que executou um breve solo inédito na turnê. Apesar de não ser fã de solos de bateria, este foi técnico, rápido e envolvente. Após cinco minutos, todos retornaram para encerrar com a clássica e pesada “Isa”, do álbum homônimo (2004).
Para fechar com chave de ouro, tocaram “Allfǫðr Oðinn”, uma faixa bombástica que combina elementos tradicionais de metal com passagens de alta velocidade e terror sonoro — uma escolha perfeita para o grand finale.
Mesmo em uma semana com diversos shows em São Paulo, o público compareceu em peso, e o Enslaved entregou uma performance sólida, técnica e emocionalmente envolvente. Iver Sandøy provou ser o coração pulsante da banda, enquanto a dupla Bjørnson/Ice Dale permanece como uma das mais intrigantes no cenário do metal extremo. É impressionante pensar que esta banda já faz isso há quase 35 anos. O resultado final foi um espetáculo de alta qualidade, evidenciando o forte compromisso do Enslaved com seus fãs.
Setlist Enslaved:
- Kingdom
- Homebound
- Forest Dweller
- Congelia
- The Dead Stare
- Havenless
- Fenris
- Drum Solo
- Isa
- Allfǫðr Oðinn
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