Texto por Fernando Queiroz (@fer_nando_nw) e Fotos por Gustavo Diavok (@xdiakovx)
Pouco mais de dois anos após se apresentar no Lollapalooza Brasil, em 2022, Rapper retorna ao Brasil para show intimista, e com ótimo público para uma terça-feira à noite. Com muita sensualidade, às vezes quase explícita, e mensagens de inclusão e amor sáfico, a cantora, ícone LGBTQ+, levou o público jovem à loucura em apresentação um pouco curta demais.
FILAS ENORMES ANTES DO SHOW, E PÚBLICO À CARÁTER
Shows às terça-feiras são sempre complicados para o público, e tendem a, quando encher, ser apenas mais próximo da apresentação principal. Quando se trata de shows de artistas voltados ao público mais jovem, muitos adolescentes, a coisa parece que muda. Antes das sete da noite, a fila para entrar no show já dava voltas em frente à Audio SP, e a cena era bonita! Pessoas à caráter, com visuais estéticos alternativos eram o padrão. Casais jovens, em geral LGBTQ+, pessoas trans, e pessoas mais “padrão”, que falavam que saíram do trabalho direto para o show, estavam em plena harmonia, sem julgamentos ou discriminação. As portas da casa abriram próximo das 19h30, e já próximo da apresentação de abertura, às 20h, o público já havia entrado. A Audio estava não lotada, mas bem cheia, e tomada pelo público pop moderno.
ABERTURA AGRADA E SE DESTACA, MAS EXTENSÃO CANSA PÚBLICO
A abertura da noite ficou a cargo da artista e cantora transexual Mia Badgyal, ou simplesmente MIA. Brasileiríssima, e com letras picantes, a apresentação, utilizando o cenário da atração principal, foi repleta de coreografias sexy, com coreógrafos muito competentes, além de um DJ no fundo, e Mia usava um visual super provocante, mostrando seu som que misturava o funk brasileiro com um pouco de tecnobrega e muita música eletrônica moderna. Em determinado momento, após algumas canções, o público começou a gritar seu nome “Mia, Mia”, o que claramente a deixou emocionada, demonstrando ao agradecer a todos. O setlist foi um pouco longo para uma apresentação que, a partir de certo momento, começou a cansar um pouco todos que esperavam a atração principal da noite, mas ela não se abalou, e mostrou seu trabalho de forma competente e profissional, emocionando o povo ao falar, nas palavras dela que “não muito tempo atrás, eu estava aí com vocês, vendo os shows das divas que adoro. Agora estou aqui! É um sonho realizado”. Mia encerrou sua apresentação com cerca de quarenta e cinco minutos de palco, e foi muito aplaudida por todos. Estava chegando a hora!
ATRAÇÃO PRINCIPAL, ASHNIKKO ATRASA CERCA DE VINTE MINUTOS, MAS NÃO DECEPCIONA
Com cerca de vinte e cinco minutos de atraso, algo incomum para as apresentações na Audio, a rapper atração principal da noite, Ashnikko subiu ao palco aclamada e ovacionada pelo público, tocando em sequência You Make Me Sick, STUPID e Working Bitch. Logo no começo, a americana já mostrou a que vinha com coreografias muito bem ensaiadas, uma qualidade de som impecável. Para delírio de todos, logo no começo Ashnikko já mostrou, quase explicitamente, sua “comissão traseira”, por assim dizer, e com suas roupas absurdamente curtas e sensuais, tirou suspiros das moças e moços presentes.
A apresentação, muito competente, evitou arriscar, e contou com um setlist sem surpresas levando em conta os últimos shows. Seguiu com Don’t Look At It, Super Soaker e uma das favoritas dos fãs, Slumber Party. Entre as músicas, Ashnikko fazia reverências aos fãs, e à liberdade de ser quem é. Os fãs, em especial ‘as fãs’, gritavam muito e chamavam a cantora de “gostosa”, que a princípio não entendia, mas alguém a sinalizou do que se tratava, e ela respondeu carinhosamente. A sequência Invitation, Miss Nectarine e Cry veio em sequência, e sempre com todos cantando em uníssono. A paixão dos fãs pela jovem artista era notável. Novamente, o público começou a chamá-la de outro nome, “bucetuda”, e de novo, ela foi avisada do que se tratava. Com muito bom humor e simpatia, respondeu agradecendo, um pouco envergonhada, mas entrando na brincadeira, entendendo algo como “todos querem uma Big Pussy”. Sem mais delongas e apenas discursos rápidos, tocou Chockhold Cherry Python, Tantrum, Cheerleader e Manners. Neste momento, já podia se sentir um certo cansaço do público, já que passava de uma hora de show, e boa parte ali provavelmente não estava acostumado com o ambiente de shows em geral, além de muitos estarem ainda cansados do dia que passou – afinal, era um meio de semana. Após essa sequência, a cantora perguntou sobre o Halloween, e como era dito em português, além de dizer que estavam no mês próprio para isso. Ao saber que se falava “dia das bruxas”, com um sotaque espetacularmente natural parecendo uma nativa, Ashnikko repetiu as palavras, sendo ovacionada pela multidão. Tocou, então, um medley de Halloweenie I, II, III e IV. O show seguiu com Possession Of A Weapon, WEEDKILLER, e o grande hit Daisy. Apesar de Bis ser comum em shows, não foi o caso. Ao fim desta última, o som ambiente da casa voltou a tocar, e as luzes se acenderam.
Um show curto, mas compreensível pela curtíssima carreira ainda da cantora, que já vem despontando como uma das Divas ascendentes do pop e do rap/trap mundial. Para fãs, não há motivos para se criticar, pois entregou o que prometeu, e com muita sensualidade, letras explícitas, e um público que foi ali para aquilo. Mais que isso, foi uma ode ao amor entre garotas – o amor sáfico, já que Ashnikko é assumidamente pansexual, e uma grande defensora da causa. Um show memorável para uma juventude que clama por ídolos e divas assim.
CENÁRIO E ILUMINAÇÃO NOTA 10!
Um problema em muitos shows que vemos é em relação à iluminação. Às vezes muito escura, outras com cores sem harmonia ou que incomodam pelo contraste. Neste caso, não! As cores eram suaves quando precisavam, fortes quando era preciso de cor forte. Claro e escuro na medida. E sempre com tons azuis, para combinar com a identidade visual da cantora. O cenário também, um espetáculo. Embora o palco da Audio tenha um espaço um pouco diminuto, a produção do show soube encaixar tudo muito bem ali, e sem prejudicar o espaço para danças.
NO FIM, POSITIVO PARA TODOS!
Sempre bom quando um show apresenta tal qualidade de produção, e o agito e emoção dos fãs foi algo memorável, que ajudou a melhorar o ambiente da apresentação. Ter casa cheia em uma terça feira não é uma tarefa fácil, ainda mais para uma artista de nicho ainda em ascensão. Fica a expectativa para a próxima vinda de Ashnikko ao Brasil, que sem dúvidas deve ocorrer. O sucesso já é garantido, e a alegria dos fãs idem!
Set List:
You Make Me Sick!
STUPID
Working Bitch
Don’t Look at It
Super Soaker
Slumber Party
Invitation
Miss Nectarine
Cry
Chokehold Cherry Python
Tantrum
Cheerleader
Manners
Halloweenie I / Halloweenie II / Halloweenie III / Halloweenie IV
Possession of a Weapon
WEEDKILLER
Daisy